Capítulo 460 - Carrasco e executor.
Colin, o Senhor de Runyra, repousava na escadaria de pedra que levava à sala de treinamento. O sol da manhã filtrava-se pelas janelas altas, pintando padrões dourados no chão gasto.
Um pouco atrás, quatro servas, vestidas em linho simples, riam e brincavam com os bebês nos braços. O menor dos bebês, um pequeno rebento de olhos curiosos, tentava escalar desajeitadamente as costas largas de Colin.
Seus filhos mais velhos, Hamald, Tobi e a destemida Meg, treinavam no pátio abaixo.
As espadas faiscavam, e seus risos ecoavam pelos muros de pedra. Colin observava com orgulho. Seus filhos estavam se esforçando, suor escorrendo pelas testas enquanto duelavam.
O pai estava presente, e isso os motivava a dar o melhor de si.
Quando a luta entre os três se intensificou, Colin se levantou, o bebê agora pendurado em seu ombro como um pequeno fardo.
Os filhos pararam imediatamente, alinhando-se como soldados disciplinados. Seus rostos estavam suados, mas eles não ousaram reclamar. O bebê, imperturbável, puxava a bochecha de Colin com suas mãozinhas gorduchas.
— Sigam-me — disse Colin, sua voz grave ecoando pelas paredes de pedra. Ele entregou seu pequeno nas mãos delicadas de uma das servas — Cuidem deles, eu volto logo.
Então, conduziu seus filhos pelas escadas, passando pelas tapeçarias e retratos da família real.
O corredor os levou além dos salões suntuosos e das câmaras bem iluminadas. Agora, estavam nas profundezas do castelo, onde a luz mal conseguia penetrar.
As crianças engoliram em seco, olhando ao redor com olhos arregalados. Prisioneiros, rostos enlouquecidos, estendiam as mãos através das grades das celas. Eles xingavam Colin, chamando-o de miserável, desgraçado. Mas o Senhor de Runyra permanecia imperturbável.
— Runyra é vasta — disse ele, sua voz firme. — Todos em nosso país merecem uma chance de viver bem, mas o crime nunca cessa. Esses homens que veem são assassinos, estupradores. Uma vida por uma vida, esse é o lema da nossa justiça.
Colin parou diante de uma porta de ferro maciço. Vapor escapava pelas frestas, criando uma névoa gélida. Ele empurrou a porta, revelando uma cela escura.
As tochas nas paredes iluminaram um homem tão alto quanto Colin, e extremamente corpulento. Correntes o mantinham preso, mas seu sorriso senil permanecia intacto.
As crianças tremiam, mas Colin não hesitou. — Acorde desgraçado! — gritou ele para o prisioneiro.
O homem corpulento despertou com um gemido rouco, os olhos semicerrados enquanto a consciência retornava. A cela gélida o abraçava, e o vapor de sua respiração se dissipava no ar.
Ele se espreguiçou, músculos retesados, e seus olhos encontraram Colin.
— Trouxe lanchinho, Senhor? — A voz do homem era um rosnado, e seu sorriso revelava dentes amarelados. Colin não respondeu, apenas o observou com olhos frios.
Colin voltou-se para seus filhos, os três jovens herdeiros. Eles ouviam atentamente, os olhos fixos no pai.
— Vocês querem seguir meus passos? — Sua voz grave ecoando nas paredes úmidas. — Então saibam que governar não é apenas se sentar em um trono. É tomar decisões difíceis, muitas vezes indo contra o que acreditamos.
Ele apontou para o homem corpulento. — Este é um assassino do país livre de Kyros. Invadia vilas à noite, matava pais e filhos, estuprava mulheres e depois se banqueteava com seus corpos desmembrados. — Os filhos engoliram em seco, encarando o monstro acorrentado.
— Vocês darão a sentença — declarou Colin. — Ele merece viver?
— Não! — Tobi foi o primeiro a negar com a cabeça, seguido por Hamald, que afirmou: — Homens assim só trariam desordem…
— Runyra não deveria abrigar esses monstros — disse Meg, sua voz firme. — Todos como ele merecem a morte…
Colin assentiu. — Certo, agora que a sentença foi dada, é hora de executá-la.
Os filhos pareciam confusos. Mas Colin se aproximou do homem corpulento. — Você tem uma chance de se libertar — disse ele. — Mate meus três filhos e saia por aquela porta. Ninguém o impedirá.
As crianças suaram frio, mesmo na cela gelada. Colin continuou: — Se desejam governar, precisam aprender o papel do carrasco e do executor. Sem magia desta vez; apenas suas habilidades com a espada.
Com mãos poderosas, Colin arrebentou as correntes do prisioneiro. Caminhou para o fundo da cela e sentou-se na cadeira, distante.
— Não os ajudarei. Isso é problema de vocês. — Os três jovens desembainharam suas espadas, olhando para o homem corpulento.
Ele se ergueu, olhos famintos, lambendo os lábios.
— Lanchinho!
O homem corpulento rosnou, os olhos injetados de fúria.
As correntes que o mantinham preso tilintaram como serpentes famintas. Seus músculos inchados se contorciam, e ele avançou, as correntes girando ao seu redor como extensões de seus braços. As crianças, com espadas em punho, formaram um círculo tenso.
Hamald, o mais velho, era o primeiro a atacar. Sua espada cortou o ar, buscando o flanco do prisioneiro. Mas o homem corpulento se esquivou com uma agilidade surpreendente, as correntes chicoteando em resposta. Hamald recuou, suor escorrendo pela testa, e se recompôs.
Tobi investiu com ferocidade. Ele era rápido como uma raposa, sua lâmina dançando em padrões imprevisíveis. O homem corpulento bloqueou com as correntes, desviando-se dos golpes com uma destreza que não condizia com sua aparência brutal.
Tobi rosnou de frustração, os olhos fixos no alvo.
Meg escolheu um ângulo diferente. Ela saltou, girando no ar, e sua espada desceu como um raio. O homem corpulento tentou se esquivar, mas a lâmina cortou seu ombro, arrancando um grunhido de dor. Sangue escorreu, manchando o chão de pedra.
O prisioneiro contra-atacou. As correntes zuniram, buscando os filhos de Colin. Hamald saltou para trás, mas uma corrente enrolou-se em sua perna, derrubando-o.
— Merda!
Bam!
Ele rolou, evitando o golpe mortal da corrente que se seguiu. Tobi desviou habilmente, mas a corrente raspou seu braço, deixando uma marca vermelha.
Meg, porém, estava em frenesi. Ela avançou, olhos ardentes, e sua espada encontrou uma brecha na defesa do homem corpulento.
Crunch!
A lâmina penetrou seu abdômen e ele soltou um grito rouco. Mas, mesmo ferido, ele não desistiu. As correntes se enrolaram em torno do pescoço de Meg. Num solavanco, ele a lançou na parede, deixando-a desacordada.
Bam!
Colin assistia, imperturbável. Seus filhos eram corajosos, mas inexperientes.
A escuridão da cela parecia se contorcer, como se o próprio ar estivesse impregnado de violência.
As correntes do homem corpulento chiavam, e seus olhos, agora selvagens, fixavam-se nos filhos de Colin. Meg, ferida, havia recuado, mas Hamald e Tobi avançaram, espadas em riste.
— Hamald, comigo!
— Tá!
Os músculos de Hamald se contraíam sob a pele suada enquanto ele investia. A lâmina de sua espada cortou o ar com um assobio ameaçador.
Swin!
O homem corpulento desviou, mas não o suficiente. A ponta da espada rasgou sua bochecha e o sangue jorrou, quente e pegajoso.
Enquanto isso, Tobi, o ágil, dançava em torno do inimigo. Ele era como uma sombra, seus pés leves sobre o chão de pedra.
A corrente do homem corpulento chicoteava, mas Tobi desviava com graça, como se soubesse os movimentos antes mesmo de acontecerem.
Ele encontrou uma abertura e atacou, a lâmina cortando o braço do prisioneiro. O homem grunhiu, mas não cedeu, contra-atacando com fúria.
As correntes giraram como serpentes enraivecidas. Hamald bloqueou com sua espada, mas a força do impacto quase o fez cair. Ele rosnou, os dentes cerrados e empurrou de volta.
Ting!
A lâmina encontrou o ombro inimigo, mas não penetrou profundamente. O homem riu, uma risada rouca e insana.
Enquanto isso, Tobi continuava sua dança mortal. Ele saltou, girando no ar, e a corrente passou raspando seu tornozelo. Sua espada encontrou o flanco do homem corpulento, mas o golpe foi bloqueado pelas correntes.
Ting!
Tobi grunhiu de frustração, mas não desistiu.
Meg, apoiada contra a parede, assistia impotente.
Seu sangue manchava sua roupa, mas seus olhos permaneciam ardentes. Ela não estava fora da luta; apenas esperava o momento certo.
E então, como uma tempestade, tudo mudou.
Tobi avançou, rápido como um raio. Ele agarrou as correntes com as mãos nuas, ignorando a dor das bordas cortantes. Com um grito primal, ele se lançou sobre o homem corpulento, os músculos tremendo de esforço.
O prisioneiro cambaleou, surpreso. Tobi estava em seus ombros, as correntes enroladas em torno do pescoço do homem.
Tobi apertou, os tendões saltando em seu pescoço. O homem tentou se debater, mas Tobi era implacável. Seus olhos se arregalaram, e ele berrou, usando toda sua força.
Foi então que Hamald e Meg avançaram.
Suas espadas brilharam como estrelas vingadoras. Hamald retalhou fundo o peito do homem corpulento, e Meg cortou suas pernas. O sangue jorrou, pintando o chão de vermelho.
O homem tombou, as correntes escorregando de seus ombros. Tobi desceu, ofegante, e olhou para seus irmãos.
Eles estavam todos feridos, mas vivos. Colin, ainda sentado na cadeira, aplaudiu lentamente.
— Vocês aprenderam hoje — disse ele — que a liderança exige sacrifícios. Às vezes, somos o carrasco, outras vezes o herói. Mas nunca esqueçam: o preço é alto.
Colin ajoelhou-se na cela ensanguentada, os joelhos rangendo contra o chão frio. Seus filhos estavam diante dele, olhos fixos no pai.
— Antes de sermos amigos, antes de sermos senhores e súditos, eu sou o pai de vocês — começou Colin, sua voz grave ecoando nas paredes úmidas. — E como pai, meu dever é moldá-los não apenas como guerreiros, mas como líderes honrados e justos, homens e mulheres que esse reino precisa.
Ele abaixou-se na altura deles, olhando nos olhos de cada filho. Hamald tinha o semblante sério, os traços marcados pela batalha. Tobi parecia absorver cada palavra. E Meg tinha o queixo erguido, determinação em seus olhos.
— Vocês podem me odiar por isso — continuou Colin —, mas eu não pouparei vocês das escolhas difíceis. A liderança não é um trono dourado; é uma coroa de espinhos. Vocês terão que decidir entre o que é certo e o que é fácil. Às vezes, essas estradas se bifurcam.
Os três assentiram, compreendendo. Colin os abraçou, apertando-os contra seu peito. — Amo vocês — sussurrou. — Mais do que as palavras podem expressar. Mas eu não sou eterno. Um dia, meu tempo chegará ao fim.
Ele se levantou, olhando para o homem morto aos seus pés. — Vocês precisam ser exemplos para seus irmãos mais novos. Fortes o suficiente para proteger suas mães quando eu não puder. Runyra não é apenas um castelo, um refúgio, é um legado.
Os olhos dos filhos brilharam. Eles eram jovens, mas a responsabilidade já pesava sobre seus ombros.
Colin indicou a saída da cela. — Vamos — disse ele. — Peçam ao chefe da cozinha para preparar a comida preferida de cada um.
E assim, os herdeiros de Runyra partiram, deixando para trás o homem corpulento e o cheiro de sangue. Mas antes que a porta se fechasse completamente, uma sombra se moveu. O prisioneiro estava se levantando, olhos vazios fixos no vazio.
— Lanchinho…
Mas algo mudou. Uma adaga de raios ganhou forma na mão de Colin. Ela brilhava com uma luz elétrica, e antes que o homem pudesse reagir, a lâmina cravou-se em sua testa. O corpo tombou, silencioso.
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