Capítulo 185 – Proposta
O cavalo continuava avançando até que finalmente puderam ver resquícios de outra vila em chamas. Ayla segurou as rédeas com uma mão e com a outra desembainhou sua espada. Um dos Orcs os viu chegando e urrou, alertando seus companheiros, mas foi silenciado com uma flecha de Lettini que atravessou sua garganta.
Apavorada, a medrosa puxou a corda de seu arco repetidas vezes, acertando os Orcs fatalmente um a um.
— Peguem a arqueira! — Urrou um Orc.
Havia um deles portando uma balestra enorme, grande o suficiente para empalar um cavalo. Ele mirou em Lettini e ela puxou as rédeas do cavalo para o lado desesperada.
— S-Senhor Colin, socorro!
Dasken era quem estava mais próximo dela. Como se fosse um mestre da equitação e equilíbrio, ele ficou de pé no cavalo enquanto fumava seu cigarro. Aquilo chamou atenção do Orc com a balestra enorme.
Swin!
Ele disparou e Dasken cortou a enorme flecha ao meio, deixando-as fincar na grama lá atrás. O carniceiro soltou fumaça pelo nariz, dobrou os joelhos e saltou, decepando o braço de um Orc. Girou, e cortou o abdômen de outro, deixando aquelas tripas caírem na relva.
Woosh! Woosh! Woosh!
Conforme avançava, Dasken continuava retalhando os Orcs com sua espada longa. As criaturas eram fortes, porém, seus movimentos eram previsíveis para alguém com certa experiência como Dasken.
[Rugido!]
Boom!
Uma das casas em chamas explodiu e um ciclope segurando um enorme tacape avançou contra Dasken, cingindo o tacape acima da cabeça e o descendo com tudo.
Bam!
O carniceiro saltou paro lado desviando daquele golpe previsível. O ciclope cerrou os dentes e continuou avançando contra Dasken que desviava de tudo sem problemas. Mais e mais Orcs chegavam, enquanto, no fundo, estava o líder daquele grupo. Careca, barbudo, robusto e de pele alaranjada, o Orcs segurava uma espada enorme, grande o suficiente para decapitar um dragão.
— Senhor Colin! — chamou Dasken segurando o cigarro com a ponta dos dedos — Falone, Lettini e eu cuidamos desse monte de lixo, você e senhora Ayla podem avançar!
Ayla sacudiu as rédeas mais uma vez e o cavalo avançou por um grupo de Orcs que tentaram os apunhalar, mas o cavalo foi mais rápido.
— Você tem homens competentes! — disse Ayla ainda com a mão no cabo da espada — Os carniceiros estão se mostrando eficientes, nossa aliança pode ser bem benéfica!
O Orc líder segurou as espadas com as duas mãos e bufou como um touro, esperando seus oponentes avançarem.
— Colin, vamos!
— Aonde?
— Saltar!
Ayla ficou agachada em cima do cavalo e saltou, rolando na relva e derrapando até recuperar o equilíbrio.
— Mulher maluca! — Colin segurou as rédeas do cavalo e a puxou, fazendo-o derrapar. Assim que o fez, Colin desceu e deu um tabefe na bunda do cavalo, o espantando para longe. — Podia só ter feito isso.
Ayla estava focada no Orc líder e nos companheiros que o cercavam aos montes. Os carniceiros lá atrás com certeza estavam diminuindo os números deles, mas dezenas deles ainda estavam vivos.
— Onde está Nag? — Indagou Ayla com a mão apoiada no cabo da espada.
O orc sorriu junto a seus companheiros.
— Por que eu diria algo a você, mulher? — Ele olhou para Colin — Você, me enfrente!
— Do que está falando? — Ayla desembainhou sua espada — Sua oponente, serei eu.
— Você é pequena, e o cheiro desse homem é mais forte. Ele vai me dar uma luta emocionante! Lutar contra você, mulher, seria entediante.
Apontando a espada para o Orcs, Ayla abriu um sorriso de canto e mana elétrica começou a ser concentrada em sua espada.
— Perguntarei uma última vez, onde Nag está?
— Acabem com ela! — disse o líder.
Portando suas lâminas, os orcs partiram para cima de Ayla, que não teve dificuldades em acabar com eles rapidamente. Ela dobrou os joelhos e faíscas amarelas circundaram seu corpo enquanto ela ia de Orc em Orc. Bastou apenas dois segundos para um grupo de vinte deles ser destroçado.
Cabrum!
Um estrondoso rugir de trovão foi ouvido assim que Ayla parou de se mexer. Colin estava de pé com os braços cruzados, com uma expressão imutável. Ele estava achando bom que Ayla fizesse todo trabalho, afinal, ele queria ver do que ela era capaz.
O Orc segurando a espada olhou ao redor e bufou novamente.
— Sua miserável! — Ele avançou contra Ayla que estava parada portando um semblante debochado — Vou quebrar você como se quebra um graveto!
Assim que o Orc cingiu sua espada para parti-la ao meio, ele sentiu um arrepio na espinha e saltou para trás antes de terminar o ataque.
“O que foi isso?” Pensou o Orc suando frio “Essa sede de sangue é igual a de Nag.” Ele olhou para Colin “Esse idiota não fará nada? Não, não posso contar com isso.”
— Quem são vocês?
— Perguntarei uma última vez, Nag está aqui? Está no meu reino?
— Seu reino? — O Orc engoliu o seco — Ayla, a caçadora, é você?
— Parece que você sabe quem sou eu, então você sabe que não tem chance de me vencer. Responda de uma vez, onde está Nag!
O nome de Ayla era bem conhecido entre os Orcs, principalmente devido às dezenas de incursões que vários grupos tentaram naquele território e falharam por culpa de uma mulher e seus guerreiros. Mas tarde souberam que aquela, algoz, havia se tornado rainha e decidiram cessar as invasões, até que um homem misterioso disse que os ajudaria a destruir Ayla e tomar seu reino de uma vez por todas.
— N-Nag não está aqui, caçadora, ele somente nos mandou invadir seu território e massacrar seu povo, mas ele continua na tribo.
Ayla franziu o cenho pensativa.
Nag era conhecido por ser um líder poderoso, não fazia sentido ele abrir caminho e recuar, deixando toda diversão para seus homens. Para Ayla, Nag estava a testando, ou poderia estar a atraindo para uma armadilha.
Orcs eram destruidores, sem instrução eles devastariam vilas inteiras como se fossem uma praga de gafanhotos avançando contra uma plantação de trigo. Nag queria destruir seu território? Mas se o fizesse, reinariam sobre um monte de entulho e cinzas.
— O que Nag está planejando? Por que ele não está aqui?
— E-Eu não sei o que ele está planejando, ele é o chefe, ele manda e nós obedecemos, sem questionamentos.
Ayla se virou para trás, encarando Colin.
— O que você acha?
Colin suspirou e coçou a nuca.
— Sinceramente, não faço ideia. Ele pode só estar querendo avançar sob seu território causando terror, já que se não estivéssemos aqui, eles dizimariam todas as vilas até alcançar a capital, deixando você e suas forças presas na cidade, a sitiando. Só não sei se Orcs fariam esse tipo de jogo, já que eles parecem que gostam mais de lutar do que de pensar.
Ayla encarou o Orc que já havia desistido de lutar.
— Quantos de vocês invadiram?
O Orc deu um passo para trás enquanto tremia de medo. Ele ainda se recordava das ordens de Nag após ele se encontrar com um homem trajando batina. Suas ordens eram de reduzir o exército de Ayla a pó, inclusive a própria Ayla se a encontrassem, mas era mais fácil falar do que fazer.
Cerrando o punho sobre a espada, o Orcs urrou e avançou desesperado na direção de Ayla. Após revelar aquelas informações por medo da morte, sua sentença já havia sido decidida. A caçadora fez um sinal de arma com os dedos, apontando para a cabeça do Orc que explodiu. O corpo enorme desabou junto a sua espada.
Ayla lançou uma rajada de energia tão rápida que o orc sequer percebeu. Ela girou a espada e a devolveu a bainha, caminhando até Colin despreocupada.
— Temos duas opções, retornar até a capital ou seguir para onde Nag está com o risco de cairmos em uma armadilha e correr o risco do meu povo ser massacrado enquanto reunirmos homens para parar a invasão.
Colin continuava de braços cruzados.
— O que você quer fazer? — Ele perguntou.
— Sem chance de voltarmos. Seu pessoal é competente, eles poderiam avançar para o norte e sul, matando os orcs enquanto meu pessoal marcha pelo território e se organiza. Eu e você vamos até o forte averiguar a situação.
— Por mim tudo bem.
— Ótimo, vamos voltar, seu pessoal já deve ter terminado.
Foi como Ayla previu, os carniceiros mataram todos os inimigos, até mesmo o enorme ciclope que com eles estava. Falone pilhava os corpos das criaturas, enquanto Dasken, encharcado de sangue, fumava seu cigarro tranquilamente. Lettini ficou com medo de pegar alguma doença ao encostar em criaturas mortas e ficou afastada.
Por ser um vilarejo mais próximo da torre de vigia, não sobrou nenhum civil vivo. Foi uma grande fatalidade, mas eles não tinham tempo para se lamentar.
— Carniceiros! — chamou Ayla e eles se aproximaram — Seu chefe e eu vamos até o forte vocês vão se dividir. Tem uma vila ao norte daqui e outra ao sul. — Ela desviou o olhar e apertou o cabo da espada — São vilas mais distantes, então os Orcs já devem ter avançado há algum tempo. Preciso que vocês deem cabo dos Orcs até que a cavalaria chegue. Pelo que vi aqui, deu para perceber que vocês são competentes, conseguem fazer isso?
Os três olharam para Colin, esperando o aval de seu líder, e Colin assentiu.
— Não entrem em batalhas perdidas. — disse Colin — Não tentem ser heróis e não se sintam envergonhados em recuar. A vida de vocês é importante, e tem pessoas esperando vocês em casa.
Ambos assentiram e Colin assoviou. Seu cavalo veio a galope.
— Devo voltar em alguns dias — Ele subiu no cavalo e estendeu a mão para Ayla que subiu atrás — Vocês foram promovidos, quando voltarmos para casa, acertarei com Alunys a promoção de vocês.
Eles não tiveram tempo de digerir a notícia e Colin sacudiu as rédeas, avançando rumo ao forte destruído. Ayla ponderava que talvez não devessem ficar apenas no forte, ela queria ir além para resolver de vez o problema, queria ir além de suas fronteiras.
Uma missão de invasão em um território desconhecido era um risco muito grande, mas ela não se importava. Se Ayla falasse com seus conselheiros, eles não permitiriam que ela fizesse essa loucura.
Era a primeira vez em muito tempo que ela saía em uma aventura como aquela, e apesar do grande golpe e das baixas civis, Ayla estava empolgada. Como guerreira, ela aprendeu a amar o combate já que foi moldada nele. Era como voltar a ter 16 anos.
Ayla não havia visto Colin lutar, mas se ele fosse como seus companheiros, então ele era alguém muito forte, até mesmo o Orc farejou isso de alguma forma.
— Carniceiro! — berrou competindo com o galope do cavalo — Fique atento, é possível que os Orcs ainda estejam invadindo em massa, então esteja preparado!
— Pode deixar!
Ayla abriu um sorriso de canto. Mesmo que a situação não fosse das melhores, ela estava com saudade de travar um combate difícil, do tipo que valha a pena travar. Ela havia treinado por muito tempo, e estava ansiosa para mostrar ao carniceiro o que ela conseguia fazer.
— Carniceiro! — berrou enquanto se segurava na anca de Colin. — Quanto mais breve o problema com Nag for resolvido, mais rápido o pontífice se tornará nosso único alvo, então farei a seguinte pergunta, mesmo já tendo ideia da resposta, você é um homem louco o bastante para avançar comigo até o território hostil além da zona segura?
Colin a encarou por cima dos ombros.
— Esse Nag é forte?
— Ele está a frente dos Orcs, então eu diria que talvez seja.
Ele retribuiu o sorriso.
— Então vamos, rainha, estou com você!
Ayla não deixou de ficar feliz ao ouvir aquilo. Era a primeira vez que assumia uma missão tão perigosa com apenas uma pessoa. Era comum que mercenários tomassem vilarejos e usassem do medo para continuar no poder, o que se encaixaria para o homem na sua frente, mas ele não fez aquilo.
Colin foi até ela visando uma melhora para o povo que assumiu, e ela achava uma atitude louvável. Eram poucos líderes que não olhavam para seu próprio umbigo, e isso a deixou com impressão de que eram parecidos.
Os príncipes, duques e reis que conheceu ao longo dos anos não eram dignos de seus títulos, afinal nenhum deles era um guerreiro.
Para a caçadora, alguém em posições assim tinham por obrigação ficar na linha de frente e sangrar pelo seu povo, morrer por ele, mas o que ela viu ao longo dos anos foi justamente o oposto.
Aqueles no topo ficavam sentados engordando, assistindo seu próprio povo ser lançado a morte enquanto estavam atrás de meses maquinando planos mirabolantes.
Seu pai a ensinou desde cedo que devido a sua posição de líder de uma nação em ascensão, ela era responsável por todos eles. O seu povo não a servia, era ela quem servia o povo.
Essa era uma das razões para ela ainda não ter se casado. Seus pretendentes não haviam ido para a batalha, ver seu povo morrer de perto, sentir a dor deles. Não haviam sequer rasgado o peito de um homem em um duelo mortal. A maioria deles lutou contra escravos desarmados ou moribundos com o pé na cova para afirmar sua superioridade fajuta.
Como ela poderia se casar com homens que tinham valores tão destoantes dos seus, e ainda por cima eram mais fracos que ela. Ayla foi ensinada que não existe autoridade sem poder, então era natural que fortes assumiam posições privilegiadas, mas também havia uma alta dose de responsabilidade com o peso da coroa.
Conforme seu pai envelhecia e a enfermidade o alcançava, ele tentou desfazer esta ideia que plantou na mente da filha, mas já era tarde demais. Seu pai tentou dizer a ela para não tentar fazer as coisas sozinhas e muito menos escolher demais. Era importante que ela tivesse uma família, já que esse era um alicerce crucial. Seus descendentes assumiriam o que um dia foi dela e, o que começou com um homem, poderia prosperar por séculos.
Colin era o primeiro homem que conhecia cujo valores poderiam ser semelhantes aos dela. Pelo que ouviu do carniceiro, pensou que fosse um louco sanguinário, mas o pouco tempo que passou com ele a fez entender que o carniceiro era bem diferente dos boatos. No calor do momento ou por estar ansiosa demais, Ayla resolveu fazer um pedido inusitado.
— Colin! — chamou — O que acha de um casamento político?
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