Índice de Capítulo

    Graças aos esforços de Bonlion e seu pessoal, a segunda linha de ataque das criaturas que carregavam as máquinas de guerra receberam a mensagem e começaram a se preparar. Montaram seus canhões arcaicos em carros de bois e os empurraram pelo vale. Avistaram a primeira leva de Hobgoblins e se prepararam para o inevitável combate.

    Bem preparados, aquela primeira batalha foi relativamente fácil. Usaram os canhões e nenhuma vida foi desperdiçada, ao contrário da primeira leva de Hobgoblins que foi completamente destruída. Uma leva de dez mil inimigos foram abatidos, junto a ogros e lobos gigantes.

    Gnolls caminhavam pelo cenário desolador, arrancando dedos e orelhas de seus inimigos para usarem como troféus, enquanto outra leva de criaturas pilhava os pertences daqueles cadáveres.

    Foi uma vitória importante, apesar de o exército de goblins estar desorganizado pelos eventos que aconteciam na retaguarda. Explosões, a destruição parcial do forte, isso havia levado a um número assustador de baixas. O número excessivo de Hobgoblins se tornou isso, apenas um número.

    Os líderes de legiões não sabiam se ficavam no forte destruído para inibir outro ataque interno ou se avançavam, e isso fragmentou legiões inteiras, deixando tudo confuso. Enquanto eles estavam perdidos, as criaturas continuavam avançando, aniquilando seus inimigos que vinha até eles em pequenos números, deixando tudo mais fácil.

    A caminho do forte com seu exército de guerreiros, Nag conseguiu ver diversos focos de fumaça, se perguntando se os invasores já haviam chegado. Ele sacudiu as rédeas de seu lobo gigante e foi apressado até o forte. Passou pelos muros derrubados, vendo uma desolação que fez seu coração palpitar.

    Goblins tentavam se ajudar, movendo cadáveres e feridos para qualquer lugar livre. Havia uma grande fissura no meio do forte, uma fissura onde não era possível avistar o fim.

    — Senhor Nag! — chamou um dos Hobgoblins — As criaturas! Elas conseguiram chegar até aqui!

    — As criaturas fizeram tudo isso?

    — Não! Foi uma mulher de batina!

    “Uma mulher de batina? Rian? Tsc! Ele é um traidor?”

    — Onde estão os seus superiores? — Indagou Nag.

    Ele apontou para fora do forte.

    — Eles partiram com as legiões para deter a invasão externa, as criaturas estão cada vez mais perto!

    Nag assentiu em cima de seu lobo branco.

    — Os que estão aqui, permaneçam! Meu pessoal e eu daremos um jeito nas criaturas. Fiquem firmes e tratem de se curar, isso pode ficar complicado.

    “Se Rian aparecer, acabarei com ele de uma vez por todas, aquele traidor!”

    Nag contornou a fissura e junto aos seus quase cinco mil guerreiros avançou com bastante pressa pelos portões, passando por cima dos corpos de goblins que estavam pelo caminho.

    Não tão longe dali, Colin e seus companheiros passavam pelos vales encharcados de sangue goblin e viam pequenos focos de combate. Ele não esperava que as criaturas fossem uma força tão destrutiva. Se soubesse disso antes, não teria invocado Jane, muito menos Valagorn.

    Ergoth também estava impressionado pela carnificina do cenário pós-guerra, ele nunca havia visto as criaturas tão vorazes desta forma.

    — Que tédio… — Reclamou Jane fazendo beicinho — Colinzinho, você nos prometeu uma guerra, e isso é um massacre. Se eu soubesse que seria assim, teria ficado naquele barraco caindo aos pedaços tirando uma soneca. Minha bunda está doendo de ficar sentada na coluna desse cavalo e eu estou começando a suar.

    — Você só sabe reclamar? — indagou Ayla — Sua voz é irritante, devia ficar calada.

    — Nossa, parece que alguém está nervosinha. — Jane deu uma piscadela para Ayla — Existem várias maneiras de relaxar, majestade, meu Colinzinho aqui ainda não te ensinou quais são, mas posso ensinar se quiser.

    Ayla franziu o cenho e empinou o nariz.

    — Fique longe de mim, ou mato você, me ouviu?

    Jane fez beicinho e crispou os dedos, encarando Ayla com uma feição engraçada.

    — Vem cá, majestade, deixar eu ver se você é toda durinha mesmo!

    — Eu disse para você ficar longe!

    Colin revirou os olhos e suspirou olhando para Valagorn enquanto aquelas duas discutiam lá atrás.

    — Grupo animado você tem aqui — disse Valagorn com um sorriso — Isso me traz algumas lembranças.

    Colin desviou o olhar. Ele também se lembrou daqueles que se foram, das brincadeiras em grupo e em como eles eram despreocupados naquele tempo. Era tudo tão perfeito que Colin se pegou sorrindo ao passear por aquelas lembranças. Ele ainda estava se recuperando, tentando se reerguer dos traumas passados e caminhando para construir algo grandioso.

    — Ei, garoto, tudo bem? — Indagou Valagorn.

    — Tudo, a gente não deve tá muito longe. Vamos logo acabar com isso e voltar para casa.


    Faltava pouco para que o exército de Nag colidisse com o das criaturas. Já era possível ver os focos de incêndio e as máquinas de guerra no gramado alto dos morros. Sem dizer nada, o exército de Nag se dividiu em três. Nag continuou a avançar pelo meio, enquanto seus guerreiros seguiram pela esquerda e direita. As criaturas não sabiam para qual lado direcionariam seus esforços, pois atacar todos os lados de uma vez era ineficiente.

    Muitos sacaram suas espadas e se prepararam para um confronto direto. Os lobos gigantes chegavam cada vez mais perto, e sua marcha tremia a terra. Após inúmeras vitórias a longa distância, as criaturas iriam para um confronto direto justamente com os seres mais poderosos do território hostil.

    — Mirem em Nag! — Bradou uma das criaturas — Deixem os canhões apontados para ele enquanto o restante se prepara com espadas e bombas!

    Nag viu que canhões estavam sendo redirecionados em sua direção. Ele não poderia ficar mais feliz. Apanhou o seu enorme machado e o ergueu. Seus guerreiros responderam ao chamado de guerra avançando ainda mais rápido contra as criaturas.

    Boom! Boom! Boom!

    Os primeiros disparos não conseguiram atingir Nag, mas sim um punhado de seus homens. Isso não os fez parar, apenas os instigou ainda mais a continuar.

    Uma segunda leva de disparos foi lançada, desta vez acertaram o lobo branco gigante de Nag, mas a criatura nada sentiu, avançou com ainda mais ferocidade. Apavoradas, as criaturas não sabiam o que fazer, e muitas começaram a fugir, deixando toda aquela linha de combatentes desalinhada e cheia de falhas.

    Foi o suficiente para os Orcs avançarem com êxito, destruindo a primeira linha de ataque, os cercando pelos flancos. Os lobos destroçavam as criaturas com seus dentes afiados enquanto os Orcs desceram dos lobos e começaram a matar as criaturas, que eram menores e mais fracas.

    Eles foram aniquilados completamente junto as máquinas de guerra. Bonlion foi a primeira linha de ataque das criaturas, e aquela que acabou sendo destruída foi a segunda. Quase dez mil criaturas haviam sido eliminadas em pouco tempo, 1/5 da força de invasão estava destruída.

    Nag ainda estava em cima de seu lobo olhando ao redor orgulhoso. A carnificina deixada por eles era satisfatória. A alguns Orcs foi dada a ordem de retornar e avisar aos Hobgoblins para continuar a marchar, isso ainda não havia terminado. Era hora de recuperar o que as criaturas haviam tomado e se prepararem para enfrentar o carniceiro e a caçadora.

    Sacudindo as rédeas, o lobo de Nag avançou rumo ao norte. Seu objetivo era destruir a terceira linha de ataque e continuar até não sobrar mais nenhum inimigo.

    A terceira linha de ataque era constituída por quase quinze mil criaturas, perdendo somente para a quarta linha, com aproximadamente vinte e cinco mil criaturas.

    Nag estava a menos de dez quilômetros da terceira linha, uma linha mais numerosa, porém, com menos canhões e maquinários de guerra. Aqueles cinco mil Orcs eram mais que o suficiente.

    Ao longe, Colin conseguia ver a quarta linha de ataque. Eles usavam os corpos no caminho para usarem como munição de catapultas e os enxiam de óleo para quando chegar a hora o incendiar e lançar.

    Enquanto os primeiros grupos estavam ocupados procurando armas, aquele estava preocupado em encontrar joias preciosas e itens de valor entre os cadáveres.


    Colin e seus companheiros haviam alcançado a última linha de ataque, vagando por eles despreocupados.

    Jane tapou o nariz com uma das mãos.

    — Que fedor! Não sabia que criaturas podiam feder tanto.

    — Senhor! — disse um homem lagarto — O senhor veio nos ajudar!

    — Sim… Qual a situação?

    — Estamos avançando em fileiras, deixando um espaço de cinco a dez quilômetros entre elas. Aqueles nas primeiras fileiras mandaram um corvo, o ataque está sendo um sucesso!

    Colin assentiu e achou a informação pertinente, já que o ataque havia começado mais cedo. Se estavam ganhando, então tudo bem.

    Uma comoção começou a frente. As criaturas começaram a ficar agitadas e Colin percebeu. Elas correram para os canhões e a quarta linha ficou inteiramente agitada. Ouviram uma trombeta e ao longe viram Orcs se aproximarem em cima de seus lobos.

    “A terceira linha foi destruída?” Se perguntavam as criaturas.

    Era impressionante a velocidade com que conseguiram avançar, subjugando a terceira linha que tinha poucas máquinas de guerra, mas seus números eram expressivos. Horas atrás fora enviado um corvo, sinalizando estar tudo bem, mas agora outra história era contada diante de seus olhos.

    Do terreno alto, criaturas se preparavam para um confronto eminente e Colin cavalgou calmamente entre o desespero das criaturas, vendo aquela marcha se aproximar ao longe. Mesmo distante, a sede de sangue poderia ser sentida dali.

    — Aquilo são mesmo Orcs? — Indagou Jane empolgada — Fazia séculos que eu não via um, não é uma criatura tão comum no abismo. — Sua empolgação desapareceu — Bem, eles não mudaram nada, continuam bárbaros e assustadores.

    — O que vamos fazer, garoto? — Indagou Valagorn — Eles estão em um número expressivo, e não acredito que suas criaturas aqui consigam ter uma vantagem significativa, mesmo com um exército quase três vezes maior.

    O cavalo de Ayla ficou ao lado do de Colin.

    — Vamos mandá-los recuar — disse Ayla confiante — Eram cinquenta mil criaturas divididas em quatro linhas, correto? Se os Orcs avançaram tão longe, significa que todas as nossas linhas foram destruídas. — Ela olhou para os dois lados — Bonlion não está aqui, isso significa que o nosso capitão está morto. É melhor que eles recuem e se preparem para enfrentar os Hobgoblins que devem estar marchando logo atrás.

    — Está sugerindo que nós quatro cuidemos de um exército de Orcs ensandecidos? — Indagou Jane.

    — O que foi, não aguenta? — provocou Ayla.

    Jane apenas abriu um sorriso sedutor e deu de ombros.

    — Vamos lá, rainha, vamos seguir o seu plano.

    Ambas olharam para Colin esperando uma confirmação. Ele assentiu e desceu do cavalo jogando o capuz para trás, sentindo a brisa no rosto.

    Olhou para Ergoth em cima do lobo.

    — Recuem há três quilômetros daqui. Sem Bonlion, você se torna o capitão. Construa paliçadas e preparem as criaturas para usarem os canhões sem parar.

    Ergoth não discutiu, ele apenas assentiu e balançou as rédeas de seu lobo anunciando a toda quarta linha para que recuassem o mais rápido possível. Colin e seus companheiros desceram do cavalo e seguiram o rei do território hostil pelo morro alto, sentindo a brisa e o cheiro de pólvora.

    Jane apoiou a mão na cintura e respirou fundo.

    — O cheiro da guerra, que nostálgico. E então Colinzinho, qual o plano? Cada um de nós enfrentará mil Orcs ou algo assim?

    — Não. Nag é meu, vocês cuidam dos Orcs e de quem vier.

    — Sou eu quem devia enfrentar Nag. — disse Ayla apoiando a mão no cabo da espada — Esse Orc e eu temos uma longa história.

    Colin a encarou com o cenho franzido.

    — Não me importo se tem uma história com ele, a única coisa que interessa é a morte de Nag e a tomada de todo território hostil. Sua função aqui é a política, majestade, a minha é a de eliminar qualquer ameaça externa do nosso futuro reino.

    Ayla abriu a boca para dizer algo, mas não disse nada. Era a primeira vez que ela viu Colin falar com ela dessa maneira, e isso a chocou um pouco.

    — Tsc! É melhor que não perca para um Orc. — Foi a única coisa que conseguiu dizer.

    Colin assentiu e massageou o ombro. Começou a caminhar enquanto as criaturas se retiravam as pressas. Nag liderava suas tropas avançando com ímpeto, até que viram aqueles quatro parados em campo aberto e seus lobos diminuíram a velocidade.

    — Senhor, é ele, não é? — indagou um dos orcs — Devemos nos dividir como antes ou é melhor avançarmos e acabarmos com eles?

    Nag estava confuso sobre qual atitude tomar. Frente a ele estava as duas pessoas mais perigosas do centro-leste e mais outras duas que ele não fazia ideia de quem era. De repente, a horda orc parou em uma linha horizontal, esperando a ordem de seu líder.

    — Tog! Norril! Avancem com seus homens, agora!

    Os dois Orcs de pele esverdeada assentiram e seus lobos uivaram, puxando parte da horda consigo.  Mesmo estando a meio quilômetro de distância, Colin e os outros conseguiam sentir a terra tremer.

    Ayla deu alguns passos a frente e desembainhou sua espada, apontando para a horda.

    — Você quer o Nag, não é? — encarou Colin de canto — Tsc, deixou a gente com o trabalho mais pesado. Está aprendendo a ser um rei mesquinho, só espero que isso não vire rotina.

    — Vai atacar sozinha, majestade? — Zombou Jane — Tem ao menos uns mil Orcs vindo até nós. Sabe que seria um desperdício de mana, não sabe? E ainda tem os Hobgoblins que devem estar em números bem superiores como você mesma reiterou.

    Mana elétrica dourada começou a circundar o corpo de Ayla.

    — Depois que Hobgoblins verem milhares de Orcs abatidos, duvido que eles tenham força para reagir. Mil, cinco mil, dez mil, não perderei para nenhum Orc, então fique aí me olhando se quiser.

    Cabrum!

    Ayla avançou contra a horda.

    Um flash amarelo encurtou a distância em segundos, deixando um rastro por onde passou. A primeira vítima de Ayla foi um gigantesco lobo branco que teve sua pata traseira decepada. A criatura caiu rolando, derrubando outros. Ela continuou rasgando Orcs a medida que avançava, bagunçando toda aquela linha de ataque.

    Alguns Orcs mais atrás saltaram de seus lobos buscando vantagem no combate direto, e Ayla lhes deu essa vantagem para conservar mana. No meio daquele massacre, ela concentrou mana somente nas pernas e partiu na direção de um grupo de Orcs.

    Deu um passo para o lado esquivando de um machado e decepou seu braço. Dobrou os joelhos e saltou. Ficou de ponta a cabeça e girou rapidamente, decapitando cerca de sete Orcs. Chegou ao chão e se abaixou, dando uma rasteira em um Orc e, ates que a criatura pudesse cair, ela o chutou violentamente, fazendo o Orc abrir caminho enquanto derrubava seus aliados.

    Ayla aproveitou e avançou pelo caminhou aberto pelo Orc, decapitando todo Orc que teve o azar de topar com ela.

    Nag observava seus homens caírem um por um e isso o encheu de ódio. As veias de sua têmpora saltaram ao ver que seus guerreiros estavam recuando por medo, abrindo espaço para que Ayla fizesse o que bem-queria, e ela não desperdiçou essa chance.

    Concentrou um pouco mais de mana nos pés e, como um vulto, avançou pelos Orcs. Ia de um lado paro o outro decepando braços, pernas, empalando orcs e decapitando tudo que se movia.

    Um flash amarelo parecia costurar a horda sem muita dificuldade enquanto sangue de orc caía pelo campo de batalha como chuva.

    Ayla não poupou nem os lobos, cravando a espada em suas jugulares assim que passava por eles.

    Nag estava se lembrando do porquê a chamavam de caçadora de orcs.

    — Fiuuu! — Assoviou Jane — A garota é feroz. — Ela espreguiçou e sentou-se no chão. — Vocês não precisam da gente, Colinzinho. Vão lá, como rei e rainha seria interessante ver vocês em ação. Ganhar confiança dos súditos, essas coisas.

    Colin deu de ombros.

    — Fiquem aí, isso não vai demorar. — Ele começou a caminhar em direção ao campo de batalha.

    Nag engoliu o seco. Uma única pessoa estava liquidando mil de seus guerreiros como se fossem soldados inexperientes. Com o carniceiro caminhando em direção ao combate, ele se sentiu responsável a tomar uma atitude.

    — Walrry! Gorgo! Rurbog! — Nag apontou o machado na direção de Ayla — Destruam aquela mulher!

    Após urrarem e erguerem seus machados, os orcs avançaram estremecendo a terra. Mais de três mil Orcs avançavam com ímpeto pelo meio quilômetro que lhes faltava até se chocar com Ayla no campo de batalha, que naquela altura havia eliminado toda a primeira leva de Orcs.

    — Eles parecem sérios desta vez. — Colin caminhou pelo mar de sangue, se aproximando de Ayla emporcalhada com o sangue e as vísceras de seus inimigos. Ela estava com olhos estreitos focando na horda com quase duas vezes mais inimigos.

    — Suas invocações, elas não vão ajudar?

    Colin olhou para trás e Jane deu um tchauzinho.

    — Você precisa da ajuda deles? — Indagou fitando Ayla nos olhos.

    Ayla abriu um sorriso e mana elétrica dourada começou a serpentear por todo seu corpo.

    — Como sou uma rainha generosa, deixarei Nag para você, mas apenas ele, entendeu?

    Colin retribuiu o sorriso.

    — Claro, mostre o que sabe, majestade.

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