Capítulo 4 - Etérea
A luz do sol infiltrava-se pelas janelas do quarto, iluminando o rosto pálido de Elise, que estava deitada na cama, cercada de lençóis brancos, aproveitando o raro momento de tranquilidade.
Enquanto isso, ela podia ouvir o som de passos do lado de fora do quarto, perambulando de um lado para o outro.
“Parece que está bem movimentado”, pensou.
De repente, um daqueles passos parecia ter sido interrompido em frente à porta do seu quarto e o som da porta se abrindo abruptamente chamou a sua atenção.
Ela piscou, ajustando-se à luz do sol que entrava pela janela, e viu o Comandante Alaric entrando no quarto.
— Com licença… — disse ele em tom formal. — Como está se sentindo?
Ela se ajeitou na cama, tentando parecer mais forte do que se sentia.
— Estou bem, senhor. Um pouco dolorida, mas nada que não possa suportar.
Alaric assentiu, puxando uma cadeira para sentar ao lado dela.
— Fico feliz em ouvir isso, sua recuperação é a prioridade agora.
Elise acenou com a cabeça, dando um leve sorriso, mas seus olhos não pareciam acompanhar sua expressão.
— Se estiver disposta — continuou o comandante — gostaria de fazer aquele relatório?
Ela respirou fundo e assentiu.
Alaric tirou um pequeno caderno do bolso e preparou-se para anotar.
— Vamos começar do início. Conte-me sobre a criatura.
Elise fechou os olhos por um momento, descrevendo as imagens perturbadoras que haviam marcado sua mente e o comandante fazia suas anotações enquanto a ouvia atentamente.
Assim que terminou, ele olhou para ela.
— E sobre aquilo que você havia dito no pântano? Você mencionou outra pessoa…
— Ahh… eu vi… uma mulher. Parecia um fantasma de cabelos prateados. Ela tratou dos meus ferimentos, mas eu desmaiei antes de poder perguntar qualquer coisa.
Alaric franziu a testa, anotando o relato.
— Muito bem, Elise. Isso já é o suficiente por agora. Descanse. Você fez um excelente trabalho.
O Comandante saiu, deixando Elise a sós com seus pensamentos.
Após um tempo, ela decidiu que precisava de um pouco de movimento e, com a ajuda de muletas, começou a caminhar pelos corredores da casa médica.
Conforme ela passava pelas portas, uma delas chamou sua atenção.
Dentro de um dos quartos, estava o seu Capitão Darius, sentado na cama, olhando para fora da janela.

A luz do sol banhava seu rosto, destacando as cicatrizes e a sua expressão contemplativa.
Ele virou-se lentamente para ela, recebendo-a com um sorriso suave no rosto.
— Elise. É bom ver você em pé — disse, com sua voz fraca, mas cheia de calor.
— Capitão — respondeu, enquanto entrava no quarto — como você está?
— Sobrevivendo. Perder o braço foi um golpe cruel, mas acho que ainda tive sorte.
Suspirou enquanto olhava para o seu braço ausente.
Elise se sentou ao lado dele.
— Ah, Sim!… — exclamou. — Os médicos me disseram que eu só saí vivo graças à sua habilidade de aprimoramento. Parece que eu lhe devo uma.
— Foi tudo o que eu pude fazer — disse, com um sorriso melancólico em seu rosto.
Mas, na verdade, ela que queria lhe agradecer por ter continuado vivo.
— Você falou com o Comandante?
— Hum? Sim! Ele veio pro meu quarto fazer o relatório. E o senhor, Capitão?
— Sim. Provavelmente, logo, logo, eu não serei mais o seu capitão.
O sorriso melancólico de Elise pareceu se desfazer por um instante.
Darius continuou:
— Eu já estou ficando velho… Quando a gente é mais jovem, parece que podem quebrar todos os nossos ossos, que ainda conseguimos lutar. Mas quando velhos, basta perder um pouco de sangue…
— Não foi algo tão pequeno assim — disse Elise, o repreendendo com os olhos molhados.
Elise abaixou o seu rosto em descontentamento e, por um momento, um clima fúnebre começou a preencher o quarto.
Darius agilmente ensaiou para mudar o tom da conversa, tentando desviar o clima pesado.
— Ele me propôs a possibilidade de entrar na guarda interna, mas sinceramente, não tenho interesse nisso, sabe… eu trabalhei a vida toda no esquadrão de extermínio, junto com o Nord e o Liam… Acho que é hora de encerrar minha carreira e abrir caminho para os mais jovens.
O meu sonho sempre foi me aposentar em uma cidadezinha pacata, fora do reino, em algum ducado.
Darius virou-se para Elise, olhando-a com curiosidade.
— E você, Elise? Pensa em voltar para casa no campo, com sua família, futuramente?
— Na verdade… — respondeu, suspirando profundamente — quando eu morava no campo, éramos apenas eu e o meu pai, e ele já faleceu.
A surpresa da resposta dela fez Darius emudecer por um instante.
— Ah… Eu… Eu sinto muito.
Elise balança a cabeça com um sorriso tranquilizador em seu rosto.
— Não, está tudo bem. Já faz algum tempo.
— Eu entendo — respondeu Darius, soltando um suspiro de exaustão. A vontade de enfiar a cabeça na superfície mais sólida que houvesse naquele quarto parecia invadir sua mente.
De repente, uma enfermeira bateu na porta, os cumprimentando enquanto entrava no quarto.
Ela carregava uma bandeja com algumas poções.
— Bom dia, Darius — disse a enfermeira, sorrindo. — Estou aqui para fazer seu tratamento.
Ela começou a trocar as bandagens e os curativos, perguntando sobre sua refeição e realizando o procedimento comum.
Elise observava tudo atentamente e sua mente vagava enquanto via a enfermeira trabalhar.
As lembranças da mulher de cabelos prateados voltaram à sua mente, trazendo uma sensação de urgência.
Quando a enfermeira terminou e saiu do quarto, Elise virou para Darius.
— Darius, você conhece muitos médicos?
Ele franziu a testa, pensativo.
— Conheço alguns. Por quê?
— Você conhece alguma médica com longos cabelos prateados? — perguntou com a voz carregada de esperança.
Darius olhou para ela, confuso.
— Uma idosa?
— Não — corrigiu — ela é jovem!
Darius começou a alisar seu cavanhaque lentamente.
— Hummmm… uma jovem de cabelo prateado? Não, acho que nunca vi ninguém assim. É uma conhecida sua?
Elise suspirou, com sua esperança se esvaindo lentamente.
— Não… essa pessoa só me veio a mente.
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