Capítulo 415 - Confusão intencional.
A caverna era um santuário de sombras, suas paredes irregulares cobertas de musgo e estalactites que pendiam como garras de um monstro adormecido.
No coração desse refúgio subterrâneo, Colin estava sentado, suas costas contra a pedra fria, saboreando uma grande pata da criatura de gancho que havia derrotado.
A carne, ainda fumegante, era devorada com um apetite voraz que só os verdadeiros guerreiros conhecem após uma batalha árdua.
Ele rasgava a carne suculenta com os dentes, o som ecoava pela caverna.
Ao seu lado, Morwyna observava, seus olhos estreitados em uma mistura de incredulidade e fascínio.
Ela não compreendia como Colin podia estar com tanta fome. Já era a terceira pata que ele devorava desde que se acomodaram na caverna.
Seu corpo grande e forte parecia exigir uma quantidade absurda de alimento, como se cada músculo, cada fibra, precisasse ser reabastecido.
“Quanto mais ele aguenta?”, pensou, cruzando os braços enquanto o observava com um olhar crítico, mas não sem uma ponta de admiração.
“Todos os homens são desleixados assim?”
O irmão dela, por exemplo, era completamente diferente. Ele gostava de pintar, de passar horas criando obras delicadas e cheias de significado, suas mãos, sempre limpas e cuidadosas.
Seu pai e os homens que o cercavam também eram distintos: sempre arrumados, elegantes, com roupas impecáveis e modos refinados.
Eles pareciam pertencer a um mundo completamente diferente daquele em que Colin habitava.
Mas Colin… Colin era como uma força da natureza. Ele estava ali, sentado no chão da caverna, com as mãos sujas de sangue e gordura, a barba por fazer, o cabelo despenteado, e ainda assim parecia completamente à vontade.
Ele não se importava com a aparência, com as formalidades. Ele era puro instinto, pura sobrevivência. E, de alguma forma, isso não era ruim. Na verdade, Morwyna até achava aquilo… fofo.
“Fofo?”, ela repetiu mentalmente, quase rindo da própria ideia. Como alguém como Colin, que podia derrubar uma criatura de gancho com as próprias mãos, poderia ser fofo? Mas era. Ao menos para ela.
Havia algo nele, algo selvagem e genuíno, que ela não conseguia evitar achar cativante. Talvez fosse a maneira como ele se entregava completamente ao momento, sem se preocupar com o que os outros pensariam. Talvez fosse a forma como ele a olhava ocasionalmente, com aqueles olhos intensos que pareciam ver além.
“Ele é… diferente”, admitiu para si mesma, seus lábios curvando-se em um pequeno sorriso. “E talvez isso não seja tão ruim, né?”
Enquanto Colin terminava a última mordida da pata, limpando os dedos na própria roupa com um gesto despreocupado, Morwyna continuou a observá-lo.
Colin esticou a mão, apanhou outra pata e lançou um olhar para Morwyna.
— Vai querer um pedaço?
— Na-não, pode comer à vontade…
Ele não precisou de mais incentivo.
Seus dentes encontraram novamente a carne, rasgando-a com a mesma ferocidade com que lutara contra a besta.
Ao terminar, Colin se inclinou para trás e soltou um arroto estrondoso, ecoando pelas paredes da caverna.
Morwyna, sem se perturbar, estendeu o braço e conjurou uma jarra de gelo. Com um gesto delicado, ela manipulou a mana ao redor, transformando a umidade do ar em água fresca.
Colin agarrou o jarro com gratidão, erguendo-o com uma mão firme enquanto a água escorria para sua boca.
Ele bebeu avidamente, como se cada gole fosse um presente dos deuses, sua garganta se movendo em um ritmo que parecia hipnotizante.
Morwyna não conseguia desviar o olhar.
Seus olhos percorreram a linha de sua garganta, seguindo as gotas de água que escapavam dos cantos de seus lábios, deslizando por seu pescoço robusto e mergulhando em direção ao peito exposto.
A luz fraca da caverna destacava cada curva de seus músculos, cada veia saliente em seu braço tensionado, que segurava o jarro com uma força que parecia quase primitiva.
A água escorria por seu torso, seguindo o caminho natural até seu abdômen definido, onde desaparecia sob a cintura de suas roupas sujas.
Morwyna sentiu um calor estranho se espalhar por seu corpo, começando no fundo, de seu estômago e subindo até seu rosto, que agora ardia em um rubor intenso.
Ela tentou desviar o olhar, mas era como se estivesse presa em um feitiço, incapaz de ignorar a imagem diante dela.
Seus dedos se apertaram involuntariamente, como se tentassem se agarrar a algo sólido em meio àquela tempestade de emoções.
Ela nunca havia sentido algo assim antes, uma mistura de desejo e vergonha que a deixava sem fôlego. Seu coração batia mais rápido, e ela teve que se esforçar para não deixar escapar um suspiro.
Colin abaixou finalmente o jarro, soltando um suspiro profundo de satisfação.
Ele virou-se para encarar Morwyna, seus olhos brilhando com uma intensidade que a fez sentir-se ainda mais exposta.
— Algo errado? — perguntou ele.
Ela engoliu em seco, tentando encontrar as palavras, mas sua mente estava em tumulto.
— N-nada — murmurou ela, desviando o olhar novamente, mas desta vez com um esforço consciente. Suas mãos tremiam levemente, e ela as apertou em punhos, tentando recuperar o controle.
Colin riu baixinho, um som que ecoou pela caverna e fez seu estômago se contrair de uma maneira que ela não conseguia explicar.
— Precisamos seguir em frente — disse Colin. — Mas antes, vamos descansar. E precisamos encontrar roupas limpas e quentes, este lugar é um gelo.
Ainda corada, Morwyna voltou os olhos para ele.
— Podemos… Podemos fazer como na cela, nos aquecermos com o calor do corpo…
— Não seria bom, estamos os dois sujos e eu continuo molhado — respondeu o Erante.
— … Eu não me importo…
— Mas eu sim.
Morwyna assentiu, mudando rapidamente de assunto.
— Como é a vida em Runyra?
— É boa — disse Colin, um sorriso suave surgindo em seus lábios. — Há coisas para resolver, mas é bom passar tempo com minhas esposas e filhos.
A curiosidade brilhou nos olhos de Morwyna.
— Suas esposas… como elas são?
Colin limpava o nariz com o mindinho.
— Hum… resumindo, são mulheres incríveis e mães excepcionais. — Colin atirou a meleca no fogo. — Brighid é… fantástica, além de ser muito sábia e uma mestra arcana sem igual. Ayla é bem astuta. Conseguiu transformar uma vila em um império, e só levou dois anos. É… acho que sou bem sortudo.
— Elas… são bonitas?
— Provavelmente as mulheres mais bonitas que já vi. — Ele olhou para o lado, se lembrando vividamente delas. — Brighid tem os olhos bem verdes que brilham como esmeralda florescente. O cabelo dela brilha como os olhos. Ayla é bem pálida, os cabelos são brancos como a neve e seus olhos são amarelos como os meus.
“Elas parecem… muito bonitas mesmo…”
Um silêncio caiu entre eles, e Colin fechou os olhos, relaxando.
Morwyna, hesitante, perguntou.
— Você… você me acha bonita?
— Sim — disse ele, sem abrir os olhos. — Seu jeito me lembra um pouco Brighid.
Morwyna sorriu, um calor diferente preencheu seu peito.
— Você é o primeiro homem, além do meu avô e irmão, que me trata bem… Meu pai… ele nunca me viu como uma pessoa… acho que nem mesmo como filha…
Ela riu, um som leve e alegre.
— Acho que o senhor é o primeiro amigo que faço…
Colin sorriu, abrindo um olho.
— Em Runyra, há muitas pessoas boas. Você fará muitos amigos.
— O senhor… me levaria para Runyra?
Ele assentiu, os olhos ainda fechados.
— Minhas esposas vão gostar de você.
Ela se virou, cobrindo o rosto com as mãos, pensamentos atropelando-se em sua mente.
“Se ele quer me apresentar às esposas… Ele quer que eu seja sua esposa também? Mas nós mal nos conhecemos…”
— O senhor… tem certeza? Acabamos de nos conhecer…
— Por quê? Você não quer?
“Se quero me casar com ele? Assim, tão de repente?”
— S-senhor… não acha que precisamos de mais tempo para pensar?
— Para quê? É só dizer sim ou não.
“Mi-minha nossa, tenho que me decidir agora? Elfos da floresta têm muitas esposas, né? E-ele quer que eu seja uma, mas… senhorita Brighid e senhorita Ayla são incríveis pelo que ele me contou, não acho que eu estaria no mesmo nível delas…”
Ela encarou Colin que ergueu uma das sobrancelhas esperando uma resposta simples.
“Me-mesmo assim, ele me escolheu! Será que foi porque sou uma princesa? Faria sentido, já que Elfos negros são reconhecidos como os melhores usuários de magia do plano da raiz, então o senhor Colin vê valor em mim…”
— Bem… — disse Colin fechando os olhos. — Não precisa decidir agora, pode pensar nisso quando saímos daqui…
“Ele está me dando tempo para pensar, mas e se isso for um teste? Senhor Colin é… um bom homem, tem um bom coração, também é bonito, alto, forte… ele descende dos Primeiros Elfos, né? Além de que… ele também tem sangue real.” Suas bochechas ficaram mais rubras de vergonha. “Meu pai nunca me deu escolha, mas… acho que se for o senhor Colin, tudo bem, eu… ele tem cuidado de mim por todo esse tempo… estou começando a me apaixonar por ele…?”
Ela balançou a cabeça, ainda mais envergonhada.
— E-eu aceito! Na-não vou decepcioná-lo. Vou me esforçar!
Colin virou-se de lado.
— Não foi tão difícil, foi? Agora, se me der licença, tirarei um cochilo.
O coração de Morwyna batia acelerado.
Ela se perguntava sobre o papel de uma esposa, lembrando-se dos rumores de que Colin tinha muitos filhos. “Eu vou honrá-lo, senhor Colin, eu juro!”
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