Índice de Capítulo

    Os caídos, vampiros e Brighid estavam se encarando. Apesar de cada um ser seguro de si, nenhum deles queria dar o primeiro passo naquele confronto.

    Qualquer erro poderia ser fatal para ambos os lados.

    A armadura de Brighid estava fragmentando-se, e ela começava a sentir fortes dores de cabeça. Até mesmo seus dois espectros começaram a se desfazer.

    Ela não tinha mais tempo.

    Após dobrar os joelhos, ela avançou na direção de Coen e Volfizz, enquanto seus espectros partiram para cima dos vampiros.

    — Então você fez o primeiro movimento! — Graff também dobrou os joelhos e abriu um largo sorriso — Como esperado de você, fada!

    Orlock e Lestat também se prepararam.

    Lestat desembainhou sua espada e Orlock conjurou um enorme círculo roxo na direção dos espectros.

    Koe segurou a espada ao lado do corpo e avançou contra Graff, que defendeu aquela enorme espada negra com as unhas afiadas.

    Ting!

    — Não quero enfrentar os espectros, quero enfrentar você, fada!

    Cerrando o punho, Graff socou Koe no abdômen, destruído todo seu corpo da cintura para cima.

    Crash! Boom!

    Fora um golpe tão poderoso que uma avassaladora onda de choque varreu tudo atrás de Koe por quase trezentos metros, transformando até mesmo concreto bruto em poeira, esmigalhando corpos em putrefação como se fossem feitos de barro e abrindo um caminho deserto metros a fio.

    Acima do que restou de Koe, um círculo roxo ganhou forma. Do círculo, foi exercida uma pressão de toneladas, e suas pernas foram completamente esmagadas.

    Espectros, quando invocados em outro plano e destruídos, apenas retornavam ao seu plano de origem.

    A perda repentina de Koe afetou o corpo de Brighid severamente. Enquanto corria na direção de Coen, sentiu uma dor aguda no estômago, então caiu, capotando por alguns metros.

    Fez uma tremenda força para se erguer, mas seus braços pareciam não ter força o suficiente. Golfou mais uma vez e olhou para Coen metros à frente.

    Caspian se desfez em pequenas partículas, deixando Brighid sozinha contra os caídos e vampiros. A armadura que protegia o corpo dela quebrou-se por completo, seu cabelo alvo ficou totalmente preto e aquela, que chegou a ser um oponente poderoso minutos atrás, não se sentia um pingo de magia.

    Brighid estava reduzida a uma pessoa comum.

    Ela sentiu uma dor aguda no ventre e apoiou nele as duas mãos. Cerrou seus dentes ensanguentados e gemeu de dor enquanto seus oponentes encaravam felizes aquela cena.

    — Bom, senhores — Graff abriu os braços — Parece que meu alvo está incapacitado, então o que me restou foram vocês.

    — Volfizz! — chamou Coen — Segure estes três, preciso deixar tudo preparado.

    Volfizz assentiu e Coen adentrou um portal.

    — Seu chefe resolveu deixar você sozinho? — Graff não poderia ter ficado mais feliz — Você está morto!

    Boom!

    Aparecendo frente a Volfizz em uma velocidade monstruosa, Graff o socou com uma força brutal. Os vidros entorno que ainda estavam inteiros se estilhaçaram devido ao impacto, e Volfizz foi lançado longe.

    Sem perder tempo, Graff partiu em disparada a Volfizz, não dando folga ao seu oponente.

    Orlock e Lestat continuaram ali, encarando o cenário desolador. Após saltar de onde estavam, eles avançaram até Brighid no chão. Ela continuava se contorcendo de dor.

    — É melhor matá-la — sugeriu Orlock — A dor dela não vai passar tão cedo. Melhor morrer do que sofrer assim por horas, quem sabe dias.

    — Ela é importante para o errante Colin — Lestat devolveu a espada a bainha — Se ela morrer, ele pode vir atrás de nós, pior, isso pode colocar Morgana contra a gente também.

    — Acredita que Morgana é tão tola a ponto de se virar contra o próprio clã por um garoto?

    — Você viu como ela mudou desde que o garoto apareceu. Ela o trouxe até nosso castelo, isso nunca havia acontecido antes. O garoto ficou conosco por meses junto dos amigos e não viraram janta. — Lestat encarou o primo — Convivemos com essa mulher, com os amigos dela, até mesmo ensinamos a eles uma coisa ou outra. Tem mesmo a frieza de matá-la nesse estado?

    Orlock engoliu o seco.

    A terceira geração não era como Graff que via tudo e todos de maneira utilitarista. Somente Graff seguia ávido naquela invasão. Seus sobrinhos não queriam lutar, não contra um amigo.

    Lestat se abaixou e apoiou a mão na testa de Brighid.

    — Isso vai diminuir um pouco sua dor.

    O corpo dela foi envolto por uma luz avermelhada e suas dores fortes no abdômen foram sumindo lentamente, até se tornarem latejos suportáveis.

    Brighid sentou-se no chão e os encarou.

    Ela não imaginou aquele cenário, não com Graff por perto.

    — Obrigada…

    Lestat se levantou.

    — Não há de quê, mas fiz a dor diminuir por hora, ela deve retornar a qualquer momento. Consegue se levantar?

    — Sim…

    Esforçando-se, Brighid se ergueu.

    — Saia daqui o mais rápido possível, meu tio não vai ficar feliz se ver o que fizemos.

    Brighid assentiu.

    — Lestat, Orlock, obrigada…

    Ambos fizeram que sim com a cabeça.

    Boom!

    Volfizz foi lançado em uma residência do outro lado da rua próximo a eles.

    Graff havia retornado, e sua expressão não era das melhores.

    — Sobrinhos… isso é o que meus olhos veem?

    Lestat deu um passo à frente, ficando frente a Brighid.

    — A mulher não pode mais lutar. Deixe-a, tio.

    — Idiota! Eu queria que os ferimentos a matassem lentamente, é isso que ela merece por servir ao Deus Morto, mas vocês, idiotas, tinham que estragar isso. Agora tenho que matá-la com minhas próprias mãos. Saiam da frente.

    Eles não se moveram um centímetro.

    — Você está obcecado, tio… Vamos somente acabar com os caídos e ir embora.

    Graff exibiu seu sorriso pontiagudo e crispou os dedos.

    — Vou cuidar dessa rebeldia, depois nós conversamos.

    Antes de Graff avançar, um gigantesco portal fora aberto no céu. De dentro, despontou primeiro uma narina, depois uma cabeça inteira, o pescoço, as patas, as asas e por fim, a cauda.

    Aquilo era um dragão de cobre.

    Fazia séculos que ninguém avistava um dragão, todos acreditavam que eles haviam sido extintos na antiga era, junto aos errantes e outras raças.

    Outro dragão deixou o portal, depois mais outro e mais outro. Logo o céu se entupiu deles. Haviam tantos que suas silhuetas indo de lá para cá não deixavam que o brilho da lua chegasse ao solo.

    Volfizz deixava os escombros com diversas escoriações pelo corpo. Ele também se assustou com o número de dragões reunidos.

    — Coen, seu maldito, não me diga que você pretende…

    Os dragões rugiam, e o bater de suas asas causava sons assustadores. Aquela era uma visão de deixar o queixo caído.

    — Você, apóstola do Deus Morto! — Coen saiu de dentro de um portal, ficando a metros de seus oponentes — Você invoca soldados, eu invoco um exército inteiro!

    “A magia deles não vai derrubar o véu” pensou Coen “Mas deve deixar uma grande rachadura. É uma pena que os dragões mais poderosos estejam presos naquele pingente”.

    — Roaar!

    Um enorme dragão vermelho avançou na direção de Graff e seus companheiros. O vampirou achou aquilo maravilhoso. Ele dobrou os joelhos e saltou em direção a criatura. Conjurou uma longa espada negra e sem esforço arrancou a cabeça do dragão, que veio ao chão em um estrondo junto a seu enorme corpo.

    Asas negras apareceram nas costas de Graff, e ele continuou indo de encontro a incontáveis dragões, matando um por um.

    Era para ser uma situação exasperante, mas Graff estava se divertindo. Dragões também avançaram em Brighid e nos vampiros, mas Orlock deu jeito neles usando seu círculo mágico e exercendo sobre eles sua magia de gravidade, esmagando-os no chão.

    — Fantástico! — Coen encarava os dragões desabarem entorno da capital — Simplesmente fantástico.

    A pequena rachadura no céu ficava maior a cada segundo, e outra abria no chão devido às quedas de seres enormes pesando toneladas.

    Coen adentrou o portal e apareceu ao lado de Volfizz, afastando os dois para longe dali.

    O nariz de Coen sangrava sem parar.

    Ele ameaçou cair, mas Volfizz o segurou.

    — Bledha ainda não terminou com Ultan?

    — Acredito que não.

    — Onde estão Ehocne e os outros?

    — Acredito que ainda se recuperando do confronto contra a apóstola do Deus Morto.

    Coen respirou fundo e se recompôs.

    — As coisas terminaram por aqui, vamos pegar a caída e sair desse lugar.

    — Devo avisar Bledha também?

    — Não, deixe-a acabar com Ultan. — Coen caiu de bunda no chão — Deixe-me recuperar o fôlego, está bem?

    — Claro, senhor.

    Dragões vermelhos começavam a incendiar toda capital, os esverdeados cuspiam nuvens ácidas, que derretiam até concreto e os azuis congelavam tudo pelo caminho.

    Famintos, alguns continuaram avançando contra aqueles lá em baixo, outros, se dispersaram, aproveitando estarem livres.

    Graff continuou avançando, indo cada vez mais distante.

    Swin!

    Lestat lançou um corte arqueado em um dragão prateado-menor, rasgando-o ao meio. Suas metades vieram ao chão num estrondo.

    Boom!

    — Temos que sair daqui! — berrou Orlock competindo com o som dos rugidos e do bater de asas — Tem muito deles!

    Orlock conjurou uma barreira, mas um enorme dragão esverdeado cuspiu ácido incessantemente, rachando o seu círculo e o quebrando.

    — Merda!

    Lestat preparou para cortar a criatura, mas não precisou.

    Algo caiu do céu, esmagando a cabeça do dragão contra o solo. A carcaça do dragão se arrastou por metros, até parar a cinco metros dos vampiros. Em cima da cabeça esmagada da criatura estava Morgana.

    — Morgana?! — exclamou Orlock — O que você faz aqui?

    Ela encarou Brighid atrás dos primos.

    — Se afastem dela! — Ela ficou em guarda — Vocês não vão machucá-la!

    — Ficou maluca?! Não vamos machucá-la, na verdade, nós a salvamos.

    Com uma das mãos apoiada no abdômen, Brighid saiu de trás dos vampiros.

    — Eles não estão mentindo… — Ela sentiu as pernas bambearem e caiu de joelhos no chão.

    — Cuidado! — Morgana saltou da cabeça do dragão e a ajudou a ficar de pé, passando o braço dela por seu ombro. — Você não está nada bem, não consigo nem sentir mana em você, o que aconteceu?

    Brighid abriu um sorriso abatido.

    — É uma longa história…

    — Morgana, tire-a daqui! — Ordenou Lestat — Pode ser perigoso até mesmo para você se tio Graff sair de seu frenesi.

    — Por quê? Eu só vi-

    — Veio proteger o errante e seus amigos, não foi?

    — B-Bem…

    — Foi o que pensei. Tire ela daqui, rápido!

    — Tenho que encontrar o Colin e-

    — Não dará tempo, tio Graff já matou mais da metade dos dragões, e quando ele terminar, vai matar essa mulher, e ela é importante para o errante.

    Morgana engoliu o seco e assentiu, pegando Brighid no colo.

    — E vocês?

    — Tio Graff irá nos repreender, talvez nos torturar por alguns dias, mas não vai nos matar. Com você é diferente, ele sabe que o errante atrapalha suas decisões, e ele não poupará esforços para matar ele e seus amigos, mas você não deixará, acertei?

    Morgana engoliu o seco.

    — Por que não fogem do tio Graff?

    — Ainda não é a hora, é melhor você ir.

    A vampira franziu os lábios.

    — Se cuidem!

    — Você também!

    Ela dobrou os joelhos e avançou em disparada pela rua. Brighid encolheu-se em seu braço. As pernas longas de Morgana a deixaram extremamente rápida.

    Um dragão estava prestes a abocanhá-la, mas foi abocanhado antes pela gigantesca serpente branca de Morgana.

    — Isso aí, Nagini!

    Ela foi para cima da serpente e dobrou os joelhos, saltando em direção aos céus. Outro dragão foi abocanhado, mas dessa vez foi por sua baleia Willy.

    — Willy, tira a gente daqui!

    A baleia bufou.

    Morgana queria voltar e ajudar Colin, mas seus primos estavam certos. Graff a mataria se considerasse que ela não lutaria por sua causa.

    A vampira achava o errante bem forte, então julgou que ele ficaria bem de qualquer forma.

    Trick!

    Ela ouviu o barulho de algo rachando, foi quando olhou para o céu e viu uma enorme rachadura. Era algo grande demais para que fosse ignorado.

    — Mas o que…

    Coen havia se recuperado.

    — Volfizz, quanto de mana ainda lhe resta?

    — O bastante.

    Coen assentiu e deu dois tapinhas no ombro do amigo.

    — Ainda acredita?

    — Senhor?

    — No nosso sonho.

    Volfizz assentiu.

    — Claro que acredito, por isso estamos fazendo isso.

    — Entendi… Obrigado por tudo, você foi meu primeiro amigo, sabia?

    O caído não entendia o tom melancólico daquela conversa.

    — Coen, o que voc-

    Crash!

    Coen atravessou o peito de Volfizz com o braço. O errante encarou o amigo sem entender nada.

    — Você sempre foi leal, mas agora com a garota da flama, pegarei de volta a essência que emprestei a você. Adeus, amigo, morra pelo nosso sonho!

    As tatuagens de Coen brilharam intensamente e Volfizz golfou sangue. Ele não conseguiu dizer uma única palavra.

    Afastando-se, Coen deixou o corpo do amigo desabar na relva, e logo depois Volfizz começou a pegar fogo, derretendo como cera.

    Coen se sentia revigorado.

    — Bem melhor!

    A rachadura no céu dobrou de tamanho.

    Toda criatura naquele mundo e em outros conseguiam enxergar o espaço trincado.

    Na terra, as pessoas olhavam para cima, vislumbradas com o fenômeno estranho. Elas deixavam suas casas, seus carros, somente para observar aquela anormalidade.

    Agatha, a amiga de infância de Colin, corria com o cachorro. Ela diminuiu o ritmo até parar. Retirou os fones de ouvido e vislumbrou o fenômeno anormal.

    O pingente em seu pescoço vibrou.

    Na casa de Colin, a casa que havia deixado para trás quando pulou da ponte, parecia habitada. Uma bebezinha estava sentada na cama com um dos dedos na boca, olhando aquele fenômeno pela janela.

    Ela tinha cabelos negros, a pele um pouco mais clara que a de Colin e seus olhos tinham intensas cores amarelas. Uma mulher conversava ao telefone no fundo.

    — Não, mãe, ele não tá aqui… Sim, é a terceira vez que venho e ele não está… Vai ver aquele incompetente finalmente morreu… E daí? Eu ainda sou jovem e bonita, posso arrumar um marido quando eu quiser… Tá, mãe, tchau!

    A mulher, de pele clara, cabelo e olhos castanhos, se aproximou da bebezinha e a pegou no colo, olhando também para a janela.

    — Meu Deus! — O queixo dela quase caiu — Que merda é essa?!

    Drez’gan também observava aquilo enquanto estava sentado no trono. Todo o abismo conseguia vislumbrar o estranho fenômeno.

    Em outro plano, um plano ainda mais distante, localizado no limiar do universo conhecido, um homem coberto por uma capa preta estava sentado próximo à fogueira no meio do deserto.

    O frio estava tão intenso que conseguia trincar os ossos, mas ele já havia se acostumado aquele lugar após séculos vivendo ali. Após sentir um arrepio na espinha, ele se virou. Seus olhos vermelhos como sangue vislumbraram aquele fenômeno resplandecente.

    Ele não poderia ficar mais feliz.

    Exibiu seus dentes pontiagudos e se ergueu para observar melhor.

    Ele já havia presenciado aquilo uma vez quando era uma criança séculos atrás. Foi um evento tão único que ele jamais se esqueceu.

    — O véu está caindo — disse ele — Finalmente voltarei para casa!

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