Índice de Capítulo

    Graff ficou encarregado de cuidar da terceira geração, já que Alucard, Drewalt e seu exército de transformados seria mais que o suficiente para aniquilar os invasores.

    As crianças estavam em um canto com um semblante de preocupação enquanto ouviam explosões do lado de fora e viam poeira cair do teto.

    Lestat, o mais velho da terceira geração, estava entediado de ficar ali. Ele queria participar da aventura, mas Alucard não permitiu.

    — Estou quase dormindo aqui nesse lugar — disse o garoto bocejando — Eu devia estar era lá fora, mas não, estou aqui com um bando de crianças… o mesmo vale para você, tio Graff.

    Graff estava sentado em um canto escuro.

    Seus olhos focavam no sobrinho, mas sua mente estava em outro lugar.

    Havia manas poderosas chocando contra a mana de seus irmãos.

    Vampiros não eram fracos e seus números eram superiores em relação aos humanos.

    Não fazia sentido trazer uma ou duas pessoas mais poderosas para combater os vampiros.

    A conta não fechava.

    — Tio Graff?! — chamou Lestat — Está me ouvindo?

    “Tsc…”

    — Você fala demais, garoto. Por que não cala a merda da boca e me deixa pensar?

    Depois de cruzar os braços, Lestat encostou na parede e a sentiu mais gelada que o normal.

    Como se a parede fosse areia movediça, Lestat começou a ser sugado para dentro dela.

    Booom!

    A reação de Graff foi rápida e precisa.

    Ele deduziu que aquilo poderia ser uma invasão inimiga e de prontidão fez um buraco na parede com um soco e jogou Lestat de lado.

    — Não precisava ser tão grosso… — disse uma voz familiar.

    A poeira se abaixou aos poucos e Nezludra foi revelada.

    Graff estava sempre acostumado a vê-la com vestidos brancos provocantes. Ele se surpreendeu ao ver a conhecida vestida como uma ladina, roupa de couro justa e uma capa preta sob os ombros.

    Lestat se ergueu e empunhou sua espada, mas Graff ergueu a mão o impedindo.

    — Fica longe, você quer ser morto? — indagou Graff mantendo os olhos na mulher ruiva de olhar provocante. — Você não tem chance contra ela.

    Nezludra colocou uma mecha para trás da orelha e abriu um sorriso de canto.

    — E você tem, Graff?

    Graff retribuiu o sorriso.

    — Vou te mostrar!

    O vampiro crispou os dedos e ergueu a mão, mas nada aconteceu.

    Percebeu haver acontecido algo de errado quando viu que Nezludra estava convencida de seu feito.

    — Não ia me mostrar alguma coisa? O que aconteceu, Graffizinho?

    Foi quando Graff notou que as paredes do quarto estavam cheias de runas.

    “Essas runas… elas estão reprimindo meu poder, mas isso demora para ser preparado. A quanto tempo ela está escondida aqui? Que merda!”

    Num salto, Graff foi até Lestat e puxou a espada do garoto, partindo para cima de Nezludra o mais rápido que conseguiu.

    Ting!

    Os dois foram para fora do quarto e Graff notou que o corredor todo estava repleto de runas.

    Para ter alguma chance ele teria que deixar o castelo.

    — Você é só um homem comum agora, e homens comuns são sem graça!

    Ela parou a espada de Graff com o indicador.

    Nezludra empurrou a espada de Graff e ela saiu de sua mão enfiando até a metade na parede de concreto.

    — Desculpa, Graff, estou apenas cumprindo ordens.

    — Sua-

    Ela apoiou a palma da mão no peito de Graff e ele brilhou intensamente, sendo reduzido a uma pequena esfera de prata.

    — Tio Graff! — Lestat correu até a espada e a puxou partindo para cima da ladina.

    — Foi mal, garoto, mas não terei tempo de brincar com você.

    Nezludra saltou para trás e mergulhou na parede.

    Ting!

    Lestat golpeou a parede, mas foi inútil.

    Seu tio havia sido levado.

    Nezludra havia saído do lado de fora do castelo e permaneceu na escuridão.

    Conjurou um corvo e colocou no bico do pássaro sua pequena esfera prateada.

    — Voe até o oceano e a jogue lá. Mesmo que Graff consiga sair, ele não deve conseguir chegar aqui a tempo.

    O corvo grasnou e alçou voo.

    “Certo, agora é hora de cumprir o segundo pedido daquele desgraçado amaldiçoado”.

    Nezludra desceu o capuz até os olhos e desapareceu nas sombras.



    A batalha final havia se iniciado a cerca de meia hora, e as baixas superavam a casa dos milhares de ambos os lados. Apesar de mais numerosos, os humanos tinham clara desvantagem física e mágica.

    Enquanto um humano abatia um vampiro, um único vampiro conseguia abater sem muito esforço cerca de três humanos.

    Drewalt trocava golpes frenéticos contra Coen, indo de um lado para outro. Enquanto batalhavam, uma cicatriz profunda era deixada naquele solo.

    Os aliados dos lados estavam supressos com o que estavam vendo. A maioria não sabia quem era Coen, mas não se importaram muito depois de ver que ele estava do lado deles.

    Coen ficou assustado em como um vampiro como Drewalt estava conseguindo acompanhar a velocidade de um monarca da árvore-do-céu. Em contrapartida, Drewalt não entendia como Coen não era afetado por sua dobra de sangue.

    O errante empunhava uma lança de dois gumes feitas de raio carmesim, enquanto o vampiro usava duas espadas de sangue.

    Humanos sem magia só ouviam explosões e viam raios indo de um lado para o outro freneticamente. Árvores eram cortadas ao meio, outras eram simplesmente arrancadas devido à onda de choque gerada pelo encontro de suas lâminas.

    Ting! Boom!

    Uma explosão abriu uma cratera naquela floresta, jogando um punhado de árvores para o alto, iniciando uma chuva de terra e destroços em volta de todo campo de batalha.

    Os dois pararam para respirar um pouco.

    Ao contrário do que Coen pensava, Drewalt estava sequer cansado, enquanto o próprio estava visivelmente fatigado.

    “Ele controla sangue… é a primeira vez que ouço falar de alguém que conseguia fazer isso. Esse desgraçado está conseguindo controlar a passagem do sangue por suas artérias, pulmão e coração, por isso ele não está cansado. Não tenho outra escolha a não ser apelar com esse filho da puta”.

    Coen apontou sua lança na direção de Drewalt e um raio enegrecido saiu da ponta.

    O raio negro era quase três vezes mais rápido que os raios carmesins.

    Cabrum!

    O vampiro esquivou por pouco, mas não saiu ileso.

    Aquele disparo havia destruído completamente seu braço direito.

    Coen sabia da regeneração dos vampiros, então não perdeu tempo e partiu para cima de Drewalt, causando no vampiro um corte profundo no tórax.

    Vush!

    Sangue esguichou para todo lado, mas antes que Coen pudesse concluir seu golpe, Drewalt se fechou em uma esfera de sangue.

    A esfera prontamente criou quatro braços, duas pernas, um olho no meio, uma cauda pontuda e uma boca enorme de dentes pontiagudos.

    Sentindo o cheiro do perigo, Coen se afastou num salto.

    A criatura avermelhada de quase quatro metros abriu a boca e frente a ela se formou uma esfera de sangue que foi disparada e rebatida por Coen.

    O errante rebateu para cima no mais puro reflexo, e a esfera foi tão alta e rápida que toda nuvem num raio de dois quilômetros se dispersou.

    Os olhos de Coen se arregalaram quando ele olhou para suas mãos.

    Elas estavam sangrando.

    Ele havia exercido tamanha força para rebater aquilo que os músculos da palma de suas mãos se rasgaram.

    Coen olhou para baixo e viu que sangue estava passando não só por debaixo das suas pernas, mas estava vindo de todos os lugares.

    Toda gota de sangue, seja dos humanos ou vampiros, estavam indo direto para a criatura avermelhada que borbulhava como água fervente enquanto ficava maior.

    Aquela coisa foi de quatro para dez metros. Em seguida alcançou trinta metros, cinquenta, oitenta, cento e vinte e parou quando estava com cento e cinquenta metros de altura.

    Qualquer um podia ver aquele colosso humanoide feito de sangue a quilômetros de distância.

    Coen sorriu de nervoso, mas não ponderou fugir do combate.

    Sua especialidade era abater coisas colossais.

    O colosso de sangue ficou com quatro braços em formas de tentáculos. Ele tinha um enorme olho na cabeça e uma boca em formato horizontal, no qual cobria todo aquele enorme tórax de sangue.

    Alucard estava no topo do castelo observando aquela criatura.

    “Para chegar a isso, Drewalt deve ter se machucado para valer…” ele olhou mais uma vez ao redor “Os humanos não devem durar tanto. Seus números estão reduzindo rapidamente e nós não perdemos sequer 10% do nosso pessoal… uma pena para eles.”

    Alucard olhou para trás por cima dos ombros, vendo a figura de Volfizz estampar um sorriso orgulhoso.

    O vampiro ficou surpreso por um instante, justamente por não ter sentido a presença daquele homem ao se aproximar.

    — Você está com aquele homem poderoso que enfrenta o meu irmão? — perguntou o vampiro voltando os olhos para a criatura de sangue.

    Volfizz assentiu.

    — Pensei que você fosse mais alto. — Debochou o caído.

    Alucard deu um sorriso de canto.

    — Então você é um caído, certo? Sua mana é considerável, quase tão alta quanto a minha, mas você tem algo especial que eu não tenho… Me disseram que caídos foram abençoados com uma mana surpreendentemente alta desde o momento em que nasceram.

    Sem dizer mais nada, Volfizz esticou as duas mãos na direção de Alucard e uma gravidade altíssima pairou sobre ele, quebrando o chão do castelo e o afundando no chão.

    O chão entorno de Volfizz também cedeu, e ele foi parar no hall de entrada do castelo.

    Alucard estava de pé e ileso.

    Despreocupado, ele apenas tirou poeira da roupa.

    — Quanta falta de educação… sequer esperou eu terminar de falar.

    Volfizz conjurou uma espada de chamas púrpuras e lançou um corte na direção de Alucard que desfez aquelas chamas só com o balançar de uma das mãos.

    “Chamas?” pensou Alucard “Ele me mandou para baixo com a força da gravidade, não foi? E agora ele usou chamas roxas. Certeza que são magias pertencentes a tríades diferentes. Esse homem tem uma mana bem alta, mas seus ataques não são tão eficientes. Acho que Graff pode continuar cuidando do resto da família nos esconderijos, ele não será necessário aqui.”

    — O que foi? — indagou Volfizz com um sorriso debochado no rosto. — Assustei você?

    As sombras em volta de Alucard começaram a serpentear e se espalharam por todo hall de entrada, indo do chão ao teto em questão de segundos.

    Milhares de olhos vermelhos dos mais variados tipos e tamanhos se concentraram em Volfizz. O caído ouviu dezenas de rosnados, como se estivesse dentro de um canil.

    — Não vou perder meu tempo com você. — disse Alucard.

    Os cães feitos de sombra tinham quase três metros de altura. Naquela cabeça de focinho longo, iam quatro olhos.

    Os cães não paravam de rosnar e babar.

    Alucard não disse mais nada e apenas afundou nas próprias sombras, deixando Volfizz sozinho com seus cães. Ele estava de volta ao lado de fora observando o campo de batalha.

    Os humanos estavam sendo completamente trucidados.

    Grande parte dos vampiros estava apenas brincando com eles enquanto a outra parte aproveitava para jantar.

    Kabooom!

    Ele viu o humanoide do irmão ser destruído ao longe por uma explosão que fez estremecer todo campo de batalha. Alucard olhou para o céu e viu uma serpente de raios carmesim nadando entre as nuvens e depois dando o bote no meio de toda aquela fumaça deixada pela explosão anterior.

    Cabruum!

    Novamente um tremor.

    Alucard sentiu algo cair em seu rosto, depois caiu outra vez e outra, iniciando uma chuva de sangue torrencial por todo campo de batalha.

    Chuáaaaa!

    A chuva parou, deixando humanos e vampiros encharcados de sangue. Alucard se preparou para ir até o irmão, mas escutou uma explosão que veio de dentro do castelo.

    Kaboom!

    Volfizz estava de volta.

    Ele estava sangrando e com alguns arranhados profundos pelo corpo, mas ainda estava de pé.

    Volfizz ergueu a mão aberta na direção de Alucard, que se esquivou de prontidão.

    Uma rajada de vácuo percorreu o ar varrendo tudo em seu caminho e explodindo diretamente no campo de batalha, levando tanto aliados quanto inimigos.

    Booom!

    “Vácuo agora? Esse cara domina todas as árvores?”

    Volfizz não queria abrir espaço para Alucard tentar se recuperar. O caído conjurou duas espadas flamejantes e avançou na direção do vampiro, que se esquivou sem muito problema daquelas lâminas que se moviam de maneira frenética de um lado para o outro tentando acertá-lo.

    “Esse estilo de esgrima é bem diferente” pensou enquanto se esquivava de ataques frenéticos “Se eu fosse um amador diria que ele está apenas sacudindo a espada freneticamente de um lado para o outro, mas seus movimentos são limpos e precisos. O caído está se esforçando, mas não tenho tempo a perder com você”.

    Alucard achava Volfizz lento, e em uma finta socou o abdômen do caído, quase o atravessando.

    Volfizz sentiu suas entranhas revirando.

    O caído saiu de vista, se chocando com montanhas longínquas.

    Sem perder mais tempo, Alucard flexionou os joelhos e saltou para onde Drewalt estava lutando.

    Chegou ao chão num estrondo e encarou um cenário de guerra desolador.

    Crateras no chão, árvores destruídas, queimadas que consumiam a floresta mais ao fundo e havia até mesmo animais mortos espalhados por toda extensão.

    Ting! Ting! Ting!

    Ouviu lâminas tilintarem ao longe e viu também um raio carmesim que ia freneticamente de um lado pro outro numa velocidade impressionante.

    Tanto Coen quanto Drewalt estavam bastante feridos. Os ferimentos que Drewalt sofreu continuavam ali, enquanto Coen estava com um dos olhos fechados, cabeça encharcada de sangue e cortes por todo corpo.

    Ele empunhava uma alabarda de raios carmesim enquanto Drewalt segurava uma enorme foice feita de sangue.

    Ting! Ting!

    Ambos trocaram golpes mais duas vezes, porém, Drewalt soube aproveitar uma minúscula brecha de Coen, o ferindo profundamente no tórax em um corte que pegou no ombro direito e rasgou sua carne até a cintura do lado esquerdo.

    Ting!

    Coen afastou o vampiro numa estocada e avançou tão rápido quanto um raio, ignorando por completo aquele ferimento. O errante girava com maestria aquela alabarda, tentando ferir Drewalt de todas as formas possíveis, aumentando em muito a sua velocidade.

    Pareciam dois vultos indo de um lado pro outro de maneira interrupta em movimentos tão graciosos quanto mortais.

    Mesmo depois de ferir Coen de diversas maneiras, Drewalt estava surpreso de que seu oponente ainda conseguia não só manter o ritmo da luta como aumentá-lo.

    Aquilo era no mínimo estranho, a mana de Coen parecia aumentar.

    Foi então que Drewalt notou o que estava acontecendo.

    Ting! Boom!

    Suas lâminas se chocaram mais uma vez, os dispersando para longe um do outro.

    Drewalt foi parar em cima de uma árvore e franziu o cenho.

    “Esse desgraçado… não está se alimentando só da minha mana, mas da de todo mundo ao redor e usando para repor a sua própria. Errantes são mesmo capazes de algo assim?”

    As nuvens ficaram escuras rapidamente e trovoadas se iniciaram de maneira agressiva percorrendo todo campo de batalha.

    Coen desfez sua alabarda e ele abriu os braços enquanto encarava o céu que ele mesmo havia criado.

    — Eu disse que ia te mat-

    Com seus sentidos aguçados, Coen viu um pé vindo na direção de seu rosto com sua visão periférica, mas aquilo era rápido demais, rápido até mesmo para ele.

    Aquele pé pegou do lado direito de seu queixo e foi em direção ao chão, o levando junto.

    Booom!

    A terra entorno dele rachou, tendo sua cabeça como epicentro do impacto.

    Drewalt até mesmo ergueu os braços na altura do rosto para se proteger da onda de choque que arrancou até mesmo árvores.

    Quando aquela ventania se foi e a poeira abaixou, Drewalt ficou impressionado com o que viu.

    Coen estava completamente nocauteado.

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