Capítulo 164 – Fora do espelho
Zium!
Colin correu bem rápido, o mais rápido que conseguiu. Ao chegar no local, viu fumaça, fogo e as companheiras de Eilella com Samantha deitada em seu colo.
Samantha estava bem pálida.
As duas estavam se esforçando para curá-la.
Ao lado, estava o corpo do outro monarca. Colin ficou curioso de como ela conseguiu vencer um monarca da pujança, alguém que até mesmo ele teve dificuldades.
— Como ela está? — indagou preocupado.
— Conseguimos fechar os ferimentos internos, mas ela perdeu muito sangue — A Elfa engoliu o seco — Lamento, mas não temos habilidade suficiente para tratar sua amiga…
Colin agachou e reparou que Samantha respirava de maneira bem lenta, quase parando.
— Quanto tempo ela tem?
— Não muito…
Ele se levantou.
— Continuem fazendo possível, minha esposa pode ajudar, só preciso encontrá-la!
A enorme explosão chamou bastante atenção, e mesmo com sentidos ainda embaralhados, Colin sentia manas se aproximarem, mas não sabia dizer de quem eram.
“Inimigos? Tsc… será que são os amigos desses monarcas? Se for… então as coisas ficam complicadas!”
O coração de Colin aquietou-se ao ver rostos conhecidos.
Stedd, Safira, Alunys e os gêmeos despontaram ao longe.
— Sabia que você estaria envolvido nisso de alguma forma — debochou Stedd — Onde há fumaça, há Colin.
— Algum de vocês tem cura? — Indagou Colin — Samantha precisa de cure urgente!
Seus companheiros se aproximaram as pressas.
— O que aconteceu? — Stedd abaixou-se encarando sua companheira — Ela não parece nada bem…
Alunys pegou a bolsa de Samantha e se concentrou para procurar alguma cura.
— Tem curas aqui!
— Não precisa! — Stedd rasgou um dos pulsos com sua unha — Meu sangue surtirá um efeito mais rápido que uma poção.
— Seu sangue? — indagou Colin.
— É, não tenho para explicar em detalhes, só observe.
Ping! Ping!
Algumas gotas de Stedd caíram nos lábios quase cadavéricos de Samantha e ela tossiu algumas vezes. Todos vislumbraram a pele dela recuperar a cor gradualmente. Até os ferimentos que tinha se fechou, mas ela não despertou.
— Prontinho, essa daí vai precisar de um tempinho para acordar.
Colin suspirou aliviado.
— A gente enfrentou monarcas da pujança… nos separamos…
— Entendi, então o grandão morto ali é um monarca da pujança que Samantha derrotou? Isso, sim, é impressionante.
— O senhor também derrotou um monarca? — indagou Safira empolgada.
— Sim, mas foi bem difícil.
— Eu não disse a você?! — Safira apontou o dedo para Stedd — Senhor Colin é invencível!
Stedd revirou os olhos.
— Tá, tá, e para onde vamos agora?
— Melhor esperar, eles devem aparecer em breve.
— Certo, aliás, o que essas Elfas fazem aqui?
— São minhas subordinadas! — disse Eilika despontando ao fundo junto de todas suas companheiras — Pronto para continuarmos nossa conversa?
Colin olhou para Samantha que dormia de maneira serena no colo da Elfa.
— Tudo bem, onde estávamos?
Todos eles se ajeitaram em um canto e Eilika se preparou para contar tudo que estava em sua mente. Ela não se incomodou com os companheiros de Colin, já que eles tinham um pacto de ajuda mútua.
Wosh!
Algo veio do céu, pousando sutilmente.
— Brighid!
Ela ainda segurava duas espadas, e vê-la assim deu um pouco de medo, mas eles logo baixaram a guarda. Brighid cravou suas espadas no chão e elas se desfizeram em partículas, assim como suas asas.
— Que bom que estão todos bem! — Preocupada, foi até Colin — Minha nossa! Esse sangue todo na sua roupa é seu? — Desviou o olhar e viu Samantha deitada no chão.
Os olhos dela se arregalaram e Colin apoiou as mãos no rosto da esposa.
— A gente tá bem! — disse a encarando nos olhos — lutamos contra alguns monarcas, mas conseguimos vencê-los, fica calma. — Ele olhou para o cabelo dela que estava mais curto, um pouco abaixo dos ombros — Visual novo?
Brighid deu um longo suspiro, tirando toneladas dos ombros. Por um momento se esqueceu que Colin não era fraco, e se preocupou como uma esposa se preocuparia. Apoiou a testa no peito de Colin e agarrou a camisa dele.
— Desculpa… — sussurrou — Às vezes me esqueço que você consegue se proteger sozinho, mas é que… outras pessoas vieram atrás de mim, dizendo que fariam mal a você, então acabei me descontrolando um pouco…
Colin apoiou a mão no rosto dela e encarou aqueles olhos verde-esmeralda.
— Ei! Tá tudo bem! Ainda continuo vivo. — Esboçou um sorriso de canto — Não vou te deixar viúva tão cedo.
Ela abriu um sorriso bobo e se desvencilhou dele, encarando todos ao redor. Foi então que notou aqueles olhares e se sentiu envergonhada por demonstrar seu lado sensível na frente de todos, algo que ela fazia somente quando estava a sós com Colin.
— Ahem! — Pigarreou Eilella — Olá, Brighid! — A fada fez que sim com a cabeça — Podemos continuar, Colin?
— Ah! Claro! — Ele e Brighid foram para perto de Eilella.
Deixaram Samantha descansando próxima a eles enquanto se reuniram entorno de pedras para conversarem.
Todos prestavam atenção na princesa.
— Bem… — Eilella suspirou — Por onde começo… Há cerca de 1300 anos, o dragão Tiamat veio até nossa cidadela e nos devastou. Durante o ataque, muita gente acabou morrendo, e a população dos Elfos da floresta foi reduzida para somente 20% do valor total. Minha mãe disse que quase fomos extintos…
As Elfas ao redor sentiram um demasiado pesar, até mesmo Alunys ficou sentida, já que também era uma Elfa da floresta.
Foi um período nebuloso não só nas histórias dos Elfos, mas do Continente.
— Minha mãe era só uma criança quando isso aconteceu, então mesmo sendo a herdeira do trono, os Elfos que restaram foram divididos por não confiar suas vidas nas mãos de uma criança, e isso só nos enfraqueceu ainda mais. Tivemos que nos fortalecer, mas você sabe como humanos são… Éramos um número pífio em relação a outras raças, ainda somos, mas naquela época era pior.
Ela franziu os lábios e desviou o olhar.
— Os Elfos Negros se uniram, e em alguns anos já conseguiam nos superar em números. Fomos atacados por todos os lados, humanos, Elfos Negros, Orcs, Elfos da neve… éramos os mais vulneráveis de todos eles, por isso muito do nosso povo acabou sendo capturado e servindo como escravos de nobres, prostitutas de bordéis ou eram simplesmente mortos por esporte.
As Elfas ficaram cabisbaixas ao ouvir aquela história. Era a história de um povo que há muito tempo era visto como inferior, e isso perdurava mesmo atualmente, apesar de ter uma irrisória melhora.
— A rainha fez tudo que pôde, se fortaleceu o bastante para nos proteger, ensinou a mim tudo que sei e repassei os ensinamentos para as minhas irmãs que estão comigo. Minha mãe está velha, senhor Colin, viveu mais que um Elfo viveria. O correto seria se eu herdasse a coroa e governasse, mas sinto que não estou pronta, ainda sou fraca demais e a cada dia que passa temos menos pessoal. Nossa população atual é feita de mulheres, crianças e velhos. Não temos homens pros exércitos e a cada segundo nossa situação fica mais exasperante.
Colin assentiu.
Era uma história triste, mas isso não o interessava.
— E está me contanto tudo isso por quê?
Ela engoliu o seco.
— Sabe dos boatos dos olhos amarelos, não sabe?
Colin fez que não.
— O que têm os olhos amarelos? — indagou.
— Bem… Entre meu povo, circula a lenda de que todos aqueles de olhos amarelos descendem dos primeiros Elfos a dominarem magia, os Altos Elfos, mais conhecidos como Altmers.
“Então é isso… que significa ser um Altmer.”
— Espera aí! — Colin ergueu uma das mãos — Já vi outras pessoas com olhos amarelos, está dizendo que todo mundo descende dos Altmers?
Eilella assentiu.
— É uma possibilidade…
— Então… está dizendo que tenho algum tipo de parentesco com os Elfos, certo?
As Elfas se entreolharam e Eilella continuou.
— A forma da sua mana é semelhante à da minha mãe, e parecida com a minha… a forma da mana é geralmente passado de pais para filhos, então… Já que você disse que sua mãe era Celae, é provável que você e eu tenhamos o mesmo sangue… você deve ser meu primo…
O cenho de Colin franziu. Seus companheiros ficaram mais surpresos com a revelação do que ele, porém, a revelação deixou Colin pensativo.
Eilella não se parecia com um errante, ela nem ao menos tinha as tatuagens de um. Se o que ela estivesse dizendo fosse verdade, então a conclusão que chegou foi que ele havia herdado o lado errante do pai.
Suas irmãs não haviam confirmado o que seu pai era, muito menos sua mãe. Ele tinha suspeitas, mas nada tão concreto quanto isso.
Se ele não tivesse encontrado Saphielle meses atrás, acharia toda situação bizarra, mas começou a aceitar aquilo facilmente. Infelizmente, seus pais não estavam vivos para confirmar aquela história. Só havia suas irmãs cujo ele não confiava tanto assim.
— O que mais você sabe sobre meus pais?
Eilella engoliu o seco. Aquelas seriam informações que fariam Colin decidir ajudar ou não.
— Sua mãe foi acusada de ter relacionamento secreto com um Elfo Negro, um inimigo mortal nosso. Isso a fez ser deserdada e banida… depois disso a cidadela foi atacada por Tiamat e nosso avô foi morto. Foi aí que nosso povo se separou. Minha mãe cuidou de nos como pôde, mas nós nunca conseguimos nos reerguer novamente como nos tempos de ouro… até mesmo hoje os nossos números são pífios.
Após suspirar, Eilella coçou a nuca e o encarou nos olhos.
— Há anos que nossos invasores matam os homens indiscriminadamente, mesmo os meninos são assassinados ou se tornam escravos. Nossa população cai a cada ano, cheia de mulheres e velhos, cada vez mais fraca… minha mãe já fez muito por nós… e acredito que você… é um descendente direto da coroa…
“Esse Elfo Negro com quem ela se envolveu deve ser meu pai… mas, pelo que ela disse, meu pai também é um errante. Onde minhas irmãs entram nessa história? E, por que eles foram para à terra?”
— Saphielle e Ehocne — disse ele — Esses nomes fazem vocês lembrar de algo?
Eilella fez que não.
— Desculpa, mas nunca ouvi esses nomes antes.
Colin assentiu.
— Minha mãe era uma boa mulher — disse ele — Sempre foi… Sabe o que aconteceu com ela? Faleceu devido a uma doença, somente eu fiquei ao lado dela esse tempo todo. Observei ela definhar lentamente. Não é fácil ver a pessoa que você mais ama acabar desse jeito sem você poder fazer absolutamente nada.
— Sinto muito…
— Sente muito? — Colin franziu o cenho — Vocês a expulsaram, deixaram ela para morrer, ela só tinha a mim e meu pai!
Constatando a mudança no humor de Colin, Eilella agachou-se e apoiou a testa na grama.
— Lamento pelo que aconteceu com sua mãe, mas nossa geração nunca chegou a conhecê-la… nem sabemos ao certo os detalhes do que levou ao seu banimento, mas… sabemos muito bem o que é sentir medo, compartilhamos a dor de perder um familiar, sabemos o que é sentir fome… Você lidera pessoas incrivelmente fortes… se vier comigo para nosso esconderijo, então minha mãe entenderá a situação… nosso povo irá entender…
As outras Elfas fizeram o mesmo gesto, agacharam apoiando a testa na grama.
— Não faço esse pedido por mim, mas por todos os Elfos da floresta… por favor, nos ajude, ajude seu povo…
Colin cerrou os dentes e desviou o olhar. Elas estavam implorando e ele queria recusar. Apesar de tudo, ele não teve dificuldades em aceitar que aquele era o seu povo e que Eilella era sangue do seu sangue.
Analisando a forma da mana de Eilella, Colin percebeu que realmente era como dele.
Brighid tocou o ombro do marido.
— Colin… Eilella é minha amiga e acredito nela. Apesar de ser da realeza, ela desceu do trono e se prostrou diante você… Imagino quão desesperada ela deve estar.
Colin franziu os lábios e assentiu.
— Tudo bem, eu ajudo vocês…
As Elfas ergueram a cabeça e cruzaram olhares, olhares de felicidade.
— Quem exatamente é o inimigo? — Ele indagou.
Eilella e as outras continuaram ajoelhadas.
— Parte do império de Ultan, alguns grupos de humanos de Valéria, Elfos da neve e Elfos Negros…
Após coçar a nuca novamente, Colin ergue-se e caminhou até Eilella, estendendo a mão para a ajudar a levantar.
— Qual o nome da sua mãe?
— Cykna.
— Irei ganhar esse torneio e ajeitar as coisas para ajudar vocês com seu problema — Ele abriu um sorriso sem graça — Estou ansioso para conhecer minha tia, eu acho…
— Tenho certeza que ela vai ficar feliz em conhecê-lo!
Colin se virou para seus companheiros.
— Certo, vamos encontrar os outros para avançarmos logo para o segundo nível.
Tanto o pingente de Colin quanto o de Eilella começaram a brilhar.
Eles racharam e quebraram.
Scrash!
Todos os estudantes do espelho brilharam intensamente e desapareceram. Foram transportados para o coliseu, bem onde tudo havia começado.
Boom!
Um dos galeões que navegava no céu disparou, atingindo as arquibancadas. Ouviram gritaria e barulhos de explosões vindos de todos os lados.
Os estudantes encaravam tudo aquilo sem entender absolutamente nada, completamente perdidos no excesso de detalhes.
O grupo todo de Colin havia retornado ao ponto de partida, notando que muito poucos grupos ainda faziam a prova. Entre eles, o grupo de kodogog.
Homens do Norte já haviam adentrado a arena do coliseu. Alguns avistaram os estudantes, indo até eles empunhando seus machados e espadas ante magia.
Nortenhos avançaram contra os enormes Orcs, mas não tiveram chance e foram rapidamente subjugados.
Os Orcs não se preocuparam em entender o que estava acontecendo e rapidamente dispersaram-se, indo atrás de qualquer Nortenho que avistassem.
— Uma invasão? — murmurou Colin.
Boom!
Mais um disparo explodiu na arquibancada.
Não foi difícil deduzir quem estava perdendo aquela batalha. Haviam dezenas de corpos de civis e de soldados.
Eilella enxergou além de sua situação atual, já imaginando que o pior pudesse acontecer.
— Pessoal! — bradou Eilella para suas subordinadas — Preparem-se para lutar! Essa parece uma invasão de grande escala, então lutem para proteger as pessoas e ajudem a evacuar! Não desperdicem suas vidas em lutas duvidosas, cada uma de vocês é importante para reerguermos os Elfos da floresta! — Ela se aproximou de Colin — Siga pelo grande rio Volmar em Valéria depois da Colina das bestas, nosso pequeno reino fica naquela floresta!
Ele assentiu e as Elfas se dispersaram.
Embora projeteis estivessem caindo entorno de parte da capital, Wiben só se assustou ao ver Samantha no chão.
— Samantha! — agachou-se — O que aconteceu?
— Ela tá bem, só está descansando. — respondeu Colin — Consegue cuidar dela?
— Claro que consigo, mas meus braços…
Brighid tocou gentilmente o ombro de Wiben e ela começou a se curar. Após alguns segundos, Wiben colocou Samantha em suas costas.
Antes que partissem para a batalha, Colin e os membros de sua guilda sentiram manas brutais ao longe, manas fortes o suficiente para assustar um maníaco por batalhas como ele.
Colin olhou para Brighid e percebeu que o assunto era sério ao ver os olhos arregalados dela.
“Que merda foi essa?”
— Brighid! O que foi?
Ela franziu os lábios antes de responder, encarando as nuvens trovejantes e sentindo o vendaval.
— Conheço esse formato de mana… algo assim esteve impregnado em mim por um milênio. — Ela engoliu o seco — É a forma de mana de um caído, mais de um, na verdade…
Normalmente Colin ficaria empolgado, mas Brighid era o ser mais poderoso que ele conhecia, e vê-la assim ascendeu um sinal vermelho em sua cabeça.
— Acredita que nós… conseguiremos…
Ela fez que não com a cabeça.
— Não são só manas de um caído que me preocupam, mas há outra mana mais poderosa, uma que subjuga todas as outras, algo sombrio, tão sombrio quanto a mana de Drez’gan.
“Então foi isso que senti… mesmo assim, me pareceu familiar…”
Foi então que Colin decidiu pelo grupo, uma decisão que nunca pensou que tomaria.
— Escutem! — Ele parecia bem sério desta vez — Saiam da capital e levem o máximo de pessoas com vocês! Não lutem com ninguém além dos Nortenhos, me ouviram?
Eles assentiram.
— A gente se encontra depois fora daqui! Dispensados!
Elhad foi o primeiro a dispersar, seguido por Sashri.
Safira e Alunys continuaram ali, encarando Colin.
— E o senhor? — Alunys preocupou-se.
— Isso mesmo! — Safira segurou o pulso de Colin — Você também vem! Sei o que o senhor está pensando, está querendo lutar, não está?
Colin abriu um sorriso de canto.
— Vamos! — Kurth pegou no pulso de Safira — Senhor Colin sabe o que faz, vamos sair logo daqui!
— A gente também! — foi a vez de Liena segurar a mão de Alunys — Senhor Colin vai nos seguir em seguida, não vai?
Colin assentiu.
— Estou logo atrás de vocês!
— É melhor mesmo! — bradou Wiben carregando Samantha desfalecida nas costas.
— Meus irmãos! — Loaus se aproximou de Colin — Tenho que ajudá-los! Não sei se eles estão bem…
— Se preocupe em salvar a si mesmo primeiro!
Loaus assentiu e todos eles se afastaram, restando somente, Colin, Leona, Brighid, Lei Song e Stedd.
O Ubiytsy deu dois tapinhas nos ombros de Colin.
— Faça o que a chifruda diz, não tente lutar contra isso. — Ele olhou para a Kinesi — Lei Song! Você é minha responsabilidade, então sairemos logo daqui!
Ela assentiu e foi até Brighid, dando-lhe um abraço. A fada havia ensinado quase tudo que ela sabia sobre magia, além de tutora, Brighid foi uma amiga leal e uma confidente.
— Vamos nos ver em breve! — gracejou a Kinesi.
Brighid assentiu e observou aqueles dois se afastarem. Sentiu um arrepio ao notar duas manas poderosas de aproximarem.
Ela tinha que pensar rápido e afastar Colin antes que ele sentisse o mesmo, caso contrário, era certeza que ele tentaria lutar contra aquilo, mesmo que a morte fosse certa.
— Colin! Vá pegar as crianças e a gente se encontra lá fora, me ouviu? — Ela segurou as mãos dele e olhou fixamente, no fundo, de seus olhos — Tem que me prometer que vai sair daqui assim que pegar as crianças!
— Eu prometo!
— Colin, estou falando sério desta vez!
Ele abriu um sorriso de canto.
— Supõe que eu não? A gente se vê lá fora!
Colin a beijou.
— Vamos, Leona!
— Finalmente ação! — disse a pandoriana empolgada.
Mana elétrica serpenteou o corpo de ambos e eles partiram rumo a residência das crianças.
Ziooom!
Um portal se abriu há metros de Brighid.
Var’on e Ehocne saíram lá de dentro.
— Você foi bem esperta em afastá-los — Var’on retirou o sobretudo, e o vento o levou — Sua aparência destoa bastante do que você é, apóstola do Deus Morto. Seu mestre mandou você para esse mundo para espalhar o caos, não foi?
— Drez’gan não é meu mestre. — O semblante de Brighid mudou abruptamente. Seu olhar gentil se transformou no olhar de uma predadora perigosa. — A quem pertence a quinta mana que estou sentindo?
“A mulher…” pensou Brighid “A forma da mana dela também lembra a de Colin. Os olhos dela também são amarelos e até o tom de pele de ambos é semelhante… Será que…”
Mana transbordava no corpo de Var’on, mas Brighid não se deixou intimidar.
— Porque eu diria a você? — indagou Var’on.
— Tudo bem, farei você falar! — Ela abriu um sorriso de canto — Melhor, seus gritos devem trazê-lo direto para mim.
Boom!
Algo veio do céu, caindo ao lado dos caídos.
Walorin se ergueu imponente, afastando a poeira das roupas. Ergueu a cabeça e arregalou os olhos ao ver Brighid.
— É essa mulher que temos que enfrentar? Minha nossa, eu sabia que você era bonita pelos boatos, mas bonita e gostosa desse jeito é uma surpresa.
— Foco! — Alertou Ehocne — Não se deixe enganar pela aparência do inimigo, ela ainda continua sendo perigosa.
— Relaxa, bonitinha, isso é ciúmes? Saiba que ainda tem espaço para você em minha cama sempre que quiser hehe.
O sorriso de Walorin se desfez quando sentiu aquela mana demoníaca emanar da bela mulher a sua frente. Era algo tão assustador que engoliu a pegajosa mana de Var’on.
“Eles são bem mais fortes que os caçadores de monarca…” pensou Brighid “Não é só isso, a mana deles é quase tão alta quanto a de Thaz’geth.”
Ela apoiou a mão no ventre.
“Ficará tudo bem, a mamãe será rápida”
Na cabeça de Brighid se formou uma coroa esverdeada feita de mana. A coroa planava como uma auréola. Suas vestes deram lugar a uma armadura leve que havia ganho do próprio rei do abismo. Ela era negra e imponente, feita especialmente para que ela portasse naquela forma.
Brighid ergueu a mão e uma lâmina diferente de qualquer outra que conjurou ganhou forma em sua mão. O punho era talhado na forma do crânio de um demônio.
A lâmina era mesclada em tons negros e esverdeados.
Assim que a empunhou, o cabelo de Brighid assumiu um tom esbranquiçado, começando na raiz e indo até às pontas. Os olhos dela brilharam em um verde ainda mais intenso, e qualquer resquício de uma Brighid doce havia desaparecido.
— A última vez que usei isso foi quando treinei com Og’tharoz, mesmo após séculos, continua sendo horrível assumir essa forma.
Os três caídos engoliram o seco.
Aquela não era uma mana normal, era a mana de algo demoníaco, algo que só poderia ser saído das entranhas inóspitas do abismo.
O semblante sisudo de Brighid era o que mais se destacava em seu novo visual. Após girar a espada, Brighid a cravou no chão.
Um enorme círculo mágico começou a se formar.
Era tão majestoso que passou por debaixo dos pés dos caídos e seguiu além. Cobriu todo coliseu, cobriu quarteirões e alguns bairros.
Era grande o bastante para cobrir 2/5 da capital.
Parte do chão rachou e se abriu.
Golens feitos de pedras e andorinhas feitas de pétalas deixaram as rachaduras, dezenas deles ao redor de todo círculo.
Nortenhos próximos foram esmagados pelos golens, e pessoas feridas tiveram seus ferimentos mais sérios curados pelas andorinhas.
Em menos de trinta segundos a maré da guerra havia mudado bruscamente, e isso fez o corpo de Brighid começar a sentir uma dor descomunal. Ela estava mesclando as habilidades do abismo com suas próprias, isso era o suficiente para colocar seu corpo sob pressão.
“Se isso se estender posso acabar morta, mas assim que sair dessa forma, é provável que meu corpo se torne o de uma humana comum e meus poderes sumam. Tenho que fazer valer a pena.”
Os três ficaram imediatamente em guarda.
Havia ficado claro para os caídos com quem eles estavam lidando. Um par longo de asas de uma borboleta surgiu nas costas de Brighid.
Ela ficou a metros do chão, encarando aqueles três de cima.
Drez’gan não havia a nomeado de Kag’thuzir, o anjo do desespero de maneira leviana.
Debaixo daquelas asas morava o terror. A lâmina daquela espada continha o absoluto desespero, a coroa deixava claro quem era a regente do caos e seu belo rosto tornava a morte bastante convidativa.
Aquele era o ápice do poder da fada, algo que estava além da compreensão até mesmo dos caídos.
“Impossível!” Ehocne engoliu o seco “Se essa mulher é tão poderosa assim, então o quão forte é o Deus Morto?”
— Pensa que estou com medo de você?! — zombou Walorin assumindo sua posição de combate — Vamos ver quem ficará de pé no final!
Brighid os encarou com desprezo.
“Ainda bem que Colin não está aqui, não queria que ele me visse assim.”
— Se eu matar vocês… — ela abriu um sorriso diabólico — Então o dono daquela mana deve aparecer!
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