Índice de Capítulo

    Ting!

    Coen defendeu-se das lâminas que vieram de seus flancos com as mãos nuas. Ele cruzou olhares com Leona e em seguida com Colin.

    — Vocês têm bastante força, mas é só isso?

    Colin nem ao menos estava prestando atenção no que seu pai dizia. Ele estava ignorando tudo ao redor, focando apenas em arrancar a cabeça daquele homem a sua frente.

    Ele e Leona se afastaram num salto.

    — Continuará fugindo, garoto?

    A lâmina dançarina avançou contra o pescoço de Coen e ele ergueu a mão para defender daquela espada, mas Colin e Leona avançaram novamente.

    Coen se abaixou, deixando a lâmina passar direto.

    “Esperto, mas não vai me vencer só com isso!”

    Erguendo o braço, Coen conjurou uma espada de relâmpagos carmesim, defendendo-se da Claymore de Colin no seu flanco esquerdo, o empurrando para o lado.

    Foi a brecha que Leona esperava para atacar.

    Ting!

    Coen se defendeu, mas ele não esperava que a adaga na mão da pandoriana fosse de ante magia. Sua espada carmesim estilhaçou como vidro.

    Colin apertou o cabo de Claymore e avançou com uma estocada no coração do pai, mas ele adentrou um portal antes de ser atingido, saindo em cima de uma residência.

    Ele encarou os dois lá em baixo.

    “Eles conseguem trabalhar bem em equipe. Colin parece ser bom em ler movimentos, e aquela pandoriana parece ter o mesmo estilo de combate que meu filho. Se você conseguisse usar portais, essa luta poderia ser difícil.”

    — Você tem bons movimentos, mas não vai conseguir me venc-

    [Passo Fantasma]

    Crash!

    Coen foi recebido com um corte no pescoço, mas foi um corte superficial, porém, foi o bastante para assustá-lo. Colin queria decapitá-lo, mas a pele de seu pai era tão dura quanto a sua.

    Após apoiar a mão no pescoço, Coen virou para trás, encarando o filho com os olhos arregalados.

    — Sabe, pai, esse papo de “você não vai me vencer”“sou mais forte que você”, fica cansativo após ouvir tantas vezes. Então por que a gente não luta a sério?

    “Baixei a guarda por um momento…” pensou Coen “Entendi… Esse garoto é perigoso. Os boatos que circulam sobre ele devem ser verdadeiros, e para piorar, ele tem um caso com uma das apóstolas de Drez’gan. Queria ver até onde ele conseguia ir em um combate, mas não posso. Ele irá explorar meus pontos fracos e usá-los contra mim. Tenho que matá-lo antes que ele se junte a Saphielle. Com esse talento, seria trabalhoso enfrentar os dois juntos.”

    — Lutar a sério, você diz… — Coen abriu um sorriso — Pois bem, vamos lutar a sério!

    Uma luz esverdeada iluminou o céu.

    “Brighid?” pensou Colin.

    Um corte gigantesco veio do outro lado da cidade. Ele ia em direção ao céu. Conforme subia, mais forte o corte ficava, até desaparecer como fumaça após alcançar a termosfera.

    Foi uma visão capaz de causar calafrios.

    Coen engoliu o seco. Ele sabia que Volfizz havia ido de encontro aquela mulher, mas não imaginou que a mana dela pudesse ofuscar a de seu parceiro, afinal, ele havia ficado séculos roubando mana das criaturas místicas.

    — Darei a você sua luta, garoto — Coen crispou os dedos — Não me culpe pelo que acontecer daqui em diante.

    As tatuagens de Coen brilharam em alvo e faíscas carmesim rodeavam o seu corpo.

    Woosh!

    Colin nem viu seu pai chegando. Coen estava tão rápido que conseguiu socar o abdômen de Colin, não dando ao filho a menor chance de defesa.

    Boom!

    Após o soco, Colin desapareceu em meio as residências.

    Woosh!

    Foi a vez de Leona ser surpreendida com um golpe no abdômen, mas ela foi mais rápida, bloqueando o ataque com maestria, derrapando alguns metros.

    Coen avançou e Leona se recuperou de imediato, apertando os cabos de suas lâminas. Ambos avançaram contra o outro.

    Ting! Ting! Ting!

    Ouviu-se o tilintar incessante de lâminas seguir para o fim da rua. Leona era mais lenta, porém, a capa de agilidade que trajava a deixou em pé de igualdade com Coen.

    Os movimentos de Leona eram quase perfeitos. Sua adaga ante magia conseguia bloquear as investidas mais perigosas de Coen, enquanto tentava atacar com sua outra lâmina, mas nenhum deles havia sequer arranhado o outro.

    Era impossível acompanhar aquela batalha com os olhos.

    Leona concentrou mana nos braços e eles enrijeceram, ganhando músculos robustos.

    Ting!

    Apenas com força bruta, Leona rebateu as lâminas de Coen, jogando-o para trás. Enquanto derrapava, Coen notou que Leona se afastou rapidamente.

    Quando se deu conta, viu Colin metros acima segurando uma alabarda energizada com raios negros. As veias do braço dele quase saltavam para fora devido à força abissal exercida sobre o cabo. Após levar o braço lá atrás, Colin a lançou enquanto seu pai tentava se equilibrar.

    O som daquela coisa rasgando o ar pôde ser ouvido por parte da capital, o rugido de um poderoso trovão.

    Cabrum!

    No mesmo instante que Colin lançou sua alabarda, Leona dobrou os joelhos e saltou na direção de seu mestre. Assim que o alcançou, Colin apoiou os pés no braço estendido de Leona que ganhou ainda mais músculos.

    Woosh!

    Com toda sua força, Leona o lançou o mais alto que conseguiu. Lá de cima, Colin viu toda capital. Com uma rápida corrida de olho, ele viu uma cratera na região onde ficava localizada o coliseu, e viu um clarão não muito longe de onde ele estava. Bledha e o imperador ainda travavam uma batalha atroz acima das nuvens.

    Ele não focou em mais nada, mesmo que ainda tivesse focos de batalhas acontecendo próximo à entrada da capital.

    Ele sabia que Brighid lutava no coliseu, mas ele não se preocupou com ela, afinal, Brighid era o ser mais poderoso que conhecia.

    Colin começou a cair.

    Apoiou a mão na cintura e puxou sua adaga dourada que havia roubado de Vrumud. Lá em baixo, Coen havia conseguido bloquear a poderosa alabarda conjurando um círculo mágico, rebatendo-a para longe.

    Assim como Vrumud fazia, Colin mudou a forma da adaga, tornando-a uma lança dourada. Executando o mesmo movimento anterior, Colin levou o braço lá atrás e lançou o projétil com toda sua força.

    Cabrum!

    Coen olhou para cima, erguendo a mão direita para bloquear o segundo ataque.

    — Ataques de energia concentrada são inúteis contra mim, você já deveria ter percebido isso.

    Algo chamou a atenção de Coen.

    No canto de sua visão periférica, ele viu Leona empunhando a alabarda que havia sido rebatida. Ela concentrou tanta mana quanto Colin no ataque anterior, e lançou a alabarda de volta no seu alvo.

    Boom!

    Uma explosão energizada envolveu o campo entorno de Coen. A explosão levou residências intocadas e conseguiu fazer o chão rachar a ponto de engolir algumas casas.

    Colin chegou ao solo num estrondo, e Leona se apressou para ficar ao seu lado como um cão protegendo o dono.

    Eles sabiam que ainda não havia terminado.

    Antes dos projéteis o atingir, Coen adentrou um portal, escapando ileso.

    — Impressionante! — disse Coen em cima de uma torre quebrada — Você e sua pandoriana tem uma boa sinergia em combate, a melhor que vi em séculos, mas você ainda tem muito o que aprender, filho.

    Coen desapareceu em um piscar de olhos, apareceu atrás de Colin e pressionou a cabeça de seu filho contra o chão de maneira brutal.

    Bam!

    Com o braço direito, ele segurou o pontapé de Leona e a jogou de lado. Apesar de não colocar tanta força, aquele movimento foi forte o suficiente para fazê-la desaparecer ao longe. Antes que Colin pudesse se ergueu, Coen segurou a camisa dele e desapareceu.

    Woosh! Baam!

    Reapareceu frente um monumento de pedra, enfiando o rosto de seu filho nele, deixando o monumento em pedaços. Leona veio ao longe avançando como um flash azul.

    Grab! Baam!

    Coen agarrou o pescoço da pandoriana e a bateu no chão.

    — Primeiro, acabarei com você!

    A mana de Leona começou a ser drenada.

    Coen ouviu o relato da bruxa gélida sobre o que havia acontecido no abismo. Se aquela pandoriana liberasse uma restrição de nível três, as coisas se complicariam, e muito.

    Leona começou a murchar.

    Não só os músculos dela diminuíram, mas ela como um todo, a ponto de até mesmo suas seis caudas regredirem a uma única cauda.

    Pandorianos ficam mais fortes conforme seus mestres ficam, o que Coen fez foi cortar temporariamente essa conexão entre as duas almas a ponto de conseguir manipular a mana de uma delas.

    Sem o laço entre as almas e as manas, Leona se tornou uma presa fácil. Uma mulher que até então era tão forte quanto Colin, foi reduzida a seu estado inicial de quando ganhou vida.

    A pequena Leona, reduzida a uma criança, encarou Coen com olhos cheios de pavor.

    Coen começou a estrangulá-la.

    — Adeus, raposinha!

    Bam!

    Coen defendeu de um brutal pontapé de Colin, derrapando por metros. A pancada foi tão forte que os ossos de seu braço estavam vibrando.

    Leona, que estava encolhida no amontoado de roupas, encarou as costas largas de seu mestre.

    — Arrg!

    Colin sentiu uma pontada no peito.

    Sua alma sentiu aquela mudança repentina de Leona, até mesmo sua mana começou a desregular.

    — Cof! Cof! — Ele apoiou os joelhos no chão, sentia como se sua cabeça fosse explodir.

    — Como suspeitei… — Coen ficou frente a Colin — Metade do que você é hoje é devido à pandoriana de classe especial. Sem ela, você voltará a ser um nada.

    Colin cerrou os olhos e suspirou, abrindo um sorriso de canto. Ele ergueu a cabeça, encarando seu pai nos olhos.

    — Ficou tão assustado que decidiu tirar minha pandoriana da jogada hehe, isso só me diz que você estava com medo de ser derrotado por mim!

    — Acredita mesmo nisso? — Coen agachou na altura do filho — Você ainda é fraco, mais fraco que sua mãe enferma a beira da morte.

    Woosh! Grab!

    A lâmina dançaria veio na direção do pescoço de Coen, mas ele a segurou com uma mão.

    — Sem mais truques.

    Scrash!

    Coen envolveu a lâmina com uma poderosa descarga elétrica e ela estilhaçou e milhares de pedaços. Após isso, ele cerrou os punhos e socou o rosto do filho, fazendo-o capotar pelo pavimento destruído.

    Colin derrapou e se recuperou, mas foi atingido por outro murro no queixo. Coen concentrou mana em seus punhos e começou a esmurrar seu filho. Cada golpe era mais forte que o anterior.

    Bam! Bam! Bam!

    O corpo de Colin não havia se recuperado, então ele nada pôde fazer contra os avanços do pai. Apesar de ter uma pele resistente, nem mesmo ela poderia o salvar após receber tantos golpes.

    Fazia tempo que Colin não sentia a dor de uma costela quebrada, um osso trincado, ou sentia pontadas de dor por todo corpo.

    Os olhos de Leona encheram de lágrimas e ela tentou correr até seu mestre, mas tropeçou nas próprias roupas.

    — Você é bastante resistente — Coen encarava o filho encharcado de sangue — Acredito que sua resistência deva ser superior ao de um monarca da pujança comum. Não esperava menos do meu filho.

    Colin não sabia como estava de pé depois de tudo aquilo.

    Sua respiração pesada e a ardência que percorria todo seu corpo, deixavam sua visão enegrecida.

    Mais alguns golpes e ele desabaria.

    Cof! Cof!

    Colin encarou o pai nos olhos e abriu seu sorriso ensanguentado. Mesmo sentindo dor por todo corpo, ele não poderia estar mais feliz. A sensação de uma luta até a morte ainda continuava sendo tão prazerosa quanto as melhores noites que passava com Brighid.

    — Eu havia me esquecido, pai — Colin curvou o corpo, quase arrastando os braços no chão — A sensação maravilhosa que é estar prestes a morrer!

    “Esse garoto…”

    Coen havia percebido que deixar seu filho vivo seria um problema. Colin era quase um monarca, um feito que conseguiu em cerca de um ano. Ele ainda não havia aprendido a usar portais, e mesmo assim conseguia ser um oponente relativamente difícil.

    — Adeus, filho. Não precisa se preocupar, logo sua família se juntará a você.

    Coen conjurou sua espada carmesim e, antes de avançar, olhou para o lado, avistando algo vindo em sua direção.

    Boom!

    Algo o atingiu com uma força descomunal, arrastando Coen por quase duzentos metros até explodir em uma torre. Colin olhou para onde o projétil veio e sentiu uma mana familiar.

    Woosh!

    Brighid recolheu as asas de borboleta esmeralda e pousou ao lado de Colin. Ele não a reconheceu em um primeiro momento.

    A mana dela estava diferente, o corpo, revestido por uma armadura demoníaca e até mesmo seu inesquecível cabelo esmeralda estava de outra cor.

    O olhar dela era assustador, mas mudou completamente quando viu Colin naquele estado, transformando-se em olhares de preocupação.

    — Colin?! — Ela foi até ele — Pelos Deuses, quem fez isso com você?

    Apoiou as mãos no rosto dele. Mesmo diferente, o toque dela continuava gentil.

    — Brighid… É mesmo você?

    — Não fala, irei curá-lo!

    Colin sentiu um calor afável, e suas feridas mais graves foram curadas, até que o nariz de Brighid começou a sangrar. O corpo dela já havia alcançado o limite há muito tempo, nem mesmo ela sabia se conseguiria sobreviver após desfazer aquela forma, mas ainda haviam inimigos poderosos entorno.

    Se ela parasse, Colin poderia acabar morto.

    — Brighid, seu nariz…

    — Eu sei, mas como se sente? Melhor?

    — Sim…

    O enorme Koe cobriu Leona com a manta de agilidade e a trouxe carregando no colo. Caspiam estava em cima de uma torre de vigilância, mirando seu olhar onde Coen havia sido arremessado.

    — Colin, preciso que saia da capital o mais rápido que conseguir — Koe entregou Leona embrulhada pela capa nos braços de Colin — Pode deixar que assumo daqui.

    — E você?

    — Vou assim que terminar aqui, tudo bem?

    Colin sentiu haver algo de errado. Assim que Brighid apareceu, sua insanidade se esvaiu, e ele percebeu estar em uma situação delicada.

    Sua esposa estava grávida, e sua prioridade era a vida dela.

    — Vem comigo! Parte da capital já deve ter evacuado, a gente ainda consegue se salvar!

    Brighid forçou um sorriso.

    — Prometo que sigo você assim que isso acabar.

    Colin engoliu o seco.

    — Mas-

    — Isso não tem discussão! — O tom de voz dela fez Colin aceitar a situação de imediato.

    Ele assentiu.

    — O homem que você atingiu… Ele é o meu pai…

    Ela já desconfiava.

    — Quer que eu o deixe vivo?

    — Não, só quero dizer que ele é perigoso, então vamos sair daqui e pensar em plan-

    — A mana de Safira está alterada — disse Brighid — Ela ainda está aqui, então você tem de ir ajudá-la!

    — Safira?

    — Sim! Assim que terminar aqui, alcanço vocês, prometo!

    Colin não confiou nela, mas queria acreditar.

    — Estou esperando você fora dessa cidade.

    Ela abriu um sorriso de canto.

    — Eu te amo! — Brighid ficou na ponta dos pés e o beijou — Nunca se esqueça disso, tá? Agora vai!

    — Eu também te amo.

    Colin foi até a alabarda e a lança cravadas no chão. Segurou Leona com um braço e transformou Claymore em um anel. Em seguida transformou a lança em uma adaga, a guardando na bainha da cintura.

    Cruzou olhares com Brighid uma última vez e partiu em disparada para onde conseguia sentir a mana de Safira.

    Dos escombros, saíra Volfizz e Coen. Brighid havia lançado o caído em Coen assim que sentiu a mana de seu marido se esvair lentamente.

    — Essa é a apóstola de Drez’gan? — indagou Coen limpando o sangue do nariz — Quanto poder, me impressiona saber que meu filho conseguiu alguém assim como sua consorte.

    Volfizz ainda estava inteiro.

    — Cuidado! — Alertou o caído — Ela consegue absorver qualquer ataque que eu mande, mas de alguma forma ela consegue devolver os ataques que absorve com o dobro de poder.

    Coen crispou os dedos.

    — Que bonitinho, veio salvar o incompetente do meu filho? É uma pena que você não conseguirá se salvar!

    Clap! Clap! Clap!

    Todos olharam para cima.

    Sentado no topo dos escombros que um dia foi uma casa, Graff batia palmas exibindo um sorriso de orelha a orelha. O vampiro estava em sua forma adulta, acompanhado de Lestat e Orlock.

    — Tenho que admitir! — Ele abriu os braços — Isso, sim, é um entretenimento melhor que os livros. A bonitinha ali botou os caídos para correr, bem como previ que aconteceria. E olha quem está aqui, Volfizz, não é? E esse deve ser o seu chefe. Sua semelhança com o pirralho errante é assustadora.

    — Graff… — murmurou Volfizz.

    — O próprio! Sabe o que isso me faz lembrar? Da noite em que vocês, caídos, massacraram meu clã, com um acréscimo, agora, da bela Brighid, a monarca arcana de tríade e apóstola do Deus morto! — Graff ficou de pé — Pensa que não sei que os caídos querem me selar? — Ele apontou o indicador para Brighid — Mas vocês não contavam com ela, né? Os seres mais poderosos desse plano estão reunidos aqui, e eu estava ponderando acabar com nossas diferenças de uma vez por todas!

    Brighid limpou o sangue que escorria de seu nariz, borrando sua bochecha. O canto de seus lábios começou a sangrar também. A coroa que pairava sobre sua cabeça rachou, assim como parte de sua armadura.

    Seu tempo estava acabando.

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