Capítulo 160 – Arvore do Transmuto
— Sim, esse é o nome da minha mãe… — Colin franziu o cenho — Como sabe disso?
Eilella engoliu o seco, e focou nos olhos dele. Não havia porque duvidar, todas as provas batiam perfeitamente. As outras Elfas se entreolharam, cochichando entre si.
— Bem… então não sabe nada sobre sua família, certo?
A única coisa que Colin sabia, com certeza, era que tinha duas irmãs e que conhecia somente uma delas, mas nada mais profundo que isso.
— O que tem minha família?
— Não tenho certeza, mas preciso que após o torneio se encerrar, você venha comigo para o reino dos Elfos da floresta.
— Porque eu iria com você para algum lugar, nem te conheço.
“Será que devo contar sobre minhas suspeitas?” pensou a princesa.
Eilella olhou para trás e suas companheiras assentiram com a cabeça.
— Acredito que você é meu pri-
Kaboom!
Uma explosão enorme foi-se ouvida, junto a uma nuvem de fogo que subiu aos céus. Aquele era o lugar onde Samantha estava.
— Samantha! — Mana elétrica percorreu o corpo de Colin — Essa conversa não terminou, princesa!
Woosh!
Ele desapareceu floresta adentro.
— Senhora! — disse uma de suas companheiras — É um milagre!
— O reino dos Elfos da floresta pode se unificar desta vez! — comemorou outra Elfa.
Eilella suspirou.
— Não sei se isso é uma boa notícia… minha mãe não deve receber isso muito bem…
— A rainha foi ótima nos mantendo seguras, mas nossas forças estão bem reduzidas, não temos pessoal o suficiente e nosso povo está desunido… A senhora viu como ele luta…
Outra Elfa tocou no ombro de Eilella.
— Tem bastante gente forte na equipe dele, gente como Brighid, o Ubiytsy e até mesmo os filhos do imperador — Os olhos dela brilharam — Senhora, podemos ficar fortes novamente! Tenho certeza que se explicar a situação ao príncipe Colin, então ele vai nos ajudar, somos o povo dele, afinal, não somos?
Eilella franziu o cenho.
— Estão o chamando até de príncipe…
— N-Não foi minha intenção, mas… a rainha podia nominá-lo assim… N-Não estou querendo que a senhora não se torne rainha algum dia, mas é que…
— Entendi o que quis dizer — Eilella tocou no ombro da companheira — Não fiquem animadinhas demais, Colin tem que dar a resposta dele… Não sei qual a resposta dele quando descobrir a verdade sobre a tia Celae.
Correndo ligeira entre as árvores, Samantha pensava em algum plano plausível, afinal, o homem atrás dela era um monarca da pujança. Teria que fazer bem mais do que fez até agora para derrotá-lo.
Pela primeira vez em muito tempo, ela duvidou de si, mas não havia tempo para remoer aquele tipo de sentimento.
Raudal estava aproveitando aquele jogo de gato e rato, queria ver o quão longe aquela mulher iria para tentar vencê-lo.
Bam!
O enorme monarca da pujança caiu frente a Samantha. A poeira se dissipava e Samantha pôde constatar o quão imponente ele era.
— Chega de fugir, garota, me enfrente.
Ela enfiou a mão na bolsa e pegou algumas moedas. Uma moeda virou um arco, a outra, uma flecha. Samantha esticou a corda do arco e disparou.
Antes da flecha atingi-lo, ela entrou em combustão e uma gigantesca explosão o engoliu.
Boom!
Pedras e galhos de árvore caiam como chuva ao redor da floresta, mas Samantha continuou com sua análise ativada. Qualquer deslize poderia ser fatal.
Poeira abaixou, revelando Raudal completamente ileso.
— Você é a primogênita de Leerstrom, certo? Ouvi histórias sobre seu pai, mas deve ter um abismo de diferença entre vocês — Raudal flexionou os joelhos para avançar — Minha vez de atacar!
Zium!
O avanço do monarca assoviou, e Raudal foi até Samantha num piscar de olhos. Cerrou o punho enorme e se preparou para socá-la. Samantha segurou uma moeda em cada mão e cruzou os braços frente ao rosto.
Bam!
Ela derrapou por cerca de doze metros e se desequilibrou, rolando duas vezes no chão até se erguer novamente.
Esperando um ataque como aquele, ela transmutou as moedas em duas manoplas que acabou pegando do arsenal de Colin, o mesmo que o homem-peixe lhe apresentou no nono nível.
As manoplas estavam imbuídas com mana, mas depois do golpe de Raudal, elas esfarelaram como areia.
— Nada mal! — Raudal se preparou para avançar novamente — Mas você não escapará ilesa desta vez!
Samantha sentia algo diferente.
O golpe anterior de Raudal foi algo puramente físico, sem um único resquício de mana. Desta vez, ele cobriu seu corpo todo com mana e avançou em disparada.
Sua velocidade não se comparava com a anterior, mas Samantha esperava algo assim.
Enfiou as mãos na bolsa e encheu a mão de moedas, a jogando para o alto como confete.
Raudal chegou bem na hora.
Boom! Boom! Boom!
Uma cadeia de explosões cercou a área. Ouviram-se explosões por quase dez segundos incessantemente. Fora um som bem alto, chamando atenção de diversas guildas entorno.
Parte da floresta começou a incendiar, enquanto a outra parte estava completamente destruída. Samantha saiu da fumaça com o corpo coberto por uma armadura que havia se quebrado em partes quando a explosão a atingiu.
Saltou para cima de um galho e retirou o elmo, dando uma bela olhada em toda destruição.
Era difícil não se impressionar com aquilo.
Samantha era habilidosa com armas, mas seu corpo frágil a deixava em desvantagem contra certos tipos de oponente, porém, a destruição que ela conseguia causar em combate a deixava orgulhosa.
Raudal caminhou para fora dos inúmeros focos de fumaça. Parte de suas roupas haviam se queimado, mas o corpo dele continuava sem um único arranhão.
“Tsc!” Ela franziu o cenho “Nem se feriu, como esperado de um monarca da pujança. Melhor continuar mantendo distância, se um dos golpes dele me atingir é provável que me mate ou me fira gravemente.”
Sua armadura se desfez e ela enfiou a mão em sua bolsa, conjurando novamente seu arco e uma flecha. Apontou para o céu, puxou a corda até o limite e disparou.
Zium!
— Não percebeu que é impossível me ferir, garota?
A flecha alcançou o seu limite e começou a cair. A ponta começou a brilhar em um tom amarelo e um círculo mágico apareceu. Do círculo, moedas começaram a transbordar como água de uma cachoeira.
Parte do céu noturno lampejava em pequenas partículas douradas e, todas aquelas moedas transmutaram, transformando-se em espadas, foices, espadas de dois gumes, manguais, facas, martelos, machados e qualquer tipo de arma branca usada para apunhalar.
Aquele mar de armas brancas caiu entorno de Raudal, mas ele continuou imóvel.
Ting! Ting! Ting!
As espadas ricochetearam em sua pele rígida.
— Vai explodir tudo isso? — debochou Raudal — Hehe, que previsível.
O monarca apanhou uma das lanças cravadas ao seu lado, levou o braço lá atrás e jogou na direção dela.
Crack!
Samantha saltou para outro galho, mas logo saltou mais uma vez, esquivando-se de outra lança.
“Merda!”
Ela estava ocupada desviando dos projéteis que mal viu Raudal se aproximar.
Vush!
Raudal tentou acertá-la no rosto, mas Samantha inclinou seu corpo para trás a tempo, imbuiu mana nas pernas e as apoiou no abdômen de Raudal, indo em direção ao mar de espadas.
Ela caiu sutilmente e saltou para trás, apanhando uma espada e um mangual com corrente na ponta.
“Ele está forçando uma luta direta, que saco!”
— Vamos lá, me mostre do que a primogênita do grande Leerstrom é capaz!
Samantha girou o mangual pela corrente e o jogou.
Raudal ricocheteou o mangual com as costas da mão e Samantha o puxou abruptamente, puxando uma espada mágica junto.
A apanhou e avançou contra Raudal, que deixou sua guarda aberta de propósito.
Ting!
Ligeira, Samantha tentou apunhalar o abdômen de Raudal com suas duas espadas, nem mesmo a lâmina mágica conseguiu fazer algo.
— Eu disse que é inútil!
Shhhh!
Ela segurava moedas junto ao guarda mão.
As moedas se desfizeram em vapor, trazendo uma cortina de fumaça.
Uma corrente passou pelo pescoço de Raudal e o puxou para trás.
— Quer disputar força comigo? Hehe, o quão desesperada você está para fazer algo assim?
Ele puxou a corrente, mas ao invés de trazê-la, ele trouxe uma espada enorme que explodiu assim que ficou a centímetros dele.
Boom!
Raudal balançou um dos braços e a fumaça de desfez.
Samantha não estava tão longe.
O monarca avançou, socando Samantha no rosto, mas ela segurou uma moeda na testa antes, amortecendo o impacto com um elmo encantado.
Bam!
Amortecer o impacto não foi o suficiente. Ela capotou sobre o mar de lâminas e se recompôs, derrapando e apanhando algumas espadas no processo.
Raudal já estava frente a ela novamente.
Tentou socá-la no rosto, mas Samantha inclinou a cabeça para trás, se esquivando.
Aproveitou a abertura e tentou cravar as espadas no coração de Raudal, mas as lâminas se partiram.
Girando o quadril, Raudal tentou acertá-la com as costas da mão, mas Samantha se abaixou e retirou duas adagas que haviam cravado em suas costelas enquanto capotava.
Ting!
Tentou enfiá-la nas coxas de Raudal, mas elas se partiram mais uma vez.
“Merda!”
O joelho de Raudal acertou o rosto dela em cheio. Desta vez, ela não teve tempo de transmutar um elmo. A pancada a tirou do chão, deixando-a desnorteada.
Raudal aproveitou o momento, concentrou mana no punho e a atingiu no abdômen, quebrando todas as costelas que ela tinha.
Por pouco não a empalou.
Samantha foi jogada diretamente floresta adentro. Seu corpo transpassou algumas árvores pequenas e parou ao se chocar contra uma árvore grande.
Bam!
De seu nariz e seus lábios expelia sangue como uma torneira aberta. Ela tentou puxar ar pelos pulmões, mas o que conseguiu foi sentir uma dor lacerante.
Cof! Cof!
Tossiu sangue e ergueu a cabeça.
Sua visão estava bastante turva, mas foi possível ver a silhueta de Raudal ao longe.
— Merda…
Ela ajeitou o corpo e se sentou, apoiando as costas na árvore.
Gemia de dor a cada movimento que fazia.
Ali, sangrando em demasia, lembrou-se que ninguém da guilda havia perdido uma batalha desde que chegaram.
Até mesmo Lei Song e Alunys haviam provado seu valor.
Ela não queria ser a única a perder.
Raudal não se feria, nem mesmo armas mágicas conseguiam fazer algo assim. O mais importante, era que ela assumiu a responsabilidade por aquele oponente.
Sua vida era o de menos, se Raudal escapasse, ele poderia ir atrás de Colin e seu companheiro errante poderia morrer.
Samantha tinha um último recurso, algo capaz de vencer até um monarca, mas a consequência disso seria devastadora, ainda mais com o corpo naquele estado.
“Não importa… se for para ajudar Colin, então tudo bem. Ele salvou minha vida naquela floresta aquela vez, hora de retribuir o favor.”
Sentindo uma dor lacerante, ela escorou na árvore enquanto se erguia. Enfiou a mão na bolsa e retirou uma única moeda. A segurou firme na mão e sua moeda brilhou forte, desaparecendo em seguida.
Raudal ainda estava em meio as inúmeras armas brancas no chão, que logo começaram a brilhar e explodiram.
Boom! Boom! Boom!
Um bombardeio agressivo se iniciou.
A nuvem de fogo cresceu gradualmente, alcançando os céus e iluminando parte do terceiro nível como uma colossal pira.
Boom! Boom! Boom!
As explosões continuaram por mais algum tempo. Ondas de choque arrancaram árvores e parte dos estudantes do terceiro nível viram aquilo.
Gradualmente, a nuvem de fogo se desfez, trazendo mais uma vez o abraço da escuridão.
A nuvem de fumaça alcançou o ponto mais alto daquele nível. Raudal estava dentro de toda aquela fumaça. Seu corpo havia sofrido queimaduras superficiais.
— Um poder e tanto, mas não funcionou comigo — Raudal caminhou para fora da fumaça — Chega de brincadeira, garota. Hora de acabar com isso.
Ele olhou para os dois lados, não conseguindo a encontrar com a análise.
— Não adianta se esconder.
Tapa!
Samantha tocou as costas de Raudal.
— Não estou me escondendo de você.
Bam!
Ele se virou, socando Samantha no rosto.
Ela capotou por dez metros e terminou com as costas no chão. Tossiu algumas vezes e se esforçou para sentar-se.
— Você lutou bem para uma usuária do transmuto — disse Raudal caminhando até ela — Se serve de consolo, faz anos que ninguém consegue me ferir, nem superficialmente.
Raudal a encarou de cima.
— Últimas palavras?
Samantha exibiu seu sorriso ensanguentado, após isso, golfou sangue e seu corpo amoleceu. Ela bateu com as costas no chão e tossiu sangue mais algumas vezes.
— Não se preocupe! — Raudal se preparou para socá-la — Acabarei com seu sofrimento!
O monarca sentiu o gosto de ferro na língua, após isso, seu nariz começou a sangrar, seus ouvidos e até mesmo seus olhos.
— O que você… fez?
Raudal bateu os joelhos no chão e começou a golfar sangue descontroladamente. Sua respiração ficou descompassada e seu corpo tombou.
Tentou recuperar o ar em seus pulmões, mas não conseguiu.
Sua visão começou a escurecer, e ele se desesperou, tentando entender o que estava acontecendo. Ergueu a cabeça e viu Samantha desfalecida, sangrando sem parar.
“Merda! Merda! O que essa vadia fez?”
O corpo dele amoleceu e a respiração chiada fez seus pulmões arderem, como se pegassem fogo. Suas funções fisiológicas ficaram desreguladas.
Raudal começou a urinar e defecar.
Lentamente, a respiração dele cessou e seus olhos ficaram sem vida.
O monarca estava morto.
Usuários do transmuto conseguiam modificar objetos sem muita dificuldade, seguindo a lei da conservação da massa, também conhecida como princípio da conservação da matéria.
A lei, implica que um objeto em si não pode ser alterado sem mudança externa. Portanto, o objeto só se altera quando ele é modificado por fatores externos.
A habilidade de Samantha conseguia transformar moedas em armas e até mesmo em explosões, porque as moedas eram feitas de ferro, prata, até mesmo haviam resquícios de pólvora.
A manipulação de sua mana a permitia moldar objetos como quisesse, desde que mantivessem a matéria de origem.
O transmuto também era o tipo de magia perfeita para destruição da matéria, desde que usasse a mesma lei de proporção. Não poderia destruir uma moeda sem sacrificar uma moeda em troca.
Era uma árvore de uso complexo, mas dependendo do usuário, o transmuto poderia ser uma árvore de destruição que superaria até mesmo as árvores mais destrutivas como a da flama, céu e vácuo.
Ao tocar as costas de Raudal, ela destruiu um órgão dele sacrificando um órgão próprio. O órgão que destruiu dele foi o coração, e o órgão que ela sacrificou foi um dos rins.
Os dois órgãos tinham proporções diferentes, mas Samantha usou as proporções de seu rim para causar danos fatais da mesma proporção ao coração de Raudal.
Para alguém como ela, desprovida de habilidades físicas como alguns membros de sua guilda, vencer um monarca da pujança era algo inacreditável.
As consequências daquela vitória fora o seu estado miserável. Com um rim destruído abruptamente, todo seu corpo estava desregulado. Hemorragia interna era o principal problema no momento, e se não fosse tratada logo, morreria.
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