Capítulo 07: Luar
O nobre, cansado da viagem e com medo de ser atacado por bandidos, decidiu acampar no meio da floresta.
Aquela decisão era suspeita, porém, compreensível. Se as suspeitas de Colin estiverem corretas, ele iria tentar algo contra ele ou a garota em breve.
O cocheiro montou sua barraca às pressas e o nobre ascendeu a fogueira com magia.
Ele apenas estalou os dedos perto da madeira seca e a fogueira ascendeu instantaneamente.
Desconfiado, Colin convenceu o nobre de que iria se deitar um pouco afastado, próximo às árvores frondosas da floresta de mata fechada.
Ele tinha a ciência que o breu era a melhor forma de evitar um ataque.
A garota, se apegando a Colin como um irmão mais velho, deitou-se próxima a ele, mantendo seu olhar vigilante.
Ela estava com raiva pela atitude anterior de seu novo companheiro, mas de alguma forma, no momento em que Colin disse que mataria o nobre caso ele tentasse algo, ela acreditou, se sentindo protegida enquanto ele estivesse por perto.
Encarando a floresta atrás de Colin, ela se lembrou das histórias que sua mãe lhe contava antes de dormir, de que demônios viviam nessa floresta e raptavam crianças na calada da noite.
Aquela era apenas uma história para manter crianças longe das florestas, já que em um mundo hostil como aquele, inúmeros perigos espreitavam não só as florestas, mas também estradas.
Nenhum dos dois havia conseguido pregar o olho até então.
Enquanto isso, o nobre e o cocheiro pareciam dormir tranquilamente na barraca.
Bocejando, Colin encarou a lua.
Quando acampava com sua ex-noiva nas montanhas, ficava fascinado, perdendo-se na vastidão do infinito. Pensava no que poderia existir além do seu mundo, algo que fazia sua mente ferver de excitação.
Sentia tremenda volúpia ao imaginar o que teria além do desconhecido, que quando dormiu com a filha do vizinho na adolescência, não chegou a sentir um terço do que sentia ao se imaginar vagando lá fora no desconhecido.
— Então outros planos podem mesmo existir… que piada de mau gosto — murmurou ele.
Virando a cabeça, encarou a garota finalmente cochilando.
Retirou do bolso o anel que roubou do velho e o colocou no dedo indicador da mão direita.
Assim que colocou o anel, algo apareceu em sua frente.
Aquilo se parecia com uma janela de notificação.
Status Geral:
Nome: Colin
Idade: 23
Árvore primária: Céu. Nível: 00.
Árvore secundária: Pujança. Nível: 00.
Árvore secundária: Caos. Nível: Bloqueada.
HP: 1100
MP: 125
Habilidades:
Força: 5
Destreza: 10
Agilidade: 8
Inteligência: 6
Estamina: 11
“O que é isso? Uma janela de status?” Ele a observou melhor “Árvore Primária, Árvore Secundária, o que isso significa?”
Se sentou no tronco da árvore e apoiou a mão no queixo encarando o status.
“MP? Isso são pontos mágicos? Posso usar magia?”
Colin sentiu um arrepio na espinha e obedeceu aos sentidos que o disseram para fugir.
Ele saltou para longe do tronco num reflexo fora do normal.
Vush!
Uma espada passou direto e se chocou com o tronco onde Colin estava, partindo-o ao meio.
O corte foi limpo e bem feito, nem mesmo o mais experiente dos lenhadores conseguiria fazer um trabalho tão bom.
Colin encarou a garota que havia acordado com o barulho e atrás dela estava o nobre.
— Atrás de você! — ele avisou tarde demais.
O nobre tapou a boca dela e a ergueu enquanto a segurava por trás.
Ela se debatia como um animal selvagem, e sua mente só se lembrava do que aquele soldado tentou fazer com ela.
A pequena ficou ainda mais apavorada e tornou-se a mexer mais agressivamente.
Colin sentia que deveria ajudá-la, mas o homem a sua frente não iria permitir que isso acontecesse.
Colin sempre brincou de soldado quando era mais novo, mas isso não era brincadeira, era algo real, e se ele falhasse, morreria.
Revelando seu rosto repleto de cicatrizes, o cocheiro sorria enquanto segurava sua espada firmemente. A força dele era assustadora, mas Colin ao menos pensava ser mais rápido.
— Por quê? — perguntou Colin se preparando para o combate direto.
O cocheiro apontou a lâmina em sua direção.
— Só sigo ordens, não é nada pessoal, garoto.
A garota havia desaparecido na penumbra junto ao nobre, deixando Colin preocupado. Principalmente porque toda aquela ação poderia ter sido evitada, mas ele decidiu jogar este jogo sozinho, disposto a sacrificar até mesmo uma criança inocente.
A pura euforia de um mundo novo para explorar havia o sugado para o pântano pegajoso de seu próprio pensamento deturpado, acostumado com o irreal.
Desde o início, ele planejou usar a garota como isca, mas isso funcionava melhor nos games. Ali, na realidade, a ideia se fazia simplesmente desumana, e ele começou a se arrepender de ter feito isso.
Estava na hora de agir o mais rápido possível ou as coisas ficariam feias. O homem a sua frente era forte, e com certeza conseguiria parti-lo ao meio se a luta se prolongasse por muito tempo.
Determinado, Colin girou a adaga em mãos com maestria, como se fosse um açougueiro experiente.
“Beleza, eu já matei antes, não é difícil. Meu corpo está diferente desde que cheguei aqui, acredito que consigo derrotá-lo”.
Colin estava calmo e seu pensamento estava rápido. Apesar de ter acabado de se recuperar, ele se sentia extremamente bem.
Sem aviso, Colin flexionou os joelhos e avançou, correndo na mesma altura que a cintura de seu oponente.
“Seus golpes mais fortes provavelmente serão mais lentos, pois, ele precisa erguer a espada para me atingir, mas com certeza eu sou mais rápido!”
Um adulto fracassado especializado apenas em brigas de colegial, enfrentando um soldado com uma vasta experiência em combate. Apesar de impossível a vitória, Colin não poderia se dar ao luxo de perder esta batalha, se derrotasse ao menos este homem, então talvez tivesse chance de sobreviver aos perigos daquele novo mundo.
Cingindo a espada acima da cabeça, o cocheiro a desceu, a fim de atingir Colin em cheio. Escorregando por debaixo de suas pernas, Colin tentou atingi-lo por trás, porém, subestimou a velocidade de seu oponente.
Crash!
Com um giro do tronco, o cocheiro atingiu o rosto de Colin com o cotovelo.
Sua força era tamanha, que o nariz de Colin quebrou e ele foi lançado há alguns metros de distância como se o mesmo não fosse nada.
Foi como ser atingido por rocha bruta.
Sua visão estava turva e seu nariz ardia como nunca. Com a pouca luz que vinha da lua, ele tocou seu nariz e depois encarou o sangue na ponta de seus dedos. Colin tentou se erguer, mas suas pernas não o respondiam, foi quando sentiu um violento pontapé no estômago.
Bam!
Mesmo sendo alto e tendo em média 70 quilos, Colin havia sido lançado para o alto. Ele viu seu mundo girar, e então sentiu o impacto do solo abaixo dele.
Plaft!
Dois golpes foram o suficiente para quase o nocautear.
Erguendo a cabeça, Colin pôde ver que sua ação desesperada, porém rápida, lhe rendeu frutos.
Sentado em meio à grama, o cocheiro retirava a adaga cravada em seu joelho. Colin a deixou ali no momento que foi atingido, uma reação rápida e precisa.
Urrando de dor, o cocheiro retirou a adaga do joelho e a lançou na relva.
Sangue jorrava sem parar de sua ferida.
Usando a espada como bengala, o cocheiro se ergueu. Ele suava frio e todo seu corpo tremia. Mesmo para um soldado experiente, ele não poderia vencer a idade por mais que tentasse.
Colin reuniu toda sua força e ergueu-se enquanto sentia o sangue deixar seus lábios e escorrer pelo seu nariz.
Todo seu rosto ardia e suas costelas pareciam ranger a cada movimento que executava, mas ele não tinha tempo para sentir dor.
Precisava vencer e acabar com aquilo.
Foi quando deixou escapar um sorriso diabólico ao encarar a vitória bem a sua frente.
O amarelo de seus olhos brilhara mais intensamente. Apavorado, o cocheiro viu a silhueta de um ceifeiro exalando uma pressão que ele raramente sentiu no campo de batalha.
Sorridente, Colin caminhou calmamente em direção ao cocheiro e sentiu sua mão formigar. Ela estava envolta por faíscas azuis lampejantes, que iluminavam o seu rosto enquanto sua sombra era refletida nas árvores virgens atrás dele.
“Isso é magia?”
A janela de status tornou a aparecer.
+ 20 pontos na árvore primária
+ 10 pontos na árvore secundária.
“O que é isso? Eu upei?” Colin se perguntou encarando suas mãos que emitiam faíscas mais agressivas a cada segundo.
Nem mesmo o cocheiro acreditou quando observou o garoto andando em direção a ele com a mão direita incandescente.
Sem perder mais tempo, Colin avançou o mais rápido que conseguiu na direção do cocheiro. Assustado, o cocheiro largou a espada e caiu no chão.
“Toma isso seu pedaço de merda!”
Colin Saltou sobre o cocheiro e apoiou a mão em seu rosto.
Nada aconteceu.
As faíscas, antes vivas como nunca, agora pareciam completamente extintas. A penumbra os abraçou novamente, mas foram salvos pela lua que despontou de trás das nuvens.
Ambos cruzaram olhares por alguns segundos e o cocheiro atingiu Colin no rosto, rolando para cima dele, estrangulando-o.
Suas mãos eram ásperas e grossas, Colin sentiu como se seu pescoço fosse se partir.
“Onde diabos foi parar todo aquele poder?”
Colin Estava perdendo suas forças, quando de soslaio, viu a espada do cocheiro brilhar bem ao seu lado com a ajuda da luz da lua.
Crash!
Ele a apanhou rapidamente e cravou no pescoço do cocheiro, que o soltou e caiu para o lado, enquanto tentava inutilmente conter o sangramento.
Ergueu-se acariciando seu pescoço enquanto encarava aquele homem se debater. Com um olhar frio, ele ficou ali encarando aquele homem morrer pouco a pouco.
Ele não sentiu náuseas, muito menos remorso. Mais uma vez, Colin apenas ficou aliviado.
Se aproximou do corpo do cocheiro e o cutucou com os pés.
Depois de um instante, ele apenas disse baixinho:
— Você mereceu, desgraçado.
Ele se abaixou apanhando a espada do cocheiro.
Com a espada pesada em mãos, Colin partiu o mais rápido possível em meio a mata para encontrar a garota.
Sem perceber, acabou suplicando para que ela continuasse viva e bem. De alguma forma, mesmo tendo pouco tempo que estavam juntos, ele acabou se apegando a ela sem perceber e isso o incomodava.
“Porcaria, aguenta firme, garota, estou chegando!”
O que mais o assustava era que o nobre sabia usar magia, ele o viu ascender a fogueira com um estalar de dedos. O assustava ponderar no que mais o nobre saberia fazer, já que nobres normalmente tinham uma educação privilegiada em comparação aos demais.
“O nobre deve ser mais forte que o cocheiro, tenho que me apressar!”
Correndo em meio à mata, seu coração batia acelerado por não encontrar nenhum sinal dos dois.
Ele já imaginava o pior.
Foi quando avistou algo que jamais esqueceria.
O nobre estava desmembrado enquanto a garota estava de pé em meio a um espaço aberto com árvores caídas. Ela arfava descontroladamente e o seu corpo estava coberto por sangue que não era o seu.
“Mas que caralhos aconteceu aqui?”
Ainda um pouco distante dela, ele a chamou.
— Garota… sou eu, Colin!
Ela se virou e seus olhos estavam ardendo em fúria.
Encarar aquela expressão dela deu mais medo do que ser cercado em um beco escuro por baderneiros ou enfrentar um soldado experiente de outro mundo.
— O que você fez? — ele perguntou se aproximando calmamente para perto dela.
Ela ergueu a mão na direção de Colin e disse algo pela primeira vez.
— Por favor, Colin, não se aproxime de mim! — disse em um tom suave a afável.
Ele Engoliu o seco, soltou a espada e ergueu as mãos em rendição.
— Está tudo bem, não machucarei você. Estamos juntos nessa, esqueceu?
— Por que nos fez viajar com estas pessoas? Não viu que eram nobres? Por que você insistiu com isso? Olhe como você está!
Os dentes cerrados e seus olhos ardendo em fúria entregavam seus sentimentos. Seus chifres pareciam timidamente maiores, as veias de seus braços miúdos estavam saltadas e seu cabelo, agora curto, estava levemente ouriçado.
Aquilo se parecia mais com um animal selvagem do que com uma garota indefesa.
Ele se sentiu encurralado.
Mesmo tendo espaço para correr, ele não queria, apesar de assustado, Colin estava encantado. Ver a garota antes tão frágil como porcelana neste estado quase bestial o atraiu como um canto de sereia.
— Você tem razão, eu fui um idiota. Agora abaixa sua mão, não quer me machucar, quer?
Ela fez que não com a cabeça e abaixou calmamente as mãos enquanto seus olhos voltavam ao normal. Sua fúria anterior lentamente desapareceu, e sua cólera se desfez no ar como fumaça.
Felizmente, para a sorte de Colin, ela o via como companheiro.
Ao passar por ela, Colin observou com atenção o que havia sobrado do nobre.
Ele era novo naquele mundo, mas em sua vasta experiência em jogos online e história medieval, Colin deduziu que cabeças de nobres valiam algum trocado.
“O cocheiro também deve valer algo.”
Ele apanhou a cabeça do nobre pelos cabelos e encarou seus olhos.
— Como fez isso? — perguntou enquanto se erguia.
Ela fitou a relva completamente deitada, como se uma tropa inteira tivesse passado ali.
— Não lembro muito bem, só me lembro de sentir muita raiva e medo… então tudo explodiu de uma só vez…
“Isso também é um despertar?”
— Certo, vamos voltar — disse segurando a cabeça do nobre pelos cabelos.
Retornando para o acampamento, Colin rasgou uma parte das roupas do nobre e elaborou um saco, guardando a cabeça dentro dele.
Assim que ambos tornaram a caminhar para perto do acampamento, Colin foi até o cocheiro e encarou mais uma vez seu corpo. Apoiou o saco com a cabeça do nobre no chão, ergueu sua espada pesada e decapitou cocheiro sem remorso algum.
Pegou a cabeça pelas orelhas e a jogou no saco. Era como desmembrar um porco, e ele já havia feito isso antes.
Perguntou-se se isso o fazia menos humano, mesmo sendo a primeira vez que cometia um ato tão vil ao cortar a cabeça daquele homem como se ele fosse um animal.
— E agora? — indagou a garota atrás dele.
Ele a encarou por cima dos ombros.
— Vamos para qualquer lugar longe daqui, mas tenho uma ideia. Iremos para o norte, talvez encontremos alguém que possa ajudar você a evoluir essa habilidade.
Em sua vasta experiência em MMORPGs, ir para o norte sempre significava que lá haveriam respostas. Colin estava apenas chutando sua direção, e torcia em silêncio para estar certo.
— Evoluir? — disse com temor na voz. — Não quero evoluir isso…
“Era só o que me faltava, uma birra infantil.”
Originalmente, Colin planejava seguir sozinho, mas seus planos haviam mudado.
Talvez, ele pudesse usar sua companheira, outrora inútil, para algo que o beneficiasse.
— Você quem sabe, mas não pense que dará sorte como desta vez, ou da vez que ajudei você no celeiro. Se eu morrer, acredita que consegue se virar sozinha?
Ela franziu os lábios e desviou o olhar.
— Foi o que pensei. Vamos sair daqui.
Com o saco nas costas, Colin caminhou até a carruagem ao lado do acampamento. Jogou o saco lá dentro e a gaiola com a Fada tornou a fazer ainda mais barulho debaixo daquele pano escuro.
Colin tirou o pano e, iluminou a Fada com uma vela que estava na carruagem. A pequena recuou ao vê-lo coberto de sangue e com feridas sérias no rosto. Com o cabo da adaga, Colin arrebentou o cadeado em um golpe rápido, abrindo a pequena porta da gaiola.
Trac!
— Pronto — disse ele. — Você está livre.
Ela se sentiu estranha ao ouvir aquelas palavras.
Fazia séculos que ela não sabia o que era de fato liberdade. O olhar de ambos se cruzou mais uma vez e mantiveram contato visual por alguns segundos, até que a Fada desviou o olhar envergonhada.
Colin ia saindo da carruagem até que a Fada começou a grunhir. Ela se aproximou até a porta de sua gaiola e apontou para a boca selada.
— Hum! Hum! — grunhiu apontando para a boca.
— Quer que eu tire isso? — ele perguntou.
Ela fez que sim.
Com cuidado, Colin retirou a folha gosmenta que estava praticamente colada a boca dela. A Fada fez pequenas expressões de dor e, assim que Colin retirou o selo, ela deu um longo suspiro.
Com a borda do vestido em farrapos, ela limpou seus miúdos lábios e fez uma reverência curvando seu corpo.
— M-Muito obrigada, senhor! — disse em um tom de voz agudo e engraçado, como se um ratinho estivesse aprendendo a falar.
Colin apoiou a mão cerrada nos lábios e deu uma curta gargalhada acompanhada de uma tosse. Pensou que depois de tudo, tivesse esquecido de como é sorrir.
— E-Eu disse algo engraçado, senhor?!
Colin fez que não com a cabeça e afastou-se.
— Não foi nada — disse a encarando nos olhos. — Não precisa me chamar de senhor, meu nome é Colin, e o seu?
Os olhos dela pareceram brilhar, e ela disse com empolgação:
— M-Meu nome é Brighid, prazer em conhecê-lo!
Colin moveu-se até a porta da carruagem e urrou, pedindo para a garota se aproximar o mais rápido possível.
Ela veio até ele em segundos.
— O que foi? — perguntou assustada. — Aconteceu algo?
Colin estendeu a palma para que a pequenina pulasse nela.
— Vem, pequena, não machucarei você.
Ela relutou por um segundo, afinal, Fadas conseguiam sentir a essência da alma de cada ser, e a de Colin era algo que ela não sabia dizer ao certo o que era.
Aquele homem oscilava entre um meio Elfo e outra coisa que ela desconhecia.
Apesar de sua desconfiança, a pequena se sentia estranha em relação a ele. Seu coração estava acelerado e ela estava mais envergonhada que o normal. Talvez fosse porque ele era o primeiro ser em anos que a tratava de maneira educada, ou talvez fosse algo que nem mesmo ela entendia.
Após engolir o seco, Brighid pulou nas mãos dele e Colin a mostrou para a garota.
— Esta é Brighid, e Brighid, esta é…
— Safira… — disse a garota.
“Então esse é seu nome.”
Com o indicador, Safira cutucou o rosto de Brighid, que começou a gargalhar.
— Não faz isso, senhorita Safira, faz cócegas, há,há!
— Ah! Desculpe, não foi minha intenção…
— Tudo bem, rir às vezes é bom!
A pequena Fada encarou Colin e franziu os miúdos olhos esverdeados.
— E-Eu posso ajudar você se quiser…
— Me ajudar?
Ela assentiu.
— Posso curar seus ferimentos se você se aproximar…
Colin levou a pequena até o rosto e sentiu suas mãos pequenas e quentes tocarem suas bochechas.
Em um piscar de olhos, uma luz amarela começou a envolver todo o corpo da garota e, aos poucos, o corpo de Colin começou a brilhar intensamente enquanto partículas minúsculas eram expelidas.
Uma sensação agradável de calor tomou conta do corpo dele e todas as feridas começaram a cicatrizar lentamente.
Foi como se uma manta quente o envolvesse e ele se sentisse tão bem quanto depois de uma bela noite de sono.
— Considere um presente por ter me libertado!
Ele estava novinho em folha.
Asas de mana que se assemelhavam a asas de borboleta, brotaram das costas da Fada e ela tornou a voejar ao redor deles.
— Você é mesmo uma Fada… — balbuciou Colin.
Brighid parou frente a ele com o cenho franzido.
— Nem todo ser baixinho que voa é uma Fada, mas sim, sou uma Fada.
Voejando para perto do saco com as cabeças, Brighid, o encarou por alguns segundos, depois voejou para cima e retornou para perto deles.
— Foram vocês que fizeram tudo isso? — ela perguntou.
Colin e safira cruzaram olhares, fazendo que sim com a cabeça.
— Uau… bem que senti mana forte vindo dos dois, principalmente dela.
“Então seres mágicos tem a habilidade de sentir mana até em alguém como eu?”
— Você está livre, pode ir para casa agora. — Colin abanou as mãos.
Brighid apoiou a mão no queixo e fez uma careta estranha. Depois de alguns segundos pensando, ela cruzou os braços e fez que sim com a cabeça duas vezes.
— Que tal se eu acompanhasse vocês?
— Sem chance — disse Colin.
Ela voou até ele com uma expressão chorosa e juntou as mãos em uma súplica.
— Por favor, senhor Colin!
— Já disse para não me chamar de senhor. Não é nada pessoal, mas se não percebeu, andar comigo, significa se foder, e muito…
— Não se preocupe com isso, nós três somos criaturas do véu, alguns humanos vão sempre nos desprezar aonde quer que a gente vá.
“Criaturas do véu?”
Se afastando, Brighid foi até Safira.
— Senhorita Safira, tem algum problema em eu acompanhar você?
Safira coçou a bochecha com o indicador e olhou para o lado meio sem jeito.
— Bem, acho que não…
— Então está decidido! — comemorou.
Colin começou a analisar melhor a situação.
A Fada curou por completo sua cara arrebentada, e Safira destroçou um humano de maneira ainda inexplicável.
“Talvez essas duas possam ser úteis para mim”.
— Escutem, as duas! — disse Colin. — É melhor não fazerem nada imprudente, principalmente você, Fada — ela fez beicinho e cruzou os braços empinando o nariz. — Apenas façam o que eu pedir, e quando forem fazer algo do qual não tem certeza, perguntem para mim, entendidos?
Elas grunhiram em concordância.
— Ótimo, agora vamos sair logo daqui.
Colin subiu na carruagem e apanhou as rédeas enquanto as duas continuaram lá paradas o encarando.
— O que foi? — perguntou.
Safira encarou a relva e coçou a bochecha com o indicador.
— É que…
— O quê? Chateada por eu não ter contado do meu plano antes?
Ela franziu os lábios e fez que sim.
— Fui imprudente, sinto muito. A partir de agora não farei nada sem avisar você.
— Ei! E quanto a mim? — perguntou a Fada.
— Ah… para você digo o mesmo.
Ao ouvir isso, Safira subiu na carruagem e sentou-se ao lado de Colin e a Fada sentou-se no ombro de Safira.
— Pode viajar lá dentro se quiser — disse Colin.
Ela fez que não.
— A cabeça do nobre está lá, e logo ela começará a cheirar mal…
Colin deu de ombros.
Ele puxou firmemente as rédeas e o trote ágil do cavalo os fizeram sair da densa floresta em um piscar de olhos.
A sensação de adrenalina correndo em suas veias era familiar, mas não menos eletrizante.
Colin sabia que arriscava sua vida a cada batalha, mas isso era o que o fazia se sentir vivo.
Ele não apenas sobreviveria, mas emergiria mais forte e poderoso do que nunca. Com a ajuda de seres como Safira e Brighid, ele estava determinado a alcançar não apenas a sobrevivência, mas a grandeza.
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