Índice de Capítulo

    No coração de um templo antigo, sombras dançavam com as chamas de tochas, um ritual demoníaco se desenrolava sob uma abóbada de pedra.

    Sacerdotes vestidos com mantos escarlates ergueram as mãos ao céu, invocando palavras de uma liturgia esquecida, que ecoavam como um coro macabro pelas paredes milenares.

    As faíscas de um círculo mágico, desenhado com pó de ossos e cinzas, cresciam em intensidade, serpenteando pelo chão como cobras-de-fogo.

    Ig’drolluuth e Rian, envoltos em sombras, observavam, de uma distância segura.

    De repente, um estrondo ensurdecedor sacudiu o templo, uma explosão de energia negra que lançou os sacerdotes pelos ares, alguns encontrando seu fim contra as paredes de pedra.

    No epicentro do caos, uma criatura horrenda emergia.

    Com três metros de altura, sua pele era de um vermelho sangue, coberta por escamas duras como aço. Seus chifres, curvados para trás como lanças, complementavam a visão aterradora de sua cauda longa e asas membranosas que se recolhiam lentamente enquanto a besta se ajoelhava.

    — Mestre… — a voz gutural da criatura reverberou pelo espaço sagrado. — Me invocaste, é uma honra estar em sua presença e sentir seu esplendor.

    Ig’drolluuth pousou a mão sobre a cabeça escamosa do demônio.

    — É bom te ver também. Até que as escolhidas cheguem, tua missão é clara e inegociável.

    Ele fez uma pausa, seus dedos se fechando lentamente em punho, como se já sentissem o peso da espada que logo empunhariam.

    — Colin. O homem que ousou roubar o que pertence a nosso senhor Drez’gan. O verme que pensou que poderia desafiar a vontade do próprio destino. Ele não é apenas um inimigo; é uma afronta. Uma mancha que precisa ser apagada.

    Sua voz cresceu em volume, ecoando pelas paredes de pedra do salão, enquanto o ódio que carregava transbordava em cada sílaba.

    — Encontrá-lo não é uma sugestão. É uma ordem. E quando o fizer, não o mate rápido. Fazê-lo sofrer seria um luxo, mas não é sobre prazer. É sobre justiça. Arranque a cabeça dele com tuas próprias mãos e traga para mim. Quero vê-la diante de meus olhos, quero ter certeza de que o mundo nunca mais verá a face daquele desgraçado.

    Ele inclinou-se para frente, sua presença imponente e ameaçadora, como se o próprio ar ao seu redor se curvasse sob o peso de sua ira.

    — Esse mestiço não merece um fim digno. Ele merece ser lembrado como o covarde que é. E tu, meu braço direito, fará com que isso aconteça. Não falhe.

    O demônio, com olhos ardendo em fúria, assentiu.

    — Farei esse verme lamentar seu ato desonroso! Juro por nosso senhor, Drez’gan!

    Com um poderoso bater de asas, a criatura alçou voo, desaparecendo na direção das minas sombrias.

    — Como ele reconhecerá Colin? — Rian perguntou.

    — As criaturas do abismo possuem um conhecimento que transcende a carne. Colin é conhecido nas profundezas, ele será encontrado.

    Ig’drolluuth ergueu-se em toda a sua estatura imponente, as sombras ao seu redor parecendo se curvar à sua vontade.

    — Continuem o ritual. — Ele comandou. — Em poucos dias, quero que meus principais generais estejam ao meu lado neste plano.

    Os sacerdotes, reanimados pelo comando de seu líder, retomaram seus cantos com renovado fervor.

    As chamas do círculo mágico pulsavam, como se alimentadas pela vontade de Ig’drolluuth.

    Rian observava a cena, um nó se formando em sua garganta. A incerteza o invadia; trazer tais entidades poderosas para o mundo dos mortais poderiam ter consequências imprevisíveis.

    No entanto, ele suprimiu suas dúvidas, escolhendo confiar na visão de Ig’drolluuth. Afinal, se era por uma causa nobre, valeria qualquer risco.


    À beira de um abismo colossal, Samantha, o venerável Wenrik, a Orc Yllastina e o anão se depararam com a visão majestosa da cidade subterrânea de Gheskou.

    O ar quente e acre os saudava, carregando consigo o brilho vermelho e furioso das fundições eternamente flamejantes que alimentavam o pulsar metálico da cidade.

    O coração vibrante de Gheskou era marcado pelas forjas, mantidas vivas pelas chamas de Themberchaud, o dragão vermelho conhecido como o Dragão Ferreiro.

    Gheskou era um formigueiro de atividade incessante, seus ferreiros habilidosos forjando as armas e armaduras mais finas entre as raças do Subterrâneo.

    Sob o manto de um céu eternamente cavernoso, Gheskou se erguia — uma fortaleza de pedra, cravada nas entranhas da terra. Era conhecida entre aqueles que ousavam percorrer os caminhos sombrios como a “Cidade das Lâminas”, um nome sussurrado com respeito temeroso pelos comerciantes e guerreiros que buscavam suas mercadorias únicas.

    As lâminas forjadas em Gheskou não eram meros instrumentos de aço e ferro; eram extensões da própria vontade de seus criadores, temperadas não apenas no fogo, mas na essência indomável do Subterrâneo.

    Cada espada, cada adaga, cada machado era uma promessa de poder para aqueles que as empunhavam, e uma ameaça silenciosa para qualquer inimigo que cruzasse seu caminho.

    Para Samantha e seus companheiros, a cidade representava mais do que um bastião de civilização em meio à escuridão opressora.

    Era uma chama de esperança, um refúgio contra as sombras que os perseguiam com fervor de cultistas.

    Os corredores de Gheskou, repletos de ecos de negociações e conspirações, poderiam ser o caminho para a salvação ou a perdição.

    Encravada nas paredes de uma caverna colossal, ao sudoeste do Lago Escuro, a cidade pulsava como o coração de um gigante adormecido.

    Os duergar, senhores de olhares tão penetrantes quanto as lâminas que veneravam, dirigiam suas preces e reverências ao Rei das Profundezas, cujo trono era cercado por segredos tão antigos quanto o mundo abaixo.

    A cidade se abria para o Lago Escuro, suas águas escuras beijando a costa rochosa, enquanto uma rede de cavernas e passagens subterrâneas tecia conexões com outras partes do Subterrâneo, facilitando a viagem e o comércio.

    Yllastina, com os olhos arregalados diante da grandiosidade de Gheskou, não pôde conter um “Uau!” que escapou de seus lábios.

    Samantha, ao seu lado, expressou sua surpresa com uma sinceridade desarmante.

    — Não fazia ideia de que o atalho do anão fosse tão rápido.

    O anão, com um sorriso orgulhoso, assegurou:

    — Podemos esperar por Colin na cidade.

    Yllastina, coçando a nuca em um gesto de incerteza, questionou:

    — A Elfa… ela morreu de verdade?

    — Não, ela não morreu. Eu a vi seguindo Colin… — respondeu Samantha, com um vislumbre de irritação.

    — Por que a irritação? — indagou Yllastina, percebendo a mudança no tom de Samantha.

    — Vamos continuar — disse Samantha, tentando desviar do assunto. — Preciso de um banho.

    Yllastina lançou um olhar perspicaz para a loira e concordou com um aceno.

    — Entendi o que aconteceu. Você terá outra chance com ele.

    — Pare com isso, Yllastina — repreendeu Samantha. — Não fale besteiras!

    A orc riu, dando um tapa amigável nas costas de Samantha.

    — Ele é um guerreiro grande e forte. Não há vergonha nisso. Eu também o teria escolhido, se não tivesse um Orc me esperando em casa.

    — Colin e eu somos apenas amigos! — Samantha, corando, insistiu. — E ele já é casado, não tenho interesse em homens comprometidos!

    Sem esconder sua irritação, ela saltou do abismo, aterrissando com graça no chão abaixo.

    — Será que a irritei? — perguntou a orc.

    Ela então se virou para o anão.

    — As mulheres humanas são mesmo estranhas. Se ela queria estar com ele, era só dizer.

    Com um encolher de ombros, Yllastina seguiu o exemplo de Samantha e pulou. O anão e o velho Wenrik, sem hesitação, fizeram o mesmo, desaparecendo na escuridão da cidade subterrânea.

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