Índice de Capítulo

    O rei de Runyra, orgulhoso em sua postura, estava prostrado, cabisbaixo, sentado em sua mesa, o olhar fixo no nada.

    A sala de reuniões estava silenciosa, exceto pelo leve crepitar das chamas na lareira próxima. Dois pergaminhos abertos repousavam à sua frente, carregando notícias devastadoras.

    Ele passou os dedos pelos papéis, sentindo o peso das palavras que continham.

    A primeira carta relatava a queda de Closgant, o rei dos gigantes, nas mãos dos guerreiros da ilha das brumas. As muralhas de gelo da fortaleza de Closgant, uma vez consideradas impenetráveis, haviam cedido sob o ataque implacável dos invasores.

    Os canhões dos guerreiros da ilha das brumas, revestidos com runas em armaduras que os mantinham aquecidos, haviam destruído as defesas dos gigantes, deixando um rastro de destruição e morte.

    — Closgant foi um aliado leal… — murmurou Colin, a dor da perda em sua voz. Ele podia quase ver a cena descrita na carta: os gigantes assustados, a fortaleza em ruínas, e finalmente, a cabeça de Closgant erguida como um troféu pelos inimigos.

    Ele não podia deixar de se sentir culpado, afinal, ele era o rei, prometeu protegê-los até o fim, mas quando precisaram de ajuda, os abandonou.

    A segunda carta trazia notícias igualmente sombrias.

    Ela relatava o ataque de Grakk, o rei humanoide tigre, a uma das vilas do império do sul onde os carniceiros estavam acampados.

    Dasken e Falone, seus homens de confiança, haviam sido mortos em combate. Mesmo sendo os guerreiros mais habilidosos da nova geração de Runyra, não foram páreo para a fúria e agilidade de Grakk.

    A descrição do massacre era vívida.

    Colin sentiu uma mistura de raiva e tristeza. Dasken e Falone eram mais que soldados; eram amigos, homens que haviam lutado ao seu lado em inúmeras batalhas.

    Era impossível não se lembrar dos membros de sua guilda, mortos em combate anos atrás.

    A cada dia que passava, a pilha de cadáveres ficava maior.

    — Merda… — apoiou uma das mãos no rosto e relaxou na cadeira. — Por que isso tá acontecendo comigo? Eu não fiz nada de errado. Esse Grakk desgraçado, o que fiz pra ele? Nada! É isso que dá ser pacífico com esses desgraçados! Eu deveria empalá-lo, colocar sua cabeça em uma estaca, cobrir o corpo dele de merda e deixar os vermes devorarem!

    Ele fechou os olhos, buscando um momento de calma em meio ao turbilhão de emoções. Quando os abriu, sua determinação estava clara.

    Colin estava mais maduro, ele sabia que não poderia se permitir ser consumido pela dor e pela raiva. A responsabilidade de liderar e proteger seu povo pesava sobre seus ombros, e ele não podia fraquejar.

    Ele pegou uma pena e um novo pergaminho, começando a escrever ordens para seus principais aliados reforçar as defesas e preparar uma contra-ofensiva.

    “Fiquei mole, não fiquei? É por isso que esses filhos da puta resolveram me atacar todos de uma vez, eles perderam o medo por mim.”

    — Dá para acreditar nisso? — falava sozinho, com fantasmas que só ele enxergava naquele quarto vazio, gesticulando de maneira agressiva. — Eles pensam que vão me intimidar, mãe. Eles só esqueceram que sobrevivi ao covil dos vampiros, à queda de Ultan, ao plano astral, eu sou mais forte que qualquer um, mãe!

    Colin se levantou, caminhando pela sala, gesticulando ainda mais.

    — Eu juro, eu tentei ser como a senhora queria que eu fosse, tentei ser um bom marido, um bom pai, mas não dá, eles não me deixam em paz! — Ele parou em frente a lareira. — O que vai acontecer é culpa deles, mãe, só deles.

    Colin cerrou os olhos e inspirou fundo, tão lento que levou alguns segundos para seus enormes pulmões se encherem por completo.

    — Farei todos eles pagarem com a vida, a senhora verá. Preciso encontrar Morwyna, ela precisa esquecer aquele desgraçado do irmão de uma vez por todas. — Ele encarou por cima dos ombros, vendo a sala cheia de companheiros que já se foram. Falone e Dasken estavam entre eles. — Eles não podem ganhar de mim, não nesse jogo. O erro dos meus inimigos é achar que me conhecem. Rei louco, carniceiro, esses filhos da puta não fazem ideia do que os espera.

    Ele caminhou até a mesa e apanhou sua carta de contra-ataque, jogando-a no fogo, observando-a crepitar.

    As chamas da lareira refletiam em seus olhos enquanto seu sorriso demente ganhava forma.

    — Não se preocupem, pessoal, eu ainda não perdi. Eles terão que me matar se quiserem vencer, e isso não vai acontecer.

    O sorriso insano que havia se formado em seus lábios se desfazendo rapidamente com o som de batidas na porta.

    Brighid entrou na sala, o olhar cabisbaixo e os ombros caídos. Ela caminhou lentamente até Colin, que ainda estava calado, quieto.

    Sem dizer uma palavra, Brighid envolveu Colin em um abraço apertado. Colin, surpreso pela repentina demonstração de vulnerabilidade, acariciou suavemente as costas da esposa, tentando oferecer o conforto que ela tanto precisava.

    — O que aconteceu? — perguntou, a voz baixa e preocupada. Ele sentia a angústia dela, uma dor profunda que parecia pesada demais para ser carregada sozinha.

    — Me abrace, por favor… — Brighid sussurrou, apertando-se ainda mais contra ele. Colin obedeceu, apertando-a com mais força, tentando transmitir toda a segurança que podia.

    Brighid começou a chorar no peito do marido, as lágrimas caindo silenciosamente enquanto ela lutava para manter a compostura. — Não dá para ajudar todo mundo — disse ela, a voz embargada. — Tem corpos demais, Colin. Eu não sei o que fazer… As pessoas me expulsaram, dizendo ser culpa minha…

    Colin respirou fundo, seu rosto endurecendo. — Quer que eu faça algo a respeito.

    Brighid balançou a cabeça. — Não, Colin. As pessoas só estão assustadas… Eles não sabem o que dizem… — Ela olhou para cima, seus olhos encontrando os dele. — Não quero que machuque ninguém…

    Colin apoiou as mãos no rosto dela, os polegares limpando suavemente as lágrimas que escorriam. — Você e Ayla devem fugir com as crianças — disse ele, a voz firme, mas carregada de preocupação. — Vão para a Ilha das Fadas. Se escondam lá enquanto resolvo as coisas.

    Brighid afastou-se ligeiramente, os olhos arregalados de surpresa. — Já conversamos sobre isso… Eu não deixarei a cidade, Colin. Não vou te deixar sozinho.

    Colin a puxou para mais perto, o abraço mais forte do que antes. — Closgant, Dasken e Falone estão mortos — murmurou. — A situação está piorando. Não posso arriscar a segurança de vocês.

    Brighid apertou os lábios, sentindo a dor que Colin se recusava demonstrar a ela. — Sinto muito… — disse ela, o coração apertado. — Eles eram os seus amigos… né…?

    — Está tudo bem — respondeu Colin, tentando manter a calma. — Vou pedir ao pandoriano dragão de Ayla para levar as crianças e os criados para a Ilha das Fadas. Não é seguro em Runyra. Podemos ter traidores internos, é perigoso para você e Ayla, deviam ir com eles.

    Brighid assentiu lentamente. — Eu entendo — disse ela, a voz sussurrada. — Mas eu não posso deixar você aqui sozinho para enfrentar tudo isso, não é assim que a gente faz… As crianças vão e eu fico…

    — Sou forte, Brighid — respondeu, transmitindo uma confiança que passou a ser sua marca. — Mas preciso que você e as crianças estejam seguras. As pessoas ficam violentas em tempos de crise, e o pior pode acontecer. Podem invadir o castelo para tentar me matar.

    — Mas por quê? Você ajudou essas pessoas a recomeçar, deu segurança a elas, uma segunda chance e mesmo assim…

    — As pessoas são assim, agora vá arrumar suas coisas.

    Brighid afastou-se um pouco, a preocupação ainda visível em seu rosto. — E se Drez’gan ou Coen aparecerem? — perguntou, a voz trêmula. A menção desses nomes, tão carregados de perigo, trouxe uma sombra de temor aos seus olhos.

    Colin segurou o rosto dela com ambas as mãos e a beijou apaixonadamente. Quando se afastaram, ele manteve o olhar fixo no dela. — Você confia em mim? — perguntou ele.

    Brighid, com os olhos ainda brilhando de paixão e preocupação, assentiu. — Sim, eu confio.

    — Então, faça o que pedi — disse Colin, a voz firme. — Vá com as crianças para a Ilha das Fadas. Este é o melhor modo de mantê-los seguros e me dar a tranquilidade necessária para lidar com a situação aqui.

    Brighid respirou fundo, processando as palavras dele. — Tudo bem… — disse ela finalmente, a voz resignada, mas determinada. — Vou fazer isso…

    Ela deu um passo para trás, ainda segurando as mãos do marido. — Vou estudar e tentar criar um antídoto para essa praga — disse ela, sua determinação brilhando através da preocupação. — Eu não vou desistir de tentar ajudar nosso povo.

    Colin assentiu. — Vou falar com Ayla — disse ele. — Vamos garantir que as crianças e os criados sejam transportados em segurança. Enquanto isso, cuide-se e concentre-se em criar esse antídoto. Precisamos de toda a ajuda possível.

    Brighid lançou um último olhar para Colin, os olhos cheios de amor. — Farei o meu melhor! — prometeu ela, a voz firme. — E você, por favor, cuide-se também.

    — Sempre — respondeu ele, segurando as mãos dela um pouco mais antes de soltá-las. — Eu ficarei bem, não se preocupe.

    Brighid ainda hesitava, mesmo com o plano traçado. — Colin — disse ela suavemente — quer que eu prepare alguns lanches para você para os próximos dias?

    Colin balançou a cabeça com um leve sorriso. — Não, não se preocupe com isso — respondeu ele. — Vou me virar bem.

    Ela mordeu o lábio, ainda preocupada. — E não se esqueça de se alimentar direito, escovar os dentes e tomar banho, tá?

    Colin riu baixo, apreciando o cuidado dela. — Está bem, Brighid. Cuidarei de mim. — Colin sorriu, segurando o rosto dela por um momento. — Obrigado, Brighid, por tudo.

    Ela sorriu de volta, ficando na ponta dos pés para lhe dar um beijo suave. — Só estou fazendo o que é certo — murmurou ela antes de se afastar.

    Colin a observou enquanto ela saía do quarto, a porta se fechando suavemente atrás dela. Sentia-se reconfortado pelo instante de normalidade que haviam compartilhado, mas agora, ele precisava se concentrar no que estava por vir.

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