Índice de Capítulo

    Na sala, paredes de pedra cinza cobertas por tapeçarias vibrantes retratavam florestas antigas e batalhas míticas.

    Uma lareira robusta dominava uma extremidade, suas chamas dançando alegremente e lançando um brilho acolhedor sobre o piso de madeira polida.

    Prateleiras repletas de livros e pergaminhos se alinhavam nas paredes, intercaladas com diversos artefatos mágicos que cintilavam sob a luz suave das velas.

    No centro da sala, Aoth estava sentado em sua cadeira de carvalho esculpida, uma peça imponente que parecia quase um trono. Ele segurava um punhado de papéis desordenados, seu olhar perdido em pensamentos distantes.

    A luz da lareira refletia em seus olhos, revelando uma tempestade de emoções que lutavam por espaço: determinação, dúvida e um toque de medo.

    De repente, a porta se abriu com um estalo e um de seus homens de confiança entrou apressadamente. O ar de urgência era palpável quando ele falou, sua voz baixa, mas carregada de tensão:

    — Senhor, tenho atualizações sobre a invasão dos Elfos negros. As notícias não são boas.

    O homem de confiança de Aoth avançou um passo.

    — Senhor, — ele começou — vários barões de Brambéria caíram, assim como sacerdotes da diocese de Barlog e o duque do país livre de Kyros. Tememos que Valéria seja o próximo alvo. Nossos guardas são poucos; não temos como combater a força avassaladora dos Elfos negros. Os relatos que chegam falam de uma carnificina e crueldade sem precedentes…

    Aoth sentiu um calafrio percorrer sua espinha. O suor frio brotava em sua testa, enquanto ele lutava para manter a compostura.

    Ele tinha recursos, sim, uma herança robusta deixada por Ultan, mas o que era ouro contra aço? Não tinha soldados suficientes; suas fronteiras estavam nuas, seus homens mais habilidosos haviam debandado para Runyra seguindo Leerstrom.

    Encurralado, Aoth sabia que o verdadeiro teste de seu reinado estava prestes a começar.

    O silêncio se estendeu, pesado como o ar antes de uma tempestade. Finalmente, com um suspiro que parecia arrancar a própria alma, Aoth acenou com a mão desgastada para o rapaz.

    — Escreva para Runyra — Aoth disse, sua voz carregada de um peso que nenhum homem deveria carregar. — Diga-lhes que Valéria está em perigo. Que qualquer ajuda, especialmente soldados, será recebida não apenas com gratidão, mas com a promessa de uma aliança duradoura… temos bastante ouro também…

    O rapaz acenou.

    As palavras de Aoth eram mais do que um pedido; eram um sinal de vulnerabilidade, um reconhecimento de que, mesmo com toda a sua riqueza e poder, ele estava à mercê de forças muito maiores.

    Assim que a porta se fechou atrás do rapaz, Aoth ergueu-se de sua cadeira com uma fúria tempestuosa. Seus movimentos eram caóticos e descontrolados, um reflexo da tormenta que rugia em seu peito.

    Com um gesto selvagem, ele varreu os papéis da mesa, enviando-os em um redemoinho de desespero pelo ar. Livros antigos e pergaminhos sagrados foram lançados ao chão, suas páginas se espalhando como asas de pássaros feridos.

    Nem a estante foi poupada. Aoth a empurrou e ela caiu com um estrondo ensurdecedor, uma chuva de conhecimento perdido se espalhando pelo chão de madeira.

    Então, com um rugido que ecoou pelas paredes de pedra, ele virou a mesa maciça, sua superfície deslizando e colidindo com o chão com um impacto que parecia sacudir a própria sala.

    — Runyra! — ele berrou, sua voz um trovão de indignação e orgulho ferido. — Merda! Implorar por sua ajuda é admitir minha derrota, minha inferioridade!

    A política era um jogo de aparências e poder, e Aoth sabia que acabara de jogar uma de suas cartas mais valiosas. Mas em seu coração, ele também sabia que era um movimento necessário para salvar seu povo e seu reino da aniquilação certa.


    Yuki estava jogado na cadeira, com uma perna pendurada sobre o braço e a outra esticada, batendo ritmicamente no chão de pedra. Seus olhos percorriam as rachaduras do teto, perdidos em pensamentos distantes, quando a voz de Ayla cortou o silêncio.

    — Ouviu o que eu disse? — Ayla perguntou, irritada.

    Yuki piscou, voltando à realidade, e assentiu com a cabeça.

    — Sim, eu ouvi — ele respondeu. — Minha equipe e eu vamos lidar com as lideranças Élficas. Mas o preço… — Ele fez uma pausa, olhando diretamente nos olhos de Ayla. — O preço será alto. Quero o dobro de ouro pelo trabalho e cem hectares de terra na fronteira do norte.

    Ayla recuou como se tivesse sido fisicamente atingida.

    — Isso é um absurdo! — ela sibilou.

    — Não mais absurdo do que as missões que você tem me enviado — Yuki retrucou. — Cada uma é mais perigosa que a anterior. O pagamento vale o risco.

    Por um momento, Ayla pareceu ponderar, medindo o homem à sua frente. Então, com um aceno relutante, ela concordou.

    — Está bem. Mas quero resultados, Yuki. Agora, saia da minha sala e não volte até que tudo esteja resolvido.

    Yuki se levantou, ajustando a katana em sua cintura, e caminhou em direção à porta. Sem olhar para trás, ele sabia que Ayla o observava, talvez questionando se o preço que ela concordou em pagar não seria alto demais.

    Assim que Yuki abriu a porta, o mundo pareceu desacelerar.

     Estava lá, uma visão de beleza etérea que desafiava sua compreensão. Seus cabelos escuros fluíam como uma cascata noturna, tingidos aqui e ali com matizes de verde que lembravam as profundezas de uma floresta antiga. Seus olhos, um reflexo perfeito dessa paleta natural, brilhavam com uma luz suave e acolhedora.

    Yuki sentiu um nó se formar em sua garganta, e suas palavras se perderam em um sussurro reverente.

    — Deusa Brighid… perdoe os meus modos, por favor… ficar com a cabeça erguida na sua presença é um pecado.

    Brighid sorriu sem jeito.

    — Levante-se, por favor — ela disse, sua voz tão suave quanto a brisa da manhã. — Não há necessidade de se curvar.

    Ainda hesitante, Yuki ergueu-se, mantendo os olhos baixos.

    — Eu… Eu imploro por sua bênção, Deusa — ele murmurou.

    Brighid, sem saber exatamente como proceder, mas movida por um impulso de bondade, estendeu a mão e tocou levemente o ombro de Yuki.

    — Você tem minha bênção, guerreiro — ela disse. — Que seus caminhos sejam iluminados e seus fardos, leves.

    Com um aceno de cabeça, Yuki recuou, cada passo o afastando mais da Santa de Valéria. Quando ele finalmente se virou, deixando Brighid para trás, uma sensação de alívio o invadiu, misturada com uma dose de admiração.

    Ayla observou a cena, seus olhos se encontrando com os de Brighid.

    Nenhuma das duas falou, mas o silêncio entre elas era eloquente.

    — Bem… você aqui, Brighid, aconteceu alguma coisa?

    A fada caminhou com graça até a mesa de Ayla, seus passos tão leves que mal tocavam o chão. Com um gesto suave, ela colocou uma pedra singular sobre a mesa de madeira.

    — Estive estudando maneiras de preservar a mana desde minha estadia na ilha das fadas — ela começou estendendo a mão enquanto páginas repletas de símbolos mágicos e diagramas complexos eram conjurados, flutuando ao seu redor, como folhas ao vento.

    — Colin conseguiu essas anotações — Brighid continuou, seu olhar percorrendo as páginas que giravam em um balé silencioso. — Elas contêm invenções e estudos fascinantes, mas o que procuro é um estudo específico, um método para fazer uma pedra flutuar, preservando mana dentro dela.

    Ayla, com a mão no queixo, observava o espetáculo de conhecimento místico que a cercava.

    — E qual é o propósito disso? — ela indagou, sua curiosidade despertada.

    — Quando engravidei, minha mana se esvaiu completamente — Brighid explicou, retirando seu anel de casamento e colocando-o sobre a mesa. — Então, comecei a buscar uma forma de preservar mana para uma futura gravidez. Consegui transformar este anel em um artefato de armazenamento, capaz de reter 30% da minha mana total. E ele só precisa de um dia para recarregar.

    Ayla pegou a pedra, examinando-a com interesse.

    — E para que isso servirá?

    — A ilha das fadas é um refúgio oculto, mas ainda acessível pelo mar — Brighid respondeu. — Pensei que talvez pudesse aplicar o mesmo processo do anel nesta pedra, fazendo-a flutuar eternamente, alimentada por uma energia que se renova automaticamente, sem necessidade de manutenção.

    Ayla ergueu uma sobrancelha, intrigada. — E como isso funciona?

    Brighid tomou a pedra das mãos de Ayla e a colocou de volta na mesa. Murmurando palavras na língua das fadas, ela invocou o encantamento e, para o espanto de Ayla, a pedra começou a flutuar.

    Ayla, utilizando sua habilidade de análise, tentou discernir a natureza da mana na pedra, mas não encontrou informações o suficiente.

    “A pedra… tem energia infinita? Não… essa variação de mana… ela está utilizando a energia natural ao redor para se reenergizar.”

    — Podemos usar isso para proteger não só a ilha das fadas, mas também Runyra — Brighid declarou. — Mas preciso da sua ajuda, Ayla. Sua habilidade para refinar mana é notável. Se pudermos refinar completamente as pedras de mana, eu poderia criar pedras capazes de preservar a atmosfera e até formar uma redoma invisível.

    — … Não sei… isso parece ser trabalhoso, e eu estou ocupada esses dias…

    Brighid avançou, segurando as mãos de Ayla.

    — Por favor… Minha mana ainda não voltou completamente, se eu tivesse sua ajuda, eu poderia acelerar esses estudos, então por favor…

    Com um suspiro resignado, Ayla concordou em ajudar.

    — Tá… eu ajudo…

    — Obrigada!

    Brighid, aliviada e feliz, abraçou Ayla e saiu da sala, prometendo retornar com o restante das anotações.

    Sozinha, Ayla contemplava a pedra flutuante e as páginas mágicas que ainda dançavam no ar.

    Coçando a cabeça, ela murmurou para si mesma: — Brighid é muito inteligente para desvendar algo assim… porque, lendo essas anotações, eu não entendi nada.

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