“Dias Antes”

    Evan sentou-se em uma das mesas da biblioteca para poder conversar mais calmamente com Elise. Ele começou a observar os olhos dela que o fitavam cheios de expectativa e, por fim, respirou fundo antes de falar.

    — Antes de responder… posso te fazer uma pergunta?

    Elise ergueu uma sobrancelha, surpresa com a hesitação no tom dele.

    — Hã…? Sim, claro. O que foi?

    Ele desviou o olhar brevemente, como se pesasse as palavras antes de soltá-las.

    — Você… não vai se meter em nada perigoso, né? — Sua voz soou quase errante, carregada de uma preocupação genuína.

    Por um instante, Elise apenas piscou, absorvendo a pergunta, mas depois, um sorriso sincero surgiu em seus lábios e ela riu baixinho, levando a mão à boca.

    — Evan… eu sou uma soldado. Tudo é perigoso.

    Ele apertou os lábios, sentindo-se meio tolo por perguntar.

    — É… faz sentido…

    Elise cruzou os braços, ainda sorrindo.

    — Certo. Agora sua vez… vocês encontraram algo sobre a criatura?

    Evan endireitou os ombros, assumindo um semblante mais sério. Seus olhos vagaram pelo espaço, como se revisse os arquivos de sua memória em busca de algo relevante.

    Porém…

    — Nada?! — A voz de Elise ecoou pela biblioteca antes que ela percebesse, e num reflexo, tapou a própria boca, arregalando os olhos.

    Evan encolheu o pescoço entre os ombros, lançando olhares nervosos ao redor. Alguns soldados, estudiosos e sacerdotes o fitaram com um misto de curiosidade e desagrado.

    Elise tossiu de levemente, agora sussurrando para ele:

    — Vocês procuraram direito? Você não tá com amnésia ou coisa do tipo?
    Evan suspirou, exausto.

    — Eu não acho que esse seja o caso… — Seu tom, dessa vez, saiu mais sério. — Pesquisamos tudo o que havia nos registros sobre aparições conhecidas, mas não encontramos nada parecido.

    Elise estreitou os olhos.

    — Tem certeza que já leu todos os livros dessa biblioteca?

    — Eu nunca disse isso! — rebateu ele, rindo nervosamente. Mas então seu olhar ficou mais pensativo. 

    Elise recostou-se na mesa, mordendo levemente o lábio inferior enquanto assimilava as informações.

    — Hmmm…

    Evan, percebendo a preocupação dela, tentou amenizar a situação.

    — Mas olha… — começou ele, tentando soar mais animado — Você quase matou essa coisa, certo? Pelo que ouvi, você incendiou ela. Graças a você, ao menos temos um ponto fraco. Da próxima vez que ela for vista, pode ser derrotada mais rapidamente.

    Elise soltou uma risada curta, mas seus olhos ainda estavam distantes.

    — É… espero que sim.

    “Agora”

    O peso das palavras de Evan ainda ecoava na mente de Elise. Esse pensamento a acompanhou por dias, como um sussurro inquietante que ela não conseguia afastar.

    Sentada na cama, ela girava entre os dedos um pequeno medalhão, perdida em suas próprias memórias, quando um som firme ecoou pela porta.

    “TOC TOC”

    — Soldado! — A voz autoritária do mensageiro a trouxe de volta à realidade. — O comandante Alaric deseja falar com você na sala dele.

    Elise piscou algumas vezes antes de se recompor.

    — Entendido. Já estou indo.

    Ela levantou-se rapidamente, ajustando o uniforme e prendendo os seus cabelos, garantindo que estivesse apresentável, e com um último suspiro, deixou o quarto e seguiu pelos corredores até a sala do comandante.

    Assim que chegou, fechou a porta com cuidado. Alaric estava mergulhado em uma pilha de documentos com seus olhos vasculhando as páginas com precisão metódica. Elise caminhou até a mesa e manteve a posição de sentido.

    — Comandante Alaric — Sua voz saiu firme.

    Alaric levantou os olhos momentaneamente, mas sem erguer a cabeça, apenas para reconhecer sua presença antes de voltar à papelada.

    — Soldado Elise… — murmurou ele. — Como foi o tempo de licença?

    — Ah… foi bom, senhor — Ela respondeu com um tom sólido, mas sem muita convicção.

    Alaric virou mais algumas páginas, mantendo o foco nos documentos à sua frente.

    — Bom… fico feliz em saber — Seu tom era impessoal, e seu rosto não expressava nenhuma emoção, mas suas palavras carregavam um peso calculado. — Devido ao incidente, perdemos praticamente todo um esquadrão. Tive que revirar alguns pauzinhos para reorganizar as forças. Mas… ao menos foi benéfico para o seu descanso.

    Elise nada disse, apenas manteve a postura firme.

    Alaric finalmente largou a papelada e estalou o pescoço antes de encará-la diretamente.

    — A partir de amanhã, você retorna ao seu posto. Com uma nova equipe.

    — Sim, senhor! — respondeu Elise prontamente, mas sua voz saiu um tom mais baixo do que esperava.

    Alaric arqueou uma sobrancelha, percebendo a sutil hesitação, mas decidiu ignorar, pegando outro documento da pilha e voltou a analisá-lo.

    Mas Elise permanecia parada, de pé a sua frente.

    — Alguma pergunta?

    Elise abriu a boca, mas hesitou. Uma parte dela queria deixar para lá, mas algo a incomodava. Por fim, respirou fundo e falou:

    — Ah… Senhor Comandante!

    Alaric ergueu o olhar.

    — Diga…

    Ela umedeceu os lábios antes de continuar:

    — Sobre… as buscas pela criatura no pântano.

    O comandante a observou por um instante antes de recostar-se na cadeira.

    — Por que a pergunta? Está com medo?

    — Não, senhor — A resposta veio firme, sem vacilar.

    Alaric esboçou um leve sorriso discreto diante da determinação dela. Voltou a inclinar a cabeça para trás, encarando o teto por alguns segundos antes de responder:

    — Até agora… não encontramos nenhuma pista ou rastro da criatura. É como se ela tivesse simplesmente desaparecido. As suposições que circulam é que as chamas a tenham consumido por completo. Se for o caso… bom, seria uma bela tacada de sorte.

    Elise franziu o cenho, inquieta.

    — Mas… e se esse não for o caso?

    Alaric soltou um suspiro.

    — Sempre existe essa possibilidade. Mas, de qualquer forma, isso não está mais em nossas mãos.

    — Ham?

    — O comando decidiu que as investigações sobre a criatura serão repassadas ao Templo. Agora, o caso está sob jurisdição deles.

    Elise piscou algumas vezes, assimilando a informação.

    — Ah… entendo.

    — Era só isso?

    Ela hesitou por um breve momento antes de assentir.

    — Sim, senhor.

    Alaric fez um gesto breve com a mão, indicando que a conversa havia terminado, mas logo acrescentou:

    — Ah, antes que eu me esqueça… tem mais uma coisa.

    Elise inclinou a cabeça levemente, esperando.

    — Você falou com Darius?

    — Darius…?

    — Sim. Ele já está se preparando para partir amanhã. Disse que queria falar com você antes de ir.

    — Oh…

    — Pensei em avisá-la, já que amanhã você volta para a escala.

    Elise assentiu, esboçando um leve sorriso em seu rosto.

    — Obrigada senhor.

    Alaric apenas fez um breve aceno com a cabeça.

    — Dispensada.

    Com um último olhar para o comandante, Elise girou nos calcanhares e deixou a sala. Assim que fechou a porta atrás de si, seu sorriso se desfez, substituindo-o por uma expressão carregada.

    A ideia de que a criatura simplesmente desaparecera sem deixar vestígios não lhe trazia alívio.

    Muito pelo contrário… O pensamento da possibilidade de algo tão perigoso ainda estar à solta a fazia sentir um nó na garganta, uma sensação de urgência que não conseguia ignorar.

    Para ela, aquilo não era um simples caso arquivado. Aquela aberração… algo que, com tanta facilidade, poderia destroçar um corpo humano como se fosse papel,  não deveria ser esquecida tão despreocupadamente.

    Com um estalo seco, Zarek caiu de cara no chão, fazendo as folhas secas voarem ao seu redor.

    — Ah…

    Ele ficou ali por um instante com o seu rosto enterrado na terra úmida, processando o que havia acontecido.

    Seu corpo ainda não cooperava com ele.

    Assim que ele se forçou a se levantar, sentiu as juntas estalarem em protesto.

    — Isso não está certo… ainda não — murmurou, interrompendo os seus passos. —  Hmmmmm… talvez se eu colocar um pouco mais aqui.

    As fibras de seu corpo voltaram a se mover, contorcendo-se de forma quase autônoma, realocando-se, e suas pernas começaram a tomar uma nova forma. Com as dianteiras se alongando e engrossando, enquanto as traseiras diminuíam levemente.

    Ele observou as mudanças com olhos atentos, movimentou uma das patas e sentiu um pouco mais de estabilidade.

    — Hmmm…melhor — murmurou novamente, observando.

    E então, continuou.

    Ele redirecionou mais fibras para a região do pescoço, reforçando as estruturas de suporte. Sentiu a tensão aumentar momentaneamente, mas conforme ajustava os novos ligamentos, a sustentação melhorou. Sua coluna, antes fina e maleável demais, engrossou gradativamente, tornando-se uma base mais firme.

    — Acho que estou entendendo…

    Zarek começou a movimentar suas juntas bruscamente, gerando um som alto e seco como o de ossos sendo triturados. Seus membros se deslocavam e se recompunham em um ritmo frenético, quebrando e regenerando sem pausa, até que, enfim, sentiu uma nova coerência em sua forma.

    Foi então que tentou se pôr de pé, apoiando-se firmemente com suas quatro patas no chão. Seu corpo, agora diferente da aberração inicial e também distinto da imagem mental que havia concebido, se movia com mais coesão.

    Ele deu alguns passos hesitantes, então saltou levemente, testando a elasticidade de seus membros. Movimentou o pescoço de um lado para o outro, sentindo a resistência recém-adquirida e, assim que terminou de fazer o seu primeiro teste de mobilidade, ele parou olhou para si.

    — Certo… — disse, com um leve sentimento de satisfação parecendo brilhar em seus olhos.

    Em seguida, Zarek observou ao redor e, sem mais hesitação, lançou-se em uma corrida.

    A floresta se desenrolava à sua frente como um cenário instável, moldados pela sombra e pelas frestas de luz que se infiltravam pelas copas das árvores.

    Seus passos começaram lentos, quase inseguros, enquanto estudava o próprio ritmo, memorizando a cadência de cada movimento e tomando cuidado com o chão, que era repleto de raízes expostas e galhos quebrados, exigindo precisão para evitar tropeços. Mas conforme ele ia avançando, sentia como se aos poucos seu corpo fosse se ajustando ao ritmo, que crescia cada vez mais. 

    Foi quando seus olhos captaram um vulto movendo-se entre os troncos.

    Era raposa novamente.

    Ela estava a poucos metros de distância, e no instante em que percebeu sua aproximação, lançou-se em fuga, a sua dianteira.

    Cada passo dela era fluído, calculado… uma sequência perfeita de impulsos e aterrissagens, como se deslizasse entre os obstáculos. E ao passo que ele seguia em seu encalço, começava a encarar isso como se fosse um tipo de desafio. 

    Dessa vez… ele não ficaria para trás. 

    Sentia que, à sua própria maneira, estava conseguindo chegar ao seu nível. E estava quase lá… agora era só uma questão de poucos metros.

    Foi quando, diante dos seus olhos, assim que estava chegando em sua cola, a raposa simplesmente desapareceu em vários pequenos vestígios de luz. 

    Zarek interrompeu o seu passo no mesmo instante.

    Ele piscou algumas vezes as chamas de suas órbitas, girando a cabeça para os lados, tentando entender o que acabara de acontecer.

    — Hun…?

    Ela simplesmente havia evaporado dessa vez.

    Seus olhos percorreram os arredores em busca de alguma pista do que poderia ter acontecido, mas simplesmente não havia uma resposta aparente, o fazendo deixar de lado o caso.

    Mas enquanto olhava ao redor, percebeu algo logo atrás de si.

    Uma linha distinta de terra mexida. Aquele era o limite que delimitava o final do seu território, ao qual Zahara havia sido clara, anteriormente.

    — Ah…

    Por um instante, ele travou, assimilando a situação.

    Ele estava tão distraído em sua pequena competição que sequer conseguiu perceber a discreta delimitação do terreno.

    Seus olhos deslizaram cautelosamente pela floresta ao redor, certificando-se de que ninguém estava o observando, e então, recuou alguns passos, retornando para trás da linha e sentando-se no chão, com seus olhos ainda fixos no ambiente além do limite.

    — Hmmmm… parece igual — pensou, comparando a área da floresta do outro lado da fronteira.

    E realmente não havia nada de muito diferente. Eram as mesmas árvores, a mesma sombra entre os galhos altos, o mesmo tipo de vegetação e a mesma singela luz solar, que descia em forma de cortina até encostar no solo. Era exatamente tudo igual.

    “Zahara disse que não costumam haver pessoas por aqui, mas acho que isso só vale para esse lado. Pode ser que a partir daqui já possa haver mais…”, pensou Zarek, com seu olhar seguindo fixo a trilha que se estendia para além da fronteira.

    — É melhor eu evitar chegar perto também.

    Foi então que um som seco de galhos se partindo interrompeu os seus pensamentos.

    Zarek ergueu a cabeça imediatamente , olhando em direção à origem do barulho, que veio de algum ponto mais à frente.

    Seus músculos enrijeceram por instinto.

    Poderia ser a raposa?

    Por um instante, considerou a ideia.

    Talvez ela tivesse retornado e estava apenas brincando com ele. Mas… algo em seu instinto dizia que não. E Zahara havia o avisado… sobre se manter atento a qualquer barulho.

    Em resposta, a primeira reação que pode ter foi a de mover-se rapidamente para o lado, enfiando-se entre os arbustos densos ao redor e comprimindo-se contra a vegetação.

    O silêncio se estendeu por um breve momento, com apenas o som do vento sacudindo as folhas e o pulsar de sua própria consciência preenchendo o espaço.

    Foi quando, finalmente, uma pequena garota saiu de trás de uma das árvores, com os seus pés afundando levemente na terra macia.

    Zarek sentiu seu corpo travar no mesmo instante.

    Era uma criança.

    Seu rosto era pálido, emoldurado por cabelos escuros que ladeavam as suas bochechas, e seus olhos distraídos brilhavam uma coloração avermelhada.

    Ela caminhava devagar, segurando algumas flores em seu colo enquanto seus olhos varriam o chão com uma expressão absorta, como se procurasse algo entre as folhas caídas.

    “Ah”, gemeu em sua mente, quase como se simulasse a sensação de prender a respiração, permanecendo imóvel enquanto observava.

    Uma brisa leve soprou entre as árvores e o cabelo da menina balançou levemente com o vento. Mas ela continuou, alheia, caminhando sem pressa.

    “Eu devia ter saído daqui…”, pensou Zarek, reconsiderando a escolha de se esconder. Mas a curiosidade parecia ser um instinto latente.

    Ele sentiu um impulso de se afastar, mas conteve-se. Optando por seguir os movimentos dela, atento a qualquer mudança que pudesse lhe dar a melhor brecha para sair dali sem ser notado.

    A menina se agachou por um instante, colhendo mais uma flor do solo.

    Zarek prendeu a atenção no gesto.

    “Agora?”

    Esse podia ser o momento certo para sair dali.

    Mas, no instante em que ele se preparava para se mover, algo aconteceu.

    A garota parou e ergueu a cabeça com seu olhar se voltando ligeiramente para a sua direção.

    Zarek sentiu um calafrio percorrer sua estrutura.

    “Ela percebeu?”

    O tempo pareceu desacelerar.

    A jovem manteve seus olhos fixos em sua direção por alguns segundos, até que,  em seu rosto, deixou abrir um pequeno sorriso.

    Zarek, ao observar, prestou mais atenção para onde ela estava direcionando seus olhos e percebeu que próximo à base de sua moita, também havia algumas flores, que pareciam ter atraído o foco da jovem moça, e logo ela começou a se aproximar devagar do arbusto onde ele estava escondido.

    A sensação de risco iminente se espalhou por cada fibra sua. Se ela o visse, se percebesse que algo incomum estava ali, tudo poderia se complicar. Um grito, um choro… ela poderia simplesmente se levantar e correr para contar para alguém.

    Ele ainda poderia fugir, claro. Bastava se lançar para a mata e desaparecer entre as sombras. Mesmo que ela o notasse, ele só precisaria encontrar um ponto seguro longe da cabana e Zahara o encontraria depois.

    Seria fácil.

    Mas… em sua cabeça… se ele fizesse isso, poderia acabar chamando ainda mais atenção. E mais do que isso… ele sentia que causar problemas logo no primeiro dia que recebera um pouco mais de liberdade seria um erro.

    Zahara certamente ficaria irritada.

    E irritar Zahara poderia significar perder essa liberdade recém-conquistada.

    Então, ele fez a única coisa que parecia viável naquele momento.

    Ele esperou que passasse despercebido aos olhos distraídos da pequena moçoila.

    Se manteve completamente imóvel, como se sua existência pudesse se dissipar no ar se não fizesse nenhum movimento brusco. Ele já havia feito isso, então… se fingir de decoração não era a coisa mais difícil do mundo para ele.

    A garota se achegou próxima à moita e, se abaixando, começou a colher algumas flores. Zarek se obrigou a manter a calma, contando mentalmente cada segundo que passava, enquanto a jovem despreocupada coletava mais algumas peças para o seu arranjo

    Mas… enquanto Zarek se concentrava em fingir não estar ali, ele não pôde perceber que ela também parou, e seus dedos soltaram a flor que segurava. E assim que se deu conta que as movimentações também cessaram por parte dela, ele prestou atenção em seu rosto.

    Seus olhos, antes distraídos, agora estavam firmes, totalmente voltados para a luz de suas duas brasas, que brilhavam indiscretamente no interior da moita.

    Zarek piscou.

    “Ela me viu?”

    Seus pensamentos ficaram em silêncio por um instante, como se sua própria mente tivesse congelado diante da constatação.

    Zarek manteve os olhos fixos nela, com cada músculo seu ainda tensionado, como se ficar estático ainda o garantisse alguma camuflagem.

    A garota, no entanto, apenas piscou algumas vezes, com seus olhos parecendo perder o brilho.

    Nenhuma expressão de surpresa ou medo cruzou seu rosto. Nenhuma reação brusca, nenhum grito… era apenas uma expressão que parecia ter se esvaziado de si. E então ela abaixou a cabeça lentamente, pegando de volta a flor que havia deixado cair.

    O silêncio entre os dois se estendeu por alguns instantes.

    Ela permaneceu imóvel, segurando a pequena flor entre os dedos, como se o mundo ao seu redor tivesse deixado de existir.

    Então, um som cortou o silêncio.

    Uma voz masculina, vinda de algum lugar nas proximidades.

    — Amaya! Não vá para longe, vem para cá.

    Estava chamando por ela.

    “Mais humanos….”, pensou, com sua mente quase entrando em parafuso.

    É claro que haveria! Onde há filhotes, quase sempre haverá progenitores. 

    Zarek sentiu seu corpo se retesar ainda mais.

    Mas foi a reação da garota que realmente o desconcertou.

    — Eh… — Seus lábios se abriram, mas aquele ruído sequer podia ser chamado de fala. Parecia que sua voz havia sido arrancada.

    Sequer olhou na direção de onde a voz vinha.

    Apenas abaixou ainda mais a cabeça, com seus dedos se fechando ao redor da flor sem nenhum cuidado.

    Foi nesse instante que Zarek notou.

    Os ombros dela tremiam levemente.

    E quando finalmente se moveu, foi de maneira brusca.

    Ela inspirou fundo, enchendo os pulmões de ar, e então, se levantou num só movimento.

    Zarek viu, por um breve instante, o brilho molhado em seus olhos, antes que ela se virasse e disparasse para longe.

    Os passos dela soaram abafados contra a terra, desaparecendo rapidamente entre as árvores.

    Zarek não se moveu.

    Seu corpo permaneceu travado, seu olhar fixo no ponto onde a garota estivera momentos antes.

    “O que havia acabado de acontecer”, era a questão que passava em sua mente, buscando encontrar uma lógica para aquilo tudo.

    Mas rapidamente se recompôs, aproveitando a deixa para fugir para longe dali.

    Com um salto ele foi para fora da moita e disparou em direção à cabana.

    Por enquanto, ele já estava um pouco cansado de explorações.

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