Capítulo 19 - Novos Inimigos.
Na mesma tarde, Colin e as garotas estavam sentados no restaurante sugerido pela recepcionista da loja de roupas. Já que Colin estava pagando, elas não economizaram nos pratos, principalmente Brighid que parecia um poço sem fundo.
Todos no restaurante sentiam-se incomodados com aquele barulho alto de comida sendo mastigada e o barulho irritante que ambas faziam ao beber suco. Os donos do restaurante não se incomodaram tanto, já que ganhariam um bom dinheiro com aqueles clientes.
Em outro quarteirão, um grupo de estudantes conversava com Wiben, um dos integrantes da guilda de Loafe, considerado por muitos como sendo a guilda mais poderosa da universidade.
Wiben, de cabelo escuro, olhos castanhos e trajando roupas sociais, estava do lado de fora de uma biblioteca com os braços cruzados ouvindo tudo que aqueles rapazes diziam.
Após terminarem de falar, Wiben coçou a nuca e suspirou.
— Então quer dizer que o cara nem mexeu com vocês e querem que eu dê uma lição nele? Não perderei meu tempo com isso.
Wiben era um rapaz bonito, seu cabelo escuro era partido ao meio e iam até seus ombros. Ele gostava de usar seu traje social com seu o paletó, dando foque em seu estilo aristocrata. Os anéis em seus dedos mostravam que seu status também era elevado, afinal, ele era membro da guilda de Loafe.
Trim!
De dentro da biblioteca despontou uma garota, usando blusa branca, calças pretas e sapatos da mesma cor. Ela tinha cabelos loiros, amarrado em um rabo de cavalo, olhos azuis penetrantes e lábios rosados.
— Quem são esses? — ela indagou em um tom suave. — Amigos seus, amor?
Aquele grupo ficou meio sem jeito ao encará-la.
— S-Senhorita Samantha, tudo bem?
Ela ergueu uma das sobrancelhas.
— O que vocês querem?
— Não é nada — respondeu Wiben. — Eles já estão de saída, não estão, rapazes?
Assustados, eles engoliram em seco.
— E-Estamos…, mas antes de ir, queria dizer que oferecemos 100 peças de ouro ao senhor…
Samantha ficou olhando para o namorado e para aqueles jovens sem entender nada.
Wiben coçou a nuca e fez muxoxo. Cem peças de ouro eram muito dinheiro para que ele deixasse passar.
— Tsc! Por que querem que eu dê uma surra nesse cara?
— S-Só queremos saber se o que dizem dos Elfos de olhos amarelos é verdade…
— Tanto faz, quero pagamento adiantado.
— Wiben! — chamou Samantha furiosa. — Isso não é hora para aceitar esse tipo de trabalho!
— Será rapidinho — ele respondeu apoiando a mão no rosto dela. — Eu prometo.
Emburrada, ela se incomodou com aquilo, mas deu de ombros. Aquele tipo de trabalho era comum para Wiben, mas era a primeira vez que ofereciam tanto dinheiro para que ele batesse em alguém. Até mesmo ela estava curiosa para saber que tipo de pessoa era esse homem de olhos amarelos.
— Onde esse cara está? — Indagou Wiben.
— A última vez que o vimos, ele estava próximo à estalagem do anão caolho.
— Ótimo, vamos até lá!
Após deixarem o restaurante, Colin pensou estar na hora de controlar suas finanças. Seu dinheiro estava longe de acabar, mas ele havia gasto quase 30 peças de ouro em dois dias. Se continuasse assim acabaria ficando sem nada rapidinho.
Aqueles três continuaram caminhando pelas redondezas, e quanto mais caminhavam, mais coisa nova viam. Após sofrer o inferno por semanas, ele sentiu seu peito quentinho em ver suas companheiras tão alegres.
Viram feras bestiais fantásticas, vendedores ambulantes realizarem acrobacias com lâminas de fogo e orbes de luz. Viram também os artefatos mágicos a venda e ficaram fascinados com a quantidade quase infinita de itens a venda nas lojas de armas e armaduras.
Colin até ponderou levar uma ou outra, mas eram caras demais. Por hora, era melhor manter as roupas de civis.
Após tanto andar, foram até a praça e Colin comprou três gelados bem semelhantes a sorvetes, os três de chocolate. Se Colin não as controlasse, elas teriam devorado todo estoque do vendedor.
O sol estava começando a se pôr, e o início da noite era onde as coisas aconteciam. A praça começava a ficar mais cheia, já que para a noite estava marcada a apresentação de uma trupe de circo.
Eles resolveram ficar e observar a apresentação.
Com uma maquiagem de palhaço, o apresentador engolia espadas incandescentes e soltava fogo pela boca, mas os fogos assumiam formas de coelhos que corriam entre a multidão e depois subiam aos céus, estourando como se fossem fogos de artifícios.
Todos sorriam e batiam palmas com a apresentação, menos Colin, que estava vislumbrado, porém, neutro, mantendo suas mãos nos bolsos.
Colin olhou para Safira que estava com os olhos brilhando, mas quando olhou para Brighid, que estava bem próxima a ele, franziu a testa e examinou melhor o rosto dela.
Brighid percebeu seu olhar e desviou os olhos, mas acabou cruzando olhares com Colin. Ele não desviou o olhar, enquanto ela sentiu-se envergonhada e colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha, permitindo que Colin a olhasse mais de perto.
Quando Brighid finalmente decidiu olhá-lo novamente, foi a vez de Colin desviar o olhar.
— Ei! — chamou alguém atrás de Colin. Ele virou-se e avistou os alunos de mais cedo junto de mais duas outras pessoas. — Passei a tarde toda procurando você! — disse Wiben.
Colin o encarou de cima a baixo.
— Quem é você?
— Você já vai saber, proponho conversarmos em um lugar menos… — Wiben olhou para os dois lados. — Barulhento.
Aquele era um pedido suspeito.
— E se eu não quiser sair daqui?
Wiben alisou o cabelo para trás e deu de ombros.
— Você quem sabe, mas meus amigos aqui podem machucar suas amigas. É isso que você quer?
Brighid segurou no pulso de Colin enquanto engolia em seco. Eles eram um grupo de humanos. A magia em seu corpo novo levaria ao menos 48 horas para funcionar normalmente.
Ela era inútil naquele momento e Colin percebeu isso.
Também tinha o fato que Safira era uma novata aprendendo a controlar os poderes, e o cara na frente deles parecia ser forte, bem diferente dos bandidos que enfrentaram até agora. Colin também estava curioso sobre o rapaz, mas não colocaria a vida de nenhuma delas em risco.
— O seu problema é só comigo?
Wiben assentiu.
— É só fazer o que digo e as garotas não se machucam.
— Tudo bem! — disse Colin. — Vamos para um lugar menos barulhento.
— Colin! — Brighid ainda segurava o pulso dele. — Não acha que deveríamos falar com os guardas?
Ele sorriu.
— Não acredito que os guardas farão algo. Eles são nobres — Colin tocou a testa dela com o indicador. — Ficará tudo bem, confia em mim.
Brighid franziu os lábios e assentiu, mesmo relutante.
Grab!
Safira segurou a borda da camisa de Colin e o encarou com olhos cheios de preocupação.
Colin também sorriu e afagou o cabelo dela.
— Fica tranquila, pequena, será rápido.
Cabisbaixa, ela assentiu franzindo os lábios.
Todos eles se afastaram da multidão, indo para um beco silencioso. Haviam alguns indigentes ali, que logo saíram assim que aquele grupo de pessoas se aproximaram.
A luz fraca de lampião iluminava parte daquele beco sórdido.
— Aqui é um bom ringue, não concorda, elfo?
— Ringue? — indagou Colin.
— Sim! — Wiben desabotoou seu colete e sua camisa, jogando para Samantha. — A gente lutará e eu acabarei com você aqui e agora, bem na frente das suas amigas. Uma briga entre dois homens usando somente os punhos, o que me diz?
Wiben esperava que Colin argumentasse para que aquilo não acontecesse, mas se surpreendeu ao ver Colin tirando a camisa e jogando para Brighid, que o encarou preocupada.
Colin estava acostumado a brigas de rua, não era um engomadinho feito Wiben que o intimidaria.
— Vocês são estudantes daquela universidade, não são? — indagou Colin esboçando um sorriso de orelha a orelha. — Isso é perfeito!
Wiben estalou o pescoço.
— Vai apanhar e está feliz por isso? Deve ser daquele tipo que gosta de apanhar.
Vush!
Colin partiu para cima de Wiben tentando socá-lo, mas Wiben desviou dando um passo para o lado e chutando Colin na costela.
Bam!
Fez um som alto e Colin derrapou para o lado com a mão apoiada nas costelas.
“Mesmo não usando magia, pensei que o desgraçado voaria longe”, Wiben abaixou a perna “Ele tem um corpo resistente, deve ser um usuário da pujança. Não importa, se seu repertório de ataques for tão previsível, o garoto não durará muito.”
— Machuquei você? — provocou Wiben.
Colin abriu um sorriso orgulhoso e partiu para cima de Wiben mais uma vez, tentando atingi-lo no queixo com um gancho, mas Wiben desviou com um passo para trás e socou o lado direito do rosto de Colin.
Bam!
Aquele golpe não o deteve e Colin continuou a avançar com seus murros enquanto Wiben o atingia nas aberturas visíveis.
Golpes no queixo, bochecha, testa, olho, abdômen, Colin havia levado tantos golpes que seu corpo estava começando a sentir. Seu nariz começou a sangrar, assim como o canto de seus lábios.
Já Wiben, estava intacto, porém, desviar de tantos golpes e aplicar tantos golpes certeiros era cansativo. Nenhum dos dois usava magia, e por causa disso Wiben estava começando a sentir os ossos de sua mão.
A Árvore da Pujança era a única árvore passiva das doze. O usuário não precisava de magia para usá-la, e isso colocava Colin na frente quando o assunto é batalhas corpo a corpo.
Se não fosse um usuário da Pujança, ele já estaria nocauteado.
Bam!
Colin havia tomado um golpe no abdômen que o fez sentir um pouco de dor. Mesmo tendo uma armadura natural, seu corpo começava a sentir os golpes depois de recebê-los tantas vezes.
Assim que Colin se curvou devido à dor, Wiben segurou a cabeça dele e aplicou uma joelhada brutal.
Crash!
Wiben saltou para trás e Colin desabou no chão em meio a sujeira.
— Colin! — Brighid ponderou ir correndo até ele, mas Colin se levantou erguendo a mão para que Brighid se mantivesse afastada.
Puf!
Ele cuspiu sangue e estalou o pescoço. Sua testa sangrava, assim como seu nariz que começou a sangrar mais que antes, deixando até mesmo o sangue pingar no chão.
Os estudantes estavam surpresos de ver o Elfo se levantar mesmo após apanhar tanto.
Dois outros veteranos assistiam aquela luta de cima dos telhados. Um deles tinha cabelo prateado meio atrapalhado e usava óculos redondos de lentes avermelhadas.
O outro era um Elfo.
Seus cabelos eram escuros e longos, e os olhos castanhos. Ele estava de pé ao lado de uma chaminé, enquanto o companheiro de cabelo prateado estava sentado na beirada da residência balançando os pés.
Ambos usavam casacos escuros longos, que esvoaçavam devido à brisa gélida que se mantinha no topo daquela casa.
— O garoto é bom! — disse o de cabelo prateado. — É bom em apanhar hehehe.
O Elfo, afastou uma mecha de cabelo movendo-a para trás da orelha pontuda e deu de ombros.
— Acabamos de voltar de uma missão — o Elfo deu as costas. — Devíamos fazer como Sashri e ir descansar. Quem sabe tomar um banho quente e dormir por horas.
— Por que perder o show? É um dos caras do Loafe espancando um Elfo Negro aleatório, mas por quê?
— Não sei e não quero saber. Descansarei e a gente se fala depois, Stedd.
— Tá, tá, some logo daqui! Deixa que aprecio esse espetáculo sozinho.
Bam! Bam! Bam!
Colin levou dois murros no rosto e mais um no abdômen.
Ele deu dois passos para trás e encostou um dos joelhos no chão enquanto vomitava sangue.
Brighid sentiu uma angústia enorme ao vê-lo daquele jeito. Sentiu-se impotente mais uma vez na frente de humanos, ainda mais porque ela não poderia usar um único resquício de magia sequer.
Ela só queria acabar com aquele massacre.
Ao dar um passo para parar aquela luta, ela sentiu um calor repentino bem ao lado dela.
Safira estava furiosa conjurando uma bola de fogo.
Por não controlar seus poderes e nem suas emoções tão bem, Safira só focou no ódio que sentia daquele homem a sua frente e sua bola de fogo não parou de crescer.
Se aquilo explodisse, todo beco seria atingido.
Vush!
Stedd saltou dos telhados para próximo de Safira e segurou os pulsos dela, fazendo-a apontar aquela bola de fogo para o céu.
No mesmo instante, a bola de fogo deixou as mãos dela e estourou as janelas entorno conforme ganhava altitude.
Boom!
Uma nuvem de fogo cobriu parte daquele céu e as pessoas que assistiam ao show do palhaço ficaram impressionadas, pensando que aquilo fazia parte do espetáculo.
Wiben e os outros ficaram boquiabertos que algo como aquilo tenha vindo de uma garota como aquela, e ainda mais chocados que Stedd estava ali.
Os alunos que assistiam à luta encararam Stedd e apontaram para ele com o indicador trêmulo.
— S-Stedd está aqui, merda!
Tropeçando, todos eles deram no pé, deixando Wiben e Samantha no beco.
— Uau! Quanta magia! — Stedd soltou as mãos de Safira a e ela deu um passo para trás. — Não precisa se assustar, não machucarei vocês!
Wiben deu um passo à frente.
— O que faz aqui, assassino?
— Acabo de salvar você e é assim que me agradece? Onde estão os modos dos nobres?
Paft!
Colin desabou e Brighid ignorou todos eles indo socorrer o amigo.
— Colin! Acorda!
— Ele ficará bem! — Stedd exibiu seu sorriso de caninos pontiagudos. — Só precisará descansar, não se preocupe!
Samantha foi até Wiben e entregou as roupas do amado enquanto encarava Stedd com um olhar frio.
— Você voltou… — murmurou ela.
— Sentiu saudades, Samantinha?
Wiben começou a vestir a camisa e o colete.
— Essa luta acabou — disse ele. — Já fiz o que queria.
Colin não estava inconsciente, ele só não conseguia ficar de pé sozinho. Brighid o ergueu passando o braço dele por seu ombro.
— Elfo! — chamou Wiben jogando a pedra que era o convite para a prova de seleção. — Você deixou cair. Se cogita participar do torneio, é melhor desistir, você é fraco — ele olhou para as outras duas. — Talvez vocês tenham alguma chance, mas o Elfo pode esquecer.
Colin continuou em silêncio enquanto Wiben e Samantha desapareceram ao virar à direita no fim do beco.
— Vão participar do torneio? — indagou Stedd empolgado. — Que maravilha, estarei torcendo por vocês! Agora preciso ir, adeus!
Antes que Brighid pudesse agradecer, Stedd dobrou os joelhos e saltou para cima dos telhados, desaparecendo na escuridão.
Brighid virou a cabeça e encarou Colin sorrindo.
Ela não entendeu qual a graça.
— Do que está rindo? — perguntou um pouco nervosa.
— Esse lugar… acredito que vou me dar bem aqui!
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