Capítulo 418 - Achamos o traidor! (1/4).
Colin e Morwyna avançavam cautelosamente pelos corredores subterrâneos, a luz suave dos cogumelos bioluminescentes criava um caminho brilhante em meio à escuridão.
O ar era quente e úmido, tornando a respiração pesada e fazendo com que gotas de suor percorressem suas peles. À medida que se aprofundavam no subterrâneo, a intensidade da luz diminuía, dando lugar a sombras que dançavam nas paredes ao ritmo de seus passos.
Os corpos de ambos estavam cobertos por uma camada fina de suor, e Morwyna, sentindo o desconforto, tentava abafar inutilmente o calor mexendo na camisa colada ao corpo.
Finalmente, eles chegaram às ruínas.
O calor opressor deu lugar a uma sensação refrescante, como se o próprio coração da terra exalasse um suspiro de alívio.
Vento frio era soprado através dos túneis, agitando o cabelo e as roupas daqueles dois, trazendo consigo o cheiro de terra e segredos esquecidos.
Morwyna fechou os olhos, deixando a brisa acariciar seu rosto, levando embora o calor e a tensão. — Nossa… é fria… — ela murmurou, um suspiro de contentamento escapando de seus lábios. — Fria como a brisa que vem do mar…
Colin também fechou os olhos por um instante, permitindo-se sentir o frescor contra sua pele.
— É… mas a gente precisa continuar — ele concordou, abrindo os olhos e fixando-os no caminho à frente.
À frente deles, as ruínas se erguiam como um testemunho silencioso do passado.
As estruturas desgastadas pelo tempo contavam histórias de uma era esquecida, cada pedra e cada coluna cobertas por musgo e vinhas que se entrelaçavam em um abraço eterno com o antigo.
Vaga-lumes cintilavam por todos os cantos, suas luzes dançantes criaram um espetáculo mágico que iluminava o lugar com uma beleza etérea.
Eles começaram a caminhar pela ruína, seus passos levantando nuvens de poeira que há muito repousavam ali. Colin encontrou uma pedra plana e se sentou, sentindo o peso do dia, fazendo seus músculos agradecerem pelo descanso.
Morwyna juntou-se a ele, sentando-se ao seu lado.
De soslaio, ela observou os braços tonificados dele, o rosto suado, as gotas de suor que percorriam sua pele. Quando Colin passou a mão pelo cabelo, empurrando-o para trás, o coração de Morwyna acelerou e seu rosto ficou quente com uma mistura de admiração e vergonha.
— E-esse calor… be-bem, pelo menos a gente vai poder descansar nesse lugar fresco, né?
Colin olhou para ela e assentiu. — Precisamos encontrar algo para comer, mas é melhor descansar. Pode dormir se quiser, eu fico de olho.
Morwyna, ainda envergonhada, afastou uma mecha de cabelo para trás da orelha. — Po-pode descansar primeiro, senhor… eu fico aqui de vigia…
“Se insiste…”
Colin se deitou na grama, entrelaçando os dedos atrás da cabeça, e Morwyna se sentou ao seu lado, abraçando os joelhos.
— É um lugar bonito… não concorda, senhor?
— É bonito sim — Seus olhos fechados enquanto ele se permitia relaxar.
Morwyna observou Colin adormecer, seu olhar percorrendo o rosto dele, a forma como a camisa colava em seu corpo, e por um momento, seus olhos desceram até a cintura dele.
Sentindo-se envergonhada, ela desviou o olhar rapidamente. — Senhor… achei que nosso tempo aqui no subterrâneo seria bem pior, mas… estou… gostando de passar um tempo com o senhor… Pelo menos a gente pode… se conhecer melhor antes de nos casarmos… né?
Ele abriu um dos olhos e a encarou.
“Essa maluca já está falando em casamento…?”
— Morwyna… se eu te pedisse pra matar seu pai, você mataria?
Ela hesitou, seu semblante entristecendo por um momento.
— Eu… sempre quis que meu pai me protegesse… queria que ele tivesse orgulho de mim, mas… Eu deveria odiá-lo, senhor Colin, e parte de mim o odeia… principalmente pelo que ele fez a mim, meu irmão e minha mãe. Mesmo depois de tudo isso, mesmo depois dele dizer que eu seria dada aos soldados mais poderosos dele… ele ainda é o meu pai…
Colin se sentou, seu olhar sério e pensativo.
— Escuta, Morwyna, até onde sei, o meu pai causou a desgraça não só do seu povo, mas de muitos outros. E o seu pai está fazendo o mesmo. Claro, ele ainda continua sendo o meu pai, mas eu não posso só ficar parado, assistindo tudo desmoronar. Essa força que tenho, que você tem, não é pra ser usada somente com a gente.
Ele abriu um sorriso de canto, recordando-se de boas memórias.
— Era pra eu estar morto se não fosse por minha mãe, por isso faço o que eu faço. Parte disso é pela minha família, é verdade, mas faço o que minha mãe gostaria que eu fizesse, tenho essa dívida eterna com ela. Fortes protegem os fracos, Morwyna. Infelizmente, há outras pessoas fortes que existem pra fazer o mal, e só outras pessoas fortes podem detê-las.
Ele a encarou no fundo dos olhos.
— Seu pai… não sei como as coisas estão na superfície, mas, deduzindo, diria que essa guerra dos Elfos Negros contra Runyra, do seu pai contra mim, vai ditar o que será do continente pelos próximos séculos. Você foi jogada no meio disso e infelizmente tem que escolher.
A Elfa desviou o olhar, pensativa.
— Meu avô… ele disse que o senhor era a nossa salvação, e eu acredito nisso. — Ela se colocou na frente dele, determinada. — Os Elfos Negros… esse ódio que eles sentem de todo mundo… isso tem que acabar! Como princesa, farei o meu papel!
Ele sorriu.
— Conto com voc-
Um tremor súbito sacudiu o chão sob eles, interrompendo suas palavras abruptamente. Parte da ruína desabou, levantando uma nuvem de poeira densa e ecoando um estrondo que reverberou pelas paredes milenares.
Colin e Morwyna se ergueram num salto, seus olhares alerta e corpos tensos.
Da terra agitada, surgiu uma criatura abominável, um verme colossal adornado com espinhos venenosos e múltiplos braços musculosos.
No lugar de uma cabeça, um emaranhado caótico de braços e tentáculos se contorcia, e nas palmas de alguns, rostos distorcidos emergiam, semelhantes a máscaras grotescas.
O verme gigante se moveu com uma agilidade surpreendente, cercando Colin e Morwyna, enquanto o que restava das ruínas desmoronava ao seu redor.
— Finalmente te encontrei! — rugiu a criatura, sua voz um coro dissonante de dezenas de timbres. — Colin, não é? Meu mestre anseia por tua cabeça!
Boom!
Sem aviso, a entrada pela qual Colin e Morwyna haviam passado explodiu em chamas e escombros, e dela emergiu uma entidade demoníaca.
Imensa, com pele de um vermelho profundo e escamas duras como o aço. Seus chifres, arqueados para trás como lanças mortais, e uma cauda longa complementavam suas asas membranosas e imponentes.
— Oqr’geth! — bradou o demônio, encarando o verme com desdém. — Desde quando o mestre te invocou? O escolhido de Kag’thuzir pertence a mim!
— Presunçoso — zombou o verme, sua massa corpulenta se contorcendo. — Fui o primeiro a chegar, e ele será meu troféu!
— Morwyna, consegue lutar? — murmurou.
— A-acho que sim…
“Até que enfim um pouco de ação!”
Colin, com o corpo vibrando em um frenesi de mana descontrolada, avançou como uma fera desencadeada contra o verme colossal.
Com um rugido gutural que ecoou pelo campo de batalha, ele agarrou um dos imensos apêndices do monstro e, num puxão brutal, arrancou-o do tronco viscoso da besta.
Crunch!
O som de carne sendo rasgada e fluidos espirrando reverberou, enquanto jatos de líquido negro jorravam do coto mutilado, borrifando tudo ao redor.
O sorriso de Colin se alargou ainda mais, quase partindo seu rosto ao meio, revelando dentes cerrados em êxtase sádico.
Então, sem hesitar, transformou sua mão livre em uma lâmina reluzente de energia pura, tão afiada que parecia cortar o próprio ar. Com um movimento rápido e preciso, ele mirou naquilo que seria a cabeça do monstro — uma massa pulsante e disforme de carne e tentáculos retorcidos.
Cabrum!
A explosão de violência foi instantânea, fazendo o demônio alado erguer os braços instintivamente para se proteger da onda de choque. Morwyna, agachada abaixo, protegeu-se cruzando os braços, seus cabelos esvoaçantes como bandeiras ao vento.
Tecidos explodiram para fora, órgãos internos se espalharam pelo chão como uma chuva macabra, e o cheiro metálico de sangue e vísceras tomou conta da caverna.
O verme se contorceu em agonia, suas convulsões fazendo a caverna tremer como se estivesse prestes a desmoronar.
Seus movimentos frenéticos lançavam pedras e fragmentos de rocha para todos os lados, enquanto seus gritos — uma cacofonia ensurdecedora de vozes sobrepostas — ecoavam pelas paredes, como se cada som fosse um lamento de dor e ódio.
Colin aterrissou ao lado de Morwyna com a leveza de um predador, seu corpo ainda vibrando com o excesso de mana que o envolvia como uma aura quase majestosa.
Seus olhos brilhavam com uma mistura de excitação e loucura, e ele exibia um sorriso sádico que beirava o insano.
— Ouviu isso? — disse Colin, sua voz carregada de uma energia febril, quase delirante. Ele apontou para o monstro que se debatia à frente. — Esses desgraçados vieram aqui pra morrer, Morwyna. E você vai cuidar disso.
Morwyna engoliu em seco, sentindo o peso das palavras dele pressionar seu peito como uma bigorna invisível.
Ela sabia o que aquilo significava: confiança.
Colin estava confiando nela. Não era apenas uma ordem; era uma prova de fé nas habilidades dela, algo que raramente vinha de alguém tão implacável quanto ele.
O calor subiu por seu pescoço enquanto ela tentava controlar o nervosismo, mas também sentiu uma chama de determinação crescer dentro de si.
Ela não iria decepcioná-lo. Era a chance de ela provar que poderia ser útil.
— Sim, senhor! — respondeu, sua voz firme apesar do turbilhão de emoções que ameaçava transbordar.
Ela ergueu as mãos lentamente, como se estivesse invocando algo sagrado, e fechou os olhos por um breve instante. Quando os abriu novamente, eles cintilavam com um brilho avermelhado intenso. Poder antigo começava a fluir por suas veias.
As palavras que saíram de sua boca eram estranhas, guturais e melódicas ao mesmo tempo, pertencentes a uma língua esquecida há milênios.
Cada sílaba parecia ressoar no ar, transformando-o em algo denso e gelado. A temperatura na caverna despencou abruptamente, e uma fina camada de geada começou a cobrir o chão, subindo pelas paredes como se a própria caverna estivesse sendo consumida pelo frio.
O vapor da respiração de Morwyna formava nuvens densas diante de seu rosto enquanto ela continuava o encantamento.
Então, com um gesto fluido e preciso, ela ergueu os braços para o céu, e o ar ao redor pareceu estilhaçar-se em cristais translúcidos.
Dezenas de lanças de gelo puro materializaram-se no ar, pairando como sentinelas obedientes. Cada uma delas era afiada como navalha, reluzindo com um brilho etéreo sob a luz tênue da caverna. As pontas gélidas pareciam pulsar com uma energia latente, prontas para serem liberadas.
Com um grito de batalha que ecoou pela caverna, Morwyna moveu as mãos num arco violento, e as lanças dispararam como flechas, cortando o ar com velocidade assustadora.
Uma após outra, elas atingiram o corpo do verme gigante com precisão cirúrgica, cravando-se profundamente em sua carne viscosa.
Crunch! Crunch! Crunch…
O impacto foi brutal.
Jatos de líquido negro espirraram das feridas abertas, manchando as paredes e o chão ao redor. O verme soltou um rugido agonizante, seus movimentos tornando-se ainda mais frenéticos enquanto tentava escapar das investidas mortais.
Mas Morwyna não parou ali.
Ela avançou alguns passos, concentrando seu poder em um único ponto do monstro — aquilo que seria sua cabeça, uma massa disforme de carne pulsante e tentáculos retorcidos.
Com outro comando silencioso, as lanças remanescentes giraram no ar, alinhando-se perfeitamente antes de mergulharem todas ao mesmo tempo, perfurando o ponto vital do verme com uma violência devastadora.
Crunch! Crunch! Crunch…
O gelo começou a se espalhar rapidamente, congelando a carne ao redor das feridas e criando uma armadura frágil e letal que aprisionava os movimentos da criatura.
O verme soltou um último grito estridente, que logo se transformou em um borbulhar úmido enquanto seu corpo começava a colapsar sobre si mesmo, congelando por inteiro.
O demônio alado pairava imóvel, sua postura anterior de arrogância e desprezo substituída por algo mais sério.
Seus olhos ardiam com um brilho sobrenatural, refletindo o caos ao redor enquanto ele observava Morwyna com uma intensidade que parecia perfurar sua alma.
Suas asas, antes abertas em uma demonstração de poder e majestade, agora estavam semi-recolhidas, como se ele estivesse contendo sua força para avaliar melhor a situação.
A mandíbula do demônio se contraiu levemente, os músculos faciais tensos, e suas garras flexionaram involuntariamente, como se ele estivesse lutando contra o impulso de atacar imediatamente.
“Essa garota… quem é ela? Como ousa desafiar um servo direto de Ig’drolluth com tamanha precisão e poder?”
Ele analisava cada detalhe dela — a forma como seu corpo irradiava magia, o controle meticuloso sobre o gelo, a frieza calculada em seus olhos.
“Ela é jovem demais para ter esse nível de domínio. Isso é… impossível.”
O desconforto cresceu dentro dele, uma sensação rara para alguém de sua posição. Ele não estava acostumado a hesitar, muito menos a sentir dúvida.
Colin, por outro lado, permanecia ao lado de Morwyna com aquela calma insuportável, as mãos nos bolsos e o sorriso zombeteiro ainda colado no rosto.
Era como se nada naquela cena lhe causasse preocupação genuína. Ele inclinou a cabeça levemente para o lado, observando o demônio com um ar quase entediado.
— Parece que vocês realmente vieram aqui pra me entediar, né? — provocou Colin, sua voz arrastada e carregada de sarcasmo. — Porque, sinceramente, até agora, tá meio fraquinho.
As palavras atingiram o demônio como um golpe físico.
Sua expressão endureceu ainda mais, e ele soltou um rugido gutural que fez o chão tremer. As asas se abriram em toda sua envergadura, lançando rajadas de vento que espalharam poeira e fragmentos de gelo pelo ambiente.
Com um movimento rápido demais para ser acompanhado pelos olhos humanos, ele avançou em direção a Colin, mas ele agiu rápido.
Colin agarrou uma mão de Morwyna, a puxando para si. Antes que ela pudesse reagir, ele a arremessou longe.
O demônio o alcançou, agarrando-o pelo pescoço com uma das mãos e erguendo-o do chão.
— Você ousa me desafiar?! — vociferou o demônio. — Eu sou um instrumento da vontade de Drez’gan! Vocês são meros insetos!
— Vocês sempre dizem a mesma coisa, mas o resultado é sempre o mesmo — Colin abriu um sorriso convencido. — É só olhar para o seu amigo ali.
O demônio, enfurecido pela provocação de Colin, arremessou-o contra a parede da caverna com uma violência que fez pedras enormes se despedaçarem e rachaduras se espalharem pelo teto.
Boooom!
O som do impacto reverberou como um trovão, e poeira caiu em cascata sobre o local. A força do golpe foi tão brutal que partes da caverna começaram a desmoronar, ameaçando soterrar tudo ao redor.
Morwyna aterrissou em uma pedra instável no meio dos escombros, tentando recuperar o equilíbrio enquanto observava a cena com olhos arregalados.
Ela sentia o coração martelando no peito, dividida entre o medo e a adrenalina. Mas então, ouviu algo que fez seu sangue gelar: estalos. Vinham do corpo do verme gigante, que ainda se contorcia debilmente no centro da caverna.
Ao olhar mais de perto, ela percebeu o que estava acontecendo.
O gelo que ela havia invocado para congelar o monstro estava começando a rachar. Lentamente, mas inevitavelmente, as fendas se espalhavam pela camada congelada, liberando pequenas nuvens de vapor conforme o calor interno do verme começava a derreter a prisão de gelo.
Ele ainda estava vivo.
Enquanto isso, Colin permanecia encostado nos destroços da parede, como se estivesse apenas descansando após um breve inconveniente.
O impacto brutal que teria despedaçado qualquer outro homem parecia não ter deixado marcas visíveis nele — pelo menos, não do jeito que se esperaria.
Ele limpou o canto da boca com o polegar, afastando uma gota de sangue quase displicentemente, mas seu sorriso zombeteiro continuava intacto, tão afiado quanto antes.
Era como se o ataque do demônio fosse apenas mais um detalhe irrelevante em sua existência caótica.
No centro de seu peito, o selo mágico que Coen havia gravado sobre sua carne começava a se fragmentar, rachaduras finas e luminosas se espalhando pela superfície como teias de aranha.
Cada fissura liberava faíscas de energia que dançavam ao redor de sua pele, pulsando em tons de azul elétrico e vermelho rubi, como fogo-fátuo capturado em uma tempestade.
A magia contida dentro dele finalmente despertava, rugindo como uma besta enfurecida que fora mantida presa por tempo demais.
A cada segundo que passava, o ar ao seu redor ficava mais pesado, carregado de uma força incontrolável que fazia até mesmo os escombros ao seu lado vibrarem levemente.
Uma aura de poder começou a emanar de Colin, envolvendo-o em uma luz etérea que parecia distorcer a realidade ao seu redor.
Suas roupas tremulavam sem vento, e as pequenas pedras soltas no chão começaram a flutuar, puxadas por uma energia que escapava de seu controle.
Colin inclinou a cabeça para trás, fechando os olhos por um breve momento enquanto absorvia a sensação de todo seu poder fluindo livremente por suas veias novamente.
Quando os abriu, havia algo diferente neles — algo antigo, algo vasto.
— Finalmente.
Ele se endireitou, empurrando-se contra a parede com uma calma desconcertante.
Não havia pressa em seus movimentos, nenhuma urgência.
Cada gesto era calculado, deliberado, como se ele já tivesse previsto tudo o que estava por vir.
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