Índice de Capítulo

    — Você não é grande coisa, mas deve ser o suficiente. — Seus olhos encararam Colin enquanto pedregulhos enormes continuavam desabando entorno. — Eu sempre quis saber por qual tipo de mortal Kag’thuzir se apaixonou, mas você não tem nada de especial. Suas técnicas são básicas, movimentos repetitivos e previsíveis, deve ser uma barata intelectual, além dessa sede de sangue animalesca… é só um bárbaro com graves limitações.

    Colin cravou a espada no chão, seu sorriso não se desfez por um único segundo.

    — E quem é você, algum apóstolo que possuiu o cara do sangue?

    — Claro que você ainda não sabe, como um símio poderia?

    Empolgado, Colin apontou para ele.

    — Hehe! Drez’gan? — Colin alisou o queixo e assentiu com a cabeça. — Com toda essa “inteligência” milenar e ainda não descobriu por que Brighid me escolheu? Depois, o símio sou eu.

    Colin apanhou a espada novamente, a apoiando no ombro.

    A excitação da luta ainda não havia deixado seu corpo.

    — Tenho que agradecer a você — zombou Colin. — Você a treinou bem, a deixou forte, e não se preocupe, aproveitei cada segundo disso. Deve ser doloroso, fazer tanto para ser rejeitado assim no fim… você possuiu esses seus lacaios e eu a possuo de muitas formas diferentes. Uma troca justa, não concorda? Eu não ia desperdiçar o presente que você me deu.

    Drez’gan cerrou o punho, a raiva fervendo em seu interior.

    — Você fala demais — rosnou Drez’gan. — Vamos ver se consegue sobreviver a mim.

    Drez’gan, agora no controle absoluto do corpo de Kuz’geg, levantou a mão com um olhar de desdém.

    Colin, que até então se mantinha firme, foi lançado violentamente para trás como se fosse uma marionete, sua figura sendo arrastada brutalmente pela extensão da caverna, deixando um sulco de destruição nas grossas paredes, como se fosse marionete controlada por fios invisíveis.  

    Bruuuum!

     Com um movimento de braço, Drez’gan empurrou o ar e Colin foi afundado na parede, o impacto fazendo tudo tremer.

    Booom!

    A poeira e os destroços caíram como uma chuva pesada, o som de pedras se quebrando e a caverna ecoando com a violência do embate. As meninas se escondiam atrás de escombros, seus rostos cheios de preocupação e medo.

    — O que foi isso? — sussurrou Samantha, seus olhos arregalados de terror.

    — Será que ele está bem? — murmurou Yllastina, lutando contra a dor que ainda a consumia.

    Morwyna apenas balançou a cabeça, incapaz de formular uma resposta.

    Drez’gan olhou para a palma da mão e viu rachaduras começarem a se formar na carne.

    — Tsc… Este corpo não vai resistir, ele é fraco.

    Um arrepio percorreu sua espinha e ele instintivamente deu um passo para a direita, no exato momento em que a espada de Colin cravou no chão ao seu lado.

    Cabrum!

    Ele virou-se, vendo a silhueta de Colin emergir do enorme buraco na parede, caminhando até a borda.

    Com um sorriso de deboche, Colin cuspiu sangue no chão e estalou o pescoço.

    — Esse é mesmo o poder de um deus? Parece bem comum para mim.

    “Tsc… esse símio, consegue mesmo me tirar do sério.”

    A raiva borbulhou dentro de Drez’gan. Ele começou a conjurar uma espada de sangue colossal, a energia formando uma lâmina de trinta metros de comprimento e dez metros de altura.

    As meninas observaram com olhos arregalados de pavor, enquanto a ventania criada pela energia mágica fazia seus cabelos chicotearem ao redor de seus rostos.

    Destroços caíam incessantemente, como se o próprio mundo estivesse desmoronando.

    Colin, mesmo admirado, manteve seu sorriso desdenhoso. Ele queria ver o que resultaria daquele ataque.

    Num piscar de olhos, Drez’gan lançou a espada de sangue.

    BOOOOOOM!

    A explosão que se seguiu foi monumental, a lâmina perfurando a terra como uma broca gigantesca, movendo-se na diagonal para cima, triturando a terra por quilômetros até que não se ouvisse mais nada.

    Mais destroços continuaram a cair, e um enorme buraco finalmente se abriu, deixando passar a luz da lua que iluminou Drez’gan por um instante.

    As meninas continuavam escondidas, temendo pela segurança de Colin.

    Drez’gan começou a flutuar, seus olhos fixos no buraco que ele havia criado.

    — Deve ter sido o suficiente — murmurou ele, disparando em direção ao buraco que ele criara, sua figura se transformando em um borrão de energia e sangue enquanto se movia.

    O silêncio após a tempestade de destruição era ensurdecedor. As meninas emergiram cautelosamente de seus esconderijos, seus corações ainda batendo freneticamente.

    Claymore, cravada no chão, se desprendeu e foi voando pelo buraco.

    — Colin… — chamou Samantha, a voz trêmula.

    — Sam! — chamou Yllastina. — Vamos ver se as pessoas estão bem.

    — Mas…

    — Você viu a luta, não viu? Mesmo se estivéssemos inteiras, só iríamos atrapalhar. O seu amigo é forte, ele aguenta, vamos ver se as pessoas do esconderijo estão bem.

    — Tá…


    A espada colossal de sangue, que deixou o subterrâneo como se um titã estivesse despertando de um sono milenar, finalmente se desfez em uma chuva de rubras partículas.

    Do meio dos escombros, Colin emergiu, seu corpo repleto de escoriações e ferimentos profundos no abdômen. Ele pousou no chão, sentindo a brisa fresca após semanas no subterrâneo.

    O ataque de Drez’gan havia sido devastador e ele flutuava acima, observando Colin com um olhar de desdém que não se desfazia. Seus pensamentos eram claros.

    “Esse golpe deveria ter destruído essa barata… mas ele continua vivo. Não há dúvida, esse garoto tem a resistência equiparada à de um apóstolo.”

    A espada Claymore emergiu do buraco e voou direto para a mão de Colin. Ele começou a curar seus ferimentos lentamente, o brilho das runas em seu corpo iluminando a escuridão ao seu redor.

    Colin sorriu, a dor evidente em sua expressão, mas a determinação ainda brilhando em seus olhos.

    — Você quase me pegou, Drez’gan.

    O deus morto começou a entender por que Brighid escolheu Colin. Ele não era um homem comum.

    Com um movimento fluido, Drez’gan conjurou uma espada longa de sangue, e Colin flexionou os joelhos, pronto para continuar a batalha.

    — Você está acabado, garoto. Mesmo com seu corpo resistente, a destruição e cura excessiva da pele, órgãos e ossos em um curto tempo vão cobrar seu preço. — Drez’gan elogiou a capacidade de Colin de fingir normalidade, chegando a se questionar se seus ataques realmente foram efetivos. — Mas você sabe fingir bem.

    Com um movimento rápido, Colin ativou os Passos Fantasma. A realidade tremeu ao redor dele. O espaço se distorceu, e num instante ele estava diante de Drez’gan, Claymore em punho, a lâmina cortando o ar com a fúria de um trovão.

    Mas Drez’gan não se moveu.

    Ele apenas estendeu a mão.

    Crack!

    Antes que a espada atingisse seu alvo, um buraco abriu-se no abdômen de Colin. Foi como se algo dentro dele tivesse explodido, como se uma bomba invisível tivesse sido detonada. Seus órgãos internos foram esmagados, suas tripas pendiam em farrapos sangrentos.

    “O… quê?”

    Colin cambaleou, os olhos arregalados. O sangue escorria em jatos fracos, mas seu coração ainda batia. Ele ainda respirava.

    Drez’gan, impassível, agarrou a Claymore com as mãos nuas. A lâmina resistiu por um instante, mas então começou a trincar. O sangue divino que a envolvia tremeluziu, como se implorasse por resistência, mas não houve salvação. A espada rachou. Estava perto de se estilhaçar.

    — Merda!

    Tentou desferir um soco com o braço esquerdo, mas ele foi completamente destruído por algo invisível.

    Colin tentou reagir. Com o que restava de sua força, lançou um soco com a mão direita. Mas antes que sequer se aproximasse de Drez’gan, o braço inteiro desintegrou-se, como cinzas levadas pelo vento.

    Ainda assim, ele tentou chutar.

    E dessa vez, Drez’gan precisou se mover. Ele ergueu o braço e bloqueou o golpe. O impacto criou uma onda de choque que rachou o chão sob seus pés.

    Colin caiu de joelhos. Seu corpo, um cadáver ainda respirando, sangrava por todos os lados. A respiração era ofegante, e cada movimento parecia um ato de pura rebeldia contra a morte.

    Com a boca, ele agarrou Claymore. A lâmina rachada brilhou fracamente, respondendo ao seu chamado. Com um esforço sobre-humano, ele saltou para trás, arrancando o que restava da espada das mãos de Drez’gan.

    Aterrissou a metros de distância, meio corpo em frangalhos, o sangue escorrendo como um rio vermelho ao seu redor.

    Drez’gan observou o homem prostrado com um olhar que misturava desdém e algo próximo ao respeito.

    — Este corpo… não aguentou nem uma fração do meu poder. — Sua voz era fria, cortante como uma lâmina. — E ainda assim, você insiste em lutar.

    Ele deu um passo à frente, o chão rachando sob seus pés.

    — Você é apenas um símio. Um verme com excesso de confiança. Mas saiba disso, mestiço… — Drez’gan ergueu os olhos para o firmamento. — Da próxima vez que nos encontrarmos, não será apenas você. Não será apenas Kag’thuzir. Todos que você ama, todos que se importam com você…
    Ele voltou o olhar para o homem agonizante no chão.
    — Serão transformados em pó. Sob as estrelas.

    O ar ao redor de Drez’gan começou a se distorcer. Ele estava se desfazendo, seu corpo se fragmentando em partículas de energia e sombra. A possessão sobre o corpo de Kuz’geg havia chegado ao fim. Ele não podia permanecer ali por muito mais tempo.

    Colin, com o corpo em ruínas, ainda tentou se levantar. A mão trêmula se reconstituindo. Seus olhos, ainda brilhando com aquela chama teimosa, encararam Drez’gan até o último instante.

    — Da próxima vez que nos encontrarmos, estarei com meu poder total, e ninguém vai salvá-lo.

    Com essas palavras, Drez’gan se desfez por completo. Colin, exausto, suspirou e se deixou cair na grama, deitando-se de braços abertos, braços que ainda se reconstituíam. Um sorriso no rosto.

    “Ele é mesmo bem mais forte que isso? Hehe! Estarei te esperando, deus morto.”

    A batalha havia terminado, mas a guerra estava longe de acabar. Colin sabia que enfrentaria Drez’gan novamente, e da próxima vez, ele precisaria estar preparado para enfrentar o verdadeiro poder do nomeado deus.

    Enquanto as cinzas de Drez’gan se dissipavam no ar, Colin fechou os olhos, aproveitando o momento de paz. As feridas ainda doíam, mas o alívio de ter sobrevivido a mais uma batalha era reconfortante.

    As meninas, ainda lá embaixo, observaram o buraco na caverna com alívio e respeito. A mana poderosa de Kaz’geg havia desaparecido.

    — Ele conseguiu… — murmurou Samantha, a voz cheia de emoção.

    Yllastina assentiu. — O grandão é mesmo incrível.

    Morwyna, ainda silenciosa, sorriu levemente, sentindo uma nova esperança nascer dentro dela.

    Colin, deitado na grama, deixou um sorriso cansado cruzar seu rosto. A lua brilhava no céu, iluminando-o com uma luz suave e tranquilizadora, finalmente permitindo-se um momento de paz.

    Mas, de repente, seus sentidos aguçados detectaram algo. Ele se levantou rapidamente e saltou para trás.

    BOOOM!

    Algo caiu do céu bem na sua frente, levantando uma nuvem de terra e poeira. Quando a poeira começou a se dissipar, Colin estreitou os olhos para ver melhor. Seu coração quase parou ao reconhecer o rosto familiar.

    — Walorin? — Colin murmurou, surpreso.

    Walorin, com um sorriso astuto no rosto, acenou com a cabeça.

    — Faz semanas que estou sobrevoando Rontes do sul à sua procura. — Ele ergueu os olhos, indicando o céu, e Colin seguiu seu olhar. Lá em cima, a bruxa gélida, montada em um majestoso dragão de gelo, observava a cena com interesse gelado.

    — Seu pai me avisou que você seria morto se me enfrentasse — continuou Walorin, seu tom carregado de desdém. — Mas eu sabia que não.

    Walorin esticou o braço na direção de Colin. Sem entender exatamente o que estava acontecendo, Colin sentiu uma força irresistível puxá-lo em direção a Walorin. Antes que pudesse reagir, o braço do Caído se cobriu com rocha bruta e ele golpeou Colin no abdômen com uma força tremenda, lançando-o longe.

    Crunch!

    Na caverna, as meninas sentiram o surgimento de duas novas presenças poderosas. Samantha, Yllastina e Morwyna se entreolharam em pânico.

    — O que foi isso? — exclamou Samantha, os olhos arregalados de medo.

    — Será outro príncipe? — murmurou Yllastina, tentando manter a calma, mas claramente preocupada.

    — A mana dessas duas presenças… — Morwyna começou, mas sua voz falhou diante do terror que sentia. — Não são tão fortes, mas são incrivelmente poderosas…

    Colin se levantou lentamente do chão, ainda sentindo a dor lancinante do golpe. Ele limpou o sangue do canto da boca e encarou seu novo oponente, que o observava com um olhar impassível.

    — É impressionante como você ficou mais forte, Colin. Se estivesse no mesmo nível de quando fomos para o abismo, isso teria matado você.

    — Walorin… você… é um caído?

    A bruxa saltou do dragão de gelo, ficando ao lado do companheiro.

    — Olá, Colin.

    — Homrieklumvie… vieram fazer o que aqui, ordens do meu pai?

    — Não. É uma decisão minha — disse Walorin. — Ele disse que você me mataria se a gente lutasse, mas nesse seu estado… bem… senti a outra mana poderosa se desfazer, isso acabou com você, né?

    — Hehe! Veio chutar cachorro morto?

    — Cachorro morto ou não, eu quero ver a reação do Coen quando eu levar sua cabeça até ele. Ele vai se arrepender de ter me subestimado.

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