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    [Noite passada].

    A luz bruxuleante da vela iluminava o duque sentado em sua poltrona confortável de frente para uma mesa de madeira. Era tão lisa que parecia vidro.

    Em sua mão direita, um chá de ervas, e, no fundo, bem a esquerda, uma mulher oculta pelas sombras permanecia de braços cruzados.

    — A senhora está dizendo que fazer um pedido assim para o garoto é algo sensato? — Otto bebeu um gole do chá — Esse rapaz, Colin, é um homem perigoso. Já viu como ele deixa as cenas dos trabalhos que faz? — Bebeu do chá mais uma vez — O chamam de carniceiro do centro-leste, não posso designar tanto poder para um homem com uma alcunha dessa, sem falar que os outros mercenários não gostam dele.

    — Me responda, Otto, por que ainda mantém o garoto por perto? O que realmente planeja para ele?

    Otto deu de ombros e apoiou a xícara na mesa.

    — Ia dar a chance de ele trabalhar para mim, não como um mercenário, mas como um soldado. Mulheres, comida, dinheiro, ele teria tudo isso. Nenhum homem recusaria algo assim.

    A mulher na penumbra meneou a cabeça.

    — Homens comuns não recusariam isso, seu erro é achar que o garoto é comum. Ele ganha um bom dinheiro, consegue dormir em uma cama quente, comer bem, e pode ter as melhores mulheres que o dinheiro consegue comprar.

    Coçando a nuca, Otto ajeitou em seu assento.

    — Quer que eu faça o quê? Dê o comando da guarda a um assassino?

    — É a melhor opção, ao menos ofereça. Pense, Otto, e se alguém contratar o carniceiro para acabar com seu ducado, seus soldados que mal conseguem correr dez metros de tão gordos conseguiriam detê-lo?

    Após suspirar, Otto virou todo o chá.

    — Se meus homens conseguirem proteger esse ducado já será um milagre. — Ele apoiou as mãos na mesa e se ergueu — Certo, e se eu dar poder a esse garoto, o que me garante que ele não irá se voltar contra mim?

    — Nada garante. Você terá que convencê-lo sozinho, é sua melhor opção.

    Otto suspirou mais uma vez.

    — Tudo bem, eu faço, agora eu gostaria de tratar sobre a questão no Norte. O representante do conselho vem amanhã para uma reunião.

    Ao olhar para onde a mulher estava, Otto percebeu que ela havia desaparecido.

    — Tsc! Essa filha da mãe sempre faz isso!


    [Atualmente.]

    Colin acordou com o estalo da porta.

    Leona e Alunys adentraram de barriga cheia. Acharam estranho Colin estar deitado a essa hora do dia, já que raramente o viam dormindo.

    — Por que não foi à taverna? — indagou Alunys jogando a capa de lado e tirando a jaqueta de couro azulado, ficando com uma camisa branca bem justa ao corpo. — O pessoal perguntou por você, já que disse que pagaria uma rodada para todo mundo quando voltasse.

    — Jantarei com o duque hoje à noite, ele disse ter uma proposta irrecusável para mim.

    Alunys sentou-se na cadeira frente a uma estante, olhando para um espelho. Retirou as botas pardas e apanhou um pente, escovando o cabelo.

    Leona se jogou na cama ao lado de Colin, colocando os pés em seu colo. Bocejou e ajeitou na cama como um cão antes de se deitar. Em vez dos pés, ela apoiou a cabeça no colo de seu mestre e pegou a mão dele, apoiando sobre sua cabeça.

    — Mestre,  exausta… faz carinho enquanto durmo?

    Colin fez o que sua pandoriana sugeriu. Ficando ali, alisando seu cabelo escuro enquanto conversava com Alunys.

    — O que acredita que o duque quer? — indagou a Elfa.

    — Talvez outro trabalho, porém, mais lucrativo.

    — Você ainda tem bastante dinheiro. — Alunys encarou o amigo de canto — Não está fazendo isso por moedas, então me diz, qual seu objetivo?

    Colin desviou o olhar e suspirou.

    — O duque tem contatos, ele pode me ajudar a encontrar Brighid, quem sabe as crianças…

    A Elfa parou de pentear o cabelo e apoiou o pente na estante.

    — Senhor, não acho que fazer um acordo com o duque baseado nisso seja uma boa ideia. Ele flerta com outros mercenários além de nós, tenho certeza que Ibras já fez trabalhos para o duque, e olha o que aconteceu.

    — Sei disso, mas não precisa ficar preocupada, não vou deixá-lo encostar em vocês duas.

    Alunys suspirou e meneou a cabeça.

    — Não estou preocupada com isso, minha preocupação é você… E se o duque tentar te matar nessa reunião? Ele pode nos considerar uma ameaça e tentar acabar conosco quando estivermos desprevenidos.

    — O duque não tem homens que consigam me vencer, muito menos vencer você ou Leona

    Apesar de Colin se reafirmar a todo momento e tentar tranquilizá-la, Alunys não deixava de ficar preocupada, ainda mais pelo histórico de seu companheiro.

    — Eu sei, mas…

    — Você está se preocupando atoa.

    — Não estou! — Ela se ergueu e caminhou até Colin — Você e Leona são tudo que tenho agora… — Ela desviou o olhar — Se eu perder vocês, não sei o que farei…

    Colin abriu um sorriso de canto.

    — Ainda tenho que encontrar Brighid, as crianças e trazer Safira de volta. Não morrerei antes disso, eu prometo.

    Após franzir os lábios, Alunys assentiu ainda pensativa.

    — Tá…

    — Vou ouvir a proposta do duque, e se não me agradar vou embora, entendeu? Por precaução, fique em alerta até que eu volte.

    — Tá bom.

    Leona adormeceu enquanto Colin alisava seu cabelo.

    Com cuidado, ele ergueu-se, deixando-a ali com a cabeça apoiada em um travesseiro.

    Antes de sair, Colin bagunçou o cabelo de Alunys e fechou a porta atrás dele. O cabelo que ela escovou estava todo embaraçado novamente, mas ela não se importou, até mesmo esboçou um sorriso de canto.


    Colin caminhou por parte do ducado penurioso, mas não visitou nenhum local específico. Ficou bastante tempo em cima da ponte de um córrego que vês ou outra era usado como latrina.

    Após a queda de Ultan, ele não conseguia gerar magia por conta própria, apenas quando usava Claymore como fonte. Quando Coen forçou o rompimento da alma dele e Leona, algo em Colin desestabilizou-se.

    Sua pandoriana conseguia usar magia normalmente, e até voltou a ficar mais forte, ao contrário dele, que continuava o mesmo a quase meio ano.

    Tentava se manter positivo em relação a Brighid e as crianças, mas a cada dia que passava e ele não obtinha notícias, sua esperança diminuía, ficando cada vez menor com o passar dos dias.

    Se não fosse por Alunys e Leona, ele não sabia onde estaria no momento. Talvez tivesse se tornado um monstro desalmado ou algo pior.

    Olhando para os dois lados, vislumbrou aquela penúria mais uma vez, e não saiu de sua cabeça que parte daquilo era culpa do duque, que não tinha pena alguma da população lesada, cobrando impostos exorbitantes por uma chula proteção.

    O ducado não diferia de vilarejos murados, todos mantinham um sistema semelhante, e as pessoas não se importavam com os impostos exorbitantes, desde que estivessem protegidas.

    Havia bastante corrupção no ducado de Otto, que era principalmente exercida pela guarda do ducado. Muitos não pagam os impostos em dia e, divido a isso, alguns guardas cobravam sexo até mesmo de menores de idade para não expulsarem as famílias de suas casas e os jogarem para fora dos muros. Nada havia a ser feito para mudar essa situação.

    A população preferia abdicar da dignidade em troca de proteção.

    Colin deixou a ponte, indo em direção ao castelo do duque. Passou frente a uma loja e encarou-se no vidro. Seu cabelo estava bem bagunçado e sua barba cerrada estava aparente. Sua roupa também estava simples. Trajava uma camisa preta de manga longa que desenhava seu corpo definido, mas ela já estava perdendo a cor de tão encardida.

    Sua calça preta se encontrava no mesmo estado, já suas botas estavam sempre sujas. Ele não se recordava da última vez que as lavou, talvez nunca as tivesse lavado.

    “Até que não estou tão ruim.”

    Deixou o vidro espelhado e partiu rumo ao castelo.

    O final da tarde já havia chegado, e Colin notou haverem mais guardas no local do que o de costume. Um dos servos do duque auxiliou que Colin aguardasse por cerca de meia hora, e assim ele o fez antes de o servo guiá-lo para uma sala reservada, onde havia uma extensa mesa farta com alimentos diversificados, o tipo de coisa que não existia fora dos muros do castelo.

    A sala de jantar era enfeitada por orbes de luz azulados que pairavam sobre a mesa. As cadeiras eram ornadas, uma madeira sofisticada, típica da realeza.

    Colin sentou-se à mesa, coçou a bochecha e relaxou na cadeira.

    — O duque já está a caminho! — disse o servo curvando o corpo — Com licença, senhor.

    Após uma reverência, o servo se retirou para os fundos.

    Colin não perdeu tempo e sequer se preocupou em apanhar algum prato ou talher. Cresceu o olho na coxa do frango e a pegou com as mãos, enchendo a boca com aquela carne suculenta.

    Fazia dias que ele não comia algo tão bom.

    Mais duas mordidas e a coxa chegou ao fim.

    Tlack!

    A porta se abriu e o duque entrou sozinho, vestindo seu traje de gala, resumido a um gibão dourado de gola alta, calças de couro bem justas e sapatos engraxados que brilhavam a metros de distância.

    — Senhor Colin! Vejo que chegou mais cedo. — Ele se sentou na ponta da mesa e Colin na outra. — Saboroso? Pedi para prepararem o frango mais gordo da granja. Recomendo que coma os petiscos, eles vieram do Norte, uma encomenda bem cara, diga-se de passagem.

    Colin terminou de engolir e o encarou.

    — Onde estão seus homens?

    — Não preciso deles, afinal, o senhor os venceria sem dificuldades, certo? Que tal irmos direto ao ponto?

    Colin deu de ombros e voltou a comer, arrancando a outra coxa.

    — Bem! — disse o duque — Seu nome é bem conhecido, senhor Colin, soube por certas fontes que o senhor era bem famoso na falecida Ultan. Uma barbaridade o que aconteceu naquele lugar. — Colin continuou em silêncio — Como sabe, senhor Colin, outros ducados têm contratado um número significante de mercenários para integrarem suas forças, e isso é um problema, já que muitos que estão fazendo isso são meus vizinhos.

    Colin continuou em silêncio, apenas encarando o duque com um semblante impassível. O duque engoliu o seco e ajeitou a gola. Ficar sozinho em uma sala com aquele homem era angustiante.

    — Ahem! — Pigarreou o duque — Como sabe, senhor Colin, sou o terceiro duque com mais terras no Centro-Leste, tenho uma relação estreita com o conselho do Norte, e é onde quero chegar. Sabia que as terras deles têm sido invadidas por gigantes? Eles estão morrendo de medo de uma guerra, já que não têm homens o suficiente para batalhar por eles, é aí que você entra, meu amigo.

    Toda aquela conversa estava tão previsível que Colin achou entediante.

    — Quer que eu vá pro Norte resolver o problema deles, sendo que eles ajudaram a derrubar Ultan? Amigos meus morreram naquele dia.

    O duque ajeitou a gola mais uma vez e suou frio.

    — B-Bem, quem ajudou a destruir Ultan foram os Nortenhos mais ao Leste, mais precisamente aqueles do país que se autodeclara “Reino do Norte”, formado majoritariamente por humanos, mas soube que eles também estão passando por mal bocados. Muita gente morreu na invasão a Ultan e isso afundou aquele país em uma guerra civil. — Ele engoliu o seco — Os habitantes do Oeste são os Elfos da neve, o povo que precisa de ajuda.

    — Já estive no Norte uma vez, e pelo que vi, eles são bem afortunados, podem contratar mercenários melhores do que eu.

    — C-Concordo, mas pensei em um trato para fazer com eles, algo para ajudar você e me ajudar, o que me diz?

    — Que trato? — Indagou Colin de boca cheia.

    — E-Eu disse que conhecia um homem poderoso, forte o bastante para colocar medo em qualquer um, inclusive em gigantes… E-E isso chamou a atenção deles, o conselho do Norte quer conhecer você!

    Colin franziu o cenho.

    — Eles devem ouvir coisas assim todos os dias, o que você exatamente disse a eles?

    Após ajeitar a gola mais uma vez, o duque encheu um copo d’água e bebeu rapidamente, dando um suspiro.

    — Eu disse que a cada missão que completava para mim, você e suas companheiras deixavam uma carnificina. Meus soldados foram até aquele acampamento cremar os corpos, eles disseram que parecia o inferno, eu disse aos Nortenhos “Isso é bem comum para os Carniceiros do Centro-Leste, diria que é a marca registrada deles”.

    Colin cruzou os braços e recostou no encosto acolchoado.

    — Falou com o conselho do Norte?

    — Não, apenas com um representante. Ele veio de lá para me visitar. Tivemos uma reunião bem produtiva hoje de manhã. Lembra de Rontes? Depois da morte dele e dos herdeiros, aquele país tem enfrentado turbulências constantes.

    O duque ajeitou o babador branco na gola, pegou um prato, talheres e partiu parte do frango.

    — O conselho têm discutido o que fazer com aquele país que também está prestes a entrar em guerra pelo direito de governá-lo. Os principais generais de Rontes entraram em uma disputa pelo poder, se tivermos sorte, ambos acabarão mortos.

    Colin ergueu as sobrancelhas.

    — Se tivermos sorte?

    — Claro! — O duque partiu o frango com a faca e tornou a mastigar — Se você frear o avanço dos gigantes, farei com que eles nos entreguem Rontes, mas para isso, preciso ser membro do conselho. Elfos da neve são orgulhosos, mas devido à situação deles, duvido que neguem esse acordo. Se resolvermos o problema no Norte, é provável que o conselho me dê uma cadeira. — Partiu outro pedaço — Mas não é só isso que tenho pensado. Aumentar meu território também é importante. Ayla, a regente, ela quem faz fronteira comigo. O território dela é bem seguro e próspero. Propus um casamento, mas ela ainda não me deu a resposta. Se ela aceitar e o problema de Rontes tiver resolvido, seremos um grande território.

    Colin assentiu.

    — Onde que entro nisso? Pelo que me disse, quem terá todo trabalho serei eu, mas é você que levará os créditos. Essa ideia de ser apenas um cão não me agrada.

    Após beber o copo d’água, o duque partiu outro pedaço do frango.

    — Você será o meu braço direito. As pessoas vão prestar atenção em você, seu nome vai se espalhar, o ducado poderá se transformar em um reino e com seu nome indo de boca em boca, mencionado por trovadores, tenho certeza que a mulher que você procura irá ouvir sobre Colin, “O líder dos carniceiros”. Esse ducado poderá se tornar um reino, um país! Poderá viver com sua esposa aqui, seus filhos, suas companheiras… O que me diz?

    Colin suspirou.

    Era uma boa proposta, mas o risco era alto demais. Ele nunca havia enfrentado um gigante antes, muito menos viu algum. Se o conselho achasse que o prêmio valesse o risco, então isso só tornaria as coisas mais difíceis.

    Também havia o fato de que o duque era um administrador corrupto. Se controlando um ducado ele já era um desastre, quem imaginaria um reino, ou pior, um país.

    Para Colin, o duque Otto estava longe de ser alguém confiável, e o errante não pretendia servir de cachorrinho, mas começou a considerar opções.

    Seu raciocínio rápido se perguntou o que tornava Duque um governante legítimo? Chegou à conclusão que nada era capaz disso. Otto apenas detinha dinheiro, mas não o poder para a mudança. Seus homens eram fracos, e ele sempre acabava contratando mercenários para resolver seus problemas.

    Algo mais vantajoso começou a se desenhar em seu pensamento, algo que não só seria vantajoso para ele, mas para o ducado na totalidade.

    — Tenho um acordo melhor, duque.

    — Estou ouvindo…

    — Você disse que controla terras no Centro-Leste, porque não controlar todo Centro-Leste?

    O duque parou de mastigar imediatamente, prestando atenção no errante.

    — Onde quer chegar?

    — Você quer se casar com essa mulher para ganhar território, mas outros homens devem estar pensando ou já pensaram o mesmo, homens com mais poder que você, imagino. Mas suporemos que se casem, então terão um amplo território juntos. Se conseguir conquistar todo centro-leste, então o conselho vai ouvi-lo sem pensar duas vezes, quem sabe você se torne o preferido para herdar aquelas terras. “O duque do Centro-Leste”. Não acredita que soaria melhor?

    Aquela ideia de grandeza invadiu a mente do duque como uma esponja sendo mergulhada em um lago. Homens como ele sempre ficavam iludidos sobre si mesmos.

    — E… Como planeja fazer isso, senhor Colin? Os nossos vizinhos têm uma força considerável, eles têm moedas o suficiente para contratar os Agoureiros e ainda por cima armá-los até os dentes, como pretende enfrentá-los?

    Colin abriu um sorriso de canto, e o duque sentiu ali uma malícia que fez sua espinha arrepiar.

    — Como irei enfrentá-los não importa, você só precisa do trabalho feito, não é? Por isso quero que assine documentos na frente de todos os seus conselheiros. Você irá passar todo comando da guarda do ducado para mim, ou melhor, para os “Carniceiros do Centro-Leste”. Você ainda levaria os créditos pelo meu trabalho, acho bem justo essa proposta.

    O duque engoliu o seco e franziu o cenho.

    — Isso é um absurdo! Quer controlar meus homens enquanto me joga para o escanteio? Isso me cheira a golpe! — A sensação da abdicação de poder, por menor que fosse, deixava o duque furioso. — Sabe o quanto suei para erguer esse ducado?!

    — Sei. Você levantou os muros entorno de uma ruína Élfica, e soube que também contrabandeou Elfas da floresta escravas para reinos menores a fim de ganhar favores. Isso rendeu a você terras e títulos. Quer que eu dê a você os parabéns? — Colin se sentia bem à vontade enquanto via Otto se descontrolar — Olhe ao redor, seus homens são fracos, você é fraco, mas eu não. De uma coisa você tem razão, Brighid pode acabar ouvindo sobre mim e vir me procurar, mas nunca serei cachorrinho de ninguém, Otto.

    Espumando de raiva, o duque apertou firmemente os talheres.

    — Sabia que não devia ter confiado em uma puta do dinheiro!

    — Você sabe que estou certo. Pensou que eu realizaria todo trabalho enquanto você leva os créditos? Hehe Alguém que administra um ducado não pode ser tão burro assim.

    — Seu… Guardas!

    Blam!

    A porta se abriu violentamente e cerca de vinte guardas adentraram o salão empunhando espadas, enquanto mais vinte se mobilizavam do lado de fora.

    Colin continuou calmo, ao contrário dos soldados que sabiam muito bem quem era aquele homem e do que ele era capaz.

    O capitão da guarda deu um passo à frente e apertou o cabo de sua espada. Suas mãos tremiam.

    — Prendam este homem! — Ordenou o duque enquanto se afastava.

    — Por ordem do duque, você está preso, carniceiro Colin!

    Com o guardanapo, Colin limpou as mãos e o canto dos lábios.

    — Vou dar uma chance a vocês. — disse Colin de maneira serena — Abaixem as armas e se rendam, ou não terei piedade de nenhum de vocês.

    Os guardas se entreolharam.

    Muitos estavam em dúvida se queriam avançar, mas logo se deram conta que a vida de um guarda no ducado era o verdadeiro paraíso. Sempre se serviam da melhor refeição, abusavam do poder sempre que podiam e o melhor de tudo, nunca sofriam consequências por suas ações, não importava o quão hediondas fossem.

    — Peguem ele!

    Um dos guardas foi corajoso o suficiente para avançar na direção de Colin, mas antes de atingi-lo com sua espada, suas mãos foram decepadas e sua garganta atravessada pela espada Claymore.

    Colin era forte o bastante para conseguir atravessar o ferro da armadura.

    Assustados, soldados deram um passo para trás.

    O duque apressou-se para escapar dali o mais rápido possível.

    — S-Seu monstro!

    Claymore transformou-se em uma alabarda e, em um movimento rápido, Colin degolou três soldados e aproveitou o movimento para destruir os cristais que iluminavam a mesa de jantar.

    Crash!

    Ligeiro, o duque deixou a sala e seus homens do lado de fora trancaram a porta com uma trava grossa de madeira. Lá dentro só se ouvia gritos e o som de carne sendo rasgada.

    — Soem o sino! — berrou o duque — Soem a droga do sino!

    No topo do palácio, um dos guardas puxou uma grossa corda conectada topo do sino. Usou toda sua força para fazê-lo balançar, então, o enorme pêndulo de ferro bateu nas extremidades, ressoando o som por todo ducado.

    Blém! Blém! Blém!

    A população pensou que estivessem sob ataque, mas o sino soado foi o do palácio, não aquele que estava do lado de fora nas torres de vigilância. Os soldados espalhados pelo ducado se apressaram e seguiram em direção ao palácio.

    Alunys estava com uma das camisas de Colin que também funcionava como vestido. Era comum tanto ela quanto Leona usarem as camisas de Colin como pijama. Ela lia um livro quando ouviu o badalar do sino.

    Foi até a janela e observou os guardas correndo até o palácio.

    — Merda! — Não precisava de muito para entender que Colin havia se metido em confusão.

    Leona abriu os olhos lentamente, espreguiçou e coçou o olho.

    — Que barulheira é essa? — indagou com voz sonolenta.

    — É o som do Colin arranjando problema! — A Elfa começou a se vestir — Se vista também, temos que ir!

    Aquilo soou como música para os ouvidos de Leona.

    No palácio, os guardas se mobilizavam em grande número, equipando-se com balestras e até bombas. Do lado de fora, canhões eram mirados na porta do palácio, enquanto mais soldados se preparavam para enfrentar o perigo que estava lá dentro.

    O duque deixou correndo seu palácio, juntando-se aos guardas do lado de fora. Ele nunca havia corrido tanto.

    — Duque! — chamou um dos guardas responsável pela infantaria — O que está acontecendo lá dentro?

    — O carniceiro Colin! Esse desgraçado enlouqueceu!

    Alguns guardas arrepiaram só de ouvir aquele nome. Muitos ali ficaram responsáveis por limpar as cenas viscerais que Colin e suas companheiras deixavam para trás.

    — As companheiras dele! — berrou o duque — Ache as companheiras dele e as mate, rápido!

    — E-Entendido!

    Um grupo de guardas assentiu, indo rumo ao albergue onde as garotas estavam hospedadas.

    Enquanto isso, lá dentro, Colin retalhava os soldados sem muito esforço. Seu corpo era um tanque de guerra. Os guardas eram, em sua maioria, pessoas comuns, aprendizes no uso da magia.

    Um dos guardas caiu após tentar escapar. Ele parecia ser jovem, talvez fosse um pouco mais jovem que Colin. Tremendo de medo, ele olhou ao redor, vendo a carnificina.

    Inexperiente, era a primeira vez que via tanto sangue.

    — P-Por favor! — Implorou — M-Minha mulher acabou de dar à luz e-então p-por favor não me mat-

    Crash!

    Colin não deu ouvidos.

    Decapitou aquele homem sem nem mesmo relutar.

    Sting! Sting! Sting!

    Outro soldado disparou no peito de Colin com sua balestra, mas todas as flechas quebraram ao entrar em contato com a pele dele. Desesperado, o soldado sacou sua adaga e partiu para cima do errante.

    Crash!

    Colin o cortou ao meio na diagonal, alcançando a porta que dava para a saída do palácio. Com um pontapé ele arrebentou a porta. Assim que deu um passo para fora, viu dezenas de canhões e arqueiros mirando em sua direção.

    Até mesmo os magos do duque estavam ali, mirando seus círculos mágicos no homem lá em baixo.

    — É o fim para você, verme! — berrou o duque, crente que os dias de Colin estavam contados — Acabem com ele!

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