Índice de Capítulo

    O mundo estava em chamas, com o fogo voraz consumindo casas e árvores em seu caminho de destruição. Corpos carbonizados jaziam espalhados pelo chão, seus semblantes aterrorizados clamando em silêncio por ajuda.

    As montanhas ardiam em chamas, e o solo rachado vomitava violentamente jatos de magma incandescente, tornando a paisagem ainda mais infernal.

    Sentado tranquilamente no topo de um morro, Coen observava a destruição ao seu redor. Seus longos cabelos sacudiam suavemente com o vento quente, revelando um corpo mais definido e robusto do que antes.

    Seu corpo parecia emitir vapor, e um sorriso de satisfação adornava seu rosto enquanto ele contemplava o caos que havia criado.

    Ele ouviu passos suaves atrás dele e se virou. — Você por aqui, majestade? — ele perguntou.

    Uma mulher apareceu ao seu lado. Seu cabelo longo e escuro parecia flutuar lentamente, assim como seu vestido, dando-lhe a aparência de estar submersa em água.

    Era sua pandoriana.

    — Belo trabalho aqui, garoto. Você conseguiu dominar a essência da flama por completo? — ela perguntou, avaliando o cenário de destruição diante deles.

    Coen se levantou, sacudindo a poeira de suas vestes.

    — Ainda não. Eu diria que 80% — ele respondeu, avaliando o resultado de sua devastação. — Vamos sair daqui, esse plano não durará por muito tempo. O núcleo vai explodir.

    A pandoriana olhou para ele com curiosidade. — Tudo isso para matar aquele vampiro?

    Coen suspirou. — Não exatamente. Eu diria que Alucard está no meio do caminho, e ele é uma pedra grande demais para se mover com um simples pontapé. Vamos retornar para o plano da raiz, quero saber como vão às coisas lá.

    Sem precisar se mover, um portal se abriu diante de Coen. Ele adentrou-o sem hesitação, seguido por sua pandoriana, deixando para trás um mundo em chamas.


    Ayla estava parada diante da janela, olhando para sua vívida cidade. Com a prova de seleção acontecendo, as ruas estavam agitadas, e muitos sequer se preocuparam com a movimentação das tropas nos últimos dias. 

    Seu cabelo estava novamente cortado na altura dos ombros, e ela ajustou os ombros sob a armadura escura que vestia. Era um traje sólido, simples em sua essência, mas impecável em detalhes.

    No centro das costas, destacava-se um lobo negro uivando para uma lua de sangue, o emblema da Casa dos Silva. Um símbolo que não apenas representava a linhagem que ela e Colin haviam construído, mas também carregava o peso de uma antiga história.

    Antes, aquele símbolo pertencia aos Carniceiros, a lendária companhia mercenária que Colin liderou em suas primeiras conquistas. A transformação de um ícone de guerra em um brasão de nobreza havia sido simbólica, uma declaração de como Colin havia tomado não apenas Ayla como esposa, mas também toda a identidade de antiga casa.

    O emblema de sua família anterior, uma rosa vermelha, havia sido abandonado sem cerimônia. Ayla sabia disso e, mais importante, havia aceitado.

    Não havia mágoa, não havia arrependimento. Na verdade, ela percebia que tinha abandonado completamente sua antiga casa. Seu sangue ainda carregava o nome de sua linhagem, mas sua alma, sua lealdade e até mesmo sua identidade pertenciam agora a Colin e à Casa dos Silva.

    Após um suspiro profundo, ela se dirigiu até os fundos da sala, abrindo uma porta pesada que revelou uma coleção de espadas.

    Entre elas, uma adaga chamou sua atenção.

    [Lâmina ante magia

    Tipo: Adaga.

    Descrição: Cancela qualquer ataque mágico.]

    — Meus inimigos são poderosos usuários de magia. Essa é a melhor escolha — ela pensou, embainhando a adaga.

    A porta se abriu novamente e Brighid entrou. Ela estava vestida com um elegante vestido Élfico branco, realçado por uma faixa roxa que desenhava sua cintura. Seu cabelo, antes tão escuro quanto uma noite sem estrelas, agora exibia tons vívidos de verde.

    Na mão, ela segurava uma katana embainhada, olhando para Ayla com preocupação.

    — Eu deveria ir com você — disse Brighid.

    Ayla tocou gentilmente o rosto da amiga e sorriu. — Você sabe que tem que ficar. Você é quase uma deusa agora, e sempre foi uma mãe mais carinhosa para as crianças.

    Brighid hesitou antes de entregar a katana a Ayla.

    — É melhor você voltar. Não quero perder outra amiga, outra “irmã,” disse ela. — Esta katana é especial, uma das sete armas forjadas com a raiz da grande árvore.

    Ayla agradeceu e perguntou: — E as crianças?

    — Já estão dormindo. Quer os ver? — Brighid respondeu.

    Ayla balançou a cabeça negativamente.

    — Guardarei a vontade de vê-los novamente em meu coração como combustível para voltar para casa. — Elas se abraçaram apertado.

    — Agora, ouça-me — disse Ayla com a voz embargada. — Se algo acontecer comigo, mantenha tudo em ordem e não deixe Colin cometer nenhuma loucura. Você o conhece muito bem.

    Brighid assentiu, ainda abraçando Ayla. A voz de Ayla começou a falhar e ela continuou: — Foi maravilhoso passar esse tempo com você… Diga a Colin que eu também o amo e agradeço por tudo o que ele fez. Se não fosse por ele, eu jamais teria ido tão longe, jamais teria uma família tão linda, jamais teria sentido essa felicidade…

    — Não fale como se não fosse voltar… — Brighid implorou.

    Ayla se afastou e olhou nos olhos dela. — Farei de tudo para voltar, mas se não voltar, quero que essas sejam minhas últimas palavras.

    Elas se afastaram, e Ayla disse: — Tobi e os outros, eles são talentosos, estão destinados a se tornarem tão grandes quanto o pai, então você precisa agir como rainha agora.

    Brighid assentiu, e Ayla respondeu com um sorriso antes de caminhar para fora do quarto.

    — Você fica — disse para sua sombra. — Vigie as crianças e o autorizo a usar a liberação de terceiro círculo se necessário.

    — Sim, senhora.

    Ela desceu alguns degraus, e lá estava Josan, a aguardando.

    — Majestade — ele fez uma reverência. — A ordem já está pronta como ordenou.

    — Josan? — Ela ergueu uma das sobrancelhas. — É mesmo você? Nem parece o medroso de alguns meses atrás.

    — Graças à senhora, eu pude me fortalecer.

    — É bom ouvir isso, Leerstrom já está nos esperando?

    — Sim, na sala, senhora.

    Não demorou até eles adentrarem. Além de Leerstrom, Isabella, Dasken e Eilika também estavam lá. No meio deles havia uma mesa redonda com o grande mapa aberto e alguns totens demarcados.

    Todos eles fizeram reverência à rainha.

    — E então, qual a situação?

    — Os Orcs, Gigantes, algumas criaturas do território hostil partiram para o Oeste — disse Isabella com um sorriso sedutor. — Eles devem conseguir fazer a segurança dos muitos exilados que vêm do Oeste.

    — Ótimo, há quantos inimigos vindo do Sul?

    — Quase cem mil… — disse Eilika. — Metade são Elfos Negros e a outra metade são soldados do império do Sul…

    Ayla alisou o queixo. — O Sul não estava em guerra civil? Como Lumur conseguiu tantos soldados?

    — Com o poder que ele tem agora, não demorou até que todas as tribos fossem unificadas e as rebeliões abafadas — respondeu Isabella.

    — Entendi… — respondeu à rainha. — Prestem atenção, com as informações que recebi, há um Errante trabalhando com eles, sem falar que Miogve, o Elfo Negro que comanda essa invasão, é habilidoso. Ele sobreviveu aos assassinos habilidosos que mandei. Lumur também adquiriu um poder anormal, e dentro desta sala, sou a mais qualificada para lidar com ele. Josan, você e a ordem ficarão responsáveis por Miogve e seus homens. Dasken, você e os carniceiros irão se concentrar nas forças de Lumur. Leerstrom, o Errante, fica por sua conta.

    Todos eles assentiram.

    — Eilika, sua habilidade é importante para sabermos como anda o desenrolar tanto no Oeste quanto em outras frentes. Você será nosso comunicador em tempo real, consegue fazer isso?

    Determinada, a pandoriana assentiu.

    — Consigo, senhora!

    — Perfeito. Isabella, seus espiões reportarão tudo para Eilika, que consequentemente passará para todos nós na linha de frente. Vamos, é hora de partir.


    Ao leste de Runyra, nos confins sulistas de Rontes, a aldeia que acolheu Colin desabrochava em renovação e vida. Peixes dançavam nos riachos translúcidos, a terra árida se cobria de brotos, e sob o empenho incansável de Colin e Yonolondor, o vilarejo redescobria sua dignidade, um passo de cada vez.

    A ameaça dos monstros que uma vez aterrorizou a região havia sido em grande parte erradicada; estradas e casas ressurgiam das sombras do passado. Mas a esperança não encontrava eco em todos os corações.

    No firmamento, pairando sobre um círculo mágico, Rian, o leal servo do saudoso Alexander, contemplava com pesar a desintegração de seu intricado plano.

    Estendendo o braço direito — um apêndice que destoava em cor e textura de sua pele —, revelou-se como uma obra de pedra cravejada de runas enigmáticas.

    De repente, as runas irromperam em luminosidade, e diante de Rian se desvelou um portal fulgurante.

    Com um passo decidido, Rian atravessou o portal resplandecente, e o mundo ao seu redor mudou instantaneamente.

    Ele emergiu em um subterrâneo sombrio e opressivo, onde a escuridão parecia engolir qualquer lampejo de luz. A atmosfera era densa e abafada, impregnada de um cheiro acre de mofo e desespero.

    As paredes da prisão eram feitas de pedra áspera e irregular, gotejando umidade. Cadeias enferrujadas pendiam das paredes, onde aconteciam torturas e sofrimentos inomináveis.

    O ar estava impregnado com os lamentos dos prisioneiros, um coro angustiante que ecoava pelos corredores sombrios.

    Hobgoblins armados até os dentes patrulhavam os corredores, suas feições brutais iluminadas por olhos frios e cruéis. Cada movimento deles era calculado e predatório, suas presas à mostra em sorrisos sádicos.

    Junto a eles, os Goblins se aglomeravam em grupos, sussurrando e rindo de forma maligna, seus olhos ardilosos observando atentamente cada movimento dos prisioneiros.

    Mas eram os Quaggoths que instilavam o verdadeiro terror. Criaturas grotescas e ferozes, que se pareciam com cães gigantes, vigiavam os corredores com uma presença tão imponente quanto ameaçadora.

    Seus músculos poderosos e pelagem escura os tornavam ainda mais aterrorizantes na penumbra, e seus grunhidos guturais ecoavam como um aviso sinistro para qualquer um que ousasse desafiar sua autoridade.

    Os prisioneiros estavam enjaulados em celas pequenas e sujas, o chão coberto de palha úmida e imunda. Eles estavam visivelmente desnutridos e maltratados, seus olhos vazios de esperança, aceitando ao seu destino cruel. A cada passo de Rian, os olhares dos prisioneiros se voltavam para ele, uma mistura de esperança e temor refletidos em seus rostos abatidos.

    — Por que está com essa cara? — indagou um dos companheiros de Rian, Lesiv, um homem alto, careca e com olhar afiado.

    Rian cerrou o punho e os dentes antes de responder.

    — Ele está aqui, o assassino do senhor Alexander…

    — … Ele descobriu sobre nós?

    — Acredito que não… acho que é só coincidência.

    Lesiv apoiou a mão no queixo, pensativo.

    — O que quer fazer? — perguntou Lesiv.

    — Quero me vingar! — Ódio brilhando nos olhos dele.

    Assentindo, Lesiv caminhou com as mãos para trás observando toda majestosa prisão subterrânea.

    — Vai matá-lo? Sabe que mesmo se lutássemos contra ele, nossa chance de vitória seriam muito baixas. É o homem que venceu senhor Alexander, afinal.

    — Isso não é tudo… Yonolondor se juntou a ele.

    Lesiv ergueu uma das sobrancelhas.

    — Isso foi inesperado… de qualquer modo, acha que esse lugar é o suficiente para prendê-lo?

    Rian mostrou o braço modificado.

    — Eu consigo, com isso. As pedras ante magia espalhadas pelas celas podem neutralizar Yonolondor e a outra mulher que está com ele, mas com ele precisarei de algo especial.  

    — Certo, aqui — Lesiv enfiou a mão no bolso e retirou um frasco com líquido esverdeado. — Só tenho mais alguns, tomei a liberdade de modificá-lo e melhorá-lo. Tenho certeza que é a minha melhor amostra.

    Rian pegou o frasco, o analisando com cautela.

    — Isso terá efeitos colaterais no meu corpo?

    — Acredito que não. A amostra que entregamos a Lumur e Yonolondor é de uma versão anterior a esta, e eu soube que Lumur a tomou, e que os efeitos ainda persistem.

    — … Os efeitos são… permanentes?

    — Não sei, mas com certeza é uma amostra mais consistente, sem alterações corporais visíveis como apresentou Nag ou as outras cobaias, abatidos pelos carniceiros.

    — Certo…

    — Tome cuidado. Você não lidará com um homem comum. Colin é um dos homens mais poderosos do continente.

    — Eu sei.

    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 0% (0 votos)

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.

    Nota