Índice de Capítulo

    Os esgotos de Runyra eram um labirinto sombrio e repugnante, um submundo de ruínas e detritos que se estendia sob a cidade.

    O ar era pesado e malcheiroso, impregnado com o cheiro acre de mofo e decomposição. O som constante de água gotejante ecoava pelos corredores estreitos, e o chão estava coberto por uma camada viscosa de lodo e sujeira.

    Ratos gordos e ágeis corriam pelos túneis, suas patas esguias e olhos brilhantes se movendo rapidamente entre os detritos. Baratas enormes rastejavam pelas paredes úmidas, suas antenas ondulando no ar enquanto buscavam alimento na escuridão.

    Em um raro espaço relativamente limpo dentro deste labirinto fétido, Ayla estava de pé, examinando de perto o cordão que Colin lhe havia dado de presente.

    A luz tênue que penetrava pelo gradeamento acima lançava um brilho fraco sobre o metal polido, fazendo-o reluzir de forma suave.

    O silêncio foi quebrado por passos ecoando na escuridão, um som leve.

    — É estranho te ver sem aquela barriga enorme.

    Eithel emergiu das sombras. Seus olhos encontraram os de Ayla.

    — Alexander está morto — disse a rainha. — Esse é nosso último encontro.

    — É uma pena, até que eu gostava disso.

    — O que tem para mim? — A rainha perguntou.

    — Apenas fofoca. Ouvi boatos de que Alexander mandou seus homens mais confiáveis para Rontes. Não sei o que eles foram fazer lá, e isso é tudo que eu sei.

    Ayla assentiu. — E você, para onde vai agora que Alexander está morto?

    — Me juntar aos meus irmãos nas ilhas Janesi. Minha missão era focada em deter Alexander. Quando alcançarem o mar de Rontes, não se esqueçam de mandar navios para nos ajudar. Jack Ubiytsy ficará extremamente agradecido, assim como a futura imperadora do oriente, Lei Song.

    — Certo — Ayla caminhou até ela e ergueu a mão para um aperto. — Suas informações foram cruciais, não me esquecerei da sua cooperação. Tenho um último pedido a fazer.

    Eithel apertou as mãos da rainha.

    — Um último pedido, né? Se não for complicado, eu faço.

    — Você, Eithel, o que acontecerá com seus negócios?

    — Libertei todos os escravos, na verdade, deixei documentos entregando aquela enorme fazenda em suas mãos.

    — E quanto Sulestino?

    — Ele me procurou recentemente depois que soube das notícias. Não parava de falar dos seus negócios, do que a rainha de Runyra devia a ele por auxiliar na queda de Alexander.

    — Entendi… pode matá-lo por mim?

    — … Tem certeza? Parte das informações que te passei vieram dele.

    — Ele é um escravo do dinheiro, além disso, ele também é um comerciante de escravos. Não farei favores a esse tipo de gente.

    Eithel assentiu.

    — Como queira, majestade.

    Soltaram a mão uma da outra e Eithel se afastou, desaparecendo na escuridão.

    — Ela é uma assassina — disse seu pandoriano que habitava suas sombras. — Vai mesmo deixá-la ir?

    — Não quero comprar uma briga com os Ubiytsy, não agora. Vamos voltar, tenho aquele assunto para resolver com Brighid, e você deveria ficar de olhos nas crianças, não me espionando. Agora que pari, consigo me proteger sozinha. 


    Sob o brilho dourado do sol e o sopro fresco do vento, um oásis de tranquilidade abrigava as figuras mais importantes de Runyra no momento.

    A paisagem era idílica, com vastos campos de grama verdejante estendendo-se até onde os olhos podiam ver, e o céu azul salpicado de nuvens brancas flutuantes.

    Debaixo de uma árvore frondosa, Ayla e Brighid estavam ajoelhadas uma de frente para a outra, em um ritual mágico que exigia concentração e habilidade.

    O cabelo branco de Ayla estava preso em um coque elegante, e ela usava um topper preto justo que exibia sua barriga chapada e shorts curtos brancos realçavam sua figura esbelta e graciosa.

    Brighid, por sua vez, usava um topper branco igualmente justo, que também revelava sua barriga tonificada, e shorts curtos pretos que contrastavam com sua pele pálida e seus cabelos trançados.

    Entre as duas, um cristal flutuava, irradiando uma energia brilhante e pulsante. Ambas estendiam suas mãos em direção ao cristal, o suor encharcando seus corpos após horas de concentração intensa e refinamento meticuloso da mana contida no cristal.

    — Está bom — Brighid murmurou. — A mana no cristal foi refinada ao extremo.

    O brilho intenso do cristal começou a diminuir gradualmente, sua luminosidade pulsante se atenuando até que ficou com um brilho fraco.

    Ofegantes e com os rostos corados pelo esforço, Ayla e Brighid abaixaram suas mãos lentamente, sentindo o peso da exaustão após horas de concentração intensa e manipulação de energia.

    Com um movimento sincronizado, as duas se levantaram. O cristal ainda flutuava entre elas, agora carregado com uma energia purificada e potente.

    Ayla e Brighid trocaram um olhar de reconhecimento e satisfação.

    — Acha que isso vai conseguir fazer o que esperamos? — indagou Ayla, encarando o cristal.

    — É o que vamos descobrir.

    Brighid estendeu a mão cuidadosamente e apanhou o cristal.

    Com passos firmes, ela caminhou para longe, o vento suave balançava seus cabelos trançados enquanto ela se ajoelhava, afastando a grama com as mãos para criar um espaço adequado.

    Respirando fundo, Brighid cravou o cristal no chão, fixando-o com firmeza.

    Dando alguns passos para trás, ela se posicionou ao lado de Ayla, suas mãos juntas em frente ao peito e os olhos fechados em concentração.

    Ela começou a recitar palavras suaves e melodiosas na língua das fadas.

    À medida que as palavras fluíam, um círculo mágico começou a se formar ao redor do cristal. Runas luminosas surgiram no chão, desenhadas em uma escrita antiga e misteriosa, irradiando uma luz etérea que contrastava com o verde da grama.

    O círculo crescia rapidamente, expandindo-se até alcançar cinquenta metros de diâmetro.

    Então, a terra começou a tremer suavemente, e o local dentro do círculo demarcado começou a flutuar lentamente, como se estivesse desprendendo-se do solo.

    A plataforma mágica elevou-se suavemente, ganhando altitude até atingir cem metros de altura.

    Elas abriram os olhos e olharam ao redor, absorvendo a vista panorâmica que se desenrolava diante delas.

    Vales verdejantes se estendiam até onde a vista alcançava, pontilhados por florestas exuberantes e correntes cristalinas, criando um cenário de beleza intocada.

    — Uau… — Ayla deixou escapar. — Um lugar tão lindo assim existindo em um plano simulado…

    — A gente conseguiu!

    Com a realização brilhando em seus olhos, Brighid não conseguiu conter sua alegria. Ela se virou para Ayla e, com um sorriso radiante, abraçou-a com força, erguendo-a do chão por um breve momento.

    Brighid colocou Ayla suavemente de volta no chão e se aproximou da beirada do círculo mágico, perdendo-se na admiração da vista panorâmica.

    Enquanto isso, Ayla permaneceu parada, observando as costas de Brighid, o contorno de seu corpo curvilíneo e a trança que balançava suavemente com o vento.

    “Ela é mesmo incrível… seria mesmo impossível um homem não se apaixonar por ela…”

    Esses pensamentos a deixaram um pouco cabisbaixa, envolta em uma mistura de admiração e autoquestionamento.

    Porém, Brighid se virou e percebeu a mudança no clima e se aproximou de Ayla com carinho, segurando suas mãos gentilmente.

    — Eu não teria conseguido sem você, muito obrigada! — disse Brighid com sinceridade, seus olhos encontrando os da rainha.

    Os olhos de Ayla se encheram d’água com as palavras de gratidão.

    — O que aconteceu? — perguntou Brighid, o carinho e o zelo em sua voz.

    Ayla limpou os olhos e respondeu com um sorriso tímido: — Só estou feliz.

    Brighid retribuiu o sorriso calorosamente, e então disse: —Está na hora de voltar e alimentar as crianças.

    Ayla assentiu com um sorriso compreensivo.

    — Tá!


    Envoltos em capas para se protegerem do clima sombrio e opressivo que pairava sobre o vilarejo, Colin, Yonolondor e Samantha caminhavam silenciosamente pelas ruas desoladas.

    O ambiente exalava a desesperança e a decadência.

    À medida que avançavam, depararam-se com plantações escassas e pouco produtivas, o solo, ressequido e empobrecido.

    Os riachos que cruzavam o vilarejo eram poluídos e exalavam um fedor horrível.

    No coração do vilarejo, as pessoas vagavam pelas ruas com olhos vazios e sem esperança, seus passos lentos e descoordenados como se estivessem desprovidas de propósito ou energia.

    As crianças, magras e desnutridas, brincavam com a mesma apatia dos adultos, e os cães esqueléticos que vagavam pelo vilarejo compartilhavam o mesmo destino cruel.

    A lama que cobria as ruas era espessa e pegajosa, dificultando a locomoção e adicionando um peso adicional ao ambiente opressivo.

    O silêncio era quase total, sem o alegre canto dos pássaros ou qualquer outro som que quebrasse a monotonia e o desespero que se abatiam sobre o vilarejo.

    A ausência de guardas e a escassez de homens adultos eram notáveis, deixando apenas mulheres magras e crianças como os habitantes visíveis do lugar.

    O garoto mais velho que encontraram não aparentava ter mais do que quinze anos.

    — Esse lugar está bem pior desde a última vez que estive aqui… bem, me sigam, é por aqui…

    Eles caminharam até uma residência decadente, suas paredes desgastadas e o telhado em ruínas. Yonolondor bateu na porta com determinação, e o trio aguardou em silêncio.

    Após um breve momento de tensa expectativa, a porta se abriu em uma fresta, revelando um garoto.

    — Eoard… — O garoto, com um olhar de desconfiança e irritação, tentou fechar a porta com raiva, mas Yonolondor bloqueou sua tentativa.

    — Eoard, o que foi? — Uma voz feminina ecoou da escuridão da casa.

    — Sou eu, prima — respondeu Yonolondor. A porta se abriu completamente, revelando uma mulher bonita, magra e com orelhas pontudas. Seus cabelos eram loiros e os olhos esverdeados.

    Os seus olhos se encheram d’água ao reconhecer o primo, e ela o abraçou com força.

    — Onde você se meteu? — perguntou, a voz embargada e os olhos brilhando com uma mistura palpável de alívio e preocupação.

    Eles se afastaram, e Yonolondor, com uma expressão séria, perguntou.

    — O que aconteceu desde a última vez que estive aqui?

    Cabisbaixa e com a voz trêmula, ela murmurou. — Não importa mais…

    — Prima, nós viemos ajudar — disse ele, a voz firme e decidida, os olhos fixos e determinados. — O homem atrás de mim é o novo rei do norte.

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