Índice de Capítulo

    Os nobres viram aquela cena espantados. Trunyson estava de joelhos enquanto berrava descontroladamente. Ele nunca havia sentido uma dor tão intensa quanto aquela. Seus companheiros foram o socorrer de imediato e tentaram acalmá-lo.

    Os guardas adentraram rapidamente o salão e apontaram suas armas para Colin, que permaneceu inexpressivo. No seu nível atual, não seriam guardas que iriam causar algum tipo de medo.

    — Prendam este homem! — berrou um dos nobres em demasiada fúria — Ele feriu o Lorde Trunyson, ele merece ir para a forca!

    O comandante Leerstrom, pai de Samantha, se aproximou.

    — O que está acontecendo aqui? — indagou apontando a espada para o pescoço de Colin.

    — Esse cara me ofereceu dinheiro para se deitar com minha mulher. Todos esses nobres viram o que esse nobre fez, pergunte a eles se quiser. — Colin Enfiou as mãos nos bolsos e olhou ao redor. — Tenho certeza que ninguém aqui vai mentir.

    Os nobres, que em sua maioria tinham nariz empinado, desviaram o olhar rapidamente. Outras figuras importantes abriram um sorriso de orelha a orelha ao ouvir aquilo.

    — Leerstrom, querido! — disse uma mulher loira usando vestido branco e com um penteado cheio de tranças. Seus olhos eram bem azuis e seu semblante era meigo — O Elfo agiu em legítima defesa. Minhas amigas podem comprovar isso.

    Atrás dela estavam outras duas mulheres tão belas quanto. Uma era ruiva e a outra tinha cabelo castanho.

    — Isso! — confirmou a ruiva — A gente ouviu tudo!

    Elas eram viúvas de nobres, mas mesmo assim mantinham seus status dentro da corte. A loira era Odenya, a mulher mais rica da capital e herdeira de boa parte das terras do reino de Brambéria, localizado ao extremo oeste do continente.

    A ruiva dos olhos verdes, vestido vermelho e corpo voluptuoso era Nezludra, ela controlava um lucrativo comércio agrícola da capital, competindo diretamente contra o pai de Wiben e suas dezenas de fazendas. Apesar do monopólio e das altas taxas, Nezludra conseguia um lucro significativo pela qualidade inegável de seus alimentos.

    E por último, de cabelo castanho ondulado e olhos amarelos como os de Colin, estava Dorothea, a mais bela das três. Em sua cabeça ia uma tiara dourada, seu vestido era verde e branco com um decote bem chamativo, onde seus seios fartos se destacavam, além de que mesmo para uma mulher de meia-idade, seu corpo cheio de curvas chamava bastante atenção.

    Dorothea era cunhada de Ultan.

    Depois de ouvir da própria boca delas que Colin agiu em legítima defesa, Leerstrom guardou a espada e assentiu.

    — Levem-no para a enfermaria. — Ordenou Leerstrom.

    Os outros nobres arrastaram Trunyson para longe enquanto ele esperneava. Os ossos de seu braço estavam expostos.

    — Minha filha confia em você — disse Leerstrom — Mas você parece um daqueles idiotas que não tem amor pela vida. Se algo acontecer com Samantha por sua imprudência, então eu mesmo darei um jeito em você. Estamos entendidos?

    Colin assentiu.

    — Claro, Comandante Leerstrom.

    Leerstrom assentiu.

    — O que aconteceu aqui foi um desentendido — disse Leerstrom em alto e bom som — Lorde Trunyson será tratado e retornará o mais breve possível. Podem continuar com as festividades normalmente.

    A maioria esmagadora esperava que Colin fosse punido, ali e agora, mas estavam com medo de retrucar ou falar algo depois do que presenciaram.

    — Então é isso? — sussurrou um dos Nobres — Ele agride um dos nossos e nada acontece?

    — O que Ultan está pensando? Por que ele deixa esse Elfo fazer o que bem entende?

    — O Elfo cuida dos filhos dele.

    — E daí? Isso é motivo para ele fazer o que bem entende?

    Nobres não sabiam lhe dar com pessoas problemáticas demais no qual estavam longe de serem afetadas pelo próprio sistema que criaram.

    Aquelas três continuaram ali, olhando para eles e olhando principalmente para Brighid.

    — Obrigado… — Colin agradeceu meio sem jeito.

    — Não devia ser tão impulsivo, rapazinho. — Odenya fez uma reverência — Odenya, a seu dispor. Essas são Nezludra e Dorothea.

    As outras duas também fizeram uma reverência.

    Dorothea se aproximou de Brighid e tocou o rosto dela gentilmente, enquanto Nezludra tocou as mãos dela.

    Brighid ficou estática, ela não soube reagir aquela invasão de privacidade.

    — Tão linda e com uma pele tão macia — disse Dorothea ainda apalpando o rosto de Brighid — Você usa alguma loção especial?

    — Que mãos delicadas — disse Nezludra espantada — É uma monarca de duas árvores e mesmo assim tem mãos macias, qual o seu segredo?

    Dorothea alisou o queixo e deu uma volta ao redor de Brighid.

    — Os peitos dela também tem um bom tamanho e a bunda dela é mais bonita que a sua, Nezludra.

    Brighid ficou completamente vermelha de vergonha. Receber elogios era uma coisa, mas elogios de maneira tão pejorativa era outra coisa completamente diferente.

    — Madames… — disse Odenya cruzando os braços — Estão assustando a senhorita monarca. Desculpem minhas amigas, é que a monarca faz a gente se lembrar da época que éramos jovens. — Ela empurrou as amigas — Vamos meninas, deixem ela em paz!

    Enquanto se afastava, Dorothea lançou um olhar provocante na direção de Brighid e deu uma piscadela. Brighid sentiu um arrepio na espinha e foi para detrás de Colin instintivamente.

    Ela não se recordava de ficar tão desconcertada em todos os seus anos de vida.

    Colin inclinou a cabeça para sussurrar algo no ouvido dela.

    — Será que elas agiriam dessa forma se soubessem que você tem idade para ser uma ancestral milenar delas?

    Brighid franziu o cenho e o encarou com um olhar mortal. Ela não tinha como retrucar o fato de ser tão velha, então cruzou os braços e virou o rosto fazendo beicinho.

    — Está cheio de mulheres mais novas aqui, por que não vai lá falar com elas já que sou tão velha assim para você?

    Colin abriu um sorriso de canto e meneou a cabeça.

    Nah… prefiro falar de tricô e sobre as minhas dores na coluna.

    Os dois ficaram se olhando por alguns segundos e logo depois começaram a rir.

    — Tricô? — indagou Brighid, ainda gargalhando — De onde tirou isso?

    Colin deu de ombros.

    — É um tipo de piada no meu mundo.

    Lei Song e Liena estavam com cara de paisagem. Ficaram encarando aqueles dois gargalharem de algo que para ambas, não teve graça alguma.

    Colin era bom para provocar as pessoas, mas se tratando de piadas ele era tão ruim que Brighid e Safira eram as únicas pessoas que riam de suas piadas horríveis.

    — Que show magnífico! — disse um Elfo de batina ao se aproximar. — Colin, o Elfo Negro, sua reputação o precede!

    O Elfo era da mesma altura de Colin, tinha pele bem pálida, cabelo curto escuro e estava acompanhado de duas Elfas vestidas de freiras. Uma era loira dos olhos verdes e a outra morena dos olhos castanhos.

    A Elfa de cabelo escuro cochichou algo no ouvido do sacerdote.

    — Como eu poderia esquecer os meus modos — Ele fez uma reverência. — Eu sou o sacerdote Heien, estou à frente da igreja de Tithorea e representante do bispo Barlog, a seu dispor.

    Apesar de ser um sacerdote, Heien tinha um rosto bem suspeito. Colin deu de ombros, afinal, quase todos os presentes tinham rostos suspeitos.

    — Eu sou Colin, essas são Brighid, Lei Song e a princesa Liena.

    Heien se aproximou de Brighid e beijou as costas de sua mão. Ela estava um pouco assustada com a invasão daquelas mulheres, que até mesmo aqueles cortejos comuns que recebia a deixaram com o pé atrás.

    — Você é tão bela quanto as nossas santas. Devia vir nos visitar, será muito bem recebida. — Ele olhou para Colin — O seu marido também é bem-vindo, afinal, vocês são apenas uma só carne e alma aos olhos de Tithorea.

    Foi a vez da loira falar algo no ouvido de Heien.

    — O quê? Vocês ainda não são casados?

    Colin e Brighid olharam um pro outro.

    — Bem, é como se a gente fosse… — disse Colin meio sem jeito.

    — Entendi, mas ainda não são, correto? Posso resolver isso e então vocês podem se multiplicar conforme a vontade da criadora.

    A Elfa de cabelo escuro falou outra coisa no ouvido do Sacerdote.

    — Oh! Me desculpem se estou sendo incisivo demais, mas aceitei a missão sacra de vir até esse poço de pecado chamado Ultan, principalmente para ver você, senhorita Brighid.

    Ela ergueu as sobrancelhas.

    — A mim?

    — Claro, os boatos sobre sua beleza chegaram até nossas catedrais. Eu tinha que ver de perto se sua beleza alcançava a de nossas Santas, e como eu já disse, minhas expectativas foram mais que atendidas. — Heien curvou o corpo mais uma vez. As freiras fizeram o mesmo — Espero ver vocês em ação no torneio de Guildas, principalmente você, senhor Colin! Ver essa raiva toda direcionada para o lugar certo seria um verdadeiro deleite para meus olhos.

    Heien colocou as mãos para trás e se afastou a passos lentos.

    Apesar de ser um sacerdote, aquele homem não tinha uma mana santa. Sua mana lembrava em muito a de Thaz’geth, e mesmo que ele estivesse esforçando para contê-la, aquela mana ainda era palpável para os usuários habilidosos de análise.

    Colin sentiu dois tapinhas nos ombros, e ao olhar para o lado viu o diretor Hodrixey.

    — Diretor…

    — Pessoal, já faz um tempo, vocês parecem ter se fortalecido.

    A última visita com o diretor não havia acabado muito bem. Eles haviam sido suspensos e Stedd expulso, mas Colin não guardava nenhum tipo de rancor por causa disso, muito menos os membros de sua guilda.

    — Princesas… — disse se referindo a Lei Song e Liena — Fico feliz de ver como estão bem. Gostando da universidade, senhorita Lei Song?

    Ela abriu um sorriso meigo e assentiu.

    — Eu não fiquei aqui por muito tempo, mas minha estadia aqui tem sido agradável graças a senhorita Brighid e os outros.

    Hodrixey fez que sim com a cabeça.

    — Fico feliz em saber disso. Tenho certeza que senhorita Brighid é uma boa companhia. E Brighid, posso conversar com você em particular?

    A fada olhou para Colin e ele deu de ombros. Hodrixey era um homem sério. Colin confiou que ele não faria nada incisivo contra Brighid, afinal, ela também sabia se defender.

    — Ah… claro… — disse ela.

    Os dois se afastaram, indo em direção ao outro lado do salão.

    — Você e senhorita Brighid sempre chamam bastante atenção — disse Liena — Chamam atenção de um jeito diferente… Já pensou em ser menos brigão, senhor Colin?

    Colin cruzou os braços.

    — Eu não sou um brigão, as pessoas que vivem me provocando.

    Aham — Liena deu as mãos a Lei Song — A gente vai na toalete, aproveite a festa e não brigue com ninguém, tá?

    Colin apoiou as mãos na anca e ergueu uma das sobrancelhas.

    — Não sou uma criança, eu sei me controlar.

    — Claro! A gente já volta.

    O errante enfiou uma das mãos no bolso e com a outra segurava seu copo de vinho. Algumas pessoas mantinham um olhar furioso em sua direção, outros o encaravam com certo brilho no olhar, mas quem se aproximou de Colin foi um homem alto de olhos esverdeados. Ele era tão belo quanto Albert, o rei de Valéria. Seus cabelos eram longos e avermelhados, enquanto suas roupas pomposas entregavam sua alta posição hierárquica.

    Seu sobretudo era avermelhado com detalhes dourados e, se não fosse por sua altura, aquele sobretudo se arrastaria no chão.

    — Você deve ser Colin — disse o ruivo — Eu sou príncipe Molkar, ouvi falar muito de você no sul.

    Colin estava cauteloso em relação ao príncipe, justamente por achar que já tinha dado sua cota de provocações e brigas.

    — E aí.

    Molkar olhou para Heien do outro lado do salão e franziu o cenho.

    — Este é um ótimo lugar para se fazer amizades, mas deveria ficar cauteloso em relação a certas pessoas. Algumas não são confiáveis.

    Colin bebeu mais um gole do vinho. Olhou disfarçadamente para Heien e depois encarou Molkar. Mesmo o príncipe não falando muito, aqueles dois pareciam ter uma história.

    Molkar apontou com a cabeça para a sacada.

    — O que acha de uma conversa, senhor Colin? Aqui está muito barulhento.

    Colin terminou o vinho e apoiou a taça na bandeja de um garçom que acabara de passar. Enfiou as duas mãos nos bolsos e deu de ombros.

    — Por que não?

    Os dois caminharam um ao lado do outro, e aquilo chamou bastante atenção dos nobres presentes. Molkar tinha a reputação de alguém habilidoso. O homem a frente do exército do império do sul.

    Porém, sua reputação estava começando a se esfarelar, já que seu irmão mais velho, o rei, forçava seus exércitos a derrota para que Ultan avançasse e fizesse valer o acordo secreto entre eles.

    Os dois chegaram à sacada e Molkar apoiou os cotovelos no balaústre de concreto enquanto admirava o céu noturno. A lua estava tão grande e próxima que dava a sensação de que era fácil tocá-la. As estrelas lampejavam intensamente, dando ao céu um aspecto de um verdadeiro baile de luzes.

    — Soube que chegou à capital a menos de um ano, Senhor Colin. Tenho que admitir que estou surpreso com sua trajetória até aqui. Até mesmo as pessoas do sul andam falando de um Elfo Negro que chegou à capital arrastando a cabeça de um Bakurak.

    Colin cruzou os braços e encostou as costas no balaústre de concreto.

    — O que você quer? Acho que não me chamou aqui só para falar sobre meus feitos. Não me leve a mal, mas você não parece ser um fã.

    Molkar abriu um sorriso de canto e fez que sim com a cabeça.

    — Você tem razão, eu não sou um fã. Vim conversar com você, pois você é como poucos lá dentro. Meu irmão, por exemplo, ele está a frente do império do sul como seu regente, mas ele nunca foi para o campo de batalha. Sequer teve a sensação de empunhar uma espada enquanto ela rasga a carne inimiga. — Ele olhou para o rosto de Colin — Você parece saber do que estou falando. A incerteza de que talvez volte para casa vivo após um dia de batalha, ou a angústia de ver homens sob seu comando perecerem por nada.

    Colin fez que sim com a cabeça.

    — Minha sorte é que ninguém sob meu comando pereceu, e eu planejo continuar assim.

    — Espero que realmente não experimente essa sensação. — Molkar voltou a encarar o céu estrelado e as luzes das casas lá em baixo. — Tem muita gente lá dentro de olho em você. Resolvi conversar com o senhor, pois de todas as manas sinistras, a sua é a que mais se destaca, mesmo que seja pequena. — Molkar também se virou, apontando com o queixo para o príncipe Albert conversando com um grupo de mulheres — Aquele é Albert, príncipe de Valéria. Apesar de ser um mulherengo, é ele quem comanda Valéria por debaixo dos panos. O rei de Valéria está doente e não tem tanto tempo de vida sobrando. Albert pode assumir em breve.

    — Por que está me contando isso?

    — Te darei informações, e em troca quero sua amizade.

    Colin ergueu uma das sobrancelhas.

    — Amizade?

    Molkar assentiu.

    — Um homem como você precisa de amigos. — Molkar apontou disfarçadamente com o indicador para uma mulher de semblante sério usando um vestido preto bem ajustado a seu corpo curvilíneo. O cabelo dela era preto na altura dos ombros e em sua cabeça ia um chapéu de bruxa. Os olhos dela também eram amarelos como os de Colin e ela era tão bela quanto uma Elfa da neve. — Aquela é Drasha Solomatine. Já ouviu falar da Ilha das nuvens cinzas, senhor Colin?

    Colin fez que não com a cabeça e Molkar continuou.

    — É uma das ilhas do sul, mas já teve outro nome em eras mais antigas. Chamavam de berço de Mordun. Tem por volta de 50 mil habitantes, com mais da metade sendo de magos habilidosos. Estamos próximos ao continente de Erokorg, lar das bestas feras. Presumo que já ouviu falar sobre a lenda de Thoron, o monarca do céu que sozinho devastou o exército das bestas feras.

    Colin já havia lido sobre isso no livro sem fim que encontrou no palácio de Jane. Um homem que sozinho conseguiu fazer frente contra um continente inteiro de seres mágicos. Conforme as lendas, ele foi o monarca do céu mais poderoso que já existiu.

    Os habitantes da ilha das nuvens cinzas levam seus feitos tão a sério que o veneram como uma divindade.

    — Sim. — Respondeu Colin — Já ouvi falar sobre a lenda.

    Molkar assentiu.

    — Dizem que Thoron era nativo da ilha das nuvens cinzas, por isso as bestas feras vivem tentando atacar a ilha e destruí-la, mas faz quinhentos anos que eles fracassam. Tudo isso porque Drasha e seus magos têm estado no comando da ilha a todo esse tempo.

    Colin franziu o cenho enquanto a encarava. Ela não parecia ser uma Elfa para ser tão velha.

    — Ela não é uma Elfa…

    — Diz isso por ela ser velha? Não fique surpreso, magos habilidosos conseguem subjugar o tempo com facilidade. Drasha veio comigo e meu irmão para Ultan. Ela é uma pessoa confiável. E por fim, você já conheceu esse homem. O Sacerdote Heien…

    Era nítido que Molkar falava sobre Heien com desdém, e isso levantou algumas questões em relação ao que aconteceu entre aqueles dois.

    — Heien é o segundo em comando da diocese de Barlog. Antes de ser independente, a diocese era um país vassalo do império dos Elfos Negros. Se tornaram independentes a poucos anos, tudo isso porque Heien e o bispo Barlog estavam tomando a frente.

    O olhar de Molkar estava furioso e Colin percebeu isso sem muito esforço.

    — O que incomoda você em relação à Heien?

    Molkar ficou em silêncio por alguns segundos.

    — A maioria do povo do continente considera os Elfos Negros precursores de toda desgraça existente neste plano. Tudo isso porque a maioria jura que foram eles quem derrubaram o véu e foram eles que massacraram vários povos do Oeste impiedosamente. Quando a diocese conseguiu independência, boa parte dos povos enxergaram eles como o último bastião do ocidente.

    Colin deu de ombros. Mesmo que fosse chamado de Elfo negro diversas vezes, Heien o tratou de maneira bem-educada.

    — Não se engane — disse Molkar — Heien e Barlog conseguiram a independência e um acordo de não agressão entre eles e os Elfos Negros. Aquele Sacerdote é um homem esperto.

    Colin assentiu. Mesmo que Heien não apresentasse ser uma ameaça, o errante não confiava completamente em ninguém além de Brighid, muito menos em Molkar, um homem que acabou de conhecer.

    — Você disse tudo isso, mas não me disse porque o odeia.

    Molkar franziu os lábios e suspirou em seguida.

    — Minha irmã foi seduzida por esse discurso e se juntou de bom grado a diocese de Barlog. Ela ainda me escreve cartas, mas não a vejo desde então… Ela se diz totalmente devota a vontade de Tithorea, e que sua vocação é servir a grande árvore.

    — Tithorea? Heien disse esse nome, é alguma divindade?

    Molkar fez que sim.

    — É o nome que dão a grande árvore, aquela que acreditam que de sua semente germinou a magia e de que todos os planos existentes se sustentam sobre seus galhos. — Molkar engoliu o seco e encarou Colin nos olhos — Há certos boatos envolvendo-os…

    — Que boatos?

    — Dizem que em baixo das catedrais, acontecem cerimônias com centenas de devotos… Não sei se é verdade, mas dizem que nas cerimônias acontecem sacrifícios a Tithorea, e que com ele, Heien e Barlog conseguem acesso aos fragmentos das raízes da grande árvore. Isso sustenta duas teorias.

    Colin já imaginou o pior, já que a própria Claymore foi forjada de um fragmento da raiz da grande árvore.

    — Que teorias? — Colin perguntou.

    — Bem, a diocese pode estar vendendo armas forjadas da raiz da grande árvore aos Elfos Negros, ou eles podem estar fazendo experiências com pessoas para transformá-las em algum tipo de arma…

    Eram teorias bastante plausíveis.

    Ultan estava tomando conta de Valéria pouco a pouco, além de avançar incessantemente pelo sul. Os reinos mais a oeste, como a Diocese de Barlog e o país dos Elfos Negros, estariam apenas se preparando contra um iminente ataque.

    Colin nem mesmo havia explorado metade do potencial de Claymore. Imaginar outras armas criadas a partir de raízes era algo bem assustador, ainda mais se estivessem nas mãos de pessoas perigosas.

    — Isso é mesmo bem problemático. — Colin comentou.

    — Por isso preciso da sua amizade. Diferente da maioria dos homens lá dentro, o senhor é um soldado como eu. Meu irmão não se preocupa com a própria irmã e nem com os soldados que ele acaba matando nessa guerra de mentira que trava contra Ultan.

    O olhar de Molkar estava determinado desta vez.

    — Podemos nos ajudar, senhor Colin. Tenho certeza que com o tempo nos tornaremos irmãos.

    Colin deu de ombros.

    — Quer minha ajuda só porque sou um soldado como você?

    Molkar assentiu.

    — O senhor parece ser o tipo de homem que se joga de cabeça em situações perigosas. Acredito que deve ser um homem bem seguro de si. Depois do que fez aquele nobre, eu tinha que vir conversar com você e propor um acordo.

    Colin suspirou.

    — Que acordo?

    — Há uma razão para que Barlog e os Elfos negros estarem se preparando para uma iminente guerra. Ultan está com poucos homens para se juntarem ao exército devido à guerra de mentira interminável. Há pouquíssima mão de obra para fabricação de armas, equipamentos e até mesmo cultivo de alimentos. Resumindo, Ultan está falida. Sua sorte é que ela arrecadou muitos tributos durante esses anos de guerra, por isso seus cofres são tão cheios. O Oeste, pelo contrário, há uma abundância de novos recursos e de pessoas. Ultan tem tornado Valéria um estado vassalo para estacionar suas tropas na fronteira.

    Colin começou a entender.

    “Por isso que Ultan quer casar Liena com Rontes. Rontes faz parte da grande confederação do Norte, sem falar que o país cobre todo Leste do continente com acesso ao mar. Sem o Norte e o Leste como ameaça, Ultan avançaria com força total para o Oeste.”

    — Senhor Colin, acredito que se Ultan avançar de vez contra o Oeste, a guerra alcançará patamares nunca vistos na história. O senhor é um homem conhecido, sem falar que é o marido daquela monarca de duas árvores, daquela família de assassinos com os filhos do imperador sob seu comando.

    — Diz logo o que você quer.

    — A diocese certamente é um problema, mas tem algo que precisa ser resolvido com mais urgência. Me ajude a ascender ao trono do império do sul e a dar o primeiro passo para acabarmos com essa guerra, me ajude a matar meu irmão!

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