Índice de Capítulo

    Os corredores labirínticos daquela masmorra eram preenchidos com os barulhos de insetos se escondendo debaixo da terra e som do farfalhar de morcegos.

    Aqueles três caminharam por dez minutos e nada viram além de ossos empoeirados e baratas que infestavam o local.

    O teto, era feito de pedra plana e lisa, assim como as portas que tinham que ser empurradas para serem abertas. As maçanetas eram talhadas em baixo-relevo na pedra bruta.

    Todas as portas pelas quais passaram estavam destrancadas.

    A chama de Safira os guiava na escuridão.

    Alunys sugeriu ser melhor eles voltarem para não preocupar os outros, mas nem Safira e Stedd concordaram com aquilo.

    Após empurrar uma porta de pedra, eles se depararam com um corredor estreito que descia e mergulhava no completo breu.

    Os degraus eram baixos e amplos, como pequenas marcas de sulco sobre o chão de pedra.

    Stedd se abaixou e passou a ponta dos dedos sobre os sulcos.

    — Isso são marcas de ferraduras — ele se ergueu — Um cavalo não cabe aqui, então devem ser marcas de pôneis ou mulas.

    — Porque trariam pôneis pra cá? — indagou Safira.

    — Meu palpite é que os traziam carregados de suprimentos.

    Enfiando as mãos nos bolsos, Stedd tornou a descer mais alguns degraus.

    Diferente do que viram anteriormente, aquela masmorra não parecia obra de monstros. Se os degraus e o palpite de Stedd estiverem certos, então aquilo se parecia mais com obra de seres sencientes.

    — Algum outro palpite de quem pode ter feito algo assim? — indagou Safira.

    Stedd tinha um palpite, mas ele estava crédulo que seu palpite se confirmaria no fim do corredor.

    — Talvez, mas seguiremos, o que a gente procura deve estar no final disso.

    Alunys engoliu o seco, enquanto Safira estava curiosa e um tanto empolgada pelo que a aguardava no final da escadaria. Após descerem por cinco minutos inteiros, eles alcançaram uma câmara sustentada por pilares rudimentares enormes.

    Tanto o chão quanto o teto, eram extremamente lisos. A câmara era iluminada por cristais azuis entalhados nos pilares. Ao fundo, havia uma pilha de ossos junto a algumas espadas e escudos.

    “Esse lugar parece ser interessante, talvez se eu-”

    Ting!

    Stedd rebateu com as unhas um dardo que foi na direção de seu rosto.

    — De onde isso veio? — Safira sacou a espada.

    Alunys e Safira deram as costas uma para a outra, cobrindo o ponto cego de cada uma.

    — Veio da pilha de esqueletos — Stedd retirou os óculos vermelhos e guardou no paletó

    Não era a primeira vez que ele vivenciava as mesmas circunstâncias. Já houveram outras vezes que ele adentrou masmorras, mas sempre esteve acompanhado de um dos irmãos.

    Por ser experiente, ele sabia exatamente contra o que estava lidando.

    — Estamos com sorte! Essa é uma masmorra de Lich e ele deve estar perto!

    A pilha de esqueletos começou a se moldar, formando alguns soldados esqueléticos usando armaduras.

    Crack! Crack!

    Mais esqueletos começaram a brotar do chão.

    Um dos esqueletos foi correndo todo desengonçado na direção de Safira, que não teve problemas para fazer daquele esqueleto mais um amontoado de ossos com o golpe da sua espada.

    Ela só não esperava que o esqueleto se reconstituísse e avançasse nela mais uma vez.

    — Eles não morrem! — ela o destruir mais uma vez — O que a gente faz?

    Crack! Crack! Crack!

    Stedd avançou contra três esqueletos os destruindo.

    — Vamos seguir! Não desperdicem energia com eles, enquanto o Lich viver eles serão imortais! — Stedd flexionou os joelhos e crispou os dedos se preparando para uma disparada — Abrirei caminho, me sigam!

    Como um vulto, Stedd avançou destruindo a porta de pedras.

    Quanto mais ele avançava, mais esqueletos brotavam não só do chão de pedra, mas das paredes e até mesmo do teto.

    “Consigo sentir a mana do Lich, ele está próximo!”

    Stedd se assemelhava a uma besta selvagem em frenesi, destruindo com suas unhas afiadas tudo que se colocasse em seu caminho. Suas unhas eram mais poderosas que espadas de aço nó ápice de seu corte.

    Não era necessário usar um pingo de magia contra seres tão fracos, era mais sábio usar magia no Lich.

    Boom!

    Com as unhas, ele destruir uma porta de pedra, saindo em uma câmara enorme bem iluminada por tochas nas paredes. Diferente do chão e teto lisos, os daquela câmara eram bem talhados com runas por toda sua extensão.

    A frente, sentado em um trono carmesim, estava o Lich vestindo uma túnica vermelha com adornos de ouro enfeitando seu pescoço e braços.

    Sua face estava apodrecida, e ainda havia alguns fios de cabelo em sua cabeça, porém, suas vestes e seus adornos continuavam impecáveis.

    — Finalmente te achei! — bradou Stedd empolgado.

    O Lich encarou Stedd com indiferença.

    — Vocês são bem barulhentos. — disse o Lich em um tom rouco — Por que não volta lá pra cima e me deixa em paz? Poupe o meu tempo e o seu, criança.

    Passos foram ouvidos no final do corredor e dele despontaram Safira e Alunys, que ficaram surpresas em ver um Lich pela primeira vez.

    Ele era mais horripilante do que elas pensavam.

    — I-Isso é um Lich? — Indagou Alunys apavorada.

    — Isso aí, quatro-olhos, vocês cuidam dos esqueletos, o Lich é meu!

    Vush!

    Stedd avançou em uma estocada na direção do rosto do Lich, mas uma barreira roxa apareceu em sua frente, impedindo Stedd de continuar.

    — De tempos em tempos aparecem irritantes como você.

    Boom!

    Lich apontou com o indicador para Stedd e a barreira explodiu.

    Safira e Alunys se protegeram da onda de choque cruzando os braços na altura do rosto. Elas olharam para os dois lados e não encontraram nenhum sinal de Stedd, e aquilo as preocupou.

    — É sua vez, garotas.

    Lich ergueu o braço na direção delas, mas ele viu seu mundo virar de cabeça para baixo.

    Crack!

    Stedd apareceu atrás do Lich quebrando seu pescoço.

    “O quê?” se perguntou o Lich “Um usuário do silêncio?”

    Vush!

    Stedd se afastou num salto, indo para perto das garotas que se sentiram aliviadas ao ver que ele estava bem.

    — Você me pegou de surpresa — O Lich apoiou a mão em seu queixo e voltou sua cabeça para o lugar — Não adianta quebrar meu pescoço, arrancar minha cabeça ou meu coração, eu não posso morrer, mas não posso dizer o mesmo de vocês.

    Stedd não sabia do porquê tinha uma masmorra com uma barreira debaixo do quarto nível, mas ele afastou as indagações se concentrando no oponente a sua frente.

    Não havia porque tentar entender algo que havia sido feito por magos poderosos séculos atrás, nem se questionar de como o Lich havia parado ali.

    Ele só tinha um simples trabalho, matá-lo.

    — Vocês Lichs são todos iguais, vem com esse papo de imortalidade e tudo mais, quanta mentira — Ele apontou para o Lich — Se sua mana acabar, você morre!

    Aquilo pareceu uma ameaça vã, já que a mana de um Lich beirava facilmente os 500 mil. Levaria tempo até que a mana dele esvaísse, porém, o Lich ficou atento a ameaça.

    “O garoto não disse isso da boca para fora, talvez ele possa ter um plano, então que seja.”

    Os esqueletos que se aproximavam se desmancharam como um castelo de cartas.

    Erguendo a mão direita, o Lich conjurou uma trombeta feita de mana. Ele a levou aos lábios apodrecidos e assoprou.

    Fuoooon!

    Todos os esqueletos entorno desmancharam e algo começou a sair dos fundos, de uma parede atrás do Lich.

    As paredes racharam e em seguida quebraram.

    Boom!

    Primeiro, apareceu uma cabeça enorme, depois as patas. Um par de asas e por último, uma longa cauda. Os olhos daquele dracolich eram como pontos brilhantes de luz flutuando em órbitas sombrias, insinuando a malevolência de sua mente morta-viva.

    Mesmo que aquele fosse somente a forma de um dragão com ossos, ainda era uma visão bem assustadora, já que um dragão não era avistado há séculos.

    Somente dragões anciões poderiam se transformar em dracolichs, e isso era um problema, já que além de serem poderosos, eles não poderiam ser mortos enquanto a gema em seu peito estivesse inteira.

    Apressado, o Lich passou pelo buraco deixado por seu bichinho de estimação e desapareceu.

    — Pirralhas! — chamou Stedd se preparando para ir atrás do Lich — O dragão de osso é de vocês, o Lich é meu! Destruam a gema no peito e o dragão é destruído, boa sorte!

    A melhor estratégia era pensar em um plano, mas Stedd não era de planejar quando sua sede de sangue era maior que ele poderia aguentar.

    Vush!

    Stedd passou rápido pelo dracolich e foi em direção ao Lich, desaparecendo em outro cômodo.

    Do outro lado, o dracolich se preparava para atacar.

    Ele abriu aquela boca e uma fogueira luminosa começou a se formar naquela boca ossada.

    Alunys ergueu as duas mãos o mais rápido que conseguiu.

    Roaar!

    Assustador e imponente, não havia outra forma de descrever a tormenta de fogo púrpuro que o dracolich cuspiu. Aquele poder avassalador engoliu aquelas duas e foi além.

    O fogo destruiu a porta de pedra por de onde vieram, subiu rapidamente as escadas e incinerou tudo em seu caminho até encontrar o buraco que Stedd criou. O fogo era tão poderoso, que ao passar pelo buraco conseguiu o deixar ainda maior, fazendo o fogo subir pelo buraco quilométrico criado por Leidvard e alcançar os céus em um feixe de luz que deixou o grupo de Colin alerta.

    [Tremor!]

    Toda a masmorra estava vibrando e, lentamente, poeira e pedaços de rocha começava a despencar do teto.

    Mais um golpe como aquele e tudo cederia.

    A fumaça dissipava gradualmente, revelando uma barreira de gelo aos pedaços. Atrás dela, estava Alunys com os braços erguidos e atrás dela estava Safira com os olhos arregalados.

    Safira estava completamente ilesa, em contrapartida, Alunys estava com os dois braços queimados em carne viva, assim como parte de suas coxas e tórax.

    Mesmo com ferimentos graves, ela continuou de pé, mantendo um olhar firme por trás daqueles óculos redondos.

    — Alunys! — berrou Safira desesperada.

    — Eu  bem! — tranquilizou Alunys — O colar que converte mana em cura que senhorita Samantha comprou salvou minha vida, porém, mais da metade da minha mana se foi…

    Safira assentiu e deu um passo à frente.

    Mana não era um problema para ela, já que a mana de um caído era tão abundante quanto a de um monarca. Safira era esperta, mas ela preferia um estilo de combate brutal e direto, muito disso era por influência de Colin.

    Seria melhor se ela fosse os músculos e Alunys o cérebro, já que a Elfa sempre foi mais esperta que ela.

    Ela encarou Alunys por cima dos ombros.

    — Faremos o seguinte, avançarei e tentarei expor os pontos fracos enquanto você pensa em como destruiremos a gema.

    — V-Vai Sozinha?

    — Sim! Fica de olho, você é inteligente, confio em você!

    A Elfa engoliu o seco.

    Ela estava nervosa, mas também estava contente em poder ajudar sua melhor amiga em um combate real.

    — Ta! — assentiu a Elfa cheia de confiança.

    Calma, Safira analisava o dracolich. Ele era enorme, e não parecia ser tão rápido. O espaço do chão até o teto não permitia que o dragão alçasse voos altos, e isso era uma vantagem.

    “Certo, não posso deixá-lo lançar outra tormenta de fogo como aquela, ou essa masmorra inteira desabará. Primeiro conferiremos o quão resistente ele é!”

    Apertando o cabo de suas duas espadas, Safira disparou em uma corrida até o dragão. Imbuiu suas lâminas com mana e lançou um corte cruzado em direção as patas do dracolich.

    Boom!

    Os cortes explodiram na pata de ossos, mas não causou nenhum dano.

    “Beleza! Vamos para a parte dois!”

    Safira parou bruscamente e derrapou enquanto imbuia suas lâminas com ainda mais mana.

    Vush!

    Assim que parou, ela lançou mais dois cortes, dessa vez em paralelos, bem nos olhos do dracolich.

    Boom! Boom!

    Cego pela fumaça, o dracolich não viu que Safira estava próxima. Ela saltou em direção ao focinho do dracolich e as chamas de suas lâminas assumiram cores azuis.

    “Peguei você!”

    Bam!

    A cauda do dracolich era longa, então foi fácil atingir Safira e arremessá-la do outro lado da arena.

    Boom!

    Ela foi enterrada na parede.

    Alunys normalmente se preocuparia, mas ela ficou quieta, apenas observando a situação.

    “Além de ter um corpo resistente, ele ainda tem uma cauda rápida, mal consegui ver aquele golpe, mesmo usando análise. Preciso de mais tempo!”

    Safira saiu de dentro do buraco e limpou o sangue do nariz com as costas da mão.

    — Conseguiu algo? — indagou Safira.

    — Ainda não!

    Suspirando, Safira terminou de rasgar a camisa que acabou destruída e ficou com a regata que estava por baixo.

    Os braços dela eram definidos e bem marcados, mesmo para uma garota de dezesseis anos. Ela pegou um pedaço de pano da camisa rasgada e amarrou o cabelo em um rabo de cavalo.

    Marcas de escamas começaram a aparecer timidamente abaixo de seus olhos, seus chifres ficaram maiores e uma pequena chama azulada queimava na ponta deles.

    Vapor saía de seus lábios conforme ela respirava e até sua pele emitia ondas de calor.

    Ela apertou o cabo de suas espadas e elas ficaram incandescentes. O fogo era tão forte, que as espadas ficaram vermelhas como brasas.

    “Acredito que tá tudo bem se eu for com tudo por um tempo, só não posso perder o controle como quando enfrentei aquela apóstola do abismo. Tenho que me manter calma e focada, ou posso acabar machucando Alunys que já está ferida.”

    Ela flexionou os joelhos e avançou.

    O chão onde seus pés estavam apoiados foi destruído, mas ela estava tão rápida que não se ouviu som naquele átimo, somente viram um rastro de fogo azul alcançando o dracolich em um piscar de olhos.

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 0% (0 votos)

    Nota