Índice de Capítulo

    Morwyna estava ajoelhada em um santuário íntimo e sacro, iluminado apenas pelas chamas trêmulas das velas que se espalhavam pelas paredes de pedra.

    O aroma do incenso impregnava o ar, envolvendo-a em uma atmosfera mística e serena. Estátuas élficas em poses glorificantes decoravam o espaço, suas feições esculpidas em detalhes finos, emanando uma aura de reverência e paz.

    Vestida com um hábito que desenhava suas curvas delicadas, Morwyna mantinha os olhos fechados e as mãos unidas em prece, sua expressão serena e concentrada.

    O silêncio do lugar era interrompido apenas pelo suave crepitar das velas e pelo murmúrio suave de suas palavras de devoção.

    Ao concluir sua prece, Morwyna se levantou e empurrou a pesada porta de madeira à sua frente. As dobradiças, tão antigas quanto o próprio templo, rangiam em protesto ao movimento, ecoando pelo espaço sagrado.

    Com a porta fechada atrás dela, Morwyna encontrou uma mulher à sua espera. O semblante da mulher era sério e parecia carregar uma mensagem urgente.

    — Morwyna, alguém deseja vê-la — disse a mulher, sua voz baixa e grave.

    A Elfa engoliu em seco, o medo a apertar. A preocupação em seu rosto era evidente, temendo que as palavras de seu pai tivessem se concretizado.

    “Meu pai mandou alguém para me buscar…?”

    Ela caminhou apreensivamente em direção à porta, o coração acelerado e o medo pulsando em suas veias.

    Ao abri-la, seu coração se encheu de alívio ao ver seu avô sentado em uma cadeira rústica, aguardando-a nas profundezas das criptas.

    — Vovô!

    Com um sorriso radiante, Morwyna correu até o velho, envolvendo-o em um abraço apertado.

    — O senhor conseguiu caminhar até aqui?

    — Foi um pouco complicado, mas sim, consegui.

    Ela se afastou.

    — Aconteceu alguma coisa? — ela perguntou.

    — Seu pai deu início à invasão… muitos ducados caíram, e pelo que eu soube, Brambéria e o País Livre de Kyros devem resistir só por mais algumas semanas…

    O semblante dela entristeceu-se. — Ghindrion… está bem?

    — Sim, querida… ele deve chegar a Valéria em poucos dias… Pelo que ouvi de meus espiões, Miogve pediu que seu pai enviasse reforços, e ele irá enviar outra leva de trinta mil guerreiros.

    — Por quê? Colin resolveu agir?

    — Não sei ao certo, mas parece que Runyra enviou assassinos habilidosos que acabaram destruindo todo o regimento de Miogve, onde o próprio acabou bastante ferido.

    Em muito tempo, ela vislumbrou um raio de esperança.

    — Então, Runyra… pode mesmo ganhar?

    — Não sei ao certo… mesmo enviando sessenta mil homens para a guerra, ainda restam cento e quarenta mil, mas meu motivo aqui é outro… quero que você encontre Colin.

    — E-eu? Mas, vovô, nunca sequer saí desse país e eu sou uma inimiga, duvido que ele queira se encontrar comigo.

    Tirando do bolso, ele colocou uma pedra brilhante nas mãos dela.

    — Entregue isso a ele.

    Ela encarou o objeto brilhante. Dentro, parecia que uma galáxia se movia lentamente.

    — O que é isso…?

    — Fragmentos de memória… — O velho desviou o olhar. — Milveg disse que o motivo dessa guerra é para matar o descendente do homem que derrubou o véu… mas… eu o ajudei a derrubar o véu… séculos atrás…

    O rosto de Morwyna empalideceu, e seus olhos se arregalaram em choque e pânico, as mãos tremendo ligeiramente ao seu lado.

    — Vovô… — sua voz saiu em um sussurro, carregada de desespero e incredulidade.

    — Não temos tempo, seu pai quer usar magia profana em você — continuou o avô, sua expressão séria e urgente. — Pegue suas coisas e fuja, os homens dele devem chegar em algumas horas. Preparei um Wyvern, ele está na floresta negra. Também há alguns suprimentos com ele, então se apresse.

    Morwyna sentiu seu coração acelerar ainda mais, uma sensação de horror e desespero tomando conta dela. As palavras do avô soavam como um pesadelo, uma ameaça terrível.

    — Mas… não estou entendendo…

    — Milveg quer a entregar aos seus homens — explicou o avô, sua voz carregada de preocupação. — A magia profana é para acelerar a gestação. Ele quer usar magia corrompida para criar soldados em massa usando você, uma Elfa Negra com o sangue completamente puro.

    Ouvir aquelas palavras a deixou completamente desesperada.

    Seus olhos se encheram de lágrimas, e o medo a consumiu. A ideia de ser usada como uma ferramenta para fins tão horrendos era aterrorizante, e ela sentiu uma necessidade urgente de escapar, de encontrar segurança longe das garras de seu pai.

    — Ma-mas e o senhor?

    — Tudo que precisa saber está no cristal, diga a Colin que as habilidades da Santa com quem ele se casou devem ser o suficiente para decodificá-lo, tome!

    Ele colocou um colar em seu pescoço e disse:

    — Kolin Zilva, Ri de Runira, o vizo!

    O colar começou a levitar sutilmente, apontando para leste.

    — O colar a levará até ele, não se esqueça, Morwyna, o futuro dos Elfos Negros e desse continente estão em suas mãos!

    Morwyna lançou-se nos braços do avô, abraçando-o com toda a força que tinha. As lágrimas corriam livremente por suas bochechas enquanto ela tentava processar as palavras do avô.

    — Você é uma boa mulher, Morwyna — disse o velho, acariciando suavemente os cabelos dela. — Você também é talentosa na arte arcana. Esta guerra é benéfica para o homem que derrubou o véu, e Milveg está se comportando como uma peça dele.

    Lágrimas continuaram a descer pelas bochechas de Morwyna enquanto o avô prosseguia.

    — Pelos relatos que ouvi, o garoto não é como o pai — continuou ele, com seu tom grave e ponderado. — Ele unificou o norte, fez de seus inimigos seus aliados e trouxe prosperidade ao seu povo. Cinco anos atrás, Elfos Negros seriam marginalizados por seu passado, mas o garoto deu abrigo a vários deles, permitindo que prosperassem. Não é Milveg que deve tomar o continente, é este homem. Agora vá!

    — Te amo, vovô…

    Ela engoliu em seco, sentindo o peso da responsabilidade sobre seus ombros. Determinada, Morwyna partiu, correndo pelo corredor em direção ao seu destino incerto, mas agora com um objetivo claro e uma missão urgente.

    — Não devia colocar essa responsabilidade sobre ela — disse a mulher que havia levado Morwyna ao avô. — Este continente é caótico, e sua neta ainda é inocente demais para entender a maldade do mundo.

    — Confie nela.

    — … E o irmão, Ghindrion, como acha que ele reagirá quando souber que a irmã que ele quer proteger fugiu?

    — Ele terá que decidir.

    — A garota não parece ter decidido por conta própria.

    — Ela vai decidir quando encontrar o rei de Runyra, agora me deixe aqui, Nunveth já vai chegar. Se não quiser ser presa, é melhor me deixar sozinho.

    Ela suspirou.

    — Você foi o melhor rei que já tivemos, quero que saiba disso.

    — Obrigado, agora vá.

    Morwyna correu pelo castelo, seus passos ressoando nos corredores vazios. Seu coração batia forte, ecoando o peso da urgência e da responsabilidade que agora carregava.

    Chegando ao seu quarto, ela abriu as gavetas com pressa, jogando seu hábito de freira de lado. Em vez disso, vestiu uma túnica escura, calças e botas apropriadas para a viagem.

    Apanhou um cinto e correu até um baú no fundo do quarto, onde pegou várias poções, jogando-as dentro da bolsa presa ao cinto. Por fim, ela pegou uma capa escura com bordas douradas, colocou o capuz e saiu apressadamente do quarto.

    Ela irrompeu pelos corredores do mosteiro, esbarrando em outras mulheres e quase as derrubando no chão em sua corrida frenética.

    Ao deixar o mosteiro, uma das mulheres, ofegante e confusa, perguntou aonde ela ia.

    — Preciso encontrar um homem! — Morwyna berrou em resposta, sua voz carregada de desespero.

    Sem perder tempo, ela avançou pela floresta, seguindo as instruções de seu avô. Ao chegar a uma clareira escondida, seus olhos encontraram o Wyvern, majestoso e imponente, exatamente como seu avô havia dito.

    Ela verificou rapidamente as bolsas presas ao Wyvern, encontrando os suprimentos que seu avô havia preparado.

    Apressada, Morwyna subiu na criatura e alçou voo, dando uma última olhada no mosteiro que havia sido sua casa por décadas.

    Viu alguns homens de seu pai se aproximando do mosteiro, reforçando a urgência de sua fuga.

    Ela não olhou para trás novamente. Em vez disso, apertou as rédeas, seus olhos focados no futuro incerto, mas agora com uma direção clara e um objetivo definido.

    Nunveth adentrou o mosteiro com uma aura de autoridade e poder que fez todas as mulheres presentes rapidamente se afastarem, abrindo caminho para ele. Seu olhar penetrante varreu a sala até que ele se aproximou de uma das mulheres e, com uma voz ríspida, perguntou:

    — Onde está a princesa Morwyna?

    A mulher, claramente assustada, gaguejou uma resposta, mas antes que pudesse dizer algo, Nunveth sacou sua espada, apontando-a para ela.

    — Eu perguntei, onde está a princesa Morwyna?

    — Isso não é necessário.

    Myvraid Ostreth, o avô de Morwyna, emergiu das sombras, encarando Nunveth com uma expressão séria.

    — A essa altura, ela já está longe — disse o velho, com um tom de desdém.

    Nunveth, furioso, se aproximou do velho, a mão sobre a empunhadura de sua espada.

    — Você sumiu com algo que me pertence! — rosnou ele.

    — Morwyna nunca pertenceu a você — retrucou Myvraid.

    — Prendam-no por obstruir as ordens do imperador! — ordenou aos seus homens.

    Os guardas rapidamente se aproximaram de Myvraid, colocando-lhe algemas e grilhões anti-magia, arrastando-o para fora do mosteiro.

    — Melhor começar a rezar, Rei Milveg não terá piedade de você só porque é o pai dele — ameaçou um dos guardas.

    Myvraid, com serenidade, olhou para trás uma última vez e disse:

    — Está tudo bem, eu já vivi o suficiente.

    O jogo de poder estava em constante mutação, com facções e reinos buscando seu lugar na intricada tapeçaria do continente. Enquanto os Elfos Negros consolidavam seu domínio sobre o Oeste, uma esperança surgia no horizonte, uma informação que poderia reequilibrar as forças e mudar o curso da guerra.

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (1 votos)

    Nota