Índice de Capítulo

    Dezenas de prisioneiros estavam encurralados no círculo mágico pulsante, suas expressões de terror refletidas pela luz bruxuleante que emanava do chão.

    Em volta deles, poucos sacerdotes erguiam as palmas para cima, entoando cânticos místicos que reverberavam pelo ambiente, fortalecendo ainda mais o poder do círculo.

    O brilho do círculo tornou-se cada vez mais intenso, até que assumiu a forma sinistra de um olho demoníaco, cujas pupilas pareciam devorar a própria luz.

    Mãos viscosas e translúcidas surgiram do olho, agarrando os prisioneiros e puxando-os em direção àquela boca horrenda, que se formava no centro do círculo. Gritos angustiados e súplicas desesperadas ecoavam pelo espaço, misturando-se ao som dos cantos dos sacerdotes.

    — Continuem! — berrou Rian. — Estamos quase terminando!

    Um miasma fétido começou a se espalhar do círculo, uma aura podre e pegajosa que preenchia o ar e se infiltrava nos pulmões.

    Era um sinal indiscutível da presença de uma entidade transcendental, uma criatura que parecia estar prestes a emergir neste mundo.

    A pressão no ambiente era esmagadora, dificultando até mesmo respirar. O brilho do círculo enfraqueceu gradualmente, revelando a figura horrenda que estava no centro.

    Com quase 2,80 metros de altura, o demônio conhecido como Ig’drolluuth erguia-se majestoso e ameaçador. Sua figura robusta e musculosa destacava-se no ambiente, transmitindo uma aura de poder e malevolência.

    Sua pele brilhava como obsidiana polida, refletindo a luz de maneira sinistra, enquanto seus olhos emanavam um brilho verde malévolo que parecia penetrar a alma de quem o encarava.

    Presas amareladas adornavam sua boca, realçando sua expressão feroz, e suas orelhas pontudas denotavam sua natureza infernal.

    Seus seis dedos finos e afiados decoravam cada uma de suas mãos, como garras prontas para desferir golpes mortais. Às vezes, entre seus grossos cabelos pretos, eram visíveis seis pequenos chifres pretos, uma característica demoníaca que o identificava como Ig’drolluuth, o Príncipe Púrpuro.

    — Cheiro de terra podre… — disse a criatura com seu tom de voz sedutor. Então, encarou Rian ao longe. — Deve ser Rian, certo? Meu mestre, Braz’gallan, falou muito bem de você.

    Suando frio, Rian se ajoelhou, apoiando a testa no chão.

    — Senhor… é bom vê-lo aqui…

    — Claro, levante. — Ele olhou ao redor, vendo restos de sangue e vísceras. — Esse é o seu palácio?

    — Bem… tivemos contratempos, senhor…

    Ele começou a caminhar, suas patas de bode ecoando naquele salão enquanto sua cauda fina com uma seta na ponta ia de um lado para o outro.

    — Ante-magia… entorno de nós…

    — Não é para deter o senhor… é para deter os prisioneiros…

    Ele abanou as mãos. — Tudo bem…

    — Senhor… Rian engoliu em seco. — Temos um favor a pedir… O homem que derrotou o senhor Alexander… ele… bem, ele estava aqui, mas conseguiu escapar…

    Ig’drolluuth parou de se mover, até mesmo sua cauda.

    — Colin, né? Ele está aqui? — Seu sorriso amarelo abriu e ele caminhou até o sacerdote. — Onde ele está?

    — Ele… fugiu, senhor…

    — Hum… precisamos encontrá-lo, se eu conseguir matá-lo, senhor Drez’gan me transformará em apóstolo! Convocarei os meus escolhidos para uma caçada!  

    Ele ergueu a mão para o teto e um círculo mágico formou-se acima dele, pulsando em frenesi.

    — Deixem que elas venham até mim.

    Colin estava bem longe, ainda saltando em seus círculos mágicos sobre aquele mar de lama sem fim. Ele sentiu um formigamento na mão esquerda e a encarou.

    A marca do contrato de Jane, uma aranha, pulsava sem parar.

    “O que é isso? Uma mana poderosa veio de longe… será que veio das minas?”

    — Senhor… — chamou Morwyna em suas costas. — Algum problema?

    — Não! Vamos continuar!


    Jane estava deitada na banheira, imersa em água quente e perfumada, onde pétalas de rosas flutuavam suavemente ao seu redor.

    O vapor envolvia o ambiente, e a suavidade das espumas acariciava sua pele, enquanto ela fechava os olhos e permitia que a tensão do dia escorresse pelo ralo.

    Na borda da banheira, um copo de vinho repousava, emanando um aroma adocicado que se misturava com o perfume das rosas. Jane alcançou a taça com delicadeza, apreciando o sabor suave da bebida enquanto deixava seus pensamentos vagarem.

    Com Ayla ausente em uma campanha militar, Jane finalmente se sentia livre de suas responsabilidades. Era um momento raro de paz, uma pausa merecida depois de tanto trabalho.

    — Sossego, sem espionagem, sem marionetes, apenas o doce sabor desse vinho e da minha companhia… se a rainha morrer na guerra, melhor ainda.

    Os olhos dela arregalaram enquanto sentia uma queimadura no abdômen. Assim que se levantou, viu a marca de Ig’drolluuth, um círculo com escritos de outra língua preenchendo o interior.

    — Inferno! Como ele voltou?

    Desesperada, ela começou a se trocar. Abrindo a porta, ela avançou pelo corredor, a água do corpo molhado marcando a camisa branca.

    “Como? Como um príncipe de terceiro nível conseguiu escapar para o plano da raiz? Merda! Não consigo sentir a mana do Colin, aquele imbecil tinha que sumir no pior momento possível!”

    Então ela adentrou a sala de Brighid que estava sentada escrevendo um livro.

    — Jane…

    — Pare tudo que está fazendo, bonitinha, precisamos conversar!


    Ig’drolluuth era considerado o demônio mais elegante do Abismo, sua presença imponente e sua aparência intimidadora deixavam pouca margem para dúvidas sobre sua natureza.

    Era retratado muitas vezes carregando uma espada grande encharcada de ácido em uma mão e um escudo profano na outra.

    Dentre os três principais príncipes do abismo, Ig’drolluuth era uma verdadeira máquina de matar, capaz de causar estragos nas hordas do Abismo com facilidade. Além disso, suas habilidades semelhantes a feitiços de nível Monarca Arcano o tornavam um oponente mortal.

    No entanto, as maiores armas de Ig’drolluuth não eram apenas sua força e poder de combate, mas sim sua astúcia e capacidade de sedução.

    Ele era conhecido por manipular e enganar suas vítimas com maestria, tornando-se uma ameaça ainda mais perigosa. Adorado por muitas raças monstruosas, especialmente as súcubos, ele inspirava temor e reverência onde quer que fosse mencionado.

    Sua natureza sexual e erótica era uma faceta sombria de sua personalidade, conhecida por visitar bruxas e feiticeiros em troca de favores sexuais e poderes mágicos.

    Seus companheiros femininos, conhecidos como Escolhidos, realizavam rituais violentos e obscuros em sua honra, perpetuando sua influência nos planos inferiores e dando origem a uma linhagem de crianças meio-diabólicas.

    — E então qual o seu plano, bonitinha?

    Brighid deu de ombros.

    — Quer que eu faça o quê? — Quando estava sozinha com Jane, sua aura adorável desaparecia, e ela deixava que Kag’thuzir, uma apóstola, falasse por ela. — Você escolheu servir a essa criatura e agora quer que eu simplesmente resolva o seu problema?

    — Claro! Você é “teoricamente” nossa superior, devia mostrar a ele que ainda é a escolhida do deus morto.

    — Não tenho mais nada a ver com Drez’gan, muito menos com Ig’drolluuth. Tenho um império para cuidar enquanto você está livre para perambular por aí.

    — Ei, ei! Está dizendo que eu não faço minha parte? Metade dos planos do seu maridinho foram possíveis por minha causa.

    Brighid empinou o nariz.

    — Quer um tapinha nas costas por cumprir sua função? E você sentiu Ig’drolluuth vindo da direção de Rontes do Sul, né? Colin foi até lá, ele vai dar um jeito.

    Brighid voltou a escrever, ignorando Jane.

    — Tsc… essa confiança que vocês têm nesse garoto… isso é irritante. Esqueceu que os Orcs foram para outro lugar? Seu maridinho está sozinho.

    — Ele aguenta, não devia ficar tão preocupada. Você sempre foi esperta, Jane, se naquela época escolheu corromper o meu marido com esse contrato profano, então o mínimo que deve fazer é acreditar no homem que você escolheu para vencer Drez’gan. Agora vá se trocar, dá pra ver tudo com essa camisa.

    “Tsc…”

    — Acontece que ele não está preparado para lutar contra um príncipe de terceiro nível do abismo, e você sabe disso!

    Brighid parou de escrever, encarando Jane com desprezo.

    — Conheço o meu marido, encontrar gente forte é o combustível dele. Se não tiver mais nada a dizer, feche a porta ao sair. Depois de terminar essa página tenho que amamentar as crianças.

    — … Depois, não diga que não avisei!

    A preocupação de Jane era justificável, mas Brighid confiava nele depois de tudo, sua fé nele era proporcional a fé que seus fiéis mais fervorosos tinham nela.

    Assim que ela terminou a página, fechou o livro e o colocou em uma estante atrás dela.

    Na parede, havia um quadro enorme, com Colin, Ayla e as crianças, todos bem vestidos. Ayla e Brighid estavam sentadas em cadeiras ornadas, cada uma com um bebê no colo enquanto o restante brincava no chão. As crianças estavam ao lado de ambas, e Colin estava no meio.

    Suspirando, ela murmurou: — Volta logo… por favor …

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (4 votos)

    Nota