Índice de Capítulo

    Runyra fervilhava de agitação e expectativa. As ruas estavam repletas de visitantes que vinham de todas as províncias do reino, trazendo consigo uma mistura de línguas, culturas e histórias.

    As estalagens estavam abarrotadas de pessoas, suas conversas e risadas preenchiam o ar.

    No coração da cidade, o campo de provas estava preparado para receber os oitocentos candidatos que esperavam ansiosamente pelo início da seleção.

    Tobi, Meg e Hamald, entre outros aspirantes, trocavam olhares nervosos e conversavam em sussurros, compartilhando suas expectativas e temores. A competição seria intensa, pois apenas metade dos participantes seria escolhida para avançar.

    Valagorn, o mestre das provas, estava preparado para conduzir o evento, uma vez que Ayla estava ocupada com suas responsabilidades maternas.

    Enquanto isso, no interior de sua residência, Ayla cuidadosamente colocava seu bebê no berço, garantindo seu conforto e segurança antes de se preparar para o grande dia.

    Um suave bater na porta quebrou sua concentração.

    Era Tuly.

    Ele adentrou o recinto com uma expressão séria e urgente, interrompendo os preparativos finais da rainha.

    — Majestade Ayla, peço desculpas por interromper, mas há uma urgência que requer sua atenção imediata — disse Tuly, com um tom de voz que deixava claro a gravidade da situação.

    — …

    Ela olhou para o berço onde seu bebê dormia tranquilamente.

    — Muito bem, Tuly. Diga-me o que aconteceu.

    Ele hesitou antes de responder, claramente preocupado com a notícia que trazia.

    — Majestade, o senhor Yuki chegou. Sua condição é grave; ele está bastante ferido — disse Tuly, a gravidade em sua voz evidente.

    O coração dela acelerou ao ouvir as palavras do mensageiro. Sem hesitar, ela deixou o quarto, confiando seus filhos aos cuidados atentos das servas.

    Cruzando os corredores do palácio com passos rápidos, ela chegou à enfermaria, onde Yuki estava sendo cuidado.

    Ele estava deitado em uma das camas, seu corpo parcialmente envolto em bandagens ensanguentadas. Seu braço estava amputado e também estava firmemente enfaixado. Sua respiração era irregular e seu rosto mostrava sinais de dor e exaustão.

    Ayla pediu com firmeza, mas gentileza, para que as curandeiras se retirassem e os deixassem a sós. As curandeiras prontamente se curvaram em respeito e se afastaram, dando espaço para a rainha.

    Ela se aproximou da cama, observando o estado crítico em que Yuki se encontrava.

    — O que aconteceu? — perguntou ela, preocupada.

    Yuki abriu os olhos lentamente, respirou fundo e começou a falar, sua voz fraca.

    — A missão falhou, majestade. Fui o único sobrevivente, mas consegui escapar com os reféns. — Ele fez uma pausa, buscando forças para continuar. — Errantes e Elfos Negros estão trabalhando juntos. Ouvi dizer que Lumur, o imperador do império do Sul, se aliou a eles para lutar contra você. Usei uma habilidade proibida para escapar, esperando que eles morressem, mas acredito que continuam vivos. A ruiva e eu conseguimos aniquilar alguns errantes e todo o batalhão sob o comando de um Elfo Negro chamado Miogve.

    Ayla se afastou, colocando a mão no queixo e começou a andar de um lado para o outro.

    — Se eles realmente estão trabalhando juntos, as coisas se complicaram — murmurou Ayla, sua expressão tensa.

    — Estou fora, Majestade. Vou me aposentar e voltar para minha terra natal. Não tenho mais condições de lutar neste estado.

    Ayla assentiu, compreendendo a decisão de Yuki.

    — Você será pago.

    — Majestade… — Ele hesitou por um momento antes de continuar. — Tenho um último pedido.

    Ayla olhou para o rapaz, esperando que ele continuasse.

    — Quero que você construa um enorme orfanato para os órfãos da guerra. Um orfanato com uma bela vista campestre, onde seja possível ver o pôr do sol…

    A rainha ficou um pouco surpresa com o pedido, mas assentiu solenemente.

    — Tudo bem… farei como um pagamento por arriscar sua vida — prometeu.

    Yuki sorriu fracamente.

    — Foi uma honra servi-la, majestade Ayla.

    Ela retribuiu o sorriso.

    — A honra foi minha, Yuki, das ilhas Janesi. Boa sorte — disse Ayla, antes de deixar a enfermaria.

    “Isso é pior do que imaginei… se eles se aliaram, então provavelmente os Elfos Negros devem passar pelo império do Sul sem problemas… espera, eles têm Errantes trabalhando com eles, certo? E se abrirem um portal no meio da cidade? Preciso me precaver.”

    Ayla caminhava apressadamente pelos corredores do palácio, sua mente repleta de pensamentos sombrios.

    Ao abrir a porta de sua sala, ela se deparou com uma cena ainda mais chocante. Eilika estava lá, suas vestes em farrapos, o rosto marcado por lágrimas e uma expressão de desespero.

    — Eilika! O que aconteceu? — exclamou Ayla, correndo para confortá-la.

    Eilika soluçava, tentando falar, mas as palavras pareciam se perder em meio ao seu choro.

    — Mestra Lina e Celeste… elas…


    Eilika guiou a rainha até o necrotério do palácio. Ao entrar, ambas se depararam com os corpos de Lina e Celeste. As duas mulheres estavam deitadas lado a lado, suas faces pálidas e tranquilas, bem diferentes da morte que tiveram.

    Ayla sentiu um aperto no coração, uma mistura de tristeza e raiva.

    — Primeiro a tragédia com Yuki e agora isso… — murmurou palavras angustiantes.

    — O irmão da mestra Lina… ele ficou muito poderoso depois de beber uma coisa… — Ela tirou o frasco do bolso. — Ele jogou isso fora, mas consegui fazer minhas sombras absorverem antes de se quebrar.

    Ela reconhecia aquele frasco, até os resquícios do líquido eram familiares.

    — Isso… é o mesmo que Nag do território hostil usou… — Ela encarou a pandoriana. — Eilika, quando o mestre de uma pandoriana morre, o pandoriano acaba se afeiçoando a quem seu mestre se afeiçoava… se você retornou…

    Ela limpou as lágrimas das bochechas rosadas.

    — Você, senhorita Brighid, senhor Colin… sinto que tenho que ficar perto de vocês…

    — Certo, é melhor você subir, tomar um banho… podemos ficar juntas o tempo que quiser.

    Eilika assentiu, dando passos lentos até Ayla, a abraçando apertado.

    — Vai ficar tudo bem… — disse esfregando as costas da garota. — Agora vá.

    — Tá…

    Ainda chorando, a pandoriana deixou o necrotério.

    Ayla olhou para os corpos de suas companheiras caídas, sentindo o peso da responsabilidade esmagar seus ombros.

    “A culpa foi minha… primeiro os companheiros de Yuki e agora… Calma, Ayla, você sempre soube que isso poderia acontecer. É uma pena, mas isso é guerra.”

    Ela cobriu novamente o rosto de Lina.

    — Majestade… — Tuly veio dos fundos com algumas cartas em mãos. — Os corvos acabaram de entregar, são de vários reinos do oeste, incluindo Valéria…

    — Espero que sejam boas notícias desta vez.


    Ela retornou ao seu quarto, seu semblante carregado de preocupação e ansiedade. Sentou-se em sua mesa e começou a ler as cartas uma a uma.

    As palavras escritas pelos barões, viscondes e duques eram claras e carregadas de uma urgência desesperada.

    Os nobres pediam exílio, buscando refúgio em Runyra contra a ameaça iminente dos Elfos Negros. Na carta, eles informavam estarem marchando em direção a Runyra, trazendo consigo seus pertences e estavam dispostos a oferecer suas filhas mais belas ao Rei de Runyra como parte do acordo para garantir sua proteção.

    Além das cartas dos nobres, havia também uma mensagem da Diocese de Barlog.

    O grande Bispo também pedia exílio, invocando motivos sagrados e esperando que Runyra acolhesse seu pedido.

    Por fim, Ayla encontrou a carta de Aoth de Valéria.

    Era mais um pedido de exílio, com ele oferecendo muitas riquezas, o que encheu os olhos da rainha. Runyra era um território extremamente vasto, mas não era tão populoso.

    Daria trabalho construir abrigos para todas essas pessoas que vinham do Oeste e ainda mais trabalho para organizar uma ofensiva contra as forças que vinham do Sul.

    Suspirando, ela jogou a carta sobre a mesa e alisou a testa.

    “Colin… onde você se meteu…? Os Carniceiros são poderosos, mas Elfos negros não são uma força que deva ser subestimada, sem falar que eles estão vindo tanto do Oeste quanto do Sul.”

    Determinada, ela se levantou, foi até os fundos e pegou um mapa de todo território conquistado por Runyra.

    Pensativa, ela analisava todas as opções que tinha.

    “Os Orcs ainda não partiram para ajudar Colin em Rontes do Sul.” Ela pegou um totem e moveu para as fronteiras de Runyra no Oeste. “Orcs são resistentes, com a ajuda de alguns carniceiros eles devem deter os Elfos negros que vêm daqui.”

    Seus olhos varriam todo o mapa.

    Pegou outro Totem e o apoiou ao lado do Totem dos Orcs.

    “Orcs e Gigantes devem ser o suficiente para esses Elfos. Agora, minha preocupação maior vem daqui, do Sul. Não posso deixar Runyra desprotegida, ainda mais agora que provavelmente virá muitos refugiados. A segurança tem que ser dobrada. Os contratos de Colin ficam, e está fora de cogitação mandar Brighid em algo assim, sobrando…”

    — Tuly! — chamou, e ele adentrou o recinto. — Diga aos Orcs que, em vez de marcharem para o Leste, eles irão para o Oeste. Escreva para os gigantes, diga para mandar seus melhores guerreiros para nossas fronteiras também no Oeste. Chame Leerstrom para a capital, assim como Josan e toda a Ordem. Diga a Brag que ele ajudará os Orcs e aos Carniceiros, diga a eles para que se preparem, nós marcharemos para nossa fronteira no Sul.

    — Nós…?

    — Sim, eu vou junto.

    — Majestade, é perigoso demais, a senhora acabou de dar à luz, precisa se recuperar e as crianças têm que se alimentar.

    — Brighid pode fazer isso por mim, e não precisa se preocupar comigo, sei me cuidar.

    Suspirando, ele assentiu.

    — Quando pretende partir, senhora?

    — Em dois dias. A prova de seleção deve estar acontecendo ainda. Diga a Valagorn que fui resolver algumas coisas e já volto.

    — E quanto ao senhor Colin? Não enviará mais os Orcs?

    — Meu marido é forte, ele dará um jeito.

    Seu servo mais leal fez uma reverência e se retirou.

    As mãos dela estavam sobre o mapa aberto. De repente, elas começaram a tremer.

    Sua mente rapidamente se voltou para as lembranças de sua família. Ela se viu no castelo, cercada pelo riso de suas crianças, pela presença reconfortante de seu marido e pelo amor que nutria por seu reino.

    Apesar dos desafios e obstáculos que enfrentava como rainha, ela nunca havia se sentido tão completa e feliz.

    Ela não temia a morte; fora treinada para enfrentar esse destino desde a infância. O que a aterrorizava era a possibilidade de não sentir novamente o calor de sua família, de não poder assistir suas crianças crescerem, de não poder expressar seu amor a Colin, de não ver Brighid se tornar a mulher destinada a ser.

    O medo de que as coisas se desmoronassem na sua ausência a consumia.

    Com um suspiro profundo, Ayla fechou os olhos e respirou fundo, buscando forças. Ela se lembrou das palavras que costumava dizer para si mesma nos momentos mais difíceis:

    — Eu vou voltar para casa!

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