Capítulo 447 - Incentivo sombrio.
A sala de alquimia estava um caos absoluto.
Frascos quebrados e líquidos derramados por todos os lados, a mesa de trabalho revirada, livros esparramados pelo chão.
No fundo, entre as sombras e a desordem, estava Ryan. Ele se debruçava sobre um espelho, tentando desesperadamente se comunicar com seu senhor, mas nada parecia funcionar.
Frustrado, ele agarrou o espelho e o arremessou contra a parede, o vidro estilhaçando-se em mil pedaços.
— Droga! — gritou ele, a voz ecoando pelo laboratório.
Ele sentia o peso do fracasso sobre seus ombros, as várias tentativas de agradar seu senhor resultando em desastres. As criaturas que ele julgava serem poderosas haviam sido completamente destruídas.
De repente, Ryan ouviu passos no fundo da sala. Ele levantou os olhos e viu um rosto familiar, o principal responsável por sua frustração.
— Você de novo — murmurou Ryan, levantando as mãos em direção ao homem, círculos mágicos brilhando em suas palmas. — O que você quer agora?
Coen sorriu de canto, caminhando pela sala, observando toda a destruição ao redor.
— Você deveria ver isso como uma oportunidade de melhorar ao invés de ficar culpando os outros, sacerdote. O véu está fraco, fraco o suficiente para tentarmos outra coisa.
— Acha que eu daria mesmo ouvidos a um mentiroso? — disse Ryan, suando frio. — Todas as suas promessas resultaram em manipulação e enganação! Você colocou Colin na minha prisão, e agora tudo se foi! Isso tudo é culpa sua!
Coen continuou sorrindo, a calma em sua voz irritante.
— Acredite, foi surpreendente até mesmo pra mim, mas nem tudo está perdido. O que meu filho fez pode acelerar a vinda dos apóstolos, a vinda do senhor que venera. Pense nisso.
Ryan hesitou, mas sua curiosidade venceu.
— Como?
— Os príncipes do abismo eram fracos porque eram entidades impuras que se fortaleceram no abismo. Mas quando um ser puro se fortalece no abismo, ele se torna extremamente poderoso. É o caso da primeira esposa do meu filho, Brighid.
Ryan franziu o cenho, impaciente.
— Vá direto ao ponto.
Coen riu baixo, apreciando a impaciência do sacerdote.
— Há uma criatura poderosa, feita da essência mais pura do cosmos. Um ser nascido de um fragmento da grande raiz, e esse ser está sob os cuidados dos companheiros do meu filho. Mas isso não seria problema para você e seus aliados.
Ryan estreitou os olhos, ainda desconfiado.
— E o que você quer fazer, exatamente?
— Quero entregá-la de presente para você — disse Coen, os olhos brilhando com uma loucura contida. — Imagine essa garota dando frutos, frutos corrompidos. Imagine o quão poderosas essas criaturas seriam.
Ryan ficou em silêncio por um momento, ponderando as palavras de Coen.
— E o que você vai querer em troca?
Coen deu de ombros, como se a resposta fosse óbvia.
— Não quero nada além da aniquilação de Runyra. E, ao invés de tentar entrar em contato com Braz’gallan, você deveria procurar um apóstolo de verdade que está há meses esperando ordens. Sua lealdade ao deus morto não passará despercebida.
Ryan levantou uma sobrancelha, curioso.
— Por que você está fazendo isso?
Coen olhou para Ryan, seu olhar sério pela primeira vez.
— Tornar Runyra uma força homogênea é péssimo até mesmo para mim. Milveg está obrigando Runyra a agir, a reunir pessoal, pensar em estratégias. Isso os deixa fracos.
Ele deu um passo à frente, a intensidade em seus olhos aumentando.
— Precisamos ser breves e aproveitar a fragilidade de Runyra. Então, temos um acordo?
Ryan hesitou, mas a perspectiva de sucesso era tentadora demais para resistir.
— Se você me trair dessa vez, está morto!
Coen sorriu, satisfeito.
— Você não vai se arrepender, sacerdote.
— … Vai enfrentar a Santa e a rainha Ayla?
O Errante não respondeu, apenas deu um sorriso de canto.
— Pense, garoto. Procure o apóstolo que está aqui, esteja um passo à frente da rainha Ayla. Se quer mesmo vencê-la nesse jogo doentio, tem que pensar fora da caixa.
— …
— Já fiz o suficiente, não se esqueça o que eu disse.
Coen abriu seu portal e desapareceu, deixando Ryan com suas perguntas.
Ryan puxou uma cadeira, o som de madeira raspando contra o chão ecoando na sala silenciosa. Ele se sentou, a escuridão ao seu redor engolindo cada detalhe, deixando apenas seus pensamentos como companhia.
As palavras de Coen ecoavam incessantemente em sua mente: “Você deve pensar fora da caixa”. Mas o que isso realmente significava?
Enquanto permanecia quieto, a escuridão se tornava quase uma presença física, pressionando-o a refletir mais profundamente.
Seu olhar se fixou em um ponto indefinido na frente, enquanto tentava desvendar o enigma que Coen lhe havia apresentado.
A sala parecia respirar junto com ele, cada inspiração e expiração marcando o ritmo de seus pensamentos.
E então, em meio ao silêncio e à contemplação, algo surgiu em sua mente. Uma ideia brilhante, clara como o amanhecer após uma longa noite escura.
Naquele momento, Ryan soube exatamente o que deveria ser feito.
As rainhas de Runyra estavam de frente uma para a outra, seus semblantes sérios. Elas respiraram fundo, sincronizadas, antes de Brighid quebrar finalmente o silêncio.
— Está tudo pronto, Ayla. Todos os cristais foram posicionados nos lugares certos — disse a fada com a voz firme, apesar da tensão.
Ayla, visivelmente relutante, franziu os lábios antes de responder.
— Nunca testamos isso em uma ilha tão grande… Você tem certeza de que funcionará?
— É o que vamos descobrir — respondeu Brighid, tentando transmitir uma confiança que nem ela sentia completamente.
As fadas ao redor delas se afastaram, dando espaço para o que estava prestes a acontecer.
Aquelas duas deram as mãos e fecharam os olhos.
Quando os abriram, os olhos estavam brancos, exalando mana pura. Marcas de um colossal círculo mágico começaram a se formar na grama, começando pequena, mas preenchendo toda a extensão da ilha.
Um tremor intenso iniciou, fazendo o cabelo de ambas esvoaçar violentamente, chicoteando seus rostos. As veias em suas têmporas pulsavam visivelmente com o esforço.
As fadas assistiam impressionadas enquanto a enorme ilha começava a flutuar, saindo lentamente da água em meio ao intenso terremoto.
Um anel de mana se formou acima delas, girando freneticamente dentro de vários outros anéis.
A ilha se ergueu a dez metros do nível do mar antes que o anel trincasse e se estilhaçasse.
Splaash!
De volta ao mar, a ilha caiu com um estrondo, balançando tudo ao redor.
Ayla estendeu a mão para Brighid, ajudando-a a se levantar.
— O que aconteceu? — perguntou Ayla, frustrada.
— Não sei… talvez precisemos de mais mana, ou errei os cálculos… — respondeu Brighid, limpando a sujeira de sua roupa com um suspiro de exasperação.
A mãe de Brighid se aproximou rapidamente, os olhos arregalados de preocupação.
— Vocês estão bem?
— Sim, estamos — assegurou Brighid. — Mas… precisamos voltar para Runyra, tenho que rever algumas coisa. Da próxima vez, trarei meus filhos para todos conhecerem!
A mãe dela se voltou para Ayla, colocando uma mão gentil em seu ombro.
— Cuide bem da minha filha. E não tire os olhos desse homem que chamam de marido. Ainda não me acostumei com a ideia de vocês… bem… você sabe… — disse ela com um sorriso, tentando aliviar a tensão com um toque de humor.
Ayla e Brighid sorriram, um pouco sem graça.
— Voltaremos logo, é uma promessa! — disse Brighid, e Ayla acenou em despedida.
Enquanto se afastavam, Ayla, ainda preocupada, perguntou:
— Será que Colin já chegou?
— Não sei, mas não deveria se preocupar. Ele é forte o bastante para se cuidar sozinho — respondeu Brighid, tentando tranquilizá-la.
— Você tem razão — concordou Ayla, enquanto seu dragão se aproximava, pronto para a jornada de volta.
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