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    À medida que os carniceiros de Runyra avançavam pelo império do Sul, uma aura de inevitabilidade os precedia. As pessoas não pareciam ter forças para resistir, e a tomada da cidade se mostrou quase pacífica.

    Ruas ecoavam com o som dos passos firmes dos soldados, enquanto os moradores assistiam em silêncio.

    Dasken, líder dos carniceiros, caminhava pelo palácio em ruínas, observando os estragos deixados por Lina. Seus olhos percorriam os corredores vazios e os salões desolados até que finalmente encontraram o corpo de Saeliel, caído no chão com um buraco na testa.

    Uma nuvem de fumaça pairava ao redor de Dasken enquanto ele retirava uma caixa de cigarros do bolso e acendia um.

    — Avise a rainha, o Errante está morto — ordenou ele a seus homens.

    Em seguida, os carniceiros subiram até o ponto mais alto do que restava do castelo e ali cravaram sua bandeira, um lobo uivando para uma lua de sangue.

    O grandioso império do Sul havia caído.


    Ayla percorria o corredor com uma presença que emanava majestade e autoridade. Seu vestido escuro, cortado com precisão impecável, envolvia suas curvas esbeltas como uma segunda pele, realçando sua silhueta elegante e, ao mesmo tempo, imponente.

    Seu cabelo, na altura dos ombros, caía em ondas sedosas, enquanto seus lábios tingidos de rosa suave exibiam um sorriso confiante.

    Ao lado dela, Tuly acompanhava, mas Tuly, ao seu lado, parecia cada vez mais inquieto.

    Ele olhava para ela de relance, como se estivesse lutando consigo mesmo para encontrar as palavras certas. Finalmente, ele respirou fundo e, com uma voz hesitante, quebrou o silêncio.

    — Rainha Ayla, posso conversar com você? — perguntou ele, seus olhos fixos nela.

    Ela parou por um momento, virando-se levemente para ele.

    — Pode dizer, Tuly.

    Tuly engoliu em seco, como se estivesse se preparando para algo que há muito tempo queria expressar.

    — Colin tem sido um bom rei, eu admito. Mas… Eu não acho que ele seja o que seu pai teria desejado para você, no fim das contas…

    Ayla franziu a testa, seus olhos estreitando-se levemente.

    — O que você quer dizer com isso?

    Tuly respirou fundo novamente, como se estivesse se preparando para mergulhar em águas profundas.

    — Colin… ele pode ser um bom rei, mas ele não tem a honra de um guerreiro. Ele não vem de uma casa nobre, Ayla. Eu o obedeço porque você, a rainha, manda. Mas… — ele hesitou novamente, mas continuou. — Eu não estou gostando do rumo que as coisas estão tomando. Ele desfez a religião da Deusa da Neve. E ele… ele não te trata como você merece. Ele nunca está no castelo, e os filhos de vocês mal acabaram de nascer. — Sua voz estava carregada de preocupação, mas também de uma frustração contida.

    Ayla cruzou os braços, seu olhar fixo nele, agora mais intenso.

    — E o que mais, Tuly? — perguntou ela, sua voz ainda calma, mas com um tom desafiador.

    Tuly não recuou.

    — Você não era uma assassina antes dele aparecer… Mas agora… todos os seus inimigos estão mortos. Você tem agido mais como Colin, um carniceiro, do que como Ayla, a rainha que eu conheço. — Ele fez uma pausa, seus olhos procurando os dela. — Estou com medo do futuro. Colin é perigoso, e, no fundo, você sabe disso. Ele quer o continente agora, mas e depois que ele tiver isso? Ele parece do tipo que não para até ter absolutamente tudo que deseja.

    Ayla olhou para ele, seu rosto impassível, mas seus olhos brilhavam com uma mistura de emoções.

    — Tuly, você deveria parar de agir como se soubesse o que é melhor para o reino. Honra e justiça não têm nada a ver com isso. Se Colin fosse como você deseja, Runyra não existiria mais. O continente precisa de homens como ele, você precisa de homens como ele. Se ele vai parar no continente ou não, isso não importa. Foi ideia dele permitir que você tivesse esse cargo de líder da guarda, e agora o que você faz? Conspira contra o seu rei?

    — Eu não estou conspirando!

    — Não é o que parece!

    Tuly olhou para ela, frustrado.

    — Ayla… você realmente o ama?

    Ayla parou no meio do corredor, virando-se completamente para ele.

    — Por que você está perguntando isso? — perguntou ela, sua voz agora mais afiada.

    Tuly não recuou. Ele olhou diretamente para ela.

    — Por que você me rejeitou no passado? O que Colin, um bandido, tem que eu não tenho?

    Ayla começou a andar de volta, claramente incomodada com a direção da conversa, mas Tuly estendeu a mão e segurou a dela, impedindo que ela se afastasse.

    — Ayla, eu te conheço desde que éramos crianças…

    Ayla se afastou dele, libertando sua mão com um movimento firme.

    — Tuly, você já deveria ter superado isso. Você deveria ter encontrado uma boa mulher, ter sua própria família. Isso é o que você merece, não correr atrás de um amor de infância que nunca se realizou e nunca vai se realizar.

    — Então eu deveria ser mais como ele? Um assassino impiedoso? Se eu fosse assim, você olharia para mim com outros olhos?

    Ela franziu o cenho.

    — Está agindo como os nobres! Reclamando de barriga cheia depois de ter ganhado tanto, procurando defeitos com uma lupa, e para quê?

    — Eu…

    — Me diga Tuly, se não for Colin que irá sentar-se no trono, será quem? Você? Seria engolido pelos nobres em segundos, um homem que não consegue esquecer um amor não correspondido e seguir em frente… Um rei com uma mente tão fraca seria a ruína para seu povo.

    Ele esticou a mão para tocá-la, mas ela se afastou.

    — Ayla…

    — Não toque em mim! É melhor você me tirar de vez da sua cabeça. Somos bons amigos, e apenas isso. Esse assunto está encerrado, definitivamente.

    Ela virou-se e continuou a caminhar pelo corredor, deixando Tuly para trás, seus olhos ainda fixos nela, cheios de uma dor que ele não sabia como expressar.

    — Eu nunca superarei isso… — murmurou, alto o bastante para ela ouvir. — Como eu poderia? Como eu poderia me casar com outra mulher, ter minha própria família, quando a mulher que amo está nos braços de alguém que se orgulha em ser chamado de carniceiro?

    Ayla parou, franziu o cenho e caminhou rapidamente até Tuly, segurando seu colarinho e o batendo na parede.

    — Não seja um idiota! — disse, furiosa. — Essas palavras podem ser consideradas uma traição, sabia disso? Honre sua posição e se comporte como um homem!

    Ela o soltou e começou a caminhar na frente novamente.

    Tuly ficou ali, as costas apoiadas na parede. Então, ele ajeitou sua túnica e suspirou, terminando de ajeitar o colarinho.

    “Eu vou salvá-la, majestade, não se preocupe.”

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