Índice de Capítulo

    Avançando pelas ruas da capital que haviam sido tomadas pela guerra, os gêmeos, Kurth, Safira e Alunys avançavam derrotando os Nortenhos, enquanto Wiben carregava Samantha desfalecida nas costas.

    Auxiliavam o máximo de pessoas que conseguiam à medida que avançavam para os portões da capital.

    Não faltava muito para saírem da zona de guerra.

    — Por aqui! — berrou Safira apontando com sua espada para o norte — Vamos, rápido!

    A multidão em pânico continuou seguindo.

    — Safira! — bradou Liena — Atrás de você!

    A caída se virou, desviando da lâmina de um machado e cravando sua espada na garganta de um Nortenho. Após desvencilhar dele, ela saltou para cima de um telhado, tendo uma vista privilegiada de parte da cidade.

    Os portões estavam a duzentos metros ao norte.

    — Estamos perto! Continuem!

    Ela olhou para o lado, avistando uma luz esverdeada tomar conta de parte da capital. Ela já havia ficado bastante tempo com Brighid, por isso não foi difícil reconhecer quem seria o dono daquela mana.

    — Brighid!

    — Safira! — chamou Alunys lá em baixo — Vou à dianteira dessa vez, você fica na retaguarda!

    — Tá!

    Por um instante, Safira sentiu um arrepio na espinha e virou-se depressa, vendo um homem alto coberto por uma capa preta da cabeça aos pés.

    — Quem é você? — indagou devolvendo a espada a bainha e retirando a foice amarrada em suas costas.

    A sensação que sentia ao estar frente aquele homem era semelhante à sensação ao estar próxima a Colin.

    O homem jogou o capuz para trás.

    Ele se parecia bastante com Colin, mas não era ele, não era o seu mentor.

    — Não pensei que fosse conseguir chegar a tempo. — Coen deu um passo a frente e Safira recuou dois — Não precisa sentir medo de mim, não sou seu inimigo.

    — Então quem é você?!

    — Estive te procurando por décadas, e aqui está você, uma subordinada de Colin. Que coincidência fantástica, parece até destino.

    Safira imbuiu sua foice com mana.

    — Fique longe de mim!

    — Selvagem, combina bem com aquele garoto.

    [Tremor!]

    O combate de Brighid estava intenso.

    Somente pelo tremor dava para ter uma noção do poder liberado naquele lugar.

    — Sua amiga parece estar dando trabalho para meus companheiros, por isso não planejo prolongar nosso encontro.

    Woosh! Woosh!

    Os gêmeos e Alunys saltaram para o telhado, cercando Coen, enquanto Kurth ficou longe mirando sua flecha naquele homem.

    Todos se assustaram com a semelhança daquele homem com Colin.

    — Quem é você? — indagou Liena furiosa — Responda, agora!

    Coen correu os olhos por todos eles.

    — Princesa Liena… Pensei que fosse uma dama, mas parece que Colin conseguiu transformá-la em uma selvagem também. Enfim, só queria ver como você era, Safira. Tenho outros assuntos para resolver.

    No momento que Coen fora avançar, Kurth disparou sua flecha de vácuo, mas ela foi sugada pelas tatuagens de Coen.

    Coen ergueu a mão na direção da torre onde Kurth estava e um círculo mágico carmesim fora conjurado frente a sua palma.

    — Merda! — Kurth saltou da torre.

    Cabrum!

    Um raio carmesim transformou aquela torre em poeira.

    Trick! Trick!

    Alunys apoiou as duas mãos no chão e gelo deixou seu círculo mágico, congelando os pés de Coen.

    Loaus e Liena saltaram do telhado em direções apostas. Assim que chegaram ao chão, bateram nele suas palmas.

    Boom!

    Duas enormes estacas de terra se chocaram contra Coen.

    — Pegamos ele! — comemorou Liena.

    — Eu não teria tanta certeza! — disse ele atrás de Safira.

    A caída tentou cortá-lo enquanto se virava, mas Coen segurou a lâmina da foice com uma mão e, com a outra, perfurou o abdômen de Safira.

    Crash!

    — Safira!

    Ela apoiou a mão no abdômen e deu alguns passos para trás, caindo de joelhos no chão enquanto tossia sangue. Suas pupilas começaram a dilatar e seu corpo começou a ser incendiado por fogo azul.

    Os chifres dela cresceram, escamas apareceram no canto de seus olhos, suas unhas ficaram pontiagudas, assim como seus caninos. O corpo dela começou a ganhar músculos e seu olhar carregava o mesmo desespero de um animal selvagem.

    Coen ergueu a mão e absorveu outra flecha de Kurth.

    — O que você fez com ela?! — Ele indagou furioso.

    Um portal apareceu atrás de Coen e ele adentrou.

    Rosnando, Safira se ergueu, babando como um animal em cólera. Seus olhos brancos deixavam claro que ela estava fora de si.

    — Alunys, cuidado!

    Empunhando sua foice, Safira partiu para cima da companheira, mas uma barreira de terra a impediu.

    Woosh!

    Safira cortou a parede ao meio, visualizando sua presa. Levou a foice lá atrás e preparou-se para cortar Alunys.

    Ting!

    Liena defendeu aquele golpe pesado, sendo jogada para o lado, bem dentro de uma residência, em um estrondo.

    Boom!

    Nenhum deles soube como proceder. Safira estava fora de si, e era nítida sua tentativa de os matar, mas nenhum deles queria continuar com aquele embate.

    — Safira! — bradou Alunys — Sou eu, Alunys, sua amiga!

    Safira nada fazia além de rosnar.

    — Esquece! — disse Loaus — Aquele cara fez algo com ela, algo que não vamos conseguir reverter se não formos com tudo!

    — Quer que lutemos contra ela? — indagou Kurth — Ficou louco?

    — Tem ideia melhor? Ela está tentando nos matar! Ou a gente reage, ou já era!

    — Tsc!

    Liena saiu dos escombros massageando o pescoço.

    — Meu irmão tem razão, Kurth, você e Alunys têm um laço maior com ela do que nós, mas deixem os sentimentos de lado e enxerguem a situação em sua totalidade. Essa coisa não é a Safira que vocês conhecem.

    Após ergueu os braços, pedaços de pedra se fundiram a Liena cobrindo seu ante braço e suas canelas.

    — Falta pouco para as pessoas conseguirem evacuar com segurança, se quiserem ir, fiquem à vontade. Ficarei aqui e impedirei Safira de avançar.

    Alunys e Kurth relutaram por um momento, mas concordaram com o que sua companheira disse. O mais importante era segurar Safira naquele lugar até aquela insanidade toda passar.

    — Vamos nocauteá-la! — bradou Kurth — É nossa melhor opção, está comigo, Alunys?

    Após engolir o seco, ela assentiu.

    — E-Estou!

     


    Correndo pela rua, Colin desviada de uma multidão apavorada que lutava pela própria vida.

    — Socorro!

    A lâmina dançarina avançava, decapitando todo Nortenho que encontrasse pelo caminho.

    As pessoas que ele salvou o reconheceram de imediato, a maioria estava no coliseu, torcendo por sua vitória.

    — Colin, o elfo negro! — berrou um senhor no chão de frente para sua casa em chamas.

    A maioria das pessoas temia aquele nome, mas desta vez elas se sentiram aliviadas ao pronunciá-lo.

    — Senhor Colin! — Berrou uma mulher prenha. — O meu marido precisa de ajuda, por favor, me ajude!

    Os olhos de Colin se concentraram nos olhos dela. Aquela mulher parecia realmente desesperada.

    “Tsc!”

    — Vai ser rápido! — disse Leona ao seu lado — Confia em mim, mestre Colin.

    Desviar seu caminho para ajudar os outros não estava em seu plano, mas resolveu ajudar.

    — Me leve até eles!

    A mulher, corria enquanto apoiava a mão na barriga. Com uma barriga daquele tamanho, ela não tardaria a dar à luz. Assim que dobrou a esquina, viu um homem preso nos escombros de onde foi uma casa.

    Outros homens tentavam erguer a estrutura sem muito sucesso.

    — Colin, o Elfo negro e sua companheira vieram ajudar! — anunciou a mulher com lagrimas de felicidade.

    Ao chegar, não havia somente um homem debaixo dos escombros, haviam também crianças. Colin apoiou a mão debaixo da estrutura de madeira e a levantou devagar para que nada desabasse e esmagasse alguém no processo.

    Como um gato soturno, Leona adentrou os escombros e suas seis caudas enrolaram no corpo das crianças e do homem, os salvando da morte certa.

    As crianças correram até seus pais e aquele homem que salvou deu um abraço apertado na esposa.

    — Muito obrigado! — Gracejaram os moradores em prantos — Vocês salvaram nossos filhos!

    Colin observou aquilo em silêncio.

    Aquela imagem mexeu com ele.

    — Preciso ir! — disse ele — Saiam da cidade o mais rápido possível.

    Os moradores assentiram e Colin partiu correndo pela rua. Sentiu a mana de Brighid ao longe e forçou uma parada, derrapando.

    Virou a cabeça para o lado e viu parte da capital ser coberta pela mana de Brighid. Ponderou em retornar de imediato, mas havia algo que ele tinha que fazer.

    Ele apertou o passo e foi em direção a residência das crianças. Não tardou até ele chegar. Seu coração quase saiu pela boca quando viu a porta aberta e sem a maçaneta.

    Ao colocar o pé para dentro viu coisas quebradas e ficou ainda mais tenso. Algo dentro dele dizia para que não continuasse, mas ele tinha que conferir se estava tudo bem.

    Transformou Claymore em espada e sentiu Leona segurar seu pulso. A pandoriana estava hesitante. Suas orelhas abaixadas e os lábios franzidos colocaram o coração de Colin em dúvida.

    — Mestre Colin… Sinto cheiro de sangue.

    Leona era a pessoa que mais o entendia no mundo. Ela não se assustou devido ao cheiro de sangue, mas ao imaginar como Colin ficaria se ele acabasse vendo o que não devia.

    Os pés de Colin relutaram antes de dar o próximo passo, mas ele deu. Seus olhos arregalaram ao avistar o corpo de Deb no chão. Colin recuou um passo e sentiu algo entalado na garganta. Ele se importava com Deb, ela era uma mulher gentil e boa com as crianças. Seus olhos desceram até os ferimentos no abdômen.

    Criou coragem e se aproximou de Deb, agachando-se para encará-la melhor.

    Aquilo doeu bem mais do que qualquer apunhalada que levou em toda sua vida.

    Fechou os olhos dela gentilmente e a ajeitou no chão com cuidado.

    Foi a vez de Leona recuar um passo.

    — Colin…

    — Estou bem, não precisa se preocupar.

    Leona sabia que ele estava mentindo. A alma de ambos estava conectada. Ela compreendeu os sentimentos dele de imediato. Colin estava se segurando, mas em seu peito ardia uma raiva que Leona nunca sentiu.

    Colin ergueu e olhou ao redor, vendo um par de pernas e uma porta aberta, pernas de um garoto. Sua respiração acelerou conforme ele se aproximava e, o que ele mais temia, aconteceu.

    Sentiu seu estômago embrulhar ao observar o corpo de Potter estirado no chão frio. Suas mãos começaram a tremer e ele respirou fundo.

    Se agachou e fechou os olhos do garoto.

    Após ver Potter daquele jeito, ele já imaginava o que encontraria naquela casa. Ao longo desse último ano, o Colin desfragmentado de antes se reconstituiu lentamente pelos laços que fez, mas tudo isso estava prestes a ruir.

    Seus pensamentos estavam ficando embaralhados. Lembrou da sua mãe em um caixão, do seu pai, de sua família desfragmentada conforme sua mãe definhava em uma cama de hospital.

    Não faltava muito para ele quebrar.

    Leona continuou parada, tremendo de medo daquele homem com quem dividia a alma. Colin se ergueu e caminhou até os fundos. Nada encontrou além de uma porta aberta. Subiu as escadas em direção ao quarto das crianças e não encontrou nada. Em partes se sentiu aliviado, aquilo significava que o resto das crianças poderia estar bem, era nisso que queria acreditar.

    Caminhou para os fundos e viu uma porta aberta.

    Avançou mais alguns passos e foi para fora, olhando para os dois lados.

    As crianças não tinham uma forma de mana concreta, então era impossível identificar suas manas em meio a tantas outras.

    — Leona! Vamos!

    — T-Tá!

    Leona correu para fora para se juntar ao seu mestre.

    Os olhos de Colin arregalaram-se e Leona notou, olhando para onde os olhos de Colin se concentravam.

    Ela também arregalou os olhos com o que viu.

    Um homem, vestindo uma capa negra, estava de pé no meio da rua, um homem que se parecia muito com Colin, mas a mana de ambos era completamente diferente.

    Colin estava tão surpreso que se esqueceu por um instante tudo que viu segundos atrás. Ele duvidou de sua própria visão a ponto de olhar para Leona e constatar que ela estava vendo a mesma coisa que ele.

    Foi então que voltou a si após engolir o seco.

    — Pai, é você?

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