Índice de Capítulo

    A brisa gélida do campo de batalha afastava a poeira, revelando cortes profundos no solo e uma destruição descabida.

     Crash!

    Controlado por Carmilla, o monarca da terra retirou o machado que estava enterrado no crânio de um dos companheiros, o monarca do vácuo.

    O corpo do monarca caiu no chão sem vida, e seu assassino, que também era seu amigo, mal conseguia conter as lágrimas por fazer aquilo contra sua própria vontade.

    Ele nem ao menos podia falar, já que seu maxilar estava quebrado, pendurado por sua pele. Sua boca sempre aberta não parava de babar, dando ao monarca um tom senil.

    Era impossível se aproximar de Carmilla sem um plano concreto. Sua marionete coberta por uma armadura de rochas só deixava tudo mais difícil, e a própria vampira era habilidosa em combate corpo a corpo.

    A monarca do reparo já havia gastado boa parte de sua mana curando seus companheiros, enquanto Hodrixey também havia gasto parte da sua conjurando ataques cada vez mais poderosos contra sua oponente, mas nada pareceu funcionar.

    O que restou do lótus estava começando a se cansar, enquanto Carmilla continuou preservando a própria mana a fim de inibir quaisquer ataques inesperados. Ela só tinha que se concentrar em sua marionete.

    — Tic-Tac! — zombou a vampira — O tempo está passando, enquanto isso a mana de vocês fica cada vez mais escassa. Melhor pensarem rápido em um plano.

    Hodrixey estava com a mente na capital.

    Nesta altura, centenas de pessoas deveriam estar mortas, as forças reduzidas e, o próprio imperador, deveria estar correndo um grande risco de vida, junto a toda linhagem do império.

    Ele teria que parar a prova o mais rápido possível, retirá-los do espelho antes que os danos ao império fossem irreversíveis. Ainda haviam alunos poderosos no espelho, alunos tão poderosos quanto os membros do lótus.

    — Pessoal! — bradou Hodrixey — Segurem eles, preciso me concentrar!

    — O que fará? — indagou o monarca do transmuto — Precisamos de você para vencer essa vampira!

    — Aguentem um pouco, isso não demorará!

    Hodrixey era a chave do trabalho em equipe deles, sem ele as coisas se complicariam, e Carmilla sabia disso. Ela não sabia o que o diretor estava tramando, mas não desperdiçaria a chance de aproveitar da desorganização do grupo.

    Sentando-se no chão, Hodrixey juntou a palma das mãos e uma redoma enfeitada por runas o cobriu. Ele fechou os olhos e se concentrou.

    — E-Espera! — exclamou a monarca do pélago — Ele vai mesmo fazer isso?

    — Já fez! — respondeu o monarca do transmuto — Concentrem-se, ainda estamos no meio do combate!

    O monarca da terra saltou, caindo em cima deles em um estrondo.

    Boom!

    Alguns lótus se colocaram na frente de Hodrixey, o defendendo da onda de choque.

    — Agora!

    O Monarca do transmuto passou em meio aos pedregulhos que voejavam para todos os lados e foi até o seu companheiro coberto por uma armadura de rochas, o tocando no tórax.

    Crack!

    As rochas que o cobriam se tornaram poeira, deixando seu corpo exposto. Após bater as mãos no chão, a monarca do pélago conjurou uma trilha de estacas de gelo que empalou o monarca da terra inúmeras vezes.

    Apesar do ferimento grave, ele ainda estava vivo.

    — Mitris! — berrou a monarca — Acabe com ele agora!

    Ligeiro, o monarca do transmuto puxou uma adaga de sua bota e a transformou em uma espada, preparando-se para transpassar o coração daquele que um dia foi seu companheiro.

    Crash!

    Ele havia conseguido empalá-lo, e aquele homem que um dia chamou de amigo não pôde dizer nada. Toda armadura de rochas do monarca se desmanchou em areia, e seus joelhos tocaram o chão.

    — Sinto muito, amigo…

    O corpo do monarca tombou, já sem vida.

    Mitris ergueu a cabeça, encarando a vampira continuar imóvel, portando um sorriso de canto.

    — Sua vez, vampira! Se prepare!

    — Eu não diria isso se fosse você…

    Após sentir um arrepio na espinha, Mitris se virou para trás, vendo a enorme mão de Morgana ser enterrada em seu rosto.

    Nenhum deles sentiu ele se aproximar.

    Mitris capotou por alguns metros até que conseguiu recuperar o equilíbrio, mas seu nariz estava quebrado e suas córneas haviam sido danificadas.

    — Pensei que você já tivesse terminado. — Morgana estava bem à vontade — Pensei que tivesse perdido a mania de prolongar suas batalhas.

    — Eles são a elite de Ultan. Não negarei que estejam me dando um pouco de trabalho. Teve trabalho com o monarca do céu?

    Morgana fez que não.

    — Foi divertido no começo, mas ele era mais do mesmo. O corpo era tão fraco que não aguentou um golpe meu imbuído de mana.

    Os lótus cruzaram olhares uns com os outros.

    Ouvir que Melin foi vencido de tal forma abalou seu espírito de luta. Os monarcas que teriam alguma chance contra aquelas duas estavam mortos. O único que sobrou que poderia fazer diferença era Hodrixey, mas ele estava ocupado.

    Ting!

    Ao sentir algo tentando cortar seu pescoço, Morgana esticou a mão rapidamente e agarrou o pescoço do Monarca do silêncio.

    Os pés dele pedalavam no ar enquanto o mesmo tentava respirar. Ele havia imbuído sua adaga com toda mana que conseguiu, e mesmo assim não conseguiu sequer a arranhar.

    — Mer… da… — Balbuciou, esforçando-se para respirar.

    Morgana fez uma cara de decepção ao encará-lo.

    O monarca era um homem baixo e magro, o tipo de oponente que Morgana julgava ser entediante de enfrentar.

    — Esse parece sem graça… — Ela olhou para Carmilla e fez beicinho — Você matou os mais interessantes, que saco…

    — Pensei que o monarca do céu tivesse sido o suficiente para a satisfazer.

    — Ele não era grande coisa.

    Morgana abriu a boca o máximo que conseguiu e abocanhou o rosto do monarca do silêncio, arrancando metade daquilo que um dia foi um rosto. O corpo do monarca tremeu demasiadamente e ficou imóvel em seguida.

    Ela mastigou um pouco e cuspiu, jogando o corpo de lado e limpando os lábios com as costas da mão.

    — Até o gosto dele é ruim. — Ela concentrou-se em Hodrixey logo atrás — Ele parece forte — disse empolgada — Posso lutar contra ele?

    Carmilla deu de ombros.

    — Fique à vontade, é todo seu.

    Após lamber os beiços, Morgana olhou para os lótus restantes e virou para trás, vendo o homem que ela socou se remoendo de dor.

    — Esse já era.

    Mitris apoiou a mão nos olhos e sacrificou o olho esquerdo para restaurar o olho direito por completo. Apertou o cabo de sua espada e a envolveu com mana.

    — Não pense que será tão fácil acabar comigo, sou um dos lótus, não me subestime!

    Mitris tentou avançar, mas seu movimento travou.

    Ele não tinha controle sob o próprio corpo.

    — Sinto muito… — Carmilla bocejou — Mas isso já deu.

    Mexendo os dedos, Carmilla controlou o monarca contra a própria vontade, fazendo-o apoiar a espada em seu próprio pescoço.

    — M-Merda! Maldição!

    Woosh!

    Mitris cortou a própria cabeça.

    Haviam restado quatro deles.

    Morgana fungou o ar duas vezes, concentrando nas três mulheres frente a Hodrixey.

    — Uma monarca do conjuro? — disse empolgada se aproximando das mulheres que mantiveram a guarda alta — Por que não vem lutar contra mim? Enfrentei um monarca do céu agora a pouco, talvez você seja mais interessante — Após apoiar as mãos na cintura, Morgana olhou para os dois lados — Onde estão seus pandorianos? — A vampira suspirou — Aquela mulher trouxe você para cá e não trouxe seus pandorianos? Assim não tem graça.

    — Vamos avançar contra ela! — disse a monarca do pélago — Foque em curar nós duas enquanto isso, entendeu?

    A monarca do reparo assentiu.

    — Tá!

    Esticando as mãos, a monarca do pélago preparava um golpe poderoso, o mais destrutivo de seu arsenal. Um vendaval congelante a cercou, formando uma lança enorme acima de sua cabeça.

    A monarca do reparo sentiu um arrepiou na espinha e se virou.

    Morgana estava atrás dela.

    — Cuidado!

    Tarde demais.

    Crash!

    Com o punho, Morgana a empalou, arrancando seu coração no processo. Puxou o coração dela, arrebentando as veias que ainda insistiam em conectar-se aquele corpo.

    As duas monarcas restantes encararam a cena horrorizadas, espantadas com a velocidade da vampira.

    Nhack!

    Morgana abocanhou o coração da monarca que ainda batia em suas mãos. O gosto que sentiu era doce. Em mais uma abocanhada ela devorou por inteiro aquele coração, lambendo até os dedos.

    — A amiga de vocês tinha um gosto bom, acredito ser a vez de vocês, meninas.

    As pernas de ambas bambearam enquanto Morgana se aproximava delas a passos lentos. Não havia como vencer aquele monstro.

    A diferença de nível era descomunal.

    Paft!

    A monarca do caos caiu no chão enquanto tremia sem parar.

    Morgana parou frente a ela e agachou, a encarando nos olhos.

    — P-Piedade…

    Morgana ergueu a mão e acariciou o rosto da monarca, afastando as mechas de cabelo daquele rosto rosado.

    — Coitadinha, está assustada…

    Ela se prostrou, apoiando a testa no chão.

    — P-Por favor, senhora, p-piedade para mim e minha companheira! A g-gente vai embora e você nunca mais nos verá, e-eu juro!

    Morgana gentilmente acariciou a cabeça da monarca prostrada.

    — Olha, Carmilla, não é fofa? — Morgana segurou o cabelo da monarca e a ergueu, ficando de pé. A mulher pedalava os pés enquanto segurava os braços de Morgana — Uma mulher adulta pedindo piedade é vergonhoso. Não me preocuparei em sentir o seu gosto, deve me dar enjoo.

    No momento que iria empalá-la, Morgana se virou rapidamente e jogou a mulher de lado, cruzando os braços na altura do rosto, defendendo-se de uma enorme espada conjurada.

    Ting!

    Hodrixey havia saído da meditação, e avistar a maioria de seus companheiros mortos foi uma visão bastante chocante.

    Seu olhar se resumia ao mais genuíno ódio.

    Após derrapar por alguns metros, Morgana abaixou os braços, abrindo um sorriso de orelha a orelha.

    — Até que enfim você resolveu agir! — Morgana lambeu os beiços — Espero que seja mais forte que seus amigos!

    Woosh! Woosh! Woosh!

    Três enormes espadas pairavam sobre Hodrixey. Ele estalou os dedos e as espadas seguiram em direção a vampira.

    — Conjuradores! — Exclamou Morgana — Os usuários de magia que mais odeio!

    Morgana cerrou o punho direito e as veias de seu braço saltaram, como se fossem explodir.

    Boom!

    Ela socou o ar.

    A onda de choque estilhaçou as espadas e os membros do lótus restantes tiveram que se concentrar para não serem jogados longe.

    Hodrixey não esperava que a força bruta dela fosse tão colossal.

    — Me escutem! — disse as companheiras — Dentro de alguns minutos os alunos restantes do espelho devem ser libertos. Aquela mulher que é mais forte que eu, deve ser útil na invasão. Portanto, se concentrem nessas vampiras bem a nossa frente, e somente nisso!

    Elas assentiram e o pânico que sentiam desapareceu. Hodrixey era forte e sempre tinha um plano para tudo. Não importava o quão poderoso fosse o inimigo.

    — Não se meta! — Morgana apontou para Carmilla.

    — Eu não ousaria.

    Carmilla cruzou as pernas e se sentou em uma pedra. Sua cota de batalhas diárias havia excedido o limite. Ela ficaria ali, quieta, somente apreciando o espetáculo.

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