Capítulo 156 – Bestial
Hodrixey corria pelos corredores do coliseu enquanto ouvia os gritos de desespero dos cidadãos e o som ensurdecedor de explosões por todo lugar.
Ele tinha que agir rápido, ou mais gente poderia morrer.
O exército e parte das forças estacionárias estavam desorganizadas, Ultan não esperava uma invasão daquela magnitude.
— Millie! Vá ajudar os feridos, protegerei os civis!
— Sim, senhor!
Swoosh!
Um círculo mágico apareceu no peito de Hodrixey.
“Magia de condição?”
Ele desapareceu.
— Senhor? — Millie olhou para os dois lados sem entender o que acabou de acontecer.
Próxima ao coliseu, Ehocne estava sentada dentro de um círculo mágico enquanto realizava a posição de lótus. Fazia anos que ela estava no coração de Ultan, sendo subordinada direta de Lumur.
Teve tempo o bastante para plantar magias de condição sem que nenhum deles percebesse algo de errado.
Após ativada, ela achou estranho por não encontrar a mana de duas pessoas em especial, Vrumud e Lumur.
“Esses dois… não estão na cidade?”
O círculo abaixo dela se desfez e ela se ergueu, encarando os galeões no céu disparando incessantemente com seus imponentes canhões.
Caminhando até a beirada da residência em que estava, Ehocne observou a rua lá em baixo.
As pessoas estavam desesperadas.
Pais levavam seus filhos nos braços da forma que podiam, mas a maioria era atingida nas costas pelo machado dos bárbaros do Norte.
Os filhos, que não haviam completado nem 10 anos, seguiram o mesmo destino.
Franzindo os lábios, ela se sentiu culpada, afinal, ela era um dos principais motivos de aquilo estar acontecendo. Com Bledha, ela encabeçou a invasão que arrasava a imponente capital do império.
Cada uma daquelas mortes estaria sob seus ombros, e ela sabia muito bem disso, mas não era o momento para remorso, ainda haviam coisas a serem feitas.
Haviam dois lótus desaparecidos, mas eles não eram problema no momento. Após destruírem Ultan por completo, o trabalho mais difícil se daria início, o selamento de Graff.
Hodrixey estava em um campo deserto, e pela brisa calma e o céu estrelado, deduziu estar bem longe da capital.
Ele olhou para o lado e viu todos os outros membros do lótus, exceto Vrumud e Lumur.
— O que aconteceu? — Seus companheiros sabiam tanto quanto ele.
— Não deveria ter doze deles? — indagou Morgana sentada em cima do muro de uma ruína — Tem apenas dez, né? Ou será que contei errado?
“Um vampiro?” Hodrixey começou a analisar a situação “Não é só isso, a mana dela é bestial, sinto meus pelos arrepiarem só de estar na presença dessa criatura.”
— Você contou certo! — Carmilla estava de braços cruzados apoiada no muro — Parece que algo não saiu como planejado, mas não importa. Um lótus a mais ou a menos não fará diferença.
— Hodrixey! — Berrou Melin, o monarca do céu — Temos que voltar a capital, estávamos sendo atacados, temos que ajudar o imperador!
— Eu sei!
Boom!
Morgana saltou de cima do muro.
— Vocês não vão a lugar nenhum, não podemos deixar vocês saírem daqui, não vivos pelo menos.
“São só duas?” pensou Melin “Só duas mulheres para tentar acabar com dez de nós? Essas vadias estão nos subestimando?”
— Saiam da frente!
Faíscas começaram a percorrer o corpo de Melin, e sua mana celeste iluminou os campos como uma pira que queimava sem parar.
Ele conjurou uma lança trovão, levou o braço lá atrás e lançou.
Cabrum!
Uma explosão enorme engoliu Morgana.
Foi algo tão destrutivo que até mesmo os membros do lótus tiveram dificuldade para se defender do vendaval gerado por aquele poder monstruoso.
A poeira os cegou por algum momento, e alguns nem conseguiam enxergar um palmo a frente devido à mana densa vazada por aquela explosão. A areia arranhava a pele e fazia até mesmo algo simples como respirar parecer algo extremamente trabalhoso.
Os animais entorno da floresta fugiram desesperados, e vilarejos próximos sentiram o tremor. Moradores saiam de suas casas, vendo ao longe, bem ao longe, uma nuvem de poeira.
Foi algo de tamanho poder, que assim que o vendaval passou, uma nuvem de cogumelo subiu aos céus.
Aquele era o poder de um monarca do céu.
— Não temos tempo para perder com essas formigas! — Melin virou de costas — Temos que voltar a capital, agora!
Wooosh!
Uma bolha de ar se formou de dentro para fora da nuvem de fumaça, a dissipando em um piscar de olhos.
Os lótus sentiram outro vendaval e se protegeram.
— Que droga foi essa? — indagou o monarca do sussurro.
Morgana estava de pé no meio de uma cratera, exibindo um sorriso único de empolgação.
Ela havia causado a bolha de ar apenas batendo palmas.
— Um monarca do céu! — disse empolgada — Você é como Colin! — Ela coçou a bochecha com o indicador e desviou o olhar — Embora Colin não seja um monarca ainda… Mas você deve ser forte, consegue lançar outro desse?
Melin deu um passo a frente e franziu o cenho.
“Colin, o Elfo? Ele está conspirando contra o império? Tsc… isso é o menor dos problemas agora, essa mulher nem arranhou com o meu ataque.”
— Não me subestime! — Melin ergueu a mão direita para o céu.
Cabrum!
Um raio do céu o atingiu em cheio, energizando todo corpo de Melin com mana elétrica. Seu cabelo estava espetado, seus olhos brancos e seu corpo todo estava envolto por uma mana elétrica agressiva, que serpenteava sem parar.
[Guerreiro divino].
— Eu seguro a grandona, voltei para a capital, rápido!
O monarca da penumbra se preparou para seguir as ordens de Melin, junto a outros de sua equipe.
Todos confiavam que o monarca do céu era poderoso o bastante para resolver aquele tipo de problema sozinho.
A prioridade era proteger o imperador e a capital.
Antes que pudessem ir para mais longe, viram Carmilla parada atrás deles, os encarando com uma das mãos erguidas.
— Sinto muito, mas vocês não vão sair daqui!
Furioso, o monarca da penumbra de cabelos pretos e olhos escuros, enfiou o braço na própria sombra e retirou uma colossal espada negra que não tinha peso algum para ele.
Melin os encarou com o canto dos olhos e se concentrou em Morgana a sua frente. Carmilla era apenas umas, seus companheiros davam conta.
Ao menos era assim que ele pensava.
Boom!
Morgana nem o viu chegando.
Melin a socou com tanta força no estômago, que o chão rachou, causando uma violenta onda de choque que deitou a grama e arrancou até galhos de árvores.
Desequilibrada, Morgana capotou por quase cem metros até se recompor, mas assim que o fez, Melin a socou novamente, desta vez no rosto, a jogando floresta adentro.
Enquanto Morgana e Melin se afastavam, Carmilla ficou sozinha com nove membros do lótus.
Nenhum deles ousou avançar, nem mesmo Hodrixey, que continuava analisando sua oponente com cautela, mas a vampira também os analisava, sentindo a forma de suas manas, o cheiro, até mesmo o sabor delas na língua.
“Todos eles têm uma mana alta, mas aquele cara que chegou por último tem a maior mana dos nove.” Carmilla olhou para Amara, a monarca do reparo “Seria melhor acabar com ela primeiro, depois me concentro nos outros.”
Vush!
Carmilla avançou contra o monarca da penumbra que brandiu sua espada enorme.
— Vem, vadia!
O restante dos lótus se afastou num salto.
Ele cravou a espada no chão e sua escuridão tomou conta do campo de batalha em um raio de 100 metros.
Carmilla sentiu correr por um lamaçal.
“Que cara irritante!”
Stack! Stack! Stack!
Milhares de estacas de sombras brotaram do chão negro indo em direção a Carmilla, mas ela continuou avançando, desviando de todos aqueles golpes como se estivesse dançando.
Nem mesmos suas roupas foram rasgadas no processo.
“Ela está chegando perto, merda!” O monarca da penumbra fez suas estacas saírem do chão em uma velocidade impressionante, mesmo com a análise, aqueles golpes eram extremamente rápidos.
Apesar de todos aqueles esforços, nada parecia funcionar. Era difícil os outros membros do lótus se aproximarem para ajudar com estacas saindo do chão daquela maneira.
“Merda! Merda! Merda! Como ela está viva depois disso? Esse poder é o suficiente para destruir um exército inteiro e mesmo assim…”
O monarca retirou sua espada negra do chão e se preparou para se defender de Carmilla que já estava perto, mas ela não o atacou, passou por ele indo em direção a Amara.
— Volte aqui, sua covarde-
Uma linha de sangue o decapitou. Era tão fina que se tornava invisível a olho nu.
— Saltem! — Berrou Hodrixey — Agora!
Vush!
Carmilla moveu sua mão direita na horizontal, como se tivesse arranhado o ar.
Boom!
Um pedaço de terra foi fatiado e depois explodiu.
Carmilla derrapou, e apontou com o indicador na direção do lótus que continuava em queda livre.
Ninguém sabia o que os atingiria, mas todos se protegeram imbuindo seus corpos com o máximo de mana que conseguiram.
— Tarde demais! — Ela abriu um sorriso.
— Merda! — O Monarca da terra, de cabelo castanho-claro e um corpo musculoso, sentiu que ele não podia controlar as próprias ações — E-Eu não tenho controle sobre meu corpo!
Ele se virou para Amara que estava ao seu lado, cerrou os punhos e os pedaços de terra que flutuavam próximo a ele cobriram sua mão como se fossem uma manopla.
— Amara! Desvie disso!
Boom!
Hodrixey havia conjurado uma barreira na frente de Amara, mas o soco foi tão poderoso que a barreira se estilhaçou, mandando os dois para lados opostos com o impacto.
O poderoso monarca da terra saltou para perto de Carmilla, ficando ao seu lado, mesmo contra sua própria vontade.
— Sua vadia! Como ousa me controlar?! Vou te mata-
Crack!
Carmilla estalou o dedo e o maxilar do monarca quebrou. Ele grunhia de dor, já que era tudo que podia fazer.
“Como pensei, eles não vão deixar a monarca do Reparo ser morta assim tão fácil. Ainda consigo controlar mais dois deles. É melhor focar nos mais problemáticos primeiro, o monarca do sussurro e a monarca do transmuto. Certo, vamos lá!”
Pedaços de terra começar a se deslocar e se prenderam ao corpo do monarca, cobrindo seu corpo como uma armadura. Em suas mãos, se formaram dois enormes machados, tão grandes quanto ele.
“Isso deve atrasar o monarca do sussurro e do transmuto de tentarem fazer algo. Deve inibir até mesmo os ataques do monarca do vácuo. Até mesmo o do conjuro e a mulher do pélago deve ter dificuldade de ferir minha marionete. Parece que encurralei vocês, crianças, o que vão fazer agora?”
Boom! Boom! Boom!
Longe dali, Morgana e Melin continuavam trocando golpes cada vez mais brutais.
Conseguiram deixar destruição por todo lugar por onde passaram, como se dois grandes exércitos estivessem colidindo em volta da região.
Melin continuava em seu modo guerreiro divino, mas isso já não fazia tanta diferença.
— Aaaa!
Segurando uma enorme espada de duas mãos feita de relâmpagos, Melin tentava cortar Morgana de todas as maneiras possíveis, mas sua oponente defendia aqueles golpes com as mãos nuas.
“Essa maldita gorila! Veremos se aguenta isso!”
Ting!
Melin abriu a defesa de Morgana rebatendo sua mão direita para cima, deixando seu tórax exposto.
Cabrum!
Ele apontou sua espada para ela e um relâmpago atingiu Morgana em cheio. A vampira derrapou alguns metros e se recuperou com o corpo completamente ileso.
Melin não acreditou naquilo.
“I-Impossível!”
Acuado, Melin saltou para trás e começou a analisar com cautela sua oponente.
“Me lembro do começo do combate quando a soquei várias vezes e ela sentiu pra valer todos aqueles golpes, mas agora, parece que minha magia, velocidade e força não se equiparam a ela, mesmo eu sendo o membro do lótus mais rápido!”
— Esse é o problema de depender de magia — Morgana tirou poeira da camisa aos frangalhos — Pessoas com talento para magia com vocês esquecem de treinar o corpo, por isso ficam tão fracas.
“Fraco? Eu?”
Morgana rasgou a camisa destruída, ficando com um top de alça preto tapando os seios e uma calça da mesma cor que realçava suas pernas torneadas. Ela também jogou os sapatos de lado e amarrou o cabelo em um rabo de cavalo.
Melin a reparou de cima a baixo, nos seios fartos, o abdômen extremamente definido, os braços que faziam as veis dos bíceps saltar, e por fim, se concentrou naquele rosto pálido que não parava de sorrir.
Os olhos avermelhados, assim como os lábios somados aos dentes serrilhados, diziam que sua beleza era equiparável ao quão monstruosa ela era.
“Ela… é uma monarca arcana da pujança? Tsc… se for… então isso explica porque ela consegue evoluir durante a luta.”
A vampira se abaixou e pegou uma minúscula pedra no chão.
— Sabe — disse ela jogando a pedra para cima — Consegui fortalecer meu corpo até o limite que uma criatura pode alcançar, então, porque eu me arriscaria com magia quando meu corpo é tudo que preciso?! Magia, espadas, artefatos arcanos, tudo isso é ferramenta de gente fraca.
Ela jogou a pedra para cima uma última vez, a pegou e levou seu braço lá atrás, jogando-o na direção de Melin.
“Merda!”
Woosh! Tiing!
Mesmo eu seu modo mais poderoso, Melin teve dificuldades para rebater aquela pedra minúscula para longe. Sua espada fora destruída no processo e seus braços exerceram tanta força que quase se quebraram.
Melin cerrou os dentes sentindo aquela dor aguda e Morgana apoiou as mãos na cintura, pendendo a cabeça para o lado enquanto sorria de canto.
— Desgraçada! — Melin começou a concentrar toda sua mana em seu corpo, deixando faíscas escaparem entorno — Está me subestimando?
— Não! Foi você que me subestimou desde o começo. Só acho um desperdício que alguém tão forte como você tenha um corpo tão fácil de quebrar. Olhando você, fico feliz que meu Colin não tem um corpo tão frágil.
— Pensa que tenho um corpo frágil?! Vou te mostrar, desgraçada!
Boom!
Melin estava tão rápido que alcançou a velocidade hipersônica.
Ele golpeou Morgana no rosto, a lançando longe em meio as árvores. Morgana tentou se recuperar, mas não conseguiu, fora socada no rosto mais duas vezes, golpes que ela nem mesmo viu chegando.
Os golpes de Melin eram pesados no início, mas após levá-los cinco vezes, o corpo de Morgana começou a se adaptar, até que no décimo golpe ela se recuperou e conseguiu segurar o punho de Melin.
Boom! Boom! Boom!
Foi quando pararam de se mover que se ouviu todos os golpes dados por Melin instantes atrás.
O monarca encarou a vampira boquiaberto.
Não importava o quão forte ficasse, ela sempre o superava, e desde vez, não havia levado nem dois segundos inteiros para isso acontecer.
“Merda! Merda! Preciso me juntar aos outros e pensar em um plano para parar esse monstro!”
Com a mão esquerda, Morgana segurava o punho de Melin, enquanto concentrava mana na direita.
— Mostrarei a você uma das razões pela qual não uso mana em um combate!
Gradualmente, mana cobriu o punho da vampira.
“Merda! Esse monstro é mesmo monarca arcano da pujança!”
Boom! Crash!
Ela o socou no abdômen antes que ele tentasse algo, e todo corpo de Melin explodiu com aquele golpe. Nem mesmo suas roupas ficaram isentas de serem completamente obliteradas.
Nada restou de Melin além de sangue.
Até mesmo seus ossos e tripas foram completamente obliterados.
A única coisa que sobrou de Melin foi sua mão que Morgana segurava.
— Carmilla deve ter acabado lá também — Ela abriu a boca e abocanhou parte da mão de Melin.
Sentiu o sabor da carne, da mana e por último engoliu até mesmo os ossos.
— Até que não é ruim, devia ter aproveitado mais a luta.
Morgana terminou de comer e suspirou apoiando as duas mãos na cintura enquanto encarava as estrelas.
— Espero que Colin e seus amigos estejam bem… Tio Graff prometeu que não os machucaria, mas estou com um mau pressentimento…
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