Capítulo 380 – O Gigante.
Colin e Samantha cavalgavam lobos gigantes, suas pelagens espessas e brancas ondulando ao vento enquanto avançavam pela paisagem nebulosa.
— Seu pai — disse Colin. — Falei com ele. Suas irmãs, Anton, e alguns Valerianos vieram com ele.
— Sério? — Ela ficou realmente surpresa. — Não achei que ele fosse conseguir convencer minha mãe.
— Ele vai ficar feliz em te ver.
Ela abriu um sorriso bobo. — Também vou ficar feliz em vê-lo… Faz alguns meses que saí de Valéria para me juntar a você, desde então as coisas têm sido bem agitadas.
— Se arrepende? — ele perguntou, prestando atenção em sua reação.
— Nem um pouco. Não me dou bem com essa etiqueta toda que os nobres têm. Minha mãe queria que eu casasse com algum figurão de Ultan, mas segui, por outro lado, e sinceramente, foi melhor assim.
Colin assentiu.
— Pelo menos os Leerstrom ficarão na história, vocês merecem. Com seu pai sendo Lorde de uma região vasta, tenho certeza de que seus ancestrais ficariam orgulhosos.
— Agradeço por isso. Posso te fazer um pedido? — Ela desviou o olhar, envergonhada. — Meu pai serviu como guarda pessoal do imperador, e eu queria segui-lo nisso sendo sua guarda pessoal… não que você precise de ajuda, mas… seria algo que me faria bem… desde que Ultan foi destruída, eu não sinto que pertenço a algum lugar… não me encaixo em Runyra, muito menos em Valéria, mas eu me sinto bem com você, afinal, somos melhores amigos, né?
Ele coçou a bochecha com o indicador. — Tem certeza disso? De uns tempos para cá, minha vida tem sido bem pacata, bem diferente do que você tem experimentado.
— Não importa… e então, você me aceita?
Ele deu de ombros. — Por que não?
— Obrigada! — agradeceu com o coração. — De verdade!
Colin respondeu com um sorriso.
A névoa que os envolvia começava a se dissipar, revelando aos poucos os contornos de um vilarejo deslumbrante diante deles.
Construído com cristais de gelo cintilantes, o vilarejo parecia ter sido esculpido pela mão de um artista divino.
Cada edifício reluzia sob a luz suave que atravessava a névoa dissipada, criando um espetáculo de cores e reflexos que dançavam sobre a paisagem gelada.
Mas o que realmente capturava a atenção de Colin era o palácio colossal erguido atrás do vilarejo. Também feito inteiramente de gelo, o palácio se erguia majestosamente em torres e cúpulas intricadas, refletindo a luz em um espetáculo de cores.
Era, sem dúvida, uma das coisas mais belas que Colin já tinha visto em sua vida.
— Nossa… foram os gigantes que construíram tudo isso? — ele perguntou.
— Algumas coisas, sim, mas soube que eles encontraram esse vilarejo após um ataque. Um homem que chamavam de: imperador dos céus, vivia aí, mas ele acabou morto por três forasteiras. Os gigantes encontraram o vilarejo e fizeram sua morada.
“Imperador dos céus… onde já ouvi isso antes?”
A entrada do vilarejo não estava desprotegida. Posicionados imponentemente na estrada que levava ao coração do cristalino assentamento, dois gigantes de aproximadamente três metros de altura se postavam como guardiões.
Suas peles robustas e seus olhos penetrantes denotavam uma força e vigilância formidáveis, mas também uma certa reverência, como se estivessem cientes da importância daqueles que se aproximavam.
— É esse o novo imperador? — perguntou um dos gigantes. — Não parece nada de mais para mim.
— Os orcs reconheceram você? — zombou o outro. — Não me surpreende que eles sejam uma sombra do que já foram.
— Temos uma audiência com o seu rei — disse Samantha, rispidamente. — Abram passagem.
— O que disse, mulher? Você não me dá ordem alguma!
— Espere! — alertou o amigo gigante. — Deixe-os passar. Mesmo sendo um fracote, esse ainda é o rei do centro-leste.
Eles abriram passagem, e os gigantes cuspiram no chão assim que eles passaram.
Gigantes os encararam com olhos frios, suas expressões revelando uma repulsa silenciosa. As crianças, por outro lado, espiavam por entre as pernas dos adultos, seus olhos brilhantes e curiosos, cheios de expectativa ao verem o famoso imperador do leste.
Chegando às portas majestosas do palácio de gelo, Colin e Samantha desmontaram seus lobos, sentindo o peso do olhar dos guardiões sobre eles.
Um dos gigantes, vestido com uma armadura reluzente, deu um passo à frente e, com uma voz grave, pediu que os visitantes o seguissem para o interior do palácio.
Ao adentrarem, Colin e Samantha ficaram maravilhados com a grandiosidade e a beleza que os rodeava.
Os corredores eram amplos e iluminados por uma luz azulada que emanava das paredes de gelo. As portas eram altas e esculpidas em meticulosos detalhes.
Mesas feitas de cristal de gelo se estendiam ao longo dos corredores, e cada detalhe, desde os candelabros de gelo até os adornos nas paredes, parecia ter sido cuidadosamente projetado para embelezar e impressionar.
Finalmente, os conduziram até a imponente sala do trono.
O trono era uma obra-prima de gelo esculpido, refletindo a luz de maneira deslumbrante e emanando uma aura de poder e majestade.
Sentado no trono, estava o rei dos gigantes.
Ele tinha cabelos brancos curtos, quase raspados nas laterais, contrastando com uma longa barba que descia até o peito. Vestia-se com trajes robustos, típicos dos nortenhos, adornados com símbolos e emblemas que denotavam sua linhagem real e poder.
Sua estatura era impressionante, quase duas vezes a altura de um gigante comum, fazendo com que ele alcançasse cerca de cinco metros de altura.
Seus olhos profundos e penetrantes avaliaram Colin e Samantha com uma mistura de curiosidade e desconfiança, enquanto sua presença dominava a sala, impondo respeito e reverência a todos os presentes.
— Senhor — anunciou um dos gigantes. — Este é o…
— Rei Colin de Runyra — Completou o gigante com uma voz imponente. — Pensei que fosse maior.
— E eu pensei que tivesse uma reserva de mana decente por se proclamar o rei deles — zombou Colin.
— Veja como fala! — esbravejou um dos soldados que se calou quando o rei ergueu a mão, silenciando-o.
— Eu soube dos seus feitos — disse o rei dos gigantes. — Desde o primeiro deles, quando ainda habitava a extinta Ultan. Me impressiona que tenha chegado tão longe sendo um mestiço.
— Os Orcs o reconheceram — disse Samantha, dando um passo à frente. — Dobre os joelhos e termine a guerra no Norte.
— Me dobrar? — O rei apoiou a cabeça em seu punho cerrado. — Por quê? Orcs e gigantes têm diferentes parâmetros de análise. Sabe, mestiço, não há muitos usuários de magia entre os gigantes, por isso perdemos para as frágeis fadas, perdemos para os humanos e até para alguns orcs. Gigantes raramente se dobram, mesmo nessas circunstâncias, porém, alguns deles se dobraram para vocês depois de ouvir que receberiam terras e um lugar para prosperar.
Com as mãos nos bolsos, Colin assentiu.
— E você já tem uma terra, por isso não se dobra?
— É um bom motivo, mas não é tudo. — Em um gesto imponente, o rei ergueu-se de seu trono e desceu as escadas. — Não me entenda errado, rei de Runyra, não rejeito a paz e não estou aqui para prolongar uma guerra. O seu pessoal já matou muito dos nossos, e acredito que se insistíssemos em uma guerra com Runyra, acabaríamos massacrados.
Ele ficou frente a Colin, o errante batia na metade das coxas do gigante.
— Da última vez, não tive a chance de lutar com o antigo imperador humano, o que chamavam de Ultan. Sequer o conheci. Mas você se dispôs a vir aqui até mim, seria um desrespeito te deixar ir sem que trocássemos golpes de espada.
— Certo… — Colin abriu um sorriso. — Quer fazer isso aqui?
— Aqui? Na sala do trono? Não, não, não, vamos direto para a montanha. É um vulcão morto, mas também é uma arena. Gigantes adoram usá-la para treinar e, além de tudo, será um espetáculo e tanto para o povo.
— Se você diz…
— Certo! — O rei dos gigantes abriu os braços. — Façam os preparativos, espalhem por toda a vila, o rei do leste contra o rei do noroeste! — Seus olhos se voltaram para Colin. — Encontro você lá, leve sua melhor arma, se não tiver uma, fornecerei a você.
Colin abanou uma das mãos. — Tudo bem, não precisa.
— Certo, aproveite, o duelo começará em cinco horas.
O rei se retirou para os fundos, e Colin ficou na sala do trono com Samantha enquanto trombetas tocavam anunciando o grande evento.
— Não precisava ter aceitado — comentou Samantha cruzando os braços após um suspiro.
— Desde que cheguei aqui, nesse mundo, percebi que a força é a única coisa que a maioria das raças respeita. Não seria diferente com os gigantes.
Ela assentiu. — Vai lutar para valer?
— Depende dele. Vamos, faltam algumas horas. Vamos conhecer mais do vilarejo e depois ir direto para esse vulcão adormecido.
Ali, no coração de um vulcão adormecido, uma surpreendente arena de combate se revelava, lembrando os grandiosos coliseus dos tempos antigos, mas com uma beleza única.
As paredes do vulcão eram revestidas com cristais de gelo resplandecentes, criando um contraste fascinante entre o fogo interno e o gelo eterno.
Arquibancadas, também esculpidas em cristais de gelo, erguiam-se em camadas perfeitamente esculpidas, refletindo a luz em mil tons de azul e branco.
Os assentos pareciam quase translúcidos, como se fossem feitos de cristais puros, proporcionando uma vista deslumbrante da arena abaixo.
O chão da arena era uma maravilha em si, liso e imaculado, sem nenhuma imperfeição visível.
No centro da arena flutuava um imenso cristal de mana. Sua luminosidade pulsante iluminava todo o recinto, e sua presença era sentida em cada canto do vulcão.
Colin avançava pelo túnel escuro, seus passos ecoando no silêncio sepulcral à medida que se aproximava da luz que brilhava à distância.
No centro da arena estava o imponente rei dos gigantes.
Ele não usava roupas leves ou adornos desnecessários; ao contrário, vestia-se com trajes robustos e imponentes, adequados à sua estatura e posição de poder.
Atravessando seu corpo imenso, ao seu lado, estava cravada uma espada colossal. A lâmina era tão grande quanto ele, com runas e símbolos gravados ao longo de sua extensão.
Assim que Colin e o rei dos gigantes se posicionaram frente a frente na arena, um murmúrio de expectativa percorreu as arquibancadas.
Os espectadores, sentados nas geladas arquibancadas de cristal de gelo, se inclinavam ansiosamente para a frente, seus olhos fixos nos dois protagonistas daquele momento épico.
— O povo está animado, consegue sentir isso, garoto?
— Acho que sim.
— Bem, não precisa se segurar. — Ele apontou para o cristal acima de sua cabeça. — Aquilo vai proteger os espectadores e reconstituir a arena com o tempo.
“É o mesmo feitiço que tinha na mansão dos vampiros.”
— Pensei que não houvesse usuários de magia habilidosos entre os gigantes.
— Ah, isso não fomos nós que construímos, foi o rei que vivia aqui antes de nos apossarmos desse lugar. — Ele tirou sua enorme espada do solo de gelo. — Preparado, garoto?
Usando a mana de Claymore, Colin conjurou uma espada longa de raios carmesim.
— Estou!
Com um rugido ensurdecedor, o gigante ergueu sua espada colossal e desferiu um golpe descendente com uma força devastadora, direcionado a Colin.
Ting! Boom!
O aço cortou o ar com uma fúria avassaladora, mas Colin, ágil como um relâmpago, ergueu sua espada de raios, bloqueando o ataque com precisão letal.
O impacto entre as lâminas gerou uma explosão de energia, e ondas de choque reverberaram pela arena, sacudindo o chão de gelo sob seus pés como se fosse um tambor.
Monstruoso fora o golpe do gigante, tão poderoso que o chão de gelo se partiu sob os pés de Colin, que foi afundado profundamente pela força do impacto. Mas, em vez de medo ou hesitação, um sorriso selvagem e predatório se espalhou por seu rosto, seus olhos cintilando com uma fúria incontrolável.
— Então, esse gigante não era só conversa! — murmurou ele, o sorriso se alargando de maneira ameaçadora, quase insana.
Colin forçou contra o peso do gigante, sua espada de raios cintilando como uma tempestade prestes a se libertar. O gelo ao redor dele não suportou a pressão crescente e se estilhaçou em uma chuva de fragmentos.
Scrash!
Grandes blocos de gelo voaram em todas as direções, lançados violentamente contra a barreira mágica que protegia a plateia.
A barreira brilhava, ondulando sob o impacto massivo, mas permanecia inabalável, uma defesa impenetrável para os espectadores que observavam com olhos arregalados e corações acelerados.
Boom! Boom! Boom!
Quando a poeira e os fragmentos de gelo finalmente começaram a assentar, a visão da arena se revelou clara novamente.
No centro, Colin e o gigante permaneciam firmes, envolvidos em um impasse brutal. Os músculos de ambos estavam tensionados ao limite, suas forças titânicas em confronto direto. Os pés de Colin afundavam gradualmente no gelo, enquanto ele segurava a pressão colossal do inimigo, mas seu olhar não demonstrava cansaço — apenas uma calma predatória.
— Você até que tem bastante força para um homem do seu tamanho, rei de Runyra! — gritou o gigante, com um sorriso cruel no rosto.
Colin, no entanto, não se abalou. Em meio à tensão crescente, seus lábios se curvaram em um sorriso astuto, cheio de malícia. De repente, sua espada de raios carmesim desapareceu em um lampejo, como se tivesse se desmaterializado no ar.
— O quê?! — O gigante, atônito, viu-se diante de um Colin desarmado. Confuso, ele agiu por instinto, levantando sua espada colossal e descendo-a com toda a força em direção ao chão, buscando esmagar Colin com um golpe mortal.
Mas o rei de Runyra já havia previsto o movimento. Com uma agilidade que beirava o sobrenatural, ele se moveu como um raio. Antes que o gigante percebesse, Colin já estava nas suas costas, escapando do golpe com maestria.
— Te peguei! — rosnou Colin.
Num movimento fluido, ele desferiu um soco poderoso nas costelas do gigante, o impacto reverberando pelo corpo do colosso como um trovão.
Cabrum!
Um estrondo ensurdecedor ressoou pela arena e o gigante foi derrubado, capotando no chão de gelo com um tremor violento.
Parecia que o soco de Colin não havia surtido efeito, pois o gigante rapidamente se recuperou, cravando sua espada no chão e usando-a como um apoio para se estabilizar.
No entanto, algo extraordinário aconteceu.
O local em que Colin havia socado o gigante começou a mudar.
As vestes do rei na área do impacto transformaram-se em pedra e se quebraram, revelando a pele abaixo.
O gigante olhou para baixo, surpreso.
— Hehe! Miserável!
“A armadura que pedi para os magos do norte construírem… ele conseguiu quebrar uma parte… me assusta pensar o quão poderoso foi esse soco.”
— Você disse que eu não preciso me preocupar em me segurar, então não vou. Exceto se você quiser que eu pegue leve — zombou o errante.
Ambos trocaram sorrisos.
O gigante deixou a espada cravada no chão e retirou o seu manto, mostrando seu corpo musculoso.
— Não precisa pegar leve, um golpe fraco desse não vai me matar!
Respondendo à provocação, Colin também retirou seu casaco, em seguida retirou a sua camisa.
— Não usei nem metade da força nesse ataque.
— Hehe! O que foi, está com pena de um velho? Vamos lá, eu aguento!
— Você quem pediu!
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