Capítulo 391 - Golpe impiedoso.
Elnan estava em um impasse.
Atrás dele, Yuki disputava forças contra Miogve, e à sua frente estava a ruiva, uma usuária arcana do vácuo.
“Merda! O que eu faço? Eu deveria fugir, mas a minha carona desapareceu!”
A ruiva imbuiu ambas as mãos com mana.
— Assustei você, rapazinho?
— Até parece!
Zoom!
Um portal se abre ao lado de Elnan, o sugando, e dele desponta Saeiliel sem uma orelha e sem a bochecha esquerda, mostrando seus dentes. Ao lado dele estavam outros três errantes.
O errante de dois metros deu um passo à frente.
— Eu vou cuidar de você.
— E nós de você! — disse uma voz feminina atrás de Yuki.
Woosh!
Yuki desapareceu, deixando a ruiva sozinha no cômodo.
— Yuki, seu desgraçado…
— O idiota com roupas orientais — disse Miogve. — Nem pense em tocar nele, ele é meu!
Assim que Miogve apoiou o pé no chão, o tempo pareceu desacelerar e um portal com um negrume absoluto o sugou para dentro em um piscar de olhos.
Saeliel adentrou um portal e desapareceu, assim como a errante, deixando a ruiva com seu oponente.
A luz da lua entrava pela janela, iluminando um quarto antigo com paredes de pedra e móveis de madeira envelhecida.
O Errante estendeu a mão e um portal se abriu atrás dele e de sua oponente. Ele avançou rapidamente, saltando para trás, tentando pegar a ruiva de surpresa. Mas ela era rápida. Com um movimento fluido, ela tocou o chão e um pedaço dele desapareceu, fazendo com que o Errante se desequilibrasse assim que reapareceu atrás dela.
Sem perder tempo, a ruiva avançou, sua mão estendida em direção ao Errante.
“Melhor dar adeus ao seu pescoço, grandão!”
Ele tentou abrir outro portal para se esquivar, mas ela foi mais rápida. O portal se desfez antes que pudesse se formar completamente.
Crunch!
Ele urrou de dor. Seus braços cruzados conseguiram o proteger, mas, para a surpresa da ruiva, eles não haviam sido completamente dilacerados.
Se movendo rapidamente, ele tentou agarrá-la, mas a ruiva saltou para trás.
Um portal abriu do lado de sua cabeça, e ela conseguiu ver um punho cerrado.
Bam!
Defendendo-se, ela derrapou no soalho até bater com as costas na parede. O punho do errante estava em carne viva.
“Consigo apagar até aço sem dificuldade, mas o corpo dele é resistente demais. Essa não é uma técnica comum, então aumentarei a intensidade!”
Com um movimento de sua mão, ele abriu um portal enorme, tentando sugá-la para dentro. A ruiva se esquivou por pouco, agarrando-se a um dos pilares de sustentação da cabana.
Saltando para próximo dele, ela conseguiu tocar o manto do Errante, fazendo com que parte dele se desvanecesse.
Woosh!
Então, eles avançaram um contra o outro, engajando-se em um combate frenético de artes marciais.
A ruiva continuava o ferindo, deixando mais partes do seu corpo em carne viva enquanto se movia pelo quarto. Percebendo a desvantagem, o errante começou a criar portais, fazendo partes de seus corpos e roupas desaparecerem em tentativas de ataque e defesa.
Móveis e objetos voavam, desaparecendo e reaparecendo em diferentes partes do quarto.
Finalmente, com um esforço concentrado, o Errante abriu um portal gigantesco na parede, quebrando-a e revelando o acampamento enfeitado de tendas do lado de fora.
A ruiva usou um pilar de sustentação como apoio e nele girou, acertando com os dois pés no peito do errante, lançando-o pelo portal que ele mesmo havia criado.
Ele caiu no meio do acampamento, mas logo se recompôs enquanto ainda rolava no chão, derrapando.
— Merda!
O errante sangrava em demasia, enquanto a ruiva aparentava somente estar cansada. Sem dizer nada, eles avançaram contra o outro.
Bam! Bam! Punch!
A luta continuava feroz, os dois guerreiros trocando golpes poderosos, destruindo as tendas ao redor com cada movimento.
A ruiva, tentava tocar constantemente o Errante, enquanto ele, com sua habilidade de portais, tentava mantê-la à distância.
“Esse idiota está cheio de lacerações, quanto sangue cabe nesse corpo?”
Em um movimento rápido e surpreendente, o Errante conseguiu agarrar o pescoço da ruiva e abriu um portal, puxando-a com ele.
Woosh!
Em um piscar de olhos, eles estavam no céu, as nuvens passando rapidamente abaixo deles e o chão se aproximando a cada segundo.
O Errante, com um sorriso cruel, segurava a ruiva firmemente, com a intenção clara em seus olhos de fazê-la colidir com o chão com força suficiente para acabar com a luta de uma vez por todas.
A ruiva, lutando para respirar com o aperto no pescoço e percebendo a queda, reuniu suas últimas forças.
Ela agarrou os pulsos do Errante com força, seus poderes de desaparecimento fluindo por seus braços e correndo para o corpo dele.
“Me solta, seu merda!”
O Errante gritou de dor e surpresa enquanto sua pele começava a desaparecer sob o toque da ruiva. Com um esforço supremo, a ruiva conseguiu girar no ar nos últimos segundos, invertendo as posições e fazendo com que o Errante se chocasse violentamente contra o chão.
Boom!
O impacto foi poderoso, abrindo um buraco no solo e levantando uma nuvem de poeira.
Woosh!
A ruiva saiu da fumaça. Alisava seu pescoço com cuidado.
Cof! Cof!
— Esse desgraçado quase me matou!
O Errante, embora gravemente ferido pelo impacto, conseguiu se levantar. Seu corpo estava cheio de ferimentos e suas mãos penduradas pela carne.
— Sua… vadia… eu vou te matar!
Ela exibiu um sorriso de canto.
— Vocês que usam portais são bem problemáticos — disse ela.
Swin!
A cabeça do errante foi decapitada. Yuki estava atrás dele.
— Yuki! — exclamou, a felicidade estampada.
— Consegui despistá-los, vamos fugir!
— Mas e a missão?
— São quatro errantes e um monarca arcano do silêncio, nós não vamos vencer! Já matamos todos os Elfos do acampamento e libertamos as reféns, é o suficiente, vamos!
Antes que pudessem se mover, um portal se abriu atrás da ruiva. Instintivamente, ela se abaixou, esquivando-se do golpe de uma foice que passou zumbindo sobre sua cabeça.
Zioom! Zioom! Zioom!
Outros quatro portais se abriram ao redor deles no céu. Os Errantes olharam para o seu companheiro morto e Saeliel, o líder, rugiu de raiva.
— Vocês vão pagar por terem feito isso! — gritou ele, erguendo o dedo e conjurando uma espada gigante de mana que avançou ameaçadora em direção à ruiva.
— Vocês, usuários de portais, deviam me dar um tempo!
Determinada, a ruiva concentrou mana em suas mãos e deu um passo à frente. Esticando as mãos, sua magia se ampliou e metade da espada enorme desapareceu ainda em trajetória.
Scrash!
Yuki, por sua vez, apontou sua espada para a companheira. Com um sorriso cruel, ele fez a ponta da espada se alongar rapidamente. A lâmina passou raspando ao lado da orelha da ruiva e atingiu a mulher que estava atrás dela.
Ting!
Com o impacto, a mulher foi lançada de volta para o portal de onde havia vindo.
— Vamos, agora! — gritou Yuki, preparando-se para enfrentar os outros Errantes.
— Tsc! Esses dois são habilidosos… onde Miogve foi parar?! — rosnou Saeliel.
A ruiva se concentrou, esticando os dedos como se fossem lâminas afiadas. O ar ao redor dela se carregou com sua mana. Com um movimento rápido e preciso, ela lançou um corte de mana na direção de Saeliel.
Swin!
O líder Errante sentiu um arrepio percorrer sua espinha, forçando-o a adentrar rapidamente um portal para se esquivar do ataque.
Enquanto isso, Yuki rodopiou sua Katana e a cravou no chão. Um círculo mágico roxo se formou, envolvendo toda a área. Em um piscar de olhos, tanto ele quanto a ruiva desapareceram, deixando os Errantes confusos e em alerta.
— Cuidado! — disse Saeliel saindo do portal. — É uma habilidade do silêncio!
Desesperado, Saeliel olhou ao redor, tentando detectar qualquer sinal delas.
— Rufogos! Os localize!
— Sim, senho-
Mas antes que pudesse concluir sua frase, o corpo de Rufogos foi partido ao meio por um ataque rápido e letal que os Errantes não conseguiram identificar.
Crunch!
Saeliel arregalou os olhos ao ver o corpo do companheiro ser trucidado. Em um ato desesperado, esticou o braço para fugir, mas foi decepado.
Scrash!
— Droga!
Mesmo assim, usando seu outro braço, ele conseguiu se desvanecer em um portal, escapando por pouco.
A companheira de Saeliel, com sua foice em mãos, a fez desaparecer e esticou ambos os braços. Um círculo mágico se formou acima dela cobrindo toda área.
— Não vou deixar vocês ficarem se escondendo de mim!
BOOOOOM!
Uma pressão esmagadora recaiu sobre o acampamento, devastando tudo em um raio de cinquenta metros com um baque poderoso que fez a terra tremer.
Ela sorriu, pensando haver conseguido atingi-los. Mas, quando a fumaça causada por seu ataque começou a se dissipar, um corte de mana preciso a decapitou.
Crunch!
Seu corpo caiu pesadamente no chão, pondo fim à batalha e deixando o acampamento em silêncio.
— Eles fugiram! — berrou Yuki, avançando pelo campo de batalha envolto em fumaça. O ataque da Errante o atingira em cheio, abrindo um corte profundo em sua cabeça. — Vamos sair daqui antes que…
Antes que pudesse terminar sua frase, uma explosão poderosa ressoou do solo, lançando pedras para o alto como se fosse chuva.
Booom!
Da nuvem de poeira que se formou, Yuki avistou Miogve caminhando lentamente em sua direção. Em suas mãos, segurava a cabeça de Dhathrarn, seu amigo Elfo Negro.
Seus companheiros ficaram em choque.
— Dhathrarn! — berrou a ruiva, furiosa. — Seus desgraçados!
Crunch!
A ruiva pensou em intervir, mas antes disso foi apunhalada nas costas. Elnan, invisível devido à habilidade de Miogve, revelou-se, sua lâmina ainda cravada nas costas da ruiva, saindo por seu peito.
— Ruiva! — Yuki, furioso e desesperado, encarou Miogve e Elnan, seus olhos faiscando de raiva e determinação.
— Malditos! — gritou ele, erguendo sua Katana e preparando-se para o confronto final.
A ruiva, mesmo ferida, não desistiu. Com um esforço sobre-humano, ela conseguiu sair das garras de Elnan e saltou para perto de Yuki.
— Eles vão pagar por isso — disse a ruiva, sua voz trêmula.
Sem saída, Yuki resolveu usar um movimento desesperado. Enfiando a mão no interior do quimono, ele retirou um pergaminho selado.
— Escuta, ruiva, o abrigo que Dhathrarn construiu para resgatar os reféns, não está longe daqui. Assim que eu ativar o pergaminho, vamos correr o mais longe possível. Consegue fazer isso?
Com um olhar abatido, ela assentiu.
— Não sei o que esse pergaminho faz — zombou Elnan. — Mas duvido que ele consiga tirar vocês daqui.
Com um sorriso no rosto, Yuki ergueu o pergaminho.
— Ao senhor das chamas, entrego esse banquete!
Do pergaminho saíram faíscas que rapidamente se transformaram em uma torrente de fogo que se espalhou por todas as direções.
O fogo envolveu Miogve e Elnan, assim como todo o acampamento e além dele. O barulho do fogo era ensurdecedor, as chamas incinerando tudo que tocavam. Do fogo, eles ouviram um rugido, como se o próprio fogo fosse vivo.
Roaaar!
Em uma espiral, o fogo ficava cada vez maior, ultrapassando os quinhentos metros de diâmetro e alcançando até mesmo um quilômetro.
Assim que atingiu esse tamanho colossal, o fogo retrocedeu para o centro do redemoinho em um piscar de olhos, deixando uma cratera enorme.
O chão queimava como carvão e a fumaça daquele ataque alcançava facilmente os céus.
Yuki havia conseguido escapar, com a ruiva apoiada nele. Ela notou o braço esquerdo do amigo pendurado e queimado.
— O que aconteceu com seu braço? — perguntou ela.
Yuki sorriu, olhando para o braço que sacrificou para ativar o pergaminho.
— Considerando a situação, acho que é hora de me aposentar — disse ele, com um sorriso cansado, enquanto ajudava a ruiva a se afastar da destruição que haviam causado.
Zioom!
Miogve e Elnan saíram do portal, rolando pelo carvão em brasa. Parte de seus corpos estavam queimados.
— Merda! — Elnan ergueu-se. — Aquele oriental filho da puta! Ele quase me matou!
— Entenderam agora por que temos que nos unir? — disse Saeliel. Seu corpo curava-se lentamente. — Eles eram provavelmente assassinos da rainha. Três deles foram o suficiente para fazer todo esse estrago.
Era a primeira vez que Miogve se feria tanto em uma batalha.
— Eles eram bons… mataram todo meu esquadrão e ainda fugiram com as reféns. Odeio admitir, mas acho que subestimei Runyra. Escreverei para o senhor Milveg e solicitarei reforços. — Ele encarou Elnan. — Seu amigo do sul vai mesmo liberar a passagem, certo?
Elnan assentiu. — Sim, tem a minha palavra.
— Ótimo! — Miogve lambeu os beiços. — Depois de hoje, mal consigo me conter de vontade de colocar minhas mãos nessa rainha.
Yuki e sua companheira caminhavam lentamente, afastando-se do caos que haviam deixado para trás. A ruiva, com seu semblante cansado e abatido, quebrou finalmente o silêncio.
— O esconderijo não está tão longe, Yuki. Seria melhor você me deixar aqui e seguir adiante.
Yuki olhou para ela, determinado.
— Vamos ficar bem, vamos conseguir chegar juntos! — disse confiante.
A ruiva assentiu e continuou.
— Dhathrarn era um órfão… o sonho dele era abrir um grande orfanato para abrigar o máximo de crianças que conseguisse, crianças de todas as raças… Com o dinheiro que ganhávamos da rainha nessas missões, ele estava próximo de dar início ao projeto.
Yuki olhou para ela.
— Por que você está me contando isso agora?
A ruiva respirou fundo, seus olhos amarelos. Uma janela para as memórias dolorosas que ela guardava em seu coração, refletindo uma profunda tristeza.
— Cresci em uma fazenda com quinze irmãos. Eu era a mais nova, então eles sempre foram super protetores comigo. Quando eu tinha onze anos, soldados de Ultan invadiram nossa fazenda…
Seus olhos encheram-se d’água.
— Meus irmãos me esconderam, mas todos eles foram mortos. Os soldados de Ultan me capturaram, me torturaram e me venderam para um senhor… A sorte foi que esse senhor era um bom homem e me treinou. Eu o deixei quando fiz dezoito anos… Ele dizia que eu tinha o sangue dos antigos Elfos por aprender magia tão rápido. Quando o deixei, vivi a vida como quis, mas, no fundo… eu queria viver como antigamente. Ter um marido bonito, uma casa cheia de filhos e morrer bem velhinha ao lado do homem que escolhi…
A ruiva tossiu e sangue manchou seus lábios. Yuki a deitou suavemente no chão, preocupado com sua condição.
— Merda! Pare de falar, a gente já está quase chegando! Tem poções de cura lá!
— Yuki, você deveria voltar, buscar sua irmãzinha e viverem em Runyra… Acredito na rainha, acredito que ela conseguirá pacificar o continente e então outros poderão prosperar… herdar o meu sonho… Desejo isso para você…
Lágrimas começaram a escorrer dos olhos amarelos da ruiva enquanto ela tocava o rosto de Yuki. Ela olhou para o lado, vendo um lindo nascer do sol tingindo o céu de cores vibrantes.
— Está tudo bem — sussurrou ela, com a voz fraca. — Esse nascer do sol… ele se parece com o nascer do sol da fazenda… Eu estou feliz… finalmente estou… indo para casa…
A mão da ruiva ficou fraca, sua respiração cessou e seus olhos perderam a cor, deixando para trás uma expressão serena em seu rosto.
Yuki, com o coração pesado de tristeza e dor, segurou a mão fria da ruiva e olhou para o nascer do sol, uma lágrima solitária escorrendo por seu rosto.
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