Capítulo 13 – Hoje Rimos, Amanhã Lutamos
A luz da manhã entrava pelas amplas janelas da mansão Ignivor, iluminando a sala de jantar decorada com tapeçarias vermelhas e douradas, as cores que representavam a família. A mesa era longa, com cadeiras esculpidas em mogno, e estava repleta de pães frescos, frutas e uma seleção de queijos e carnes. Três dias haviam se passado desde o pedido de casamento de Kaito a Lianna, e a novidade já havia sido bem recebida por todos da família.
Kaito estava à mesa com seus pais, e seus avós, desfrutando do café da manhã. Eles conversavam animadamente, mas o jovem parecia inquieto, ansioso para sair e encontrar Lianna.
– Kaito, você mal tocou no seu pão – comentou Akari, com um sorriso suave.
– Estou sem fome, mãe – respondeu ele, terminando o último gole de suco.
Antes que Akari pudesse insistir, uma das servas entrou na sala de jantar, abrindo a porta com delicadeza. Atrás dela, estava Lianna, radiante como sempre. Seus cabelos castanho-claros estavam presos em um penteado simples, e ela trajava o uniforme feminino da academia, vermelho com detalhes dourados, que contrastava lindamente com seus olhos verdes.
– Jovem Layd, a senhorita Lianna está aqui – anunciou a serva, inclinando-se levemente.
– Estou pronta para irmos, Kaito – disse Lianna com um sorriso caloroso.
Todos na sala cumprimentaram Lianna com cordialidade. Desde o anúncio do noivado, ela já havia sido parabenizada por todos da família Ignivor, mas a afeição deles por ela parecia ter aumentado ainda mais.
Kaito se levantou imediatamente. Um servo aproximou-se com o sobretudo do uniforme masculino da academia, um traje de tecido grosso e bem ajustado, que consistia em uma camisa branca, calças escuras e um casaco longo de cor vermelha, adornado com o brasão de Imperion no peito — um leão flamejante. O vermelho do uniforme era uma homenagem à bandeira do reino e um símbolo de sua bravura.
— Obrigado — disse Kaito ao servo, ajustando o casaco.
Ele caminhou até Lianna, oferecendo-lhe o braço. Juntos, eles seguiram para a carruagem que os aguardava do lado de fora da mansão. Era uma bela carruagem negra com detalhes dourados e puxada por dois cavalos castanhos bem cuidados.
Enquanto a carruagem partia, a sala de jantar voltava à calma habitual. Hiroshi permaneceu sentado, observando Haruki com um olhar pensativo. Ele tomou mais um gole de seu chá antes de finalmente romper o silêncio.
— Haruki, você recebeu algum corvo com alguma de seu irmão nos últimos dias? — perguntou Hiroshi, a voz firme, mas com um toque de preocupação.
Haruki, o primogênito de Hiroshi e Eiko, ergueu os olhos do prato. Era um homem de expressão séria, com os mesmos cabelos vermelhos característicos da família. Ele balançou a cabeça negativamente.
— Não, pai. Faz semanas desde o último contato de Hizuke. Ele mencionou que estava investigando algo importante, mas não deu muitos detalhes.
Hiroshi franziu o cenho. Hizuke, o irmão gêmeo mais novo de Haruki, era conhecido por sua mente analítica e habilidades excepcionais como estrategista, mas também por sua tendência de mergulhar fundo em suas missões, às vezes deixando a família preocupada.
— Espero que ele esteja bem — disse Hiroshi, com uma expressão de preocupação que raramente mostrava.
Akari interveio, tentando aliviar a tensão.
— Hizuke sabe cuidar de si mesmo, Hiroshi. Ele sempre soube.
Hiroshi suspirou, mas não respondeu. Seus pensamentos se voltaram brevemente para sua filha mais nova, Sayuri, que estava em outra região do reino. Desde pequena, Sayuri demonstrava uma personalidade determinada, mas também uma curiosidade que a fazia se meter em problemas. A ausência dela, combinada com a falta de notícias de Hizuke, parecia pesar sobre o velho duque.
Do lado de fora, o som das rodas da carruagem e o riso distante de Kaito e Lianna eram um breve alívio para as preocupações que rondavam a mesa da família Ignivor.
A luz da manhã preenchia a sala de jantar da mansão Ignivor enquanto a família terminava o café. Hiroshi estava sentado à cabeceira, trocando poucas palavras com Haruki, enquanto Akari e Eiko conversavam sobre os afazeres do dia.
A conversa tranquila foi interrompida quando as portas se abriram abruptamente. Um soldado da família Ignivor entrou, sua armadura prateada brilhando à luz do sol que atravessava as janelas. Ele inclinou-se levemente em respeito antes de falar.
— Milordes e Milayds, um mensageiro do castelo chegou agora há pouco — anunciou o soldado, a voz firme. — O rei convocou os representantes da família Ignivor para uma audiência imediata.
Hiroshi ergueu o olhar, a expressão endurecendo. Haruki, sentado ao lado, apertou os punhos contra a mesa, a preocupação visível em seus olhos.
— Hizuke — disseram os dois ao mesmo tempo, como se já soubessem a razão por trás da convocação.
Eiko e Akari trocaram olhares apreensivos. O nome de Hizuke pairava na sala como uma sombra. Era evidente que a ausência prolongada do irmão gêmeo de Haruki estava começando a gerar consequências.
Hiroshi se levantou, sua postura firme, mas com o peso da responsabilidade evidente em seus ombros.
— Não podemos atrasar. Haruki, prepare-se.
— Já estou pronto, pai — respondeu Haruki, levantando-se de imediato.
E ambos saíram da mansão.
Quando chegaram à entrada principal, os cavalos já estavam selados e prontos. Hiroshi montou com agilidade, seguido por Haruki. Sem trocarem mais palavras, ambos puxaram as rédeas, e os cavalos partiram rapidamente pela estrada de pedras.
As esposas ficaram na entrada da mansão, observando até que os dois desapareceram na curva do caminho. O silêncio entre elas era pesado, preenchido apenas pela leve brisa da manhã.
A carruagem de Kaito e Lianna avançava pelas ruas movimentadas de Pyronia, e Kaito observava pela janela o movimento da cidade. Ele sentia o leve balanço das rodas sobre as pedras, mas seus pensamentos estavam no dia que o aguardava. Ao lado dele, Lianna sorria tranquilamente, as mãos repousando sobre o colo, enquanto seus olhos âmbar brilhavam com a luz da manhã.
Enquanto a carruagem virava para uma rua que levava à grande praça central de Pyronia. A praça era um ponto de encontro vibrante, cercada por lojas e vendedores ambulantes oferecendo de tudo, desde frutas frescas a pequenos artefatos mágicos.
Enquanto passavam pela praça, Kaito avistou um grupo familiar ao longe. Estavam parados ao lado de uma grande fonte de mármore com esculturas de dragões, que lançavam jatos d’água para o alto.
— Ali estão eles! — disse Kaito, apontando.
Os quatro amigos — Sofia, Mirya, Dick e Yuuto — estavam de pé próximos à fonte, parecendo imersos em uma conversa. Ao notarem a carruagem, acenaram animados, e Kaito sinalizou para o cocheiro parar.
Ao descerem, Lianna acenou para as amigas enquanto Kaito chamava os outros dois.
— Vocês estão prontos? — perguntou ele, observando os rostos conhecidos.
— Claro! — respondeu Yuuto, cruzando os braços com um sorriso confiante. — Estamos prontos há horas.
Dick lançou um olhar descontraído para as garotas.
— Só estávamos esperando vocês dois se lembrarem que existimos.
Lianna soltou uma risada leve, enquanto Sofia e Mirya se aproximaram dela, trocando cumprimentos. Todos subiram na carruagem, acomodando-se nos assentos enquanto o veículo retomava o caminho.
Dentro da carruagem, o ambiente logo ficou animado. Kaito olhou para os amigos e, com um sorriso travesso, comentou:
— De longe, vocês quatro pareciam estar em um encontro duplo na praça.
O silêncio que seguiu durou apenas um segundo antes de ser quebrado por risos e protestos.
— Encontro duplo? — Mirya repetiu, arregalando os olhos. — Nem nos meus piores pesadelos!
— Concordo — disse Sofia, cruzando os braços com falsa indignação. — Eu mereço algo melhor que isso.
— Ei, o que quer dizer com isso? — retrucou Dick, fingindo ofensa.
Yuuto inclinou-se para frente, tentando conter o riso.
— Acho que ela está dizendo que você não está no nível dela, Dick.
— Nem você! — respondeu Dick, apontando para Yuuto.
As provocações continuaram, cada um tentando superar o outro com comentários espirituosos, enquanto Kaito e Lianna riam do caos que haviam iniciado.
A conversa descontraída transformou a curta viagem até a academia em um momento leve e cheio de camaradagem.
A carruagem parou suavemente em frente à entrada principal da Academia Real de Pyronia, um edifício imponente de pedra clara, com torres altas que se destacavam contra o céu azul da manhã. O brasão do reino de Imperion, com seu Leão flamejante em um escudo branco, tremulava nas bandeiras espalhadas pelas laterais da estrutura.
Kaito foi o primeiro a descer, estendendo a mão para ajudar Lianna, que aceitou o gesto com um sorriso. Atrás deles, os outros desciam com risos abafados, ainda se provocando pela conversa animada da carruagem.
— Vamos, antes que nos atrasemos — disse Sofia, ajeitando a capa de seu uniforme.
O grupo caminhou pelos corredores movimentados da academia, onde outros alunos vestindo o uniforme vermelho com detalhes dourados e preto passavam apressados. O uniforme era composto por um casaco formal de botões dourados, calças escuras para os rapazes e saias para as garotas, além de uma capa curta presa ao ombro esquerdo com o símbolo do Leão de Imperion bordado.
Chegaram à sala de aula e ocuparam seus lugares. O ambiente era amplo e iluminado por janelas altas, com mesas dispostas em fileiras arredondadas. Um grande quadro negro dominava a frente da sala, enquanto os alunos se acomodavam, conversando entre si.
Kaito sentou-se ao lado de Yuuto, enquanto Lianna escolheu uma cadeira próxima a Sofia e Mirya.
— Aposto que o professor vai dar aquele sermão habitual sobre disciplina e honra — comentou Dick, inclinando-se para trás na cadeira com um sorriso preguiçoso.
— Isso se ele não decidir nos fazer correr pelo campo outra vez para “reforçar nosso caráter” — acrescentou Yuuto, cruzando os braços.
— Pelo menos é melhor do que escrever tratados sobre estratégias militares durante horas — murmurou Kaito, arrancando risadas de seus amigos.
A porta se abriu, e o professor entrou com sua postura rígida e olhar severo, silenciando imediatamente as conversas. O início de mais um dia na academia estava marcado, mas, para Kaito, o dia já havia começado bem ao lado de Lianna e seus amigos.
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