Capítulo 21 – As Lembranças de Um Herói – Parte 4
O ano era 460 do Calendário Zephyrus. Haviam se passado apenas três dias desde o casamento de Hiroshi e Eiko. O tempo ao lado de sua esposa fora breve, mas repleto de afeto e sonhos compartilhados. Na manhã de sua partida, Hiroshi prometera a Eiko que retornaria em segurança. Embora sua expressão fosse serena, Eiko não conseguiu esconder a ansiedade por trás do sorriso, que, no entanto, dava a Hiroshi a força necessária para seguir adiante.
Ao chegar ao quartel do exército, Hiroshi se dirigiu ao prédio principal para se apresentar. O secretário, um homem magro e de olhos atentos, indicou que ele deveria se dirigir aos alojamentos e aguardar novas instruções.
Os alojamentos eram simples e compostos por fileiras de beliches apertados, mas ao entrar, Hiroshi se deparou com rostos familiares. Harland e Reylen, velhos companheiros de treinamento, estavam entre os recrutas. O reencontro foi caloroso, com abraços e risadas que aliviavam a tensão do ambiente. Outros conhecidos também estavam presentes, e logo as conversas animadas deram lugar à camaradagem que só a convivência militar podia proporcionar.
Enquanto as histórias eram compartilhadas e as piadas ecoavam pelo ambiente, um oficial surgiu à entrada. Sua postura firme e voz imponente silenciaram os presentes. – Todos os recrutas, para o pátio principal, imediatamente!
Hiroshi e seus amigos se apressaram em obedecer, misturando-se à multidão que se deslocava para o pátio. Sob o sol escaldante, mais de 10 mil Cavaleiros recém-convocados se reuniram, organizados em filas que preenchiam o amplo espaço de terra batida.
No centro do pátio, um palanque de madeira havia sido erguido, e sobre ele estava o General Viktor Erleon, um homem na casa dos sessenta, com cabelos grisalhos, ombros largos e uma expressão severa que transmitia autoridade incontestável. Ele observou os recrutas com olhos analíticos antes de falar.
– Formem uma fila imediatamente! – ordenou, sua voz grave ecoando como um trovão. – Cada um de vocês receberá as armaduras que lhes cabem como cavaleiros do exército de Imperion. Não percam tempo!
As filas começaram a se formar de maneira apressada, organizadas por grupos e companhias. Hiroshi e seus amigos avançaram juntos, sussurrando entre si enquanto aguardavam sua vez. Quando finalmente receberam as armaduras, a insatisfação foi imediata. O equipamento era rudimentar, feito de um metal barato que mal parecia capaz de resistir a golpes básicos.
– Isso aqui não aguentaria uma flecha, quem dirá uma lâmina, – comentou Harland, examinando o peitoral com ceticismo.
– Acho que esperavam que fôssemos feitos de aço, não as armaduras, – completou Reylen com um riso seco.
Antes que pudessem continuar, uma voz firme cortou o ar. Um soldado, de uniforme modesto mas expressão urgente, atravessava o pátio.
– Recruta Hiroshi! Recruta Hiroshi!
Hiroshi ergueu a mão em resposta.
– Aqui! – disse em alto e bom som.
O cavaleiro se aproximou rapidamente, ofegante. – O General Erleon está à sua procura. Ele ordenou que o encontre imediatamente em sua sala.
Sem hesitar, Hiroshi entregou sua armadura para Reylen segurar e seguiu o soldado. Atravessaram o pátio e entraram no prédio administrativo. Os corredores eram estreitos, e o som das botas de ambos ecoava pelas paredes de pedra fria.
Enquanto caminhava, o coração de Hiroshi acelerava. O que o general poderia querer? Ele revisava mentalmente tudo o que havia feito desde sua chegada, buscando alguma explicação. A porta da sala do general surgiu ao final do corredor, robusta e ornamentada com o brasão de Imperion.
Hiroshi parou por um instante, ajustando a postura antes de bater à porta. Ele sabia que o chamado de um homem como Viktor Erleon nunca era trivial.
Hiroshi não hesitou. Seguiu o soldado pelos corredores do quartel até a sala do general. Ao chegar, bateu à porta com firmeza.
– Entre! – veio a voz grave de Viktor Erleon.
Hiroshi entrou e se deparou com o general sentado atrás de uma mesa repleta de papéis. O homem levantou os olhos, deu um leve sorriso e indicou que Hiroshi se aproximasse.
– Ah, Hiroshi, finalmente! Sente-se, – disse Viktor, gesticulando para uma cadeira próxima.
O general observava o jovem com um olhar curioso, quase paternal. – Então, como foi o casamento? E como é sua esposa? Ela é tão linda quanto você descreveu naquela vez que conversamos?
Hiroshi sorriu ao lembrar de Eiko. – Foi simples, general, mas perfeito. Eiko é… mais do que eu poderia sonhar. Ela é gentil e linda. Tenho sorte por tê-la ao meu lado.
Viktor assentiu com satisfação. – Eu sabia que ela seria especial. Sempre achei que você tinha bom gosto,– brincou, antes de mudar o tom. – Mas diga-me, como vai o treinamento em magia? Já dominou as chamas?
Hiroshi desviou o olhar, visivelmente desconfortável. – Ainda não, senhor. Eu não tenho talento para isso.
O general franziu o cenho e interrompeu. – Não tem talento? Hiroshi, você sabe lançar bolas de fogo, acender fogueiras, e isso já é muito. Num mundo onde a maioria não consegue nem acender uma faisca, você tem algo que muitos nem sonham alcançar. Não se subestime.
Hiroshi deu um leve sorriso, mas o general continuou, inclinando-se para frente, com um olhar mais sério.
– Já pensou em usar a Pedra Negra? Aquela pedra lendária que sua família guarda há séculos? Confesso que me surpreendeu quando você confiou em mim para compartilhar esse segredo, que mais parece um conto de fadas.
Hiroshi balançou a cabeça, o tom de sua voz ficando mais firme.
– General, eu não posso. Se não consigo controlar plenamente minha magia agora, como poderia controlar um poder tão perigoso quanto o da Pedra? Essa pedra não é a solução.
O general ficou em silêncio por um momento, absorvendo as palavras de Hiroshi. Ele parecia lamentar. – Talvez você esteja certo… Mas é difícil não pensar que essa pedra poderia acabar com essa guerra. Hiroshi, eu estou nessa guerra desde o início. Nada disso teria acontecido se o rei não fosse tão ganancioso e cruel, tentando tomar os reinos vizinhos. Isso deixou de ser uma luta por justiça a muito tempo, e se tornou uma luta por orgulho.
Por um momento, Viktor pareceu perdido em seus próprios pensamentos, mas logo se recompôs. – Mas não importa. Se a pedra não é a resposta, teremos que encontrar outro caminho. Por enquanto, vá à ferraria do quartel. Fale com o ferreiro-chefe, Merek Galdor . Diga que eu o enviei
Hiroshi assentiu, levantou-se, prestou continência e saiu da sala.
Enquanto caminhava em direção à ferraria, as palavras do general ecoavam em sua mente. Hiroshi sabia que Viktor tinha razão: a Pedra Negra poderia acabar com a guerra, mas a que custo? Ele refletia sobre o perigo de um poder incontrolável e concluiu que tal força não poderia ser a resposta.
Chegando à ferraria, Hiroshi se apresentou ao ferreiro-chefe. Merek Galdor era um homem robusto, com barba espessa e cabelos grisalhos. Ele olhou para Hiroshi com um sorriso.
– Então, você veio. Entre garoto!
Dentro da ferraria, o calor era intenso, e o cheiro de metal fundido preenchia o ar. Merek pegou uma pequena caixa de madeira e entregou a Hiroshi.
– Há algumas semanas, o general me pediu para fazer isso para você. Considere um presente de boas-vindas ao exército.
Hiroshi abriu a caixa e encontrou uma cota de malha que brilhava com um leve reflexo azulado. Ele ficou maravilhado.
– Isso é… incrível. Do que é feita?
– Astralite, – respondeu Merek, com um sorriso orgulhoso. – O metal mais resistente do mundo. É absurdamente raro e caro. Demorei semanas para trabalhar nessa peça, mas o resultado vale a pena.
Hiroshi ficou surpreso. – Por que o general me daria algo tão precioso?
O sorriso de Merek diminuiu, e ele suspirou.
– Tenho uma ideia do porquê. Você lembra muito o filho dele, que morreu há cinco anos, lutando nesta maldita guerra. Ele era como você: determinado, confiante, teimoso e, acima de tudo, sonhador. Deve ser por isso que Viktor gosta tanto de você, garoto.
Hiroshi ficou em silêncio, segurando a cota de malha com reverência. Ele sentia o peso do presente, não apenas pelo material raro, mas pelo significado que carregava.
O sol começava a descer no horizonte quando Hiroshi, sentado em uma mesa improvisada em seu alojamento, analisava o mapa do continente de Crystalia. Suas mãos percorriam as bordas do pergaminho, traçando as linhas que delimitavam os reinos e suas fronteiras disputadas. O olhar atento de Hiroshi fixava-se na vasta região desértica ao sul, onde as forças de Imperion enfrentavam os defensores de Aethernia, um reino resistente e orgulhoso que fazia do deserto sua fortaleza natural.
Antes que pudesse refletir mais, Harland e Reylen invadiram o alojamento com a energia típica de jovens cavaleiros.
– Hiroshi, já sabe? – disse Harland, ofegante.
– Sei o quê? – respondeu Hiroshi, erguendo uma sobrancelha.
– Recebemos nossas ordens – continuou Reylen, aproximando-se. – Três mil de nós, incluindo nós três, foram designados para reforçar a linha de frente no deserto de Zarethion. Vamos partir ainda hoje.
O nome Zarethion fez Hiroshi franzir a testa. Ele já ouvira histórias daquele deserto implacável, onde o calor não dava trégua nem à noite e tempestades de areia podiam engolir exércitos inteiros. Além disso, o inimigo que enfrentariam, as forças de Aethernia, eram conhecidas por sua adaptação ao ambiente hostil e suas estratégias defensivas habilidosas.
– E Lothar, Orin e Davon? – perguntou Hiroshi, preocupado com o restante de seus amigos.
– Vão para outro front – respondeu Harland. – Eles foram enviados junto com quatro mil recrutas para enfrentar as tropas de Regalius, que estão invadindo nossa fronteira leste.
Hiroshi suspirou, sentindo um peso ainda maior sobre seus ombros. O exército de Imperion estava esticado ao limite, combatendo em duas frentes simultâneas. Enquanto ele, Harland e Reylen marchariam para o norte, em direção ao deserto, Lothar e os outros enfrentariam um inimigo igualmente perigoso no oeste.
Logo, tambores começaram a ecoar pelo quartel, anunciando a preparação para a partida. O alojamento entrou em alvoroço, com soldados se apressando para equipar suas armaduras e preparar suas armas. Hiroshi vestiu a cota de malha de astralite que havia recebido do general Erleon e, ao senti-la ajustar-se perfeitamente ao seu corpo, lembrou-se das palavras do ferreiro sobre o sacrifício do filho do general.
– Se vou vestir algo tão precioso, preciso me tornar digno disso – pensou Hiroshi enquanto ajustava sua espada na cintura.
No pátio principal, os três mil recrutas que iriam para o deserto formavam fileiras. O calor do início da tarde já era sufocante, e eles nem haviam saído do quartel. Hiroshi encontrou Harland e Reylen entre as fileiras, os rostos sérios e determinados.
– Prontos para marchar? – perguntou Reylen, tentando quebrar a tensão.
– Pronto como nunca – respondeu Hiroshi, com um sorriso fraco.
Os tambores soaram novamente, e o comando foi dado. A coluna começou a marchar, enquanto o sol implacável queimava sobre suas cabeças. O caminho até Zarethion seria longo, mas não tanto quanto a incerteza que carregavam em seus corações.
Enquanto isso, em outra parte do quartel, Lothar, Orin e Davon se despediam rapidamente antes de serem enviados para sua missão no oeste front contra Regalius exigia reforços urgentes, e a separação dos amigos adicionava uma camada amarga à missão.
Ambas as linhas de frente começaram suas marchas ainda naquela tarde, cada soldado carregando a expectativa de um futuro incerto e o peso de suas escolhas.
O calor era implacável quando os recrutas finalmente chegaram ao deserto de Zarethion três semanas depois . A areia fina e dourada parecia se estender até o horizonte, dançando ao sabor do vento quente. Os três mil soldados, pararam no topo de uma pequena elevação, onde aguardavam as instruções. Ao longe, tendas de campanha e bandeiras tremulavam, marcando o quartel avançado das tropas de Imperion.
No centro do acampamento, o general responsável pelo front aguardava. Seu nome era General Darius Faltor, um homem robusto, de rosto marcado pelo tempo e olhar duro, que exalava a experiência de décadas em combate. Quando os recrutas se reuniram ao redor dele, o general deu início ao discurso.
– Homens de Imperion – começou Darius, com a voz grave e firme. – Bem-vindos ao deserto de Zarethion. Quero que saibam que já deixamos o território de Imperion há algumas horas. A areia sob os seus pés pertence a Aethernia.
Os recrutas trocaram olhares nervosos. A ideia de já estarem em território inimigo fazia o ambiente pesar ainda mais.
O general continuou:
– Este país não é como o nosso. A superfície é inabitável para os humanos. O calor escaldante impede plantações, pastos e até mesmo cidades. Aethernia, no entanto, encontrou uma solução. Há séculos, eles criaram um complexo sistema de túneis subterrâneos que percorre todo o território. Lá embaixo, estão as cidades, as estradas, os campos cultivados. É no subterrâneo que o verdadeiro país vive.
Houve murmúrios entre os recrutas. A ideia de enfrentar um inimigo que vivia em um labirinto subterrâneo soava desafiadora.
– Mas eles não são totalmente isolados – continuou Darius. – Existem fortalezas espalhadas por este vasto deserto. Essas fortalezas são as entradas para o subterrâneo. Nosso objetivo é claro: tomar uma dessas fortalezas. Apenas assim teremos acesso aos túneis e, com o tempo, venceremos esta guerra.
Um recruta levantou a mão hesitante.
– General, senhor! O exército já consegui capturar alguma dessas fortalezas antes?
O general respirou fundo, o rosto ficando ainda mais sério.
– Estou nesta guerra há vinte anos – respondeu Darius, a voz carregada de frustração. – E não, nunca conseguimos tomar uma única fortaleza de Aethernia.
As palavras caíram sobre os recrutas como uma pedra. Hiroshi fechou os punhos, mantendo seus pensamentos para si mesmo.
– Então o problema não é o exército – pensou. – É o líder. Se eles estão na guerra há duas décadas sem resultados, talvez o verdadeiro fracasso esteja na estratégia.
Darius prosseguiu:
– Nos últimos três anos, concentramos nossos esforços em uma fortaleza específica. A mais próxima da fronteira. O nome dela é Fortaleza de Kaer Azar. Amanhã, ao amanhecer, marcharemos até lá.
Os soldados permaneceram em silêncio, muitos deles absorvendo a magnitude da tarefa.
– Descansem esta noite – ordenou Darius. – Amanhã será um dia longo.
Hiroshi, Harland e Reylen encontraram um canto tranquilo para dormir. Apesar da tensão no ar, conversaram brevemente antes de cada um mergulhar em pensamentos próprios. Hiroshi, especialmente, sentia o peso de cada decisão e os riscos que estavam prestes a enfrentar.
Com o sol mal surgindo no horizonte, os recrutas se levantaram e se prepararam. O calor já era sufocante, mas o senso de dever os fazia ignorar o desconforto. As fileiras se formaram, e o exército iniciou a marcha em direção à Fortaleza de Kaer Azar.
Após uma hora de caminhada, a estrutura colossal apareceu no horizonte. Hiroshi e os outros ficaram boquiabertos com o que viam.
As muralhas principais tinham cerca de cinquenta metros de altura, uma fortaleza colossal esculpida em pedra e reforçada com aço. No topo, centenas de defensores Aethernianos eram visíveis, todos armados e prontos para repelir qualquer tentativa de invasão.
No entanto, o que mais chamou a atenção de Hiroshi foi a retirada em curso. Outro batalhão de soldados, que já estava na linha de frente, voltava para o acampamento em condições devastadoras.
Carruagens cobertas transportavam os corpos de soldados mortos, enquanto outros, gravemente feridos e mutilados, marchavam lentamente, apoiando-se em seus companheiros. Os rostos deles estavam marcados pela derrota, o olhar vazio de quem havia enfrentado o inferno.
Hiroshi sentiu um aperto no peito ao observar a cena.
– É por isso que nunca tomaram essa fortaleza – pensou ele. – Não importa o número de soldados enviados. Kaer Azar é uma fortaleza impenetrável.
A visão dos feridos e mortos pesava sobre todos, mas as ordens eram claras. Eles não poderiam recuar. Enquanto observava a fortaleza imponente à frente, Hiroshi sentiu a responsabilidade crescer ainda mais.
Ao meio- dia do dia seguinte o calor opressivo do deserto de Zarethion fazia o ar tremular enquanto o exército de Imperion se posicionava diante da monumental Fortaleza de Kaer Azar. A fortaleza parecia inabalável, com suas muralhas de cinquenta metros de altura e portões de ferro maciço que reluziam sob o sol escaldante.
O General Darius Faltor estava à frente das tropas, montado em seu cavalo e com uma expressão que mesclava determinação e severidade. Ele levantou o braço e gritou:
– Formem a linha de frente! Avancem e levem o aríete até os portões!
Os soldados se alinharam, formando uma parede de escudos e lanças. O aríete, uma imensa estrutura de madeira reforçada com ferro, estava posicionado logo atrás, sendo puxado por dezenas de soldados. O objetivo era claro: alcançar o portão, derrubá-lo e abrir caminho para a invasão.
Hiroshi, ao lado de Harland e Reylen, olhava para a formação com ceticismo. Ele sabia que aquilo era um ataque suicida.
– Estamos sendo enviados para morrer – murmurou Harland, o suor escorrendo pelo rosto.
Hiroshi assentiu, mas manteve o foco.
– Não temos escolha. Vamos, antes que sejamos punidos por hesitar – respondeu ele.
Ao som de tambores de guerra, o exército começou a avançar. A areia do deserto subia em nuvens ao redor dos homens enquanto eles corriam em direção à fortaleza. No topo das muralhas, os defensores Aethernianos já estavam posicionados, prontos para repelir a investida.
Flechas cortaram o céu, cravando-se nos escudos e corpos dos soldados de Imperion. Pedras e óleo fervente foram despejados de cima, causando caos e destruição na linha de frente. Gritos de dor e desespero ecoavam pelo campo de batalha.
Ainda assim, os soldados continuaram avançando. O sacrifício de muitos permitiu que o aríete finalmente alcançasse os portões.
– Vamos, continuem batendo! – gritou o sargento Ecair Nemer, o comandante da linha de frente.
Os soldados começaram a golpear o portão com o aríete. A madeira estalava sob o impacto, mas os portões de ferro não mostravam sinais de ceder.
Hiroshi, que havia ficado um pouco para trás para ajudar um soldado ferido, correu até o portão, unindo-se ao esforço. Porém, a cada golpe, ficava claro que o portão era quase impenetrável.
No alto da muralha, os defensores intensificaram os ataques. Flechas e lanças choveram sobre os soldados de Imperion. Hiroshi olhou para o lado e viu o sargento Ecair Nemer cair com uma flecha cravada na garganta.
– O que fazemos agora? – gritou Harland, em pânico.
Hiroshi correu até o corpo do sargento e viu que ele estava morto. Respirou fundo, tentando ignorar o medo que o consumia, e gritou para os soldados ao redor:
– O sargento está morto! Recuem! Todos, recuem agora!
Os soldados hesitaram por um momento, mas logo perceberam que continuar era inútil. Um a um, começaram a recuar, deixando o aríete para trás.
De volta ao acampamento, o clima era sombrio. Os soldados feridos e mutilados se amontoavam, sendo atendidos como podiam. Carruagens carregadas de corpos formavam uma fila silenciosa ao lado das tendas.
No centro do acampamento estava a barraca do general, uma grande estrutura que se destacava pela ostentação. Hiroshi e outros soldados passaram por guardas para entregar o relatório da batalha.
Quando entraram, a visão que tiveram os deixou atônitos. O General Darius e outros oficiais estavam sentados em volta de uma mesa repleta de comida e vinho. O chão estava coberto por migalhas e restos de carne, e as taças transbordavam de bebida.
Um dos guardas tentou interromper o banquete:
– Senhor, os soldados da linha de frente retornaram.
Darius olhou para o guarda com desdém, limpando o rosto sujo de gordura com a manga da túnica. Ele se levantou com raiva e saiu da barraca, gritando:
– Por que vocês voltaram? Eu não ordenei o recuo! Onde está o sargento Ecair?
Hiroshi deu um passo à frente, com o rosto sério e a voz controlada.
– O sargento está morto, senhor.
Darius parou por um instante, mas sua expressão de raiva logo retornou.
– E daí? Ele morreu? Vocês deveriam continuar! Não importa quem morra ou quem fique para trás, o dever de um soldado é seguir ordens!
Ele se aproximou de Hiroshi, gritando em seu rosto e cuspindo enquanto falava.
Hiroshi não recuou. Com a mesma calma, respondeu em voz alta:
– Continuar com essa estratégia é suicídio, senhor. Os Aethernianos têm toda a vantagem. Se não mudarmos de abordagem, nada vai mudar.
O general ficou vermelho de raiva.
– O dever de um soldado é obedecer! Não questionar! – berrou ele.
– O dever de um comandante é proteger seus homens e guiá-los à vitória, não mandá-los para a morte sem um plano – retrucou Hiroshi, encarando Darius com firmeza.
O silêncio se abateu sobre o local. Darius, visivelmente enfurecido, dispensou os soldados com um gesto brusco.
– Voltem às suas tendas. Amanhã cedo continuaremos com o mesmo plano.

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