Índice de Capítulo

    Na vastidão do acampamento, algo inimaginável se desdobrava diante dos olhos de todos. Gigantes e Orcs, duas raças historicamente adversárias, marchavam lado a lado, unidos por um propósito comum.

    Closgant, o rei dos Gigantes, não apenas liderava seu povo, mas também fazia questão de se posicionar na linha de frente.

    Para os gigantes, atender ao chamado da família real era uma honra sem igual, uma demonstração de lealdade e respeito inabaláveis. Especialmente após o encontro pessoal com Colin, o próprio rei, que havia estabelecido uma aliança improvável entre os povos e as tribos.

    Entre as fileiras das criaturas imponentes, estava Brag, o amputador, testemunhando a magnitude daquele acampamento incomparável.

    A visão de Gigantes e Orcs se preparando para lutar juntos era algo que ele jamais imaginara presenciar em toda sua existência. A sensação de estar ali, ao lado dessas criaturas, era avassaladora.

    Brag não apenas sentia a dívida profunda que os gigantes tinham com a família real, mas também experimentava em seu próprio coração a mesma sensação de gratidão e dever.

    Ele fora escolhido para defender o império do rei na linha de frente, e ele o faria com toda a sua determinação. Mesmo que isso significasse perecer em combate, Brag encarava tal destino como uma morte gloriosa, um sacrifício em nome de um líder grandioso e justo.

    Lutar pelo rei era sensação única de grandeza e propósito. Ele queria mostrar ao mundo e a si que também podia proteger a casa e os ideais do líder, como se fosse um filho determinado a provar ao pai que também podia honrar e preservar a tradição da família, mesmo quando ele estava ausente.

    Fuooon!

    Um dos Orcs assoprou a trombeta no formato de chifre.

    — Batedores! — alertou.

    Em cima de lobos gigantes, Falone e Lettini se aproximaram.

    — O exército dos Elfos Negros está há seis horas daqui — disse Falone. — Gigantes, vocês ficam, o restante irá recuar, ordens da rainha!

    Rapidamente, eles começaram a se preparar.

    Havia um rato feito de sombras no ombro de Falone.

    — Eles começaram a se movimentar, senhora — disse ao rato.

    Há centenas de quilômetros dali, Ayla estava na sala de Alunys. A sua frente o mapa do continente estava aberto e seus totens posicionados.

    Em seu ombro também havia um rato feito de sombras.

    — Perfeito, Falone, Isabella, consegue me dizer quantos são?

    Coberta por uma capa escura, ainda mais distante que Falone, Isabella observava escondida em cima de um morro a grande marcha dos Elfos Negros liderada por Ghindrion.

    — Deve ter vinte mil Elfos Negros, senhora, vinte e cinco no máximo.

    — Certo — respondeu Ayla reposicionando os totens. — Vamos supor que seus números cheguem a trinta mil, ainda estaríamos em uma grande desvantagem, já que nossos números totais não passam de sete mil. Basta seguir o plano, Falone.

    — Sim, senhora — respondeu. — Todos eles já estão cientes.

    — Ótimo! Isabella, qualquer mudança no cenário, me avise imediatamente, entendeu?

    — Sim, senhora.

    Após um suspiro, Ayla alisou a testa, sentando-se na cadeira. Uma tensão esmagadora estava sob seus ombros. Sentada no chão, em um círculo mágico pulsante, estava Eilika. Seus olhos estavam cerrados e sua concentração era invejável.

    — Senhora… — Leerstrom adentrou o recinto. — Nossos batedores disseram que Lumur e os Elfos estão há dois dias daqui.

    Ela assentiu. — Certo… é uma aposta, mas essa primeira leva que enviarão será um teste. Eles têm um Errante consigo, então é provável que eles deixem suas forças colidirem com as nossas e foquem em mim, já que provavelmente já sabem que estou aqui. Por isso, você, Leerstrom, ficará aqui, com Josan e alguns homens.

    — Sim, senhora, mas qual a ordem para o restante das tropas?

    — Mande-os avançarem, diga a Dasken para liderá-los. O restante de nós ficará aqui. Se eu estiver certa, a batalha de verdade acontecerá aqui, nesse ducado. Se eu estiver errada… que os deuses nos abençoem…


    Ghindrion avançava com ímpeto, montado em seu imponente cavalo negro. Os cascos pesados do animal ecoavam no solo, deixando marcas profundas na terra.

    Atrás dele, um exército numeroso marchava com determinação, os olhos ardentes de cada soldado refletindo uma ânsia palpável por ação e combate.

    O céu acima deles estava carregado, os trovões ressoavam ameaçadoramente.

    “Uma tempestade está próxima…”

    Um elfo ágil e perspicaz aproximou-se de Ghindrion, cavalgando com graça ao lado do líder.

    — Depois do grande morro, eles estão lá. Meu pessoal contou mil gigantes — informou o elfo.

    Ghindrion ponderou por um momento, suas sobrancelhas franzidas em pensamento. Ele suspeitava que os gigantes estavam ali para ganhar tempo, talvez enquanto Runyra estivesse planejando algo maior ou concentrando suas forças principais na invasão ao sul.

    — O que devemos fazer? — perguntou o elfo, esperando a orientação de Ghindrion.

    — Posicionem a cavalaria — ordenou o príncipe, com voz firme e autoritária. — E instruam os magos a se dispersarem pelos flancos. Os arqueiros devem ficar na retaguarda com alguns lanceiros. Se Runyra estiver planejando uma estratégia de pinça, nossas defesas serão o suficiente para deter esse contra-ataque.

    O soldado assentiu rapidamente e galopou para longe, tocando a trombeta com determinação para que a cavalaria se organizasse rapidamente e se preparasse para a batalha.

    Atrás do morro, Closgant, o rei dos gigantes, estava posicionado, sua enorme espada cravada no chão à sua frente e suas mãos sobre o pomo.

    — Ouviram isso, homens? — bradou. — É o som da guerra! Não ousem morrer sem levar ao menos 100 desses orelhudos desgraçados, é uma ordem!

    Erguendo as espadas, os gigantes grunhiram.

    Um rato de sombras estava em seu ombro.

    — Closgant, não perca a cabeça, siga o plano, ouviu? — disse Ayla.

    — É claro que ouvi, senhora. Não precisa se preocupar, honraremos o nome do seu marido, estamos em dívida com ele.

    — Não preciso que honrem nada, só quero que sigam o plano.

    — Seguiremos, gigantes nunca voltam em sua palavra.

    — Certo… não morra, é uma ordem.

    — Não vou.

    O rato escalou o pescoço do gigante, até adentrar sua orelha.

    A terra começou a tremer e o vento forte começou a assoprar.

    — Eles estão vindo, homens, se preparem! Esse será o melhor dia de nossas vidas!

    Feroz, a cavalaria despontou no fundo, segurando suas lanças, cimitarras e espadas.

    Closgant tirou a espada do solo e a empunhou, avançando contra a cavalaria, seguido por seus homens. O primeiro Elfo o alcançou, mas o gigante moveu a espada em um arco, partindo três cavalos ao meio junto de seus montadores.

    Crunch!

    Espadas haviam sido cravadas na canela do rei, mas ele pareceu não se abalar, sacudindo a espada de um lado para o outro sem parar, partindo tudo que estivesse em seu caminho.

    Seus companheiros o seguiram, fazendo o mesmo, mas eles não eram poderosos como seu rei. Dezenas morreram nos primeiros minutos.

    Ghindrion estava em terreno alto, observando sua cavalaria aos poucos tomar o controle da situação.

    — Os outros devem avançar, senhor?

    Ghindrion encarou os flancos. — Diga para os magos prepararem suas magias e lançarem.

    — Sim, senhor.

    Novamente, o Elfo tocou a trombeta enquanto seu cavalo marchava.

    Crunch!

    Closgant lançou um cavalo longe após um poderoso chute.

    — Recuar! — urrou enquanto recuava. — Recuar!

    Vendo a debandada dos gigantes, Ghindrion abriu um sorriso de canto.

    — Não deixem que eles escapem, acabem com eles!

    Era possível ver dezenas de círculos mágicos brilharem no topo de morros e enormes bolas de fogo começaram a cair como chuva.

    Boom! Boom! Boom!

    De mil gigantes, apenas duzentos haviam conseguido se retirar com vida, e quase nenhum deles havia escapado ileso.

    — Eles estão fora do alcance dos nossos magos, senhor, quais as ordens?

    Ghindrion analisou toda a situação. O Gigante de maior estatura era um rei, e provavelmente estava à frente naquele ataque. Arrancar a cabeça dele seria um prêmio.

    — Vamos avançar, temos que matar o Gigante mais alto! Isso deve abalar a moral de Runyra!

    Seus homens urraram em concordância e avançaram, o restante da cavalaria descendo o morro o mais rápido possível enquanto todo o exército vinha logo atrás.

    — Majestade! — bradou Closgant. O rato saiu de seu ouvido para pular em seu ombro. — Funcionou, eles estão vindo!

    — Ótimo! — disse Ayla. — Eles devem estar atrás de você, então continue por mais cinco quilômetros, não pare por nada!

    — Entendi, senhora!

    Closgant se empenhou para correr mais rápido, suas pernas grandes o fizeram alcançar quase 60 km/h.

    Em sua sala, Ayla parecia tensa. Mesmo sem fazer nenhuma atividade física, ela suava demasiadamente, mordendo os lábios, quase os mastigando enquanto observava seu mapa aberto.

    Na fuga, ainda mais gigantes foram abatidos pela cavalaria, mas o alvo deles ainda corria sem parar.

    Da densidade da floresta, emergiram os humanos, claramente identificados pelas suas vestes selvagens como nortenhos.

    Closgant passou por eles, seu olhar fixo e determinado, enquanto os nortenhos, liderados por Brag, avançavam com vigor em seus robustos cavalos.

    Com uma habilidade tática aparente, eles se dividiram em duas unidades, avançando pelos flancos e concentrando seus ataques na tentativa de abater a cavalaria inimiga.

    No entanto, os Elfos Negros demonstraram uma destreza e habilidade de combate superiores. Com movimentos ágeis e precisos, eles eliminaram uma grande parte dos nortenhos sem grande dificuldade, neutralizando o avanço inimigo.

    O som da trombeta ressoou, sinalizando a retirada estratégica dos nortenhos, que recuaram rapidamente. Seus números haviam sido reduzidos pela metade.

    Ghindrion, observando a situação e avaliando as perdas, expressou sua indignação:

    — Esse era o plano deles? Minar a nossa força? Eles só conseguiram aumentar a pilha de cadáveres.

    Um de seus homens, com um semblante preocupado, relatou: — Senhor, 70% da nossa cavalaria foi abatida. Devemos continuar avançando?

    Ghindrion dirigiu seu olhar para seus homens, avaliando a sede de sangue refletidas em seus rostos. Em seguida, ele voltou seu olhar para o vasto exército que se estendia diante dele, pronto para a batalha.

    Com um olhar resoluto, ele declarou:

    — É uma estratégia básica de guerra deles. Eles querem fazer ataques rápidos focados na nossa cavalaria para frear a nossa força de ataque. Mas esses tolos não compreendem que o primeiro passo deveria ser eliminar os arqueiros e magos? Vamos continuar avançando. Se conseguirmos tomar a cabeça do gigante, colocaremos Runyra contra a parede. Ordene que continuem marchando.

    — Eles morderam a isca, senhora! — disse o gigante. — O que faremos agora?

    — Continuem recuando — disse Ayla. — Vamos garantir que eles não tenham chance de escapatória!

    — Sim, senhora!

    — Falone! — Ayla chamou. — Comece os preparativos.

    — Certo! — respondeu do outro lado.

    Longe do epicentro do combate, o carniceiro conseguia uma vista de todo campo de batalha.

    “Eles já passaram da metade do caminho, até mesmo os magos.”

    — Posicionem ela no lugar marcado — disse aos gigantes que empurraram um cristal gigante, com mais de quinze metros de altura e dez de diâmetro.

    — Pronto, senhor Falone.

    — Certo, majestade Ayla, está tudo pronto.

    Ayla assentiu.

    — Lettini, Kodogog, é a vez de vocês.

    Lettini abriu um sorriso assustadoramente medroso e Kodogog estava pronto junto com milhares de orcs em cima de lobos gigantes.

    Os Orcs urraram e avançaram pela dianteira, já Lettini apareceu na retaguarda dos Elfos Negros. Sua unidade inteira possuía usuários do silêncio, se ocultar para eles não foi problema.

    Ela olhou para o chão com um risco sutil.

    — A-apartir daqui, vocês não po-poderão usar magia… cu-cuidado!

    Sacando suas espadas, eles avançaram, centenas de carniceiros usando capas escuras.

    Em cima de seu cavalo, Ghindrion observou que um número maior de Orcs avançava impiedosamente a sua cavalaria reduzida.

    — Senhor! — O Elfo apontou para trás. — São inimigos!

    — Tsc… eles são insistentes, posicione os magos, diga para acabarem com os tolos que avançam pela retaguarda.

    — Senhor! — disse um dos Magos. — Mi-minha mana… sumiu!

    — A minha também! — disse outro Elfo, entrando em pânico.

    Ghindrion observou seu exército inteiro se desesperar.

    “Isso… é uma armadilha? Estamos presos em uma teia de ante-magia? Mas onde estão os pilares que criaram a zona ante-magia? Merda! Fui descuidado!”

    — Homens, não se desesperem! Ainda estamos em maior número!

    — Merda! Eles estão vindo!

    Os Elfos começaram a sair da formação, se dispersando. Lettini e seus homens eram exímios assassinos, eles costuravam os Elfos, ceifando um por um, os deixando aterrorizados.

    — Senhor! Vamos fugir!

    — Para onde? — perguntou Ghindrion, desesperado. — Estamos cercados e não podemos usar nosso maior trunfo.

    Os gigantes, que antes fugiam, começaram a retornar para o combate, ajudando os Orcs a massacrar a cavalaria.


    Em questão de segundos, toda maré da guerra havia mudado e, com as rotas de fuga interrompidas, levou cerca de quinze minutos para que três mil guerreiros lutando por Runyra aniquilassem um exército de vinte mil Elfos Negros.

    — Senhora! — chamou Closgant. — Conseguimos! O plano foi um sucesso.

    Ghindrion estava ali, recostado enquanto seus braços estavam amarrados. Ele sangrava da cabeça aos pés e havia duas adagas cravadas em seus joelhos.

    Lettini havia as cravado ali para ele não fugir.

    Ayla então suspirou, se jogando na poltrona, a tensão em seus ombros se dissipando.

    — Conseguimos… — suspirou. — A guerra na fronteira oeste terminou, agora é a nossa vez.

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