Índice de Capítulo

    Fora mais dois dias dormindo em acampamento improvisados, vislumbrando cenários desoladores, matando criaturas vis e até mesmo enfrentando bandidos de estrada. Colin e seu grupo estavam sempre em alerta, e em apenas dois dias eles haviam evoluído bastante.

    Cruzaram um vale inóspito e finalmente chegaram ao território de Ayla.

    A frente, havia uma enorme torre de vigia de arquitetura gótica, e atrás da torre havia uma ponte levadiça bastante longa, ligando ao início do extenso território de Ayla.

    A ponte era erguida com a ajuda de magia e engenharia. Na torre, havia um orbe escuro coberto por uma redoma. No meio da ponte havia uma linha, demarcando o ponto onde a ponte se dividia em dois.

    Ao aplicar a quantidade certa de magia no orbe da torre, a linha do meio da ponte brilhava intensamente, fazendo a ponte erguer ou abaixar com a ajuda de engrenagens na base da ponte.

    Os soldados de armadura prateada ficaram em guarda observando aquele grupo de pessoas cobertas por capas pretas se aproximarem despretensiosamente.

    — Alto! — Um guarda empunhando uma lança deu um passo à frente. — Apresente-se!

    Colin enfiou a mão na capa e retirou uma carta, entregando ao guarda. Antes de desdobrar o papel, percebeu o selo de Ayla e engoliu o seco.

    — Q-Quem é você?

    — Colin, a regente Ayla tem um encontro marcado comigo. Foi uma viagem cansativa, se puder ser rápido…

    — C-Claro! — Ele encarou o alto da torre e ergueu a lança.

    A enorme ponte de madeira começou a descer. Ouvia-se o som de engrenagens e o estalo incessante da madeira enquanto aquela construção monstruosa descia.

    Baam!

    A ponte desceu, fazendo a terra tremer.

    Colin e seus companheiros seguiram pela ponte. A tensão dos guardas era palpável, já que o nome de Colin era conhecido naquelas terras. Diziam que os carniceiros eram liderados por um homem que sobreviveu a Ultan, mesmo estando no centro de todo caos.

    No Norte, próximo à fronteira, cantavam canções de como ele venceu o demônio da torre, apossando de uma espada poderosa. Uma batalha bem detalhada pelos bardos, famosa em subúrbios.

    Assim que Colin deixou a ponte, deparou com um cenário belo. A ponte ficava em um morro íngreme, e de cima, vislumbravam vastos arrozais, com agricultores labutando naquele fim de tarde despreocupados.

    Saindo dos arrozais, cerca de dois quilômetros à frente, encontraram a primeira vila. Não era uma vila cercada por muros, pois não existiam monstros no território de Ayla.

    As muitas torres de vigia que cercavam as terras ficavam encarregados de deter invasores e quaisquer monstros que ousassem se aproximar.

    O pavimento era ladrilhado, e as pessoas portavam sorrisos genuínos, algo bem difícil de se encontrar em tempos como aquele. As pessoas vestiam-se relativamente bem, até mesmo as crianças. A arquitetura do vilarejo era gótica, gozando de estruturas que facilmente se arrancaria um elogio ao encará-las.

    Aqueles quatro chamavam bastante atenção, principalmente por serem bem diferentes dos habitantes locais. A fartura, o sorriso fácil, as pessoas, tudo isso parecia utópico para eles que passaram bastante tempo vivendo o inferno, e até se acostumaram a ele.

    Observar aquelas pessoas dava uma sensação sublime de paz, mas eles também se sentiam inquietos. Algumas daquelas pessoas nunca haviam pego em uma espada, então, para pessoas acostumados com o conflito, era impossível não os enxergar como vulneráveis.

    Após tudo que passaram, viram o lugar como sendo alvo fácil de mercenários mais habilidosos.

    Cavalgaram por mais algumas horas cruzando mais vilas menores, que estavam interligadas por estradas facilitando o comércio, algo que o próprio Colin planejava fazer no ducado quando conseguisse os livrar completamente dos monstros.


    A noite havia os alcançado e eles optaram por dormir no mato. Haviam se acostumado tendo a grama como colchão e as estrelas como teto. Era durante a noite que a grande rachadura no espaço ficava visível, algo que era tão assustador quanto belo.


    Antes de o sol nascer, eles já partiram novamente, rumo a capital do território de Ayla. Cavalgaram mais três dias até avistar uma cidadela gigantesca. Eles estavam a quilômetros de distância, mesmo assim, era evidente a dimensão daquela capital. Foi a maior cidade que Colin viu desde a grande capital de Ultan.

    Cruzaram pradarias, passaram por caravanas e enfim chegaram à capital. A arquitetura era a mesma do primeiro vilarejo, gótica com foco nos detalhes das torres.

    O casco dos cavalos fazia um barulho agressivo no mármore escuro, mas era abafado pelos comerciantes que berravam anunciando seus produtos. Pela primeira vez em quilômetros eles avistaram algum guarda.

    — Senhor Guarda! — O guarda o encarou — Para que lado fica a residência de Ayla? Tenho um encontro com ela.

    O Guarda encarou seu companheiro e fez que sim com a cabeça. Mais guardas começaram a chegar os cercando.

    — O senhor deve ser o carniceiro Colin, correto? Nós os escoltaremos até o palácio da rainha Ayla. Me acompanhe por gentileza.

    Após bater os pés no chão, o guarda começou a marchar junto de seus outros companheiros, fazendo a escolta de Colin e seu grupo. As ruas estavam mais vazias que o habitual, isso porque Ayla havia dado o recado de que alguém perigoso iria chegar à cidade.

    Vendo aqueles quatro cercados pelos guardas, logo eles entenderam quem eram aqueles homens. Algumas pessoas começaram a se esconder e guardar suas coisas, esvaziando aquela rua movimentada em minutos.

    Até mesmo os guardas estavam tensos, pois viam todos eles como assassinos em potencial.

    Colin e seus companheiros deixaram os cavalos comendo feno da manjedoura e adentraram um palácio enorme. As pilastras eram de mármore branco, o chão de granito era tão reluzente que se via facilmente o reflexo nele. Alguns nobres apressaram o passo vendo Colin e seus companheiros, se afastando para longe.

    — Por aqui, senhores!

    O guarda continuou caminhando pelo corredor enfeitado por quadros enormes e estátuas de mármore. Subiram a escada giratória e seguiram por mais um corredor enfeitado de janelas, onde o vento fazia as cortinas tremularem.

    Enfim, pararam frente a uma porta de madeira. O guarda olhou para os companheiros de Colin.

    — Sinto muito, mas seus companheiros terão que ficar.

    Colin assentiu e os encarou.

    — Tudo bem, se tiver alguma movimentação estranha, autorizo vocês a matar para se proteger.

    Os carniceiros assentiram e os guardas engoliram o seco.

    — Senhor Colin! — chamou outro guarda — Não são permitidas armas na presença da rainha.

    Colin ergueu os braços.

    — Não ando com armas.

    Após engolir o seco novamente, o guarda assentiu, abrindo a porta para Colin.

    — Senhora, o carniceiro Colin está aqui! — Ele fez uma reverência e se retirou, fechando a porta assim que saiu.

    O quarto de Ayla era amplo, com estantes de livros dos dois lados. Havia uma mesa grande no centro cheia de livros com uma janela aberta logo atrás. No teto, um lustre luxuoso, e o chão todo era enfeitado com um carpete avermelhado.

    O cabelo solto de Ayla esvoaçava enquanto ela estava encarando sua cidade pela enorme janela.

    — O que achou do meu território, carniceiro? — Ayla se virou, encarando Colin com o nariz empinado. — Deve estar achando estranho toda essa precaução em relação a você após eu ordenar aos meus homens para que você vagasse livre por aí.

    Colin olhou em volta e continuou em silêncio.

    Ayla ofereceu a cadeira a frente para que Colin se sentasse.

    — Por que não se senta? A gente tem muito o que conversar.

    Ela jogou uma mecha de cabelo para trás da orelha e se sentou. Colin fez o mesmo.

    — Quando descobri que o duque havia sido morto, fiquei um pouco surpresa, admito. Ele tinha toda aquela corja de mercenários no bolso, pensei que tivesse você também, carniceiro.

    — Ninguém pode me comprar.

    Ayla abriu um sorriso de canto.

    — Talvez. Com sede, carniceiro?

    — Me chame apenas de Colin. E não, não estou com sede.

    Ela se abaixou, pegou um copo e uma garrafa de vinho, enchendo o copo até a metade.

    — Tem certeza que não quer? É vinho bom, vocês carniceiros não devem estar acostumados, estou certa? Prove, você gostará.

    — Vim tratar apenas de negócios.

    — Então que seja. — Ela ergueu o copo — Melhor para mim.

    Ayla virou o meio copo de uma vez e deu um suspiro.

    — Meus conselheiros disseram que trazer você era um ultraje, “A senhora está colocando um assassino dentro de nossos portões!” Mas aqui está você. Acredito que se quisesse fazer algo, já teria feito. Por isso disse aos meus guardas para o deixarem livre, caminhar pelo meu território, conhecer o meu povo.

    — Seus conselheiros foram cautelosos, já você, apostou alto. E se eu quisesse massacrar seu território? Seu povo não teria forças para me parar, principalmente aqueles mais próximos da fronteira.

    Ayla assentiu.

    — Alguém que chamam de “carniceiro” que não mata civis. Pesquisei sobre você antes de responder sua carta. Não faço apostas, carniceiro, jogo somente para vencer.

    Colin franziu o cenho.

    Ele se sentiu manipulado, e ele odiava isso.

    — E se eu resolvesse matar você e toda sua guarda aqui e agora?

    Ayla sorriu e encheu o copo novamente.

    — Acha que é tão fácil assim me matar? — Ela deu uma bicada no vinho — Seus olhos são amarelos como os meus, senhor Colin. Você é um mestiço, como eu sou. Acredito que devamos pertencer a mesma árvore, mas não sinto mana em você. Não estou subestimando você, Colin, mas o que dá a entender, é que você está me subestimando, e eu odeio ser subestimada. — Ela deu de ombros — Aqueles três atrás da porta tem uma mana pífia. Meus homens dariam cabo deles antes de fazerem qualquer coisa. — Ayla abriu um sorriso zombeteiro — Também há o povo do seu “ducado”. Vejamos, além de você, os “carniceiros” mais fortes são uma usuária do pélago e uma pandoriana de classe especial. Acredito que elas dariam um pouco de trabalho, mas acredite em mim, meu pessoal as venceria. Então seja um bom garoto e vamos apenas conversar, sim?

    Colin jogou o capuz para trás. Ele não estava acostumado em ver alguém se impor com tanta segurança contra ele. Isso o deixou cauteloso em relação à Ayla.

    — Aceitarei o vinho que ofereceu.

    Ela abriu um sorriso de canto e se abaixou, pegando outro copo e o enchendo. Colin deu uma golada, sentindo o sabor doce e, ao mesmo tempo, amargo. Apoiou o copo meio cheio na mesa e suspirou.

    — É um bom vinho, mas já provei melhores.

    — Acredito em você. Conhece o pontífice, senhor Colin?

    — Não sei muito sobre ele, só dizem que ele é forte.

    — De fato. — Ela bebeu mais um pouco do vinho — Existem três maneiras de ascender nesse mundo. A primeira e a mais difícil, é construindo tudo do zero. Meu pai utilizou desse método, conseguiu erguer tudo isso sozinho. Conseguiu manter até mesmo os homens de Ultan e invasores fora do nosso território por muito tempo. — Ela relaxou na cadeira — A segunda é a forma que utilizei e vejo como sendo a mais fácil, que é herdando tudo. Porém, sem competência, tudo isso pode desmoronar. A terceira é utilizada por gente como você, que por ser mais forte que a maioria, acaba tomando tudo a força.

    Colin sabia que ela tinha razão, mas o duque deixou uma enorme bagunça para ser resolvida. Não seria tão fácil como conquistar um reino seguro como o de Ayla.

    Ayla continuou.

    — Não estou condenando seus métodos, mas ser um conquistador é perigoso. Ultan utilizava o mesmo método, com o acréscimo que ele fomentava conflitos propositalmente, pagando aos líderes de cidades quantias exorbitantes para que enfraquecessem seus exércitos propositalmente, tornando a conquista de terras mais fácil. O resultado foi simples, sem o dinheiro de Ultan e com seus principais líderes mortos, várias cidades e vilarejos tiveram guerra civil para escolher um novo regente. Até mesmo mercenários terríveis decidiram participar disso.

    Colin franziu o cenho.

    — Onde quer chegar?

    — Que tipo de conquistador você quer ser? Já tivemos muitos, e não me vem a memória de nenhum que realmente olhou para as pessoas, somente para seus próprios umbigos. — Ela apoiou os cotovelos na mesa e inclinou o corpo para frente — Os conselheiros de meu pai são exatamente assim.

    Colin assentiu.

    — O duque deixava as pessoas dependentes dele, eu quero deixá-las fortes o suficiente para se protegerem sozinhas. — Colin abriu um sorriso de canto — Que tipo de conquistador desejo ser, você perguntou, não sou benevolente com quem não merece. Você está certa, não mato civis, mas se algum deles ameaçar a mim ou meus companheiros, não me sentirei mal de abrir uma exceção.

    Ayla assentiu e apoiou o queixo nas costas da mão enquanto seu cotovelo estava apoiado na mesa.

    — Me responda, Colin, sem segredos e joguinhos, por que escreveu para mim?

    Colin relaxou na cadeira e estendeu a mão, pegando o copo de vinho e o virando.

    — Ouvi sobre o pontífice e em como ele é uma força no centro-leste que não deve ser subestimada. Como sabe, eu não tenho homens, e os homens do duque não iriam me servir de muita coisa. Você não usa mercenários para se defender, então vim até aqui pedir uma aliança.

    — Aliança contra o pontífice? — Ela abriu um sorriso de canto e ergueu as sobrancelhas — Sem ofensas, você tem um grande território, mas não tem homens para o proteger. Por que eu me aliaria a alguém como você sendo que sua desvantagem é óbvia?

    — Minhas companheiras estão treinando muitas pessoas. Os carniceiros serão um número expressivo em meses e garanto a você que recuperarei todo território do duque tomado por mercenários e monstros. Com sua ajuda será mais fácil. Nosso pessoal pode ter treinos em conjunto, poderíamos conectar nossos territórios, fazer comércio livremente por terras seguras. Se quiser a outra opção, para mim tudo bem, mas saiba que muita gente morrerá, e não quero isso. Então ofereço a minha amizade e lealdade em troca da sua amizade e lealdade.

    Ayla ficou pensativa. Amizade e lealdade não se conquistavam com palavras. Para ela, Colin era uma bomba relógio prestes a explodir e levar tudo com ele, mas ter alguém assim sob controle poderia ser vantajoso. Um cão que ela mandasse atacar quem a ameaçasse.

    — Bom — disse ela — Vamos supor que você tenha minha amizade e lealdade, e depois, o que acontece?

    — Focaríamos nossos esforços na tomada das terras do pontífice, e quando ele caísse, teríamos controle de todo centro-leste, o tornando um lugar seguro como o seu território. As pessoas sempre vão para onde tem prosperidade, então o centro-leste será um dos lugares mais prósperos e seguros do continente.

    — Interessante, e depois?

    — Os Nortenhos estão com problemas perdendo território para os gigantes. O duque ofereceu meus serviços a eles, mas ele está morto. Eu os ajudarei, mas somente quando tiver unificado todo centro-leste. Quando tiver cuidado dos gigantes, pedirei o país de Rontes como pagamento. Consequentemente, avançarei contra Rontes do Sul, derrotando a mãe dos monstros que reside naquele país. Usarei toda costa de Rontes para abrir comércio marítimo, trazendo ainda mais prosperidade ao Leste.

    Ayla colocou mais uma mecha de cabelo para trás da orelha e seus olhos analisaram Colin de cima a baixo.

    — Você parece ter inimigos bem poderosos pela frente, e fala tudo isso com uma convicção invejável. O pontífice é poderoso, sei disso muito bem, por isso duvido que ele vá deixar você em paz depois da morte do duque.

    Após cruzar as pernas, Ayla o encarou com um olhar provocante.

    — Acredito que essa era a brecha que aqueles malditos da igreja de Tithorea estavam esperando para não atacar somente a você, mas a mim também. Suas terras estão desprotegidas e mesmo treinando pessoas como você disse, meu palpite é que você não deve ter tantos soldados disponíveis para proteger as terras inabitadas do duque.

    Colin franziu o cenho.

    — Onde quer chegar?

    — Tenho homens disponíveis para ajudá-lo enquanto me protejo do pontífice.

    Colin percebeu que Ayla tinha objetivos que ainda não havia revelado.

    Ela focou seu olhar no fundo dos olhos de Colin.

    — Temos o mesmo sangue dos Altmers, ambições parecidas, mas se não tivermos completamente unidos pelo mesmo objetivo, intrigas futuras podem surgir entre a gente, e não me leve a mal, mas basear relações políticas em lealdade e amizade é tolice, precisa haver algo mais sólido.

    Colin ergueu as sobrancelhas.

    — E o que tem em mente?

    — Planeja ficar quanto tempo, senhor Colin?

    Ele deu de ombros.

    — Não muito. Meu ducado está vulnerável, não quero ficar muito tempo fora.

    Ayla fez o número cinco com os dedos.

    — Cinco dias, me ajude a resolver um problema e irei propor um acordo.

    — Que acordo?

    — Será benéfico tanto para mim quanto para você.

    Colin franziu o cenho e cruzou os braços. Ele ainda estava com dúvidas em relação à Ayla, mas ele não tinha muita escolha. Por hora, era mais sábio seguir o jogo dela.

    — Que problema você quer resolver?

    Ayla abriu um sorriso de canto. Afastou a cadeira e ergueu-se.

    — Me siga.

    Assim que se dirigiu para fora, Colin viu seus companheiros junto a outros guardas. Os homens de Ayla prestaram continência e seguiram sua rainha pelo corredor. Não se ouviu vozes, apenas de botas ecoando por um corredor de mármore.

    Caminharam em direção a uma porta de madeira e os guardas ali ficaram.

    — Tony! — Chamou a rainha — Você vem junto, o resto de vocês fica.

    Colin encarou seus companheiros e assentiu.

    — Meus companheiros não têm nada a temer, não é, majestade?

    — Claro que não, estamos entre amigos, não estamos, carniceiro?

    Ambos fixaram o olhar no outro por um tempo e Colin olhou para seus companheiros, assentindo com a cabeça.

    — Tudo bem, volto logo.

    Lettini suava frio de medo, mas nada disse, assim como seus outros dois companheiros que permaneceram quietos. Colin, Ayla e o comandante Tony desceram escadas giratórias, uma descida iluminada por orbes que emitiam uma luz bem fraca. Chegaram ao piso e avistaram uma grande mesa de madeira com um extenso mapa aberto sobre ela, o mapa do centro-Leste.

    Acima do mapa planava um orbe amarelo, iluminando alguns totens.

    — Tony, explique a situação ao errante.

    Ele engoliu o seco. O que estavam fazendo ali era secreto, e revelar algo assim a um homem que nem conheciam era perigoso.

    — Senhora, não acho que os conselheiros irão concordar com iss-

    — Tony, você responde a eles ou a mim?

    — A senhora.

    — Então faça o que estou pedindo, explique a situação ao carniceiro.

    Mapa Centro-Leste

    Nota: Os brasões são meramente ilustrativos.

    — Sim, senhora… — Tony apontou para um forte no mapa, um forte que estava nas fronteiras de Runyra — Já Faz dois meses que tribos de Orcs tem tentado invadir nossas terras por aqui. O forte tem resistido bem aos ataques constantes, mas Orcs são criaturas insistentes, é questão de tempo até o forte ser tomado e a invasão iniciar em grande escala. — Ele apontou para outro forte afastado — Há uma semana as invasões começaram aqui também. Este forte não é tão protegido, então acredito que ele cairá em menos de uma quinzena caso os orcs insistam na invasão.

    Os Orcs que Colin conheceu não eram tão selvagens, mas ele sabia que passividade não era o senso comum entre orcs. A maioria era bárbara, apreciando o combate e vivendo para satisfazerem sua sede de sangue, saqueando vilas, devorando e afugentando rebanhos e matando qualquer um que se colocasse contra eles.

    — Então quer minha ajuda para acabar com as invasões de orcs? — Indagou Colin.

    Ayla assentiu.

    — Primeiro, para ajudar você, preciso que me ajude. Enquanto Orcs forem uma pedra no meu sapato, será impossível me juntar a você contra o pontífice. É melhor que lidemos com um problema de cada vez.

    — Você tem mais homens que eu, e pelo que sei, eles são mais bem treinados para situações assim. Resumindo, se meu pessoal fosse ajudar, seriamos massacrados.

    — Não pedi ajuda do seu pessoal, pedi a sua. — Ayla apontou para as montanhas — Orcs não tem uma residência fixa. Eles apossam de cavernas, vilas de inimigos derrotados, fortes e ruínas. Meus homens conseguiram a localização da tribo deles, e eles estão bem aqui.

    Colin cruzou os braços e assentiu.

    — Quer que eu vá até às montanhas e massacre uma tribo Orc para acabar com as invasões?

    Ayla abriu um sorriso de canto.

    — Na mosca. Não quero marchar com um exército para não chamar atenção e espantá-los, e também não quero deixar meu território desprotegido. É uma missão para um grupo pequeno, quem sabe você e os companheiros que o acompanham consigam realizá-la.

    — Você ficou louca? — Indagou Colin — Orcs são fortes por natureza, o que faz você achar que isso vai funcionar?

    Ela não tirava o sorriso do rosto.

    — Vocês são os carniceiros. Não se esqueça, Colin, você precisa mais de mim do que preciso de você. Digamos que isso seja um teste para que você prove ser útil a mim.

    Ainda com os braços cruzados, Colin olhou para Ayla e depois para Tony.

    — Eu aceito, mas você vem junto, majestade.

    — Isso é um absurdo! — Esbravejou Tony — Senhora Ayla é uma rainha, ela não pode deixar esse território, e não ouviu que não podemos dispor de nosso pessoal?

    — Não pedi o pessoal dela, pedi somente ela. Você quer eu vá e corra esse risco de vida por você sem nenhuma garantia. Então minha garantia será você, e digamos que também será um teste. Se a líder de um lugar assim for fraca, então não faz sentido nossa aliança.

    Tony franziu o cenho e apoiou a mão no cabo da espada.

    — Insolente! Com quem pensa que está falando?

    Colin o ignorou.

    — Esses são meus termos, Ayla.

    Swin!

    Tony sacou a espada e Colin continuou o ignorando, focando seu olhar apenas na regente.

    — Abaixe a espada, Tony. — disse Ayla — Aceito a proposta do carniceiro.

    — Mas senhora, os conselheiros não vão aceitar algo assim! A senhora não tem sucessores e nem herdeiros, e se algo grave acontecer, o que será do reino?

    — Não vai acontecer nada comigo. — Ela afastou as mechas de cabelo para trás das orelhas — Tony, leve Colin e os carniceiros para suas acomodações, conversarei com os conselheiros sobre minha viagem.

    Tony engoliu o seco. Devolveu a espada a bainha e assentiu.

    — Sim, senhora.

    Ayla encarou Colin de cima a baixo mais uma vez.

    “Se o carniceiro quer ficar com seus joguinhos, então que assim seja.”

    Ela lançou outro olhar provocante na direção de Colin e passou por ele.

    — É melhor que descanse, garoto, não quero ouvir desculpas ou reclamações enquanto estivermos em viagem.

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