Capítulo 12 – Agora e Sempre
O dia começava a clarear no horizonte de Pyronia, e a cidade ainda despertava para mais uma jornada enquanto os primeiros raios de sol filtravam-se pelas altas torres da Academia. Kaito observava, do lado de fora, enquanto os colegas se espalhavam pelos jardins, uns praticando feitiços básicos, outros absortos em conversas triviais. Seu coração batia com uma mistura de ansiedade e entusiasmo, como o som de um tambor ritmado que o mantinha atento a cada detalhe. Ele planejava aquele dia há semanas, cada momento pensado para que fosse inesquecível. E o ponto alto, o pedido de casamento, era algo que ele havia ensaiado em sua mente tantas vezes que podia quase ouvir as próprias palavras ecoando no silêncio.
Ele avistou Lianna ao longe, saindo da sala de aula, os cabelos balançando suavemente ao vento enquanto ela seguia em direção aos jardins. Com um sorriso discreto, Kaito caminhou até ela, contendo a empolgação que, por dentro, quase o fazia correr até ali.
– Lianna! – chamou, acenando com a mão.
Ela se virou, seus olhos esverdeados iluminando-se ao vê-lo. Kaito sentiu o calor familiar de sua presença, algo que fazia qualquer nervosismo desaparecer.
– Kaito, que surpresa – ela sorriu, inclinando a cabeça ligeiramente. – Não achei que estivesse aqui.
– Eu… estava pensando se você teria um tempo hoje, para dar uma volta comigo pela cidade. Só nós dois. – Ele hesitou por um instante, mas então decidiu deixar que o sorriso falasse por ele.
Lianna piscou, surpresa, mas logo o sorriso dela cresceu, o olhar suave e caloroso que sempre fazia o coração dele bater mais rápido.
– Claro, eu adoraria.
Ao deixarem os portões da Academia, Kaito a conduziu pelas ruas de Pyronia, onde a cidade parecia exalar a vibração de um lugar eterno, de história e grandeza. O movimento dos cidadãos, o som dos comerciantes chamando os clientes e o aroma de comidas sendo preparadas enchia as ruas de vida. A cada esquina, Kaito observava Lianna, vendo como os olhos dela se maravilhavam com os pequenos detalhes, o modo como ela apreciava cada novidade com o entusiasmo de quem redescobre o mundo.
Eles pararam em uma barraca de frutas, onde Kaito comprou uma maçã e, em um gesto brincalhão, ofereceu-a para ela com um sorriso.
– Uma maçã para a senhorita – disse ele, fazendo uma leve reverência.
Lianna riu, aceitando a fruta e tomando um pedaço enquanto caminhavam juntos. Mais adiante, Kaito a guiou até uma livraria antiga que ele sabia que ela adorava visitar. Ao entrarem, foram recebidos pelo cheiro reconfortante de livros antigos e pelo silêncio acolhedor, onde a luz do sol filtrava-se pelas pequenas janelas empoeiradas.
Lianna folheava alguns livros, absorta nas páginas, enquanto ele a observava, fascinado pela paixão dela pela leitura. Kaito pegou um livro e leu um trecho em voz baixa, provocando-a com versos poéticos que ele sabia que a fariam rir. Ela retribuiu, provocando-o de volta, e assim, entre risadas e sussurros, perderam-se no tempo, como se fossem os únicos naquele mundo.
Após deixarem a livraria, Kaito a levou até o parque da cidade, onde árvores centenárias criavam uma paisagem serena e tranquila. Caminharam por uma trilha coberta de folhas e flores, que os guiava até um pequeno lago onde cisnes nadavam tranquilamente. O vento suave balançava os galhos, e o som da água era como uma melodia distante que completava a paz daquele momento.
Finalmente, Kaito a conduziu até o alto de uma colina, de onde podiam ver a cidade se estendendo sob o céu dourado do entardecer. Era um dos pontos mais belos de Pyronia, e a vista do lugar era famosa por seu encanto. Ele respirou fundo, sentindo a grandeza e a tranquilidade do momento, enquanto Lianna contemplava a paisagem, o rosto iluminado pelo sol poente.
– Lianna – Kaito começou, com a voz suave, mas firme. Ele segurou as mãos dela e fitou seus olhos, que brilhavam intensamente. – Você sabe o quanto você significa para mim, certo? Você é minha força, minha alegria, a razão pela qual eu me esforço todos os dias. E, mais do que isso, você é o sonho que eu jamais quero perder.
Lianna o olhou, surpresa, seu rosto levemente avermelhado enquanto o sorriso dela suavizava.
– Kaito…
Ele se ajoelhou ali, na grama macia da colina, e retirou do bolso um anel adornado com uma pedra de rubi, simbolizando o amor ardente e a determinação que ele sentia. Com um olhar fixo nos olhos dela, ele falou:
– Lianna, você aceita se casar comigo? Ser a pessoa que estará ao meu lado em cada passo, em cada batalha, em cada nova jornada?
Os olhos de Lianna se encheram de lágrimas, e ela aceitou, o sorriso dela mais brilhante do que ele jamais vira. Ela se ajoelhou ao lado dele, abraçando-o com força enquanto sussurrava, com a voz embargada:
– Sim, Kaito. Sim, eu aceito, agora e sempre.
E ali, sob o céu de Pyronia, selaram uma promessa que atravessaria qualquer desafio, enquanto o mundo ao redor deles parecia não importar.
Após a aceitação de Lianna, e após deixá-la em casa na mansão Ferres, Kaito decidiu voltar para sua própria casa, mas acabou esbarrando em Dick e Yuuto. Quando mencionou que tinha feito o pedido, os amigos ficaram atônitos, insistindo que ele contasse cada detalhe. Decidiram então ir ao bar conhecido entre os alunos da Academia, o Espada & Escudo, um local movimentado e acolhedor, onde o clima era de camaradagem e histórias compartilhadas.
Lá, enquanto os amigos pediam bebidas, Kaito começou a recordar o momento em que tinha ido à joalheria comprar o anel. A loja era um mundo de luzes e brilhos, onde jóias repousavam em prateleiras de vidro como pequenas estrelas caídas. Ele observou anéis com gemas incrustadas e formatos intricados, até chegar ao mais impressionante deles, uma peça de safira cristalina rodeada de diamantes que custava o equivalente a uma mansão nobre inteira, incluindo a própria mansão Ignivor. Aquilo quase o fez perder o fôlego.
Por fim, encontrou um anel de rubi vermelho ardente, que era simples, mas de uma beleza que parecia capturar o espírito de Lianna. O preço estava dentro do que ele podia arcar: apenas algumas centenas de Éldros (a moeda do continente), o que ainda o deixava sem folga, mas feliz pela escolha. Ele então se dirigiu à academia, onde praticou várias vezes o pedido, tentando acertar as palavras e os gestos, imaginando a reação dela e torcendo para não cometer nenhuma gafe.
A cada frase relembrada no Espada & Escudo, os amigos riam e provocavam, mas também demonstravam o orgulho e a alegria por ele.
Os amigos riam e tiravam sarro de Kaito por seu nervosismo e pela dificuldade em escolher o anel, mas a brincadeira era sempre amigável. Entre uma risada e outra, eles nem perceberam que, a poucos passos dali, o príncipe Ryota observava tudo, seus olhos em chamas, incapazes de esconder a raiva que sentia ao ouvir o nome de Lianna ao lado do de Kaito. Tentando manter uma expressão contida, Ryota ficou por mais alguns minutos, até que finalmente, incapaz de se controlar, levantou-se bruscamente e saiu do bar em passos pesados.
Os amigos de Kaito, que tinham acabado de perceber sua presença, ficaram em silêncio por um breve instante, apenas para explodir em gargalhadas assim que Ryota saiu.
– Vocês perceberam a cara dele? – Dick riu, tentando imitar a expressão furiosa do príncipe, o que fez todos rirem ainda mais.
Confuso, Kaito olhou para os amigos e perguntou:
– Por que será que Ryota me odeia tanto? O que foi que eu fiz?
Dick trocou um olhar com Yuuto, surpreso com a falta de percepção do amigo. Com um sorriso irônico, ele murmurou:
– Como meu amigo lerdo como uma lesma ainda não percebeu? Ryota te odeia porque… bem, ele é apaixonado pela Lianna.
Kaito piscou, incrédulo, enquanto Dick continuava:
– A cerca de dois anos, um pouco antes de vocês começarem a namorar, ele se declarou para ela na frente de toda a Academia, e ela o rejeitou publicamente. E, logo depois, você e Lianna anunciaram que estavam juntos. Agora, noivos. É óbvio que ele te odeia.
Todos os alunos ao redor, atentos à revelação, explodiram em gargalhadas e começaram a brincar com Kaito, chamando-o de “fura-olho”. O bar inteiro ecoava com as risadas e os comentários, e Kaito apenas ria junto, aceitando as provocações dos amigos, enquanto uma sensação de satisfação crescia em seu peito.
Do lado de fora do Espada e Escudo, Ryota se afastava com passos rápidos, seus punhos cerrados e o rosto vermelho de raiva. Ao seu lado, estavam alguns amigos e seguidores, que trocavam olhares inquietos, claramente desconfortáveis com o estado do príncipe. A cada passo, a fúria de Ryota parecia crescer, assim como a pergunta que ele não conseguia tirar da cabeça.
– Por quê? – murmurou, mas com uma intensidade que fez seus amigos pararem de andar e encararem-no. – O que Kaito tem que eu não tenho?
Um dos amigos, hesitante, tentou acalmá-lo, mas foi silenciado por um olhar afiado. Ryota parou, seus olhos fixos no chão, enquanto memórias de Lianna passavam por sua mente. Ele lembrou da confiança dela, da elegância, da maneira como sempre fora firme em suas convicções – e, acima de tudo, da rejeição que sofrera.
Para ele, era impensável que alguém o rejeitasse. Ele era o príncipe, o herdeiro da coroa de Imperion, dotado de poder e prestígio, e, no entanto, Lianna o rejeitara por alguém como Kaito. Sua mente fervilhava de ressentimento e humilhação, enquanto os ecos das risadas de Kaito e seus amigos ainda o assombravam.
– Se Lianna não vai ser minha – murmurou entre dentes, sua voz saindo como um veneno.
– Então ela não será de mais ninguém.
E assim, o príncipe se afastou na escuridão da noite, enquanto uma sombra de vingança começava a se formar em seu coração.
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