Índice de Capítulo

    Tobi continuava sua disparada na direção de Elnan.

    Ting!

    Elnan rebateu a adaga de Tobi sem muita dificuldade. Somente por aquele encontro de lâminas, Tobi entendeu que o homem a sua frente era bem superior aos nortenhos que derrotou minutos antes.

    — Você é fraco, garoto!

    Bam!

    Tobi foi recebido com um brutal chute no estômago que o jogou do outro lado da sala. Se não tivesse golfado mais cedo, golfaria absolutamente tudo agora.

    — Seu amigo lá atrás tinha movimentos melhores. Partir para cima de mim com a guarda completamente aberta só demonstra o quão amador você é. Vamos lá, ainda não acabei com você!

    Meg estava completamente congelada.

    — Aaaa!

    Tobi avançou mais uma vez, mas não conseguiu sequer arranhar Elnan, que desviou e rebateu os avanços do garoto sem muita dificuldade.

    — Previsível!

    Bam! Bam!

    Elnan ergueu Tobi aplicando uma joelhada no estômago do garoto e o jogou longe com um pelo soco no rosto. Tobi quebrou a mesa de centro e rolou até bater com as costas na parede.

    — Vamos lá, garoto, estamos só começando!

    Foram dois golpes muito bem dados. Tobi não tinha forças sequer para se erguer. Ficou deitada no chão, tossindo sangue e gemendo de dor.

    — Então é só isso? Hehehe quanta decepção.

    Ele caminhou até Meg que tremia de medo.

    A pegou pelo cabelo e a arrastou até a porta de saída. Apanhou uma cadeira e se sentou, ficando com a adaga no pescoço de Meg.

    — Sei que vocês estão escondidos, então se não saírem, matarei essa garota e o pirralho, então como faremos?

    Elnan sacudiu o cabelo de Meg, quase o arrancando.

    — Vamos, garota, se você começar a chorar, eles devem aparecer.

    Meg segurava o choro o máximo que conseguia, mesmo que alguns chumaços de seu cabelo tivessem sido arrancados.

    — Tenho que admitir, vocês são pirralhos durões. Devem ter sido as crianças mais corajosas que já conheci.

    Bam!

    Elnan bateu com o cabo da adaga na costela de Meg e a soltou. A garota caiu de joelhos e tossiu algumas vezes.

    — Vamos lá, crianças, não tenho tempo para brincadeira. Se não saírem logo, matarei esses dois aqui e agora.

    — Não saiam! — berrou Meg — Fiquem onde est-

    Elnan a silenciou com um chute no rosto.

    A garota rolou para o lado e tossiu sangue, cuspindo também um dente.

    — Eu queria terminar logo, mas se querem tanto ser torturados, então não tenho problema com isso, até prefiro assim.

    — Não mata eles! — Melyssa despontou no fim do corredor. Tremia de medo, mas não recuou. Olhou para seus irmãos adotivos no chão e encarou Elnan diretamente. Ver aquela cena não a deixou com medo, mas sim, com muita raiva. Cerrou os olhos e berrou — Meu pai vai acabar com você!

    — Hehehe, tá falando do Colin? Ele já deve estar morto a uma hora dessa. Agora entendi porque vocês são diferentes, aquele imbecil tem uma influência direta sobre vocês, acertei?

    — Você está errado! — Tobi se erguia lentamente — Senhor Colin nunca vai morrer… depois do que fez com Potter e senhorita Deb, ele nunca perdoará você!

    Elnan achava toda aquela comoção bastante cômica.

    — Ah, é mesmo?! Hehehe Chega de brincar, crianças, tá na hora de acabar com iss-

    Ao olhar para baixo, Elnan viu sua sombra oscilar e saltou da cadeira, escapando do golpe de uma foice feita de sombras.

    Ele foi para o canto do quarto e um corte abriu em sua bochecha.

    — Até que enfim achei vocês! — Eilika, a pandoriana camundongo, saiu da sombra da cadeira. — Vocês estão bem?

    — Senhorita Eilika! — disse Meg com alívio.

    — O que você faz aqui? — indagou Elnan limpando o corte da bochecha.

    — Mestra Lina me mandou buscar as crianças assim que a invasão começou, mas cheguei em casa e… bem, consegui seguir os rastros de mana que estavam na casa até aqui, que bom que consegui chegar a tempo!

    — Chama isso de chegar a tempo?! — Elnan deixou sua mana transbordar — Se quer tanto assim ir na frente, então que seja!

    Um círculo mágico abriu frente a Elnan e ele o cortou. Do círculo, um corte enegrecido enorme foi na direção de Eilika.

    Boom!

     pandoriana esquivou-se por pouco.

    Toda entrada da casa fora destruída.

    “O que foi isso?” pensou Eilika “Isso não foi magia comum… não me diga que ele sabe usar runas…”

    — O que foi, pandoriana, assustei você?

    Eilika engoliu o seco e olhou com o canto dos olhos o buraco enorme na parede e o caos que acontecia lá fora.

    — Crianças! Saiam daqui!

    — Como se eu fosse deixar!

    Outro círculo mágico apareceu abaixo de Elnan e sua velocidade quintuplicou. Ele avançou contra Melyssa visando degolá-la, mas Eilika conseguiu defendê-la a tempo.

    Ting!

    Os dois ficaram ali, medindo forças.

    — Você é um usuário de runa!

    — Muito bem, ratinha, por isso você já perdeu!

    Círculos mágicos apareceram ao lado Elnan e foi a vez de sua força aumentar exponencialmente. Eilika sentiu aquela diferença enquanto disputava força com o rapaz.

    Woosh!

    Forçando um pouco mais, Elnan jogou a pandoriana para o lado. A força foi tamanha que ela foi lançada para fora através do buraco na parede.

    — Adeus, pirralha!

    No momento que fora atingir Melyssa, uma flecha veio do outro lado da rua, atingindo Elnan no ombro.

    Bam!

    Aquilo não foi capaz de atravessá-lo, mas o jogou para fora da casa, abrindo outro buraco.

    Eilika virou para trás, vendo Celeste, a pandoriana centauro.

    — Celeste!

    — Venham! — ela chamou — Vou levar vocês para um lugar seguro!

    Melyssa não perdeu tempo e foi até os fundos, segurando a mão das outras crianças.

    — Brey, Bill, meninos, vamos, rápido!

    Apressadas, as crianças passaram pelo buraco na parede e foram até Celeste. A pandoriana pegou Brey e Bill, os colocando em suas costas. Assim que iria pegar as duas novas crianças, Celeste parou, ela não se lembrava deles.

    — Quem são esses? — indagou.

    — Eles moravam na casa — respondeu Melyssa — Mas os pais deles…

    — Entendi! — Celeste também pegou aqueles dois, colocando-os em suas costas.

    — Celeste! — Lina veio a cavalo — Crianças, pelos deuses, vocês estão bem?!

    Eilika pegou Tobi no ombro e levou Meg debaixo do braço.

    — Mestra, o homem lá dentro é um usuário de runa!

    — Usuário de runa? Isso é sério?

    — S-Sim, senhora!

    Lina desceu do cavalo, pegou Melyssa e a colocou em cima. Ajudou a colocar Tobi e Meg na cela e deu as rédeas para Eilika.

    — Saiam da cidade pelo noroeste, a saída principal deve estar congestionada.

    — E você?

    — Vou cuidar do usuário de runas.

    — Mestra… o menino e a empregada…

    — Eu sei, agora vão!

    Eilika montou no cavalo atrás das três crianças e balançou as rédeas. As pandorianas avançaram em disparada. Lina trajava uma armadura negra com o símbolo de sua guilda talhado em dourado no peitoril, uma espada dourada.

    Elnan se ergueu dos destroços e adentrou novamente a casa. Estalou o pescoço e assumiu um semblante enraivecido.

    — Lina, a bastarda de Ultan, não pensei que você fosse abandonar a linha de frente por essas crianças. Isso é coisa do Colin também?

    — O garoto e eu escolhemos a casa que as crianças iriam ficar, e eu a comprei. Deb era minha amiga, e eu era a responsável pela criança que matou.

    — Parece que não foi responsável o suficiente hehehe.

    Lina sacou sua espada.

    — Por que alguém teria crianças como alvo? Quem mandou você aqui?

    — Ninguém me mandou, vim porque quis!

    Um enorme círculo apareceu na frente de Elnan e ele o cortou. Do círculo, um corte enorme avançou contra a Ultan.

    Woosh!

    Assim que ela balançou sua espada, o corte arqueado de Elnan desapareceu sem deixar vestígios.

    “O que foi isso?”

    — Não irei repetir, quem mandou você matar crianças?

    — O que te faz achar que alguém me mandaria fazer algo?

    — Você é fraco, crianças são os únicos alvos que gente como você conseguiria matar.

    Elnan dobrou os joelhos e um círculo mágico apareceu debaixo dele.

    — Vou mostrar a você quem é o fraco aqui!

    Lina apontou a espada para Elnan e isso o fez travar. Sua confiança foi inteiramente abalada. Ele sentia a mana gigantesca de Lina e seu corpo recusou avançar.

    “Merda!”

    — Pensei que fosse me mostrar que não era fraco. O que aconteceu?

    — Você… é a merda de um espadachim espiritual!

    Elnan recuou um salto.

    “Qual a porcaria da trilha dela? Uma conjuradora, ceifeira ou lâmina elemental? Tsc… de qualquer maneira, ela é perigosa, tenho que tomar cuidado.”

    Havia uma simples razão pela qual Lina optava por não ter um terceiro pandoriano, ela não precisava. Sua maestria em sua trilha de espadachim espiritual a dava certa vantagem, vantagem que nem sua pandoriana poderia fornecer.

    Na classe de espadachim, haviam vinte níveis em cada trilha escolhida. Até o nível 9 todas as trilhas aprendiam a mesma coisa, mas do décimo em diante, seu aprendizado era focado em uma trilha específica.

    Espadachins espirituais eram incomuns no ocidente, mas eram comuns no oriente, principalmente servindo a imperadores de pequenos países e guarda-costas de confiança.

    Para trilhar o caminho da espada espiritual, o aluno deve ter uma mente equilibrada e além de tudo, deve conhecer a si mesmo.

    A mente sempre será a maior arma de um espadachim espiritual, pois, para eles, nada conseguia superar uma mente afiada.

    Após suspirar, Elnan dobrou os joelhos e avançou.

    Saber qual trilha sua oponente pertencia era essencial para decidir os rumos daquela batalha.

    No momento que iria cortar Lina, sentiu um arrepio na espinha e saltou para trás.

    Crash!

    Algo havia cortado seu tórax.

    — Merda! — murmurou enquanto derrapava.

    Ao olhar para o ferimento viu a marca de quatro garras.

    “O que me atingiu, um espírito?”

    — Isso mesmo!

    “O quê?! Ela consegue ler minha mente?”

    — Consigo.

    Elnan recuou mais um salto.

    — O ferimento que me fez criou algum tipo de conexão entre minha mente e a sua?

    Lina fez que não com a cabeça.

    — Não uma conexão com a mente, mas com o seu espírito.

    Os olhos de Elnan arregalaram quando ele viu uma mulher vestindo uma túnica preta planando ao lado de Lina. Ela tinha três pares de asas negras, sua pele era acinzentada e seus braços eram maiores que seu corpo. As garras daquela mão pareciam espadas de tão afiadas e o rosto dela estava coberto por um véu.

    — Ele pode me ver agora, Lina. — A voz daquela coisa era gutural e arranhada, como se tivesse catarro preso na garganta.

    Foi uma das vozes mais assustadoras que Elnan já teve o desprazer de ouvir.

    — Uma ceifeira… — Ele deixou escapar.

    — Elnan! Elnan! Elnan! — Ele ouvia sussurros por toda parte.

    Seus olhos se concentraram no chão e ele viu rostos familiares, rostos de pessoas que ele já matou. Mãos começaram a pegar seus pés e ele se viu em uma poça enegrecida e pegajosa.

    — I-Isso não é real!

    Ele tentou correr, mas as mãos que o agarraram não permitiram aquilo.

    — S-Socorro!

    — O garoto é patético. — disse a ceifeira com aquela voz horripilante — Vou devorar sua alma, garoto, você será o meu cão de estimação por toda eternidade!

    — Merda! Merda! Alguém me tira daqui!

    O pânico que sentia era sufocante.

    Lentamente, sua existência desaparecia, arrastado para o esquecimento por pessoas que ele ceifou.

    Grab!

    Ehocne segurou o pulso de Elnan e desapareceu, o salvando da morte. Ela apareceu em cima do telhado segurando o companheiro pela cintura.

    — Uma errante… — disse a ceifeira — Sim, eu vejo. Você também está de pé sob uma pilha de cadáveres. Também será minha!

    “Que droga é essa, uma ceifeira?”

    — Aaaaa! — Elnan despertou em um berro.

    Ele havia sido marcado. Mesmo se sobrevivesse, sua mente seria atormentada com pesadelos constantes por semanas, e depois disso, ele nunca mais seria o mesmo.

    “Não posso deixar que aquela coisa me toque.” Pensou Ehocne.

    — Não tenho tempo para perder com vocês! — disse ela.

    — Vai fugir, Briana? — Ehocne franziu o cenho — Achou que eu não fosse reconhecer a forma da sua mana? Onde está Lumur? Ele também está envolvido no ataque?

    — A gente se vê, Lina.

    Um portal abriu atrás de Ehocne e ela saltou para dentro.

    Lina deu um suspiro.

    — Vamos sair da cidade, não tem muito o que salvar nesse lugar.

    — Sim, senhora.

    A ceifeira se desfez em uma nuvem de fumaça e envolveu a lâmina de Lina. Ela a guardou na bainha e partiu em disparada pela rua.


    Longe dali, observando a capital arder em chamas, Elhad e Sashri estavam de pé em um alto morro. Eles haviam se separado de sua equipe e logo deram um jeito de sair da cidade o mais rápido possível.

    — Adeus, lar doce lar. — disse Sashri colocando o cabelo para trás da orelha — Até que sentirei saudade deles, aqueles pirralhos eram legais.

    — Você nunca mais vai vê-los. — respondeu Elhad — É provável que eles morram antes do sol nascer.

    Sashri assentiu.

    — E isso não incomoda você? Eles eram nossos amigos, fizemos parte daquela guilda por quase um ano. Sério que não sente nada?

    — Sentimentos não são necessários no nosso trabalho.

    Ela deu de ombros.

    — E para onde vamos agora? Quando amanhecer, isso estará lotado de salteadores. Esse império todo já era.

    Elhad desceu o capuz até os olhos e deu as costas para a cidade.

    — Vamos para Caliman, soube que tem serviço lá para a gente.

    — Sério?! — Sashri o seguia — Como vamos atravessar aquele deserto enorme?

    — Velejando pelo mar de areia. Conheço contrabandistas que fazem a travessia por um preço amigável.

    — Certo! — Sashri ergueu os dois braços em comemoração — Para Caliman então!

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