Índice de Capítulo

    Colin estava sentado à mesa redonda, com Morwyna à sua frente. Nos cantos do quarto, Samantha e Yonolondor observavam em silêncio, cada um com uma expressão de curiosidade e cautela.

    Morwyna parecia intimidada, evitando encarar Colin a todo custo. Ele suspirou profundamente, coçando a nuca com um gesto de impaciência.

    — Você pode falar agora — disse ele, tentando quebrar o gelo que pairava no ar.

    Morwyna mantinha os punhos cerrados sobre as coxas e os lábios franzidos. Seus olhos inquietos saltavam de Yonolondor para Samantha, o suor frio perlava sua testa.

    — Eles não vão machucá-la, você está segura aqui — assegurou Colin.

    Morwyna suspirou profundamente, puxando sua bolsa que pendia de seu ombro. Com mãos trêmulas, ela retirou um pequeno orbe e o colocou delicadamente sobre a mesa. O orbe emanava uma leve luminescência, iluminando sutilmente o rosto tenso da Elfa.

    O silêncio se estendeu por alguns segundos, carregado de tensão e expectativa.

    — Meu avô me enviou, ele disse que eu tinha que entregar isso ao senhor…

    Colin estendeu o braço, apanhando o objeto.

    — O que é isso? — perguntou.

    — Meu avô me disse que são fragmentos de memória… — Ela apertou a alça da bolsa, com medo da reação dele. — Eu… sou filha de Milveg, rei do país dos Elfos Negros…

    — … E viajou de tão longe para me dar fragmentos de memórias? — Colin devolveu o objeto à mesa.

    — Bem… o senhor não deve saber, mas meu pai começou uma guerra contra Runyra, na verdade, é uma guerra contra o senhor, e meu avô teme que essa guerra termine em genocídio para os dois lados…

    — Guerra? — O semblante indiferente do rei mudou. — Quando isso começou?

    — Faz algumas semanas, senhor…

    Colin se ergueu abruptamente.

    — Samantha, vamos voltar! — disse apressado. — Ayla não pariu há muito tempo e Brighid ainda não recuperou seus poderes!

    “Merda! Que péssima hora para estar longe de casa!”

    Ele saiu da casa e, sem fazer nenhum sinal de mãos, conjurou um dragão de mana.

    — Senhor, espere! — Morwyna apanhou o orbe que Colin havia deixado sobre a mesa. — O senhor tem que levar isso para a Santa, meu avô disse que ela pode descodificar a chave dentro e ver as memórias.

    Colin apanhou o orbe e assentiu. As tatuagens do braço direito brilharam, e o orbe pareceu ter sido sugado por ele.

    — Obrigado, mas por que está me ajudando?

    — Po-porque meu avô acredita que você pode nos salvar!

    — … Certo, vamos, Samantha — Ele saltou para a cabeça do dragão. — Yonolondor, Rontes é sua responsabilidade agora. Essa é a segunda e última chance que te dou. Você é meu, e é melhor fazer o que eu mandar.

    Yonolondor desviou o olhar e assentiu.

    — Certo…

    O dragão bateu as asas e alçou voo, mas Colin sentiu um arrepio na espinha e saltou do dragão antes de um corte poderoso desfazê-lo e ir em direção a Yonolondor e os outros.

    Ting!

    Com reflexos impressionantes, Yonolondor conseguiu rebater o corte, o desfazendo em uma brisa poderosa que quase os jogou longe.

    Colin e Samantha chegaram ao chão gentilmente e olharam para o alto. Lá estava Rian, suas vestes tremulando como bandeiras ao vento.

    O mais estranho era que ele não estava em cima de nenhum círculo mágico, ele estava flutuando.

    — Você… — murmurou Colin.

    — Colin… já faz um tempo, né? Soube que teve uma ascensão meteórica… e que também… matou, o meu senhor!

    As mãos de Rian foram inundadas de mana e, antes de ele completar seu movimento, sentiu a mão pesada de Colin agarrando seu rosto.

    “Isso foi… teletransporte?”

    Booom!

    Colin o arremessou longe da vila com uma força titânica. Rian se chocou contra o chão, mas não foi o suficiente, ele capotou por quase duzentos metros até forçar uma derrapada por mais cem metros.

    Por de onde veio, havia um rastro de destruição.

    Arfando, Rian ergueu-se. Cravando os braços para forçar a parada abrupta, as mangas de sua batina se viram inteiramente destruídas.

    “Que merda foi essa…? Se eu não tivesse bebido o frasco, provavelmente estaria nocauteado. Então, esse é o poder do homem que matou mestre Alexander.”

    Woosh!

    Num piscar de olhos, o punho pesado de Colin caiu sobre seu rosto, ribombando como um poderoso trovão. Enquanto capotava brutalmente, Rian conseguiu lançar um corte em cheio no Errante, um corte que somente conseguiu rasgar sua regata.

    “É forte demais, preciso de mais poder!”

    Colin estava em cima de Rian enquanto ele ainda capotava. Cerrando o punho, ele preparou um soco que iria partir o sacerdote ao meio.

    Zioom! BAAAM!

    Rian desapareceu antes de Colin atingi-lo, enfiando seu punho no chão e rachando a terra em um raio de cinquenta metros.

    “Isso foi habilidade de Errante?” Colin se perguntou.

    [Passos fantasmas.]

    Colin havia retornado para o vilarejo num piscar de olhos. O alcance de sua habilidade havia aumentado desde sua luta contra Gorred.

    — Samantha, Yonolondor, se preparem, ele vai voltar!

    — Certo! — Yonolondor se posicionou à frente. — Pessoal, venham comigo, vamos sair daqui!

    As pessoas começaram a segui-lo enquanto Samantha e Colin estavam tranquilos, deixando Morwyna desconcertada.

    “O que… acabou de acontecer?”, pensou a Elfa. “Os movimentos dele… os reflexos daquele espadachim… eu mal consegui acompanhar… esse homem, Colin, é mais rápido que Ghindrion!”

    — Elfa! — chamou Colin. — Qual seu nome?

    — Mo-Morwyna!

    — Consegue lutar? Não sei se ele voltará sozinho, como ele tem habilidades de Errante, é capaz de trazer companhia. Você e Samantha serão o primeiro escudo entre ele e os civis, consegue fazer isso?

    Morwyna assentiu. — Co-consigo!

    “Será que eu consigo mesmo acompanhá-los?”


    De volta às minas, Rian havia aberto um baú com os últimos frascos modificados. Ele já havia bebido cinco deles. As veias de seus braços se mexiam como se vermes andassem por debaixo de sua pele.

    — Ninguém tomou tantos de uma vez — disse Lesiv suando frio. — O efeito colateral pode matar você.

    — Na-não importa! — Rian cerrou os olhos, as veias de sua têmpora quase explodindo. — Os goblins Alfas, vou levá-los comigo, diga que eles têm cinco minutos para se prepararem!

    — De quantos precisa?

    — Todos eles!


    Colin estava quieto, seus olhos focados no horizonte em uma concentração que deixava a Elfa Negra ainda mais tensa. Ele sequer se movia, muito menos piscava, só continuava ali, parado como uma estátua, assim como Samantha, sua companheira.

    “Essa tensão no ar… essa ansiedade… eles não sentem isso? Por quantas vezes eles já passaram por algo assim?”

    — Eles estão vindo — disse ele. — Se preparem.

    Morwyna buscou com os olhos, mas não encontrou ninguém.

    “Como ele sabe que estão vindo? Não consigo sentir nada!”

    Adiante, o ar começou a rasgar e dele, centenas de goblins alfas emergiram, seus olhos sedentos por sangue. No céu, Rian se encontrava, seus olhos se cruzando com os de Colin.

    — Os goblins ficam por conta de vocês — disse o Errante.

    Colin ergueu o braço direito e conjurou uma espada de raios carmesim, os mesmos raios que circundavam seu corpo.

    “Então esse é o homem que meu pai quer derrotar…?”

    — Morwyna! — chamou Samantha. — Se concentre, são muitas criaturas, algumas podem passar e ir atrás de Yonolondor, mas faremos o possível para segurá-los aqui!

    — Tá! — assentiu, imbuindo as mãos com mana.

    Cabrum!

    Num piscar de olhos, a espada de Colin colidiu com a espada conjurada de vácuo do sacerdote. Faíscas vermelhas serpentearam pelo céu. Com um esforço monstruoso, Rian conseguiu repelir Colin com um golpe poderoso.

    Ting!

    — Finalmente! — exclamou Colin, exibindo um sorriso confiante.

    — Você vai pagar por privar este mundo da verdadeira liberdade! — Retrucou Rian, mais determinado do que nunca.

    Swin!

    Colin lançou um corte de raios e Rian o desfez, rebatendo-o. O sacerdote apertou a empunhadura e estocou o ar, um golpe que pegou Colin em cheio, o levando ao chão em um estrondo que fez o solo tremer.

    Boooooooom!

    Mesmo que os Alfas tivessem força sobre-humana comparáveis a um usuário da pujança de quarto nível, Samantha e Morwyna conseguiam subjugar isso com suas habilidades.

    Morwyna usando discos de gelo, os controlando a seu bel-prazer, e Samantha com suas flechas explosivas. O único empecilho era que eles não paravam de chegar, cada vez mais numerosos.

    Colin deixou a nuvem de poeira com um leve corte no abdômen, caminhando despretensiosamente enquanto Rian ostentava seu sorriso orgulhoso.

    — Então, você sangra, rei.

    — Felizmente, sim.

    Colin desfez sua espada, raios ainda circundando seu corpo. Dobrando os joelhos, ele avançou como um torpedo.

    “Idiota!” Rian se preparava para um golpe devastador. “Partindo para cima de um inimigo assim cheio de aberturas, você é mesmo o homem que venceu o meu mestre?”

    Swin!

    Rian cortou Colin diagonalmente, do ombro até a cintura, porém, fora um corte superficial.

    “O quê?”

    Grab!

    Colin o alcançou, agarrando seu pescoço. Com a outra mão, agarrou o braço de pedra de Rian.

    — Isso não é seu, né?

    “Merda!”

    Crunch!

    O braço de Rian foi separado de seu corpo, então Colin girou, lançando Rian no solo com uma brutalidade característica que só Colin possuía.

    Boom!

    Ele focou-se em atirar o sacerdote nos muitos Alfas que cercavam suas companheiras, trucidando um número considerável com o resplandecente impacto.

    Então, o rei de Runyra caiu na frente delas, segurando o braço arrancado de Rian.

    Mesmo acostumados a serem predadores, os goblins enormes entenderam que aquele homem era um predador ainda mais perigoso que os mesmos e se recusaram a avançar.

    — Estou decepcionado, sacerdote — Colin deu um tchauzinho com a mão arrancada. — Normalmente, eu ficaria aqui e veria até onde você consegue ir, mas estou com pressa.

    Rian ergueu-se e seu braço arrancado começou a se reconstituir lentamente.

    “Foram seis frascos ao todo, seis, e mesmo assim, ele é tão superior a mim? Como ele ficou tão forte, tão rápido? Isso é impossível!”

    — Seu verme! — Rian assumiu a posição de ataque para o canhão Galick, a habilidade suprema de um usuário do vácuo. — Vou fazer você ser apagado da existência! Ataquem! Não deixem ele se aproximar!

    Como se fossem tirados do transe, os Alfas avançaram, todos eles, uma multidão empunhando espadas e machados.

    Woosh!

    Colin atravessou a multidão num piscar de olhos e apoiou a mão no rosto de Rian, pressionando-o contra o chão.

    Boom!

    Com a mão direita sobre seu rosto, o Errante drenou toda a mana de Rian, o deixando no chão, nocauteado. Ele se ergueu, encarando o sacerdote que ainda estava consciente.

    — Devia se orgulhar, você aguentou mais que seu mestre. — Uma espada de raios carmesim foi conjurada em cima da testa de Rian. — Se acabar se encontrando com Braz’gallan ou Drez’gan, diga a eles que esse plano pertence a mim.

    Não foi somente Colin que sentiu uma pressão esmagadora sobre a cabeça, Rian, Morwyna e Samantha também sentiram.

    Um portal havia sido aberto no céu, e dele uma figura tão odiada quanto temida despontou.

    Seus olhos se encontraram com os de Colin.

    — Filho… — Coen abriu um sorriso de canto. — Há quanto tempo.

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