Índice de Capítulo

    Blém! Blém! Blém!

    Sinos ecoavam pelas catedrais, enchendo as ruas com um som vibrante. As catedrais estavam repletas de fiéis, que se movimentavam agitadamente, envoltos em suas orações e preces.

    A atmosfera era carregada de fervor e devoção, com os sons dos sinos ressoando não como um chamado espiritual, mas como um alerta para toda a cidade.

    Nas ruas movimentadas, o cenário era de agitação constante. Pessoas iam e vinham apressadamente, cruzando-se em um emaranhado frenético de atividades. Mercadores guardavam suas coisas, crianças eram puxadas por seus pais, ouvia-se até mesmo o choro de algumas delas, clamando pelo brinquedo que acabou caindo na agitação.

    Em meio a esse turbilhão de atividades, uma freira atravessou apressadamente a rua, desviando-se das pessoas e adentrou uma casa sombria logo à frente.

    O interior da residência era penumbroso, com pouca luz penetrando pelas janelas entreabertas.

    No interior da casa, um sacerdote estava sentado de frente para um enorme quadro em branco, imerso em profunda contemplação.

    Ele vestia uma batina tradicional, seus cabelos eram escuros, mas grisalhos nas laterais, e seu nariz empinado conferia-lhe uma expressão única de autoridade.

    — Sacerdote Heien! — disse a freira, ofegante. — Eles estão aqui, os Elfos Negros estão aqui!

    Ele suspirou, abrindo um sorriso diabólico. — Finalmente!

    Erguendo-se, ele ajeitou o colarinho.

    — Escreva para o bispo Barlog, diga que estamos indo até lá.

    — Ce-certo!

    No meio desse tumulto, Heien caminhava tranquilamente pela rua, enquanto as pessoas corriam apressadas, tentando se proteger do ataque.

    Heien parecia imune à confusão e ao medo que se espalhavam pelas ruas. Seu andar era calmo, e ele emanava uma aura de poder acima do normal.

    De repente, do fim da rua, enormes cães negros de olhos vermelhos surgiram, correndo furiosamente em direção às pessoas indefesas, espalhando ainda mais terror.

    — Aí estão vocês, criaturas das profundezas do abismo. Claro, só um Elfo Negro para ter posse de algo assim.

    Com um simples movimento da mão do sacerdote, uma onda de energia foi liberada, atingindo os cães com uma força invisível avassaladora.

    Crunch! Crunch! Crunch!

    Os cães foram obliterados instantaneamente, como se tivessem sido apagados da existência.

    Seus corpos foram despedaçados e suas vísceras espalharam-se pelas ruas, deixando para trás apenas os destroços sangrentos de sua presença ameaçadora.

    — Como esperado de criaturas infernais, continuam fracas.

    As ruas da cidade estavam começando a ser tomadas pelos Elfos Negros. Seus olhos ardiam com um brilho maligno, e seus sorrisos retorcidos revelavam uma satisfação cruel pelo caos que estavam causando.

    — Não matem o sacerdote, ele é meu! — disse um deles, lambendo os beiços.

    Entorpecidos, avançaram em direção a Heien com uma determinação agressiva.

    — Vindo todos para cima de uma vez? Isso só facilita o meu trabalho.

    Com a mesma serenidade e precisão demonstradas anteriormente, Heien realizou um único movimento de seu braço.

    Uma onda de energia poderosa irrompeu dele, dilacerando uma dezena de Elfos Negros em um instante.

    Scrash! Scrash! Scrash!

    Eles foram despedaçados e lançados ao chão, sem que Heien sequer tivesse precisado mover-se do lugar onde estava.

    Seu poder era avassalador, e o impacto de sua ação deixou os Elfos restantes momentaneamente atordoados.

    De cima de um prédio, dois Elfos Negros observavam o sacerdote.

    — É um Monarca Arcano do Vácuo, é melhor recuarmos, senhor Miogve.

    — Não, espere. Eu resolverei isso.

    — Certo, senhor.

    Dobrando os joelhos, o Elfo Negro saltou, caindo na rua frente a Heien. Sua queda foi sutil, completamente silenciosa.

    “Chegou um forte.”

    — Usuários do vácuo são sempre problemáticos — disse o Elfo, desembainhando sua cimitarra. — Já faz tempo que lutei contra um de vocês.

    — Por que resolveram sair da toca após séculos?

    — Ordens do chefe.

    Heien levantou o braço em direção à Miogve, o ar ao redor do Elfo ondulou e tremulou, mas o mestre do silêncio permaneceu inabalável.

    “Ele anulou?” pensou o sacerdote.

    Com um gesto fluido, Miogve estendeu a mão e o mundo ao redor deles se tornou um manto de silêncio absoluto.

    O berro das pessoas desapareceu, os passos dos Elfos foram silenciados e até mesmo os gritos distantes da cidade cessaram.

    Miogve usou sua habilidade para ocultar sua presença, tornando-se um fantasma.

    “Esse silêncio… é agonizante!”

    Fazendo sua posição de dedos, Heien invocou uma barreira de proteção ao seu redor. Círculos sagrados se formaram sob seus pés, emitindo um brilho forte.

    De repente, uma sombra se moveu nas sombras, uma presença quase imperceptível. Miogve se materializou por trás do sacerdote, seus olhos frios como gelo.

    “Atacar por trás? Típico de um usuário do silêncio!”

    O sacerdote girou rapidamente, banhando seus braços cruzados com mana.

    Ting!

    O impacto foi forte, e Miogve foi jogado para trás, mas ele rapidamente se recompôs, ficando invisível novamente.

    “A espada dele… isso é ante-magia… mas é diferente…”

    Debaixo do sacerdote, saiu a ponta da cimitarra, mas ele saltou para trás antes de ser atingido. No entanto, Miogve já estava lá, pronto para cortar o religioso.

    “Sempre pelas costas.”

    Sua mão estendida como se fosse uma espada, os dedos tremendo com esforço e concentração, Heien virou-se de repente, cortando o ar com magia de vácuo.

    Swin!

    Miogve colocou a espada na frente para aliviar o impacto, o que ajudou a continuar inteiro, porém o impacto foi visceral. Atrás dele, uma catedral fora cortada ao meio, e ele se juntou aos escombros em um estrondo ensurdecedor.

    Boom!

    A poeira dissipou e Miogve estava lá, cortado ao meio.

    Ao longe, de pé em cima de um prédio, o verdadeiro Miogve estava de braços cruzados sem um único arranhão.

    — Ele tem reflexos impressionantes mesmo lutando com uma ilusão — disse o Elfo ao seu lado.

    — Vamos recuar por enquanto — disse Miogve. — Não venceremos o sacerdote sem um plano.

    — Sim, senhor.

    — Não vamos facilitar para eles, continuem mandando os cães.

    — Certo.

    O Elfo deu uma última olhada no sacerdote e ficou invisível.

    “A gente voltará a se encontrar, sacerdote.”


    No interior de um amplo banheiro iluminado pela suave luz de velas perfumadas, uma banheira cheia de espumas cremosas ocupava o centro do espaço.

    A água estava quente e borbulhante, envolta em camadas espessas de espuma branca e macia, que pareciam abraçar a superfície da água como nuvens em um céu sereno.

    Jane estava imersa na banheira, suas costas apoiadas na borda, enquanto seus braços descansavam nas extremidades, formando um contorno gracioso sobre a espuma.

    Ela segurava delicadamente uma taça de vinho tinto, cujo líquido rubi brilhava suavemente à luz das velas.

    Seus olhos estavam fechados, e um sorriso tranquilo adornava seus lábios.

    — Finalmente, um pouco de paz.

    Assim que disse isso, a atmosfera de paz foi abruptamente quebrada quando a porta do banheiro se abriu lentamente. No umbral, parada como uma visão etérea, estava Ayla trajada com um vestido branco leve que flutuava ao redor dela como uma nuvem, realçando sua beleza e graça naturais.

    — Pelos deuses, será que não posso ter um minuto de paz? — ela reclamou, deixando o vinho de lado. — O que é dessa vez?

    O semblante de Ayla era sério, seus olhos encontrando os de Jane.

    — Veja como fala, criatura do abismo.

    — O que você deseja, “majestade”?

    — Já recuperou sua força, né? Seu poder total.

    Jane estreitou os olhos. — Como você…

    — Não preciso da Isabella para ficar de olho em você, também tenho os meus métodos. — Ayla se aproximou da banheira, pegando a taça de vinho antes que Jane a alcançasse.

    Ela também enfiou as mãos nos bolsos e retirou um livro pequeno. Jane o reconheceu, ela o entregou a Colin quando ele foi para o abismo.

    — Achei nas coisas do Colin, é seu, né? — Ela jogou para Jane e se sentou na beirada da banheira. — Tem muitas informações interessantes aí, principalmente informações sobre você.

    — …

    Ayla saboreou o vinho e olhou para a taça. — Vinho barato? Pensei que tivesse um gosto refinado para uma entidade. Enfim, o livro diz que você consegue criar marionetes e colocar nelas habilidades daqueles que morreram enquanto tinham pacto com você.

    Jane relaxou na banheira.

    — Diz logo o que você quer.

    — Você é uma criatura milenar. Devem ter monarcas que fizeram pactos com você. — Ela tomou mais do vinho. — Você irá fazer Monarcas para mim, de todas as árvores. Eles irão lecionar na universidade.

    — Ei, ei, ei, espera aí, bonitinha, já tem aqueles sacerdotes que tenho que controlar, e agora você quer que eu controle doze Monarcas distintos? Leu mesmo isso direito?

    — Li. Você não controla suas marionetes remotamente. Você dá ordem, e elas executam.

    O sorriso sempre sedutor de Jane desapareceu.

    — É por isso que preferem a outra bonitinha de cabelo verde, você é uma aproveitadora cretina!

    Ayla sorriu de canto.

    — Em uma quinzena, haverá a prova de seleção. Valagorn já construiu a torre que servirá como teste, quero suas marionetes prontas até lá.

    — E se eu não quiser?

    — Falarei com Colin. Sou eu quem dorme com ele, pari os filhos dele, acha que ele ouvirá quem? A esposa ou uma súcubo do abismo? — Ayla colocou a taça vazia na borda da banheira. — Uma quinzena e o prazo para resolver o assunto com os sacerdotes está terminando, seja rápida.

    Com um sorriso convencido, Ayla deixou o banheiro.

    — Ainda te mato, bonitinha, ainda te mato.

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