Índice de Capítulo

    Colin estava encurralado no canto da cela, recostado contra a parede áspera e fria. Ao seu lado, Morwyna e Samantha recostadas sobre seus ombros. Ficar perto dele ajudava a escapar do frio.

    Sem qualquer visão do exterior, era impossível para eles estimarem quanto tempo havia se passado desde que foram aprisionados.

    No canto oposto da cela, o velho Wenrik permanecia recluso e silencioso, murmurando palavras desconexas enquanto seu olhar vago se perdia no vazio.

    O anão, por sua vez, parecia alheio à situação, entregue a um sono profundo e tranquilo. No entanto, os três homens que haviam sido capturados juntamente com Samantha observavam o trio constantemente, trocando olhares furtivos e cochichando entre si, alimentando ainda mais a tensão no ambiente claustrofóbico.

    Para Colin, sua principal preocupação era a incerteza sobre a chegada de comida ou a possibilidade de algum deles ser convocado para fora da cela.

    Em um ambiente como aquele, cada cela tinha suas próprias regras, algumas mais justas do que outras. O que predominava ali, no entanto, era a selvageria e a violência.

    Dentro daquelas paredes confinantes, a única moeda de troca era o próprio corpo.

    Desesperados por um pouco mais de comida, as pessoas se submetiam a qualquer coisa, até mesmo a se entregar aos goblins Alfas, aceitando serem usadas por eles como meio de sobrevivência.

    Um dos homens se aproximou de Colin.

    — Ei, grandão, qual seu nome?

    — Por que quer saber? — perguntou Colin com cara de poucos amigos.

    — Olha, cara, estou querendo resolver as coisas civilizadamente aqui. Eu sou Bartolu, vim de uma galeria diferente, na verdade, eu e meus companheiros viemos.

    — Devia ir direto ao assunto com esse mestiço, Bartolu — disse outro homem. — Mesmo sendo grande, ele é somente um.

    — Ei, ei, Urutuan, não viemos aqui para brigar, quero fazer um acordo. Como é um novato, falarei como as coisas funcionam aqui. Depois que mais da metade dos encarcerados em uma cela morre, o restante é transferido para uma nova. Isso aconteceu comigo e com meus amigos aqui, fomos os únicos que sobraram.

    Colin encarou todos os três.

    — E quantas vezes vocês já mudaram de cela?

    Houve silêncio.

    Foi sutil, mas os companheiros de Bartolu abriram um sorriso de canto.

    — Bem, algumas… esqueça isso, vamos falar do acordo, está bem?

    — Estou ouvindo…

    — Tem companheiras bonitas, grandão, meus amigos ali gostaram delas. — Samantha franziu o cenho e Morwyna engoliu em seco, segurando a borda da camisa de Colin. — Essa é uma cela grande e tem gente demais, eles devem oferecer pouca comida para instigar conflito. Dez minutos com cada uma delas e a gente deixa algo para vocês, juro que seremos generosos.

    — Você está em desvantagem, grandão — disse Urutuan se aproximando. — A gente está assumindo o comando desta cela, então é melhor seguir as nossas regras ou acabamos com você. Estamos tentando fazer um acordo sem confusão, mas já que mandamos aqui, não precisamos do seu aval. Só aceite o acordo se quiser continuar vivo.

    — Até parece que vocês vão encostar em mim! — esbravejou Samantha, se erguendo.

    — Uma selvagem? — zombou Urutuan. — Já lidei com muitas do seu tipo, são as que desistem mais rápido.

    Foi a vez de Colin se levantar e Morwyna fez o mesmo, ainda segurando a borda de sua camisa enquanto se escondia atrás dele. Eles não haviam chegado tão perto do Errante antes, não sabiam que ele era tão alto.

    Colin apontou para Urutuan.

    — Quero que você venha até aqui, abaixe as calças para mim e se vire de costas.

    Foi um pedido inesperado, assustando até mesmo as garotas.

    — …

    — Não fique de gracinha, Elfo de merda! — esbravejou ele.

    — Pareço estar brincando?

    Urutuan engoliu em seco.

    — Esquece esse acordo, Bartolu, vamos matar esse desgraçado!

    Urutuan tirou uma faca feita dos cristais ante-magia que estava nas paredes. O artefato parecia ter sido lascado milhares de vezes.

    — Morwyna, Samantha, se afastem — elas obedeceram.

    Colin dobrou o joelho e girou o quadril, estendendo a perna e atingindo Urutuan no pescoço, fazendo-o bater na parede.

    Bam!

    Antes de cair para trás, Colin segurou a nuca do adversário e levou novamente à parede úmida, uma, duas, três, quatro vezes, até o soltar.

    Urutuan desabou, seu nariz quebrado, seu crânio rachado e vários dentes faltando em sua boca. Sangue começou a pintar o chão úmido.

    — Seu desgraçado! — seu companheiro avançou, também com uma faca feita de cristais.

    Woosh!

    Colin deu um passo para o lado, se esquivando da estocada. A guarda dele havia sido completamente aberta, então Colin aplicou uma brutal cotovelada descendente diagonal, acertando o queixo do homem, arrancando sua mandíbula.

    Crash!

    Bartolu arregalou os olhos ao ver seus companheiros serem nocauteados tão rápido e tão brutalmente.

    — Me-merda! — Ele correu para as grades. — Socorro! Alguém me ajuda! Guardas!

    Colin o segurou pela nuca, pressionando sua cabeça entre as barras enquanto Bartolu continuava berrando, até que se ouviu ossos se partindo.

    O Crânio de Bartolu havia passado pelo vão da grade, seus miolos caíram do lado de fora. O corpo sem vida dele escorregou até seus joelhos tocarem o chão.

    — Pegue as facas e esconda — disse Samantha a Morwyna que estava horrorizada.

    — T-tá!

    O olhar assassino de Colin fitou o anão que suou frio, depois olhou para o velho Wenrik que continuava murmurando coisas sem sentido.

    — Ei, anão, o que acontece agora?

    — Be-bem… o-os goblins devem vir recolher os corpos…

    — Entendi… — Ele retornou para o seu canto e se sentou, observando o sangue que vinha daqueles três.

    Quieto, seu sorriso de satisfação se fez presente. Ele estava com saudades disso.


    Rian despertou lentamente, os olhos piscando para ajustar-se à luz suave que vinha dos orbes.

    O ambiente era simples e austero, com paredes de pedra desgastada e uma única cama de madeira áspera no centro. O cheiro de mofo e terra úmida permeava o ar.

    Ele se sentou na cama, esfregando a cabeça em uma tentativa de afastar o torpor do sono. Em um movimento súbito, Lesiv surgiu das sombras, seu olhar penetrante fixado em Rian.

    — Deveria descansar mais, Rian. O aliado de nosso senhor trouxe você de volta com vida.

    Rian soltou um suspiro pesado, as memórias de sua luta intensa com Colin ainda estavam frescas em sua mente.

    — Ele é poderoso demais, até mesmo para mim — admitiu Rian, a frustração evidente em sua voz.

    Lesiv fez uma pausa, escolhendo suas palavras com cuidado antes de continuar.

    — O aliado de nosso senhor trouxe Colin e seus companheiros. Eles estão presos aqui. A ordem dele foi clara: nenhum dos três deve ser morto.

    — Por quê?

    — É a condição dele.

    — Tsc… o que ele ganha com isso?

    — Não sei, é o filho dele, afinal. Deve estar querendo protegê-lo.

    — Mas e as outras duas?

    — Não sei, Rian. Por enquanto, relaxe e agradeça que de alguma forma você foi salvo.

    Lesiv deixou o quarto e Rian ficou ali, remoendo seus próprios pensamentos.


    O ducado estava imerso em um frenesi de preparação para a iminente invasão. Os muros que cercavam a cidade haviam sido ampliados e reforçados, erguendo-se agora como sentinelas.

    Equipes de trabalhadores se esforçavam arduamente, empilhando pedras e argamassa para fortificar ainda mais as defesas da cidade.

    Enquanto isso, nas ruas estreitas e tortuosas da cidade, as casas outrora ocupadas, agora, serviam a um propósito diferente. Dentro delas, artesãos habilidosos e engenheiros talentosos trabalhavam sem descanso, convertendo cada espaço disponível em oficinas improvisadas para fabricação de armas e explosivos.

    O som constante de martelos batendo e maquinaria rangendo ecoava pelas ruas.

    Forjas foram montadas às pressas em praças públicas e espaços abertos, suas chamas ardentes iluminando a escuridão da noite enquanto os ferreiros moldavam o metal incandescente em armas afiadas e equipamentos de defesa.

    Os gritos dos trabalhadores misturavam-se ao crepitar das chamas, criando uma sinfonia de atividade febril e foco concentrado.

    Da janela do palácio, Ayla observava seus soldados se moverem com precisão e eficiência, preparando-se para enfrentar o inimigo que se aproximava.

    — Majestade — disse Leerstrom na porta. — Faz algumas horas que Dasken partiu. Se tudo estiver como sua previsão, os exércitos devem se chocar em breve.

    Ela enfiou a mão no bolso e tirou um relógio.

    — Certo… mandem que cessem todas as atividades e se preparem para o combate. Você e Josan, se posicionem.

    — Sim, senhora.

    Miogve, Lumur e Saeliel estavam postados sobre uma colina, observando a vastidão do vale abaixo. As bandeiras dos carniceiros tremulavam ao vento, um mar de ferro e fúria avançando em direção a eles.

    Lumur, com sua armadura reluzente refletindo o sol poente, virou-se para seus companheiros. — Estão em menor número — ele comentou, sua voz tão calma quanto o horizonte distante. — Ayla os enviou aqui para serem abatidos como gado.

    Miogve, cujos olhos eram tão penetrantes quanto as espadas que carregava, franziu o cenho. — Será esse o plano da rainha? Incutir em nós um sentimento lúdico de vitória antes do massacre?

    Saeliel, sempre o mais contemplativo, acrescentou com uma frieza cortante. — É preciso ter sangue-frio para enviar tantas pessoas para a morte dessa maneira.

    Foi então que um Elfo, ofegante e com o rosto marcado pela urgência, aproximou-se com um pergaminho nas mãos. — Notícias do Norte — ele disse, estendendo o documento. — Ghindrion e seu exército foram aniquilados!

    Um silêncio mortal caiu sobre o trio.

    Miogve pegou o pergaminho, seus olhos percorrendo as palavras com uma incredulidade.

    — Como um exército de vinte e cinco mil Elfos pode ser derrotado por um exército de apenas três mil? — questionou ele, perplexo.

    Saeliel engoliu em seco. — O que faremos agora?

    Lumur manteve-se imperturbável, sua mente já tecendo estratégias.

    — Provavelmente teve dedo da rainha nisso — comentou ele.  — Ela deve ser o cérebro por trás das operações militares de Runyra. Se ela cair, todo o império cairá junto. Precisamos executar um ataque surpresa.

    — Continuaremos com o plano de enviar parte do nosso exército diretamente para o ducado onde ela reside? — Miogve perguntou.

    — Sim — Lumur confirmou. — É o único caminho.

    — E o exército que se aproxima? — Miogve pressionou.

    Lumur sorriu, um vislumbre de confiança brilhando em seus olhos.

    — Meus homens e os mercenários que reuni são mais do que capazes de lidar com eles. — Ele se virou para Saeliel. — Prepare os portais. Hoje à noite, mataremos a rainha e mudaremos o curso desta guerra.

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