Capítulo 161 – Velhos inimigos
Enquanto alguns entravam em confrontos brutais, o restante continuava tentando achar seus companheiros. No meio da mata não se ouvia nada além do chirriar dos grilos. Wiben continuava caminhando, cortando o mato alto em sua frente com suas adagas que foram presente de Colin meses atrás.
Diferente de seus companheiros, Wiben não sentia a mana confusa, na verdade, a sentia bem nítida. Sentia a mana de Sashri, mas estava muito longe e Wiben não estava nem um pouco a fim de correr.
Um alerta ascendeu em sua cabeça e ele se virou para trás. Outra mana conhecida estava se aproximando, a mana de alguém que ele abominava.
Wiben ocultou totalmente sua presença, deixando-o completamente invisível.
Suas suspeitas de confirmaram.
Loafe passou correndo por ele.
De repente, Loafe derrapou e olhou para os dois lados.
— Sei que você está se escondendo! — Loafe sacou sua espada — Por que não aparece? Vai tentar me atacar pelas costas como um covarde?
Wiben revelou sua posição.
Estava sentado em cima do galho de uma árvore, contrastando com a enorme lua cheia atrás dele.
— Loafe! — Wiben saltou da árvore — Já faz um tempo que a gente não se fala. Soube que a guilda andou por mal bocados depois que saí.
Após franzir o cenho, Loafe apontou a espada para Wiben.
— Deixou minha guilda para se juntar com gente feito Colin.
Wiben deu de ombros.
— Soube que meus amigos deram um jeito na sua guilda… Perder Norben e Dorian deve ter sido difícil para alguém feito você, soube que eles nunca mais conseguirão empunhar uma espada novamente.
Gradualmente, Loafe deixou mana vazar, uma mana agressiva e quente. Labaredas apareceram abaixo de seus pés e sua espada ficou vermelha como brasa.
— Você nunca foi nada de mais, Wiben, não passa de um banido covarde que deixou a irmã mais nova morrer para proteger o próprio rabo. É um grande covarde de merda! Procurou a mim na época por proteção, e logo depois disso foi para debaixo das asinhas do Elfo Negro para ser protegido por ele. Não passa de um covarde.
Wiben desembainhou suas duas adagas.
Swin!
— Não precisa se preocupar, não fugirei de você.
— Ficar na guilda do Elfo deixou você tão confiante a ponto de pensar que pode me vencer? Quanta arrogância.
O corpo de Wiben sumia gradualmente, começando dos pés e indo até a cabeça.
— Será divertido quando eu mostrar sua cabeça para o seu pai!
Clag!
Loafe enfiou a espada no chão e veias de fogo percorreram um raio de quarenta metros. As veias se incharam e explodiram.
Kaboom!
Pedaços de carvão caiam entorno. Loafe havia deixado um buraco e tanto, onde todo solo que o cercava ardia em brasa.
Ele apoiou a mão no cabo e retirou a espada do solo.
A temperatura ao redor dele estava bastante elevada, se assemelhava a uma grelha com 150.º, mas o calor não incomodava Loafe.
— No fim, é isso que usuários do silêncio sabem fazer, fugir com o rabo entre as pernas. É uma árvore perfeita para covardes feito você.
Ao longe, escondido atrás de árvores, Wiben pensava em algo. Era inegável a habilidade de Loafe, mas ele acreditaria que se fosse esperto, conseguiria avançar.
Loafe havia criado uma barreira natural com todo aquele calor que o cercava. Ele sabia mais do que ninguém que usuários do silêncio eram sempre sorrateiros, então decidiu impedir ataques diretos.
— Vai se esconder até quando? Estou bem aqui, Wiben!
“Tenho que tirar ele de lá, forçar um combate direto ou tentar atacá-lo mortalmente!”
— Tudo bem! — Loafe segurou a espada como se fosse sacá-la — Se vai continuar fugindo, então eu mesmo irei atrás de você!
Vush! Vush! Vush!
Dezenas de cortes flamejantes arqueados foram para todos os lados possíveis. Wiben correu floresta adentro, desviando de alguns cortes que incendiavam tudo por onde passavam.
Uma alta queimada começava a engolir a floresta, iluminando a noite como uma extensa fogueira.
Árvores caiam enquanto se incendiavam, animais fugiram desesperados e outros estudantes estavam vendo a agressiva queimada avançar, devorando a floresta de folhas secas.
Loafe girou a espada e a cravou no chão mais uma vez.
Mais veias de fogo avançaram pela floresta, mas desta vez estavam mais lentas, já que Loafe buscava atingir o triplo do alcance.
O fogo e a fumaça limitavam a movimentação de Wiben. Loafe estava o deixando sem opções, forçando seu ex-membro de guilda se aproximar para conseguir fazer algo, mas se o fizesse, as veias logo explodiriam, arrasando boa parte da floresta.
Wiben ficou visível, cobriu seu corpo com mana e avançou em direção as chamas, focando em se afastar de Loafe ainda mais.
As veias conseguiram alcançar um raio de 150 metros. Elas incharam e explodiram.
Kaboom!
A onda de choque atingiu as costas de Wiben, mas ele recuperou, escondendo-se atrás de uma árvore de troncos grossos. Destroços passavam ao seu lado, e ele continuou parado, pensando em um plano.
Uma nuvem de cogumelo subia aos céus.
“Não posso deixá-lo fazer isso de novo, ou ficará ainda mais difícil me aproximar!”
— Psiu!
Wiben olhou para o lado e se assustou ao ver Sashri tão perto.
— Você quase me matou de susto! — disse com a mão no peito.
Sashri apoiou a mão na boca, rindo baixinho.
— Hihihi! Você parece estar com problema com o esquentadinho — Ela apoiou as mãos na cintura e abriu um sorriso convencido — Não precisa se preocupar, estou aqui para ajudar!
Wiben olhou para a nuvem de fumaça e depois encarou a pequena Sashri. Mesmo para uma Elfa negra de pele levemente roxa, Sashri não tinha mais que 160 centímetros de altura.
Ela agachou, jogou uma mecha do cabelo branco para atrás da orelha e focou seus olhos rosados em Wiben.
— Loafe é um usuário experiente da árvore da flama, é um ótimo espadachim também, o melhor da universidade — Ela apoiou o dedo indicador frente aos lábios e tornou a pensar — Não temos tanta mana quanto ele, então só nos sobra ataques diretos.
— Também pensei nisso, espertinha, como vamos nos aproximar desse cretino com temperaturas tão elevadas entorno dele?
Após estalar os dedos, Sashri se ergueu, apoiando a mão no ombro de Wiben.
— Sou da árvore da penumbra, e você da árvore do silêncio, podemos trabalhar juntos nisso, mas terá que confiar em mim.
Wiben não tinha outra opção.
— E qual o seu plano? — ele indagou.
— Minha mana não é tão alta, então o que farei não durará mais que cinco minutos, caso eu cair, você acaba com ele.
— Certo, mas o que fará exatamente?
As sombras feitas pelos focos de incêndio entorno deles começaram a serpentear, e como se rastejassem, as sombras se estenderam até Sashri, subindo por seus pés e cobrindo todo seu corpo.
Aquela era uma intimidadora armadura demoníaca feita de sombras.
Sombras também percorreram o corpo de Wiben, o cobrindo até o pescoço.
— Isso vai nos proteger do calor — As sombras cobriram a cabeça dela formando um elmo — Deve nos proteger de ataques mais sérios também, mas lembre-se, não temos muito tempo.
Ela esticou o braço, conjurando uma alabarda de sobras que tinha quase o dobro do tamanho dela.
As sombras cobriram a cabeça de Wiben, formando também um elmo. Era bastante confortável dentro daquela armadura. Ele não se sentia pesado, muito pelo contrário, sentia seu corpo mais flexível que o normal.
Sashri cravou a alabarda no chão e assim como Loafe, suas sombras avançaram como veias pulsantes pela floresta, delas, surgiram cães de caça umbrosos que devoravam a chama agressiva, as extinguindo.
Ao longe, Loafe observou a luz do fundo da floresta se apagar.
“Wiben está fazendo isso?”
— Não vai me vencer no escuro!
Loafe girou sua espada e se preparou para enfiá-la no chão, mas parou ao sentir um arrepio na espinha.
Ting!
Por extinto, rebateu um dos golpes de Wiben que veio sorrateiro pelas costas.
Encarar aquela armadura negra de perto era bastante assustador em um primeiro momento. Loafe segurou sua espada com força e a imbuiu com mana, a enrubescendo.
— Vai continuar com esses truques covardes?
Woosh!
Loafe desceu a espada com tudo, lançando um corte arqueado flamejante em direção a floresta, mas logo percebeu que seu golpe foi em vão.
Wiben havia desaparecido.
— Pretende se esconder até quando?
— Até matar você! — A voz de Wiben veio do seu flanco esquerdo.
Woosh!
Loafe se virou abruptamente, lançando outro corte, mas foi em vão novamente.
Suor seco escorreu por sua têmpora.
Usuários do silêncio eram traiçoeiros em sua maioria, e era bem difícil lutar contra essa árvore. Para usuários experientes como Wiben e Stedd, que conseguiam não só ocultar sua presença por completo, mas também objetos, enfrentá-los diretamente era uma sentença de morte.
“Se ele está perto, então destruirei tudo!”
Movido pela fúria, Loafe emitiu intensas ondas de calor. Wiben cruzou os braços frente ao rosto e sua manopla de sombras foi completamente destruída, deixando seus braços expostos ao calor escaldante que saiu do solo queimado junto ao corpo de seu oponente.
Desequilibrando, Wiben derrapou e apertou o cabo de sua espada.
— Aí está você! — Loafe apontou sua espada para ele — Chega de truques!
O calor queimava os braços de Wiben, mas ele suportou a dor, tinha que suportar.
Vush!
Wiben avançou contra Loafe.
Ting! Ting! Ting!
Apesar de usar duas adagas, Loafe continuava superior usando apenas uma espada. Os ataques de Wiben eram quase perfeitos, mas a maestria de Loafe estava em outro patamar.
Crash!
Num movimento preciso, Loafe cortou o tórax de Wiben, mas conseguiu rasgar somente uma pequena parte da armadura.
Wiben ficou invisível mais uma vez.
Ting!
Tentou apunhalar Loafe no peito, mas ele se moveu por extinto novamente.
— Isso acabará logo, banido!
“Ainda não!”
Ainda invisível, Wiben avançou, tentando golpear Loafe de todas as formas possíveis, mas não conseguia. Os extintos de Loafe eram invejáveis.
Para conseguir alcançar algo como aquilo, Loafe se focava totalmente entorno para interceptar os golpes de que vinha de várias direções, e Wiben percebeu isso.
Percebeu o esforço na concentração de Loafe e que ele mantinha o foco exclusivamente nele.
Era a brecha que precisava.
Os braços de Wiben estavam começando a ficar em carne viva.
“Tenho que acabar logo com isso!”
Ele ficou visível e avançou na direção de Loafe mais uma vez, atacou e ficou invisível novamente, atacando em outro ponto cego.
Crash!
Wiben feriu Loafe pela primeira vez, o cortando no abdômen.
Loafe conseguia se adaptar a uma informação por vez, nem seus extintos aguçados conseguiam adaptar-se tão rápido a Wiben, desaparecendo e reaparecendo em frações mínimas de segundos, o que deixava seus sentidos confusos e suscetíveis a falhas.
Crash!
Ele foi cortado mais uma vez no tórax. O corte foi profundo, fazendo sangue esguichar. Wiben continuou avançando, se parasse, a dor lacerante em seus braços viria de uma única vez e o faria desmaiar.
— Seu covarde miserável!
No momento que Loafe preparava outra explosão de calor, Wiben o apunhalou na axila, atravessando o ombro.
Crash!
A dor impediu Loafe de prosseguir com o ataque.
Wiben puxou a adaga abruptamente e foi para trás de Loafe, o cortando profundamente nas costas e saltando para trás.
O braço esquerdo de Loafe ficou mole e ele pôde vislumbrar estar no breu completo. O incêndio que cercava a floresta havia desaparecido enquanto ele estava distraído, ocupado com Wiben.
Com o cenho franzido, Loafe olhava para a situação que havia sido submetido. Alguém como ele, acostumado a ficar no topo, havia perdido tanto em tão pouco tempo. Agora, estava completamente sem reação, subjugado por alguém nitidamente inferior a ele.
Seu único pensamento era o de mandar tudo para os ares.
Um círculo mágico flamejante abriu-se sob seus pés, e dele, veias começaram a percorrer uma região ampla em um raio de quase um quilômetro.
Ele abriu um sorriso senil.
— Quero ver você sobreviver a isso!
Crash!
Uma alabarda enorme havia saído das sombras atrás dele, o empalando.
Olhando para baixo, Loafe viu alguém se arrastando para fora da sombra, segurando a longa alabarda.
Cof!
O coração de Loafe havia sido atingido em cheio.
O círculo mágico flamejante desapareceu em fragmentos de labaredas. Até mesmo o calor insuportável entorno se extinguiu.
A brasa das pedras de magma perdeu seu brilho, deixando somente fumaça.
Sashri saiu por completo das sombras e sua alabarda se desfez, fazendo sangue esguichar.
Sem forças, Loafe bateu os joelhos no chão e encarou Sashri de baixo. A Elfa, abriu um sorriso de canto e caminhou até ele.
— Pobrezinho, tão novo e morrerá em um lugar como esse — Ela agachou, ficando na altura dos olhos dele — Não é meio irônico? Você e seus amigos que começaram essa briga indo atrás da quatro-olhos, agora, a guilda mais influente da universidade acabou… Você deve estar se sentindo um lixo nesse momento, bem, eu me sentiria se fosse você.
Loafe tentou dizer algo concreto, mas só o que conseguiu foi balbuciar.
— Tadinho… não consegue nem falar… não importa, tenho certeza que não sairia nada de útil da sua boca.
Sashri se ergueu e segurou o cabelo de Loafe.
— Últimas palavras? Ops! Esqueci que não consegue falar hihi, perdão.
As unhas de Sashri cravaram no topo da cabeça de Loafe e ela puxou o crânio em um solavanco, arrancando a espinha junto. Olhou para o crânio de Loafe e o jogou pro lado, indo até Wiben, que estava deitado olhando para o céu.
Ela se agachou, o encarando com o semblante debochado.
— Então você está vivo, durou mais tempo do que pensei.
Wiben abriu um sorriso abatido. Ele mal conseguia se mover.
— Deixe de gracinha e me ajuda aqui…
— Não dá, não tenho curas comigo. Terei que achar Samantha ou Brighid — Abriu um sorriso debochado — Consegue ficar vivo até lá?
— É claro que consigo, só vamos logo com isso.
— Terei que carregá-lo?
— Não consigo andar…
Sashri suspirou e ergueu-se.
Um soldado umbroso de três metros apareceu abaixo de Wiben, pegando-o no colo.
— Serão trezentas moedas de prata pelo transporte.
— Sua… não está vendo minha condição?
— Estou! Por isso dei um desconto.
— Desconto? Você está extorquindo um moribundo, não tem vergonha?
Ela abriu um sorriso e fez que não.
— Agora vamos logo encontrar os outros.
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