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    Ting!

    A onda de choque foi sentida pelo encontro daquelas duas espadas. Enquanto disputavam força, o olhar deles se cruzaram. Não era possível dizer quem estava mais ensandecido. Nag aumentou a gravidade sobre o próprio corpo e forçou Colin para trás com o movimento arqueado de sua espada.

    Em uma cambalhota, Colin chegou ao chão. Dobrou os joelhos e avançou na direção da criatura, que aumentou ainda mais a gravidade sobre si, deixando seus golpes mais pesados.

    Ting!

    Do choque daquelas lâminas viu-se uma chuva de faíscas. Nag havia aplicado uma força significativa naquele golpe, mas Colin pareceu não sentir. O olhar ensandecido do carniceiro continuava o mesmo.

    “Preciso aumentar a gravidade!” Pensou Nag.

    Bam!

    Colin defendeu outro golpe, mas dessa vez foi um golpe que o tirou do chão. Nag bateu as asas e avançou. Apontou a espada para Colin e um círculo mágico se abriu sobre ele enquanto ele ainda estava no ar, o esmagando contra o chão em um estrondo ensurdecedor.

    Boom!

    Nag aproveitou a chance e bateu as asas mais uma vez, indo para o alto. Apontou a espada para o buraco que havia criado e outro círculo mágico se formou, exercendo uma pressão duas vezes mais forte que a anterior, depois quatro vezes e depois oito vezes. O chão entorno daquele campo de batalha cheio de corpos de Orcs começou a rachar, deslocando-se em grossos pedaços de terra.

    Ayla pegou a armadura de couro de Colin e se afastou daquela destruição dando longos saltos. Longe dali, Rian abriu um sorriso de satisfação, enquanto Jane e Valagorn continuavam sérios.

    Outro círculo mágico se abriu acima daquele buraco que não parava de crescer, e acima daquele círculo se abriu outro e mais outro. Nag urrou e o círculo começou a brilhar intensamente, exercendo uma pressão dezesseis vezes maior que a anterior, levantando uma nuvem de cogumelo após um estrondo.

    Boom!

    Toda terra em torno começou a rachar e fendas começaram a se abrir, engolindo o corpo daqueles Orcs e lobos. Abalos sísmicos foram sentidos até pelas criaturas que estavam ao longe, e a nuvem de poeira em formato de cogumelo pôde ser vista há quilômetros de distância.

    Foi a vez de Nag abrir um sorriso.

    Seu ataque havia sido um sucesso, e ele não economizou nem um pouco ao lidar com o carniceiro. Ele reconhecia a força de seu oponente, por isso foi com tudo.

    Ayla abraçou a armadura de couro de Colin e engoliu o seco. O carniceiro havia dito a ela para não se preocupar, mas era impossível. Ela já estava envolvida emocionalmente com ele.

    Nag olhou para Ayla ao longe. — Agora só resta você.

    Antes que Nag pudesse avançar, ele viu alguma coisa saltar para fora da nuvem de poeira. Colin ainda estava vivo, mas seu corpo sangrava como nunca. Sua cabeça, seus braços, tórax, todos cheios de escoriações e cortes profundos, mas ele agiu como se não fossem nada.

    Olhou para Nag lá em cima e abriu um sorriso ensanguentado.

    — Uma vez enfrentei um usuário avançado do vácuo — disse ele enquanto massageava o ombro — Pensei que seus golpes de pressão fossem manifestações avançadas do canhão galick, mas não são. Já tomei um canhão galick a queima-roupa uma vez, então pensei, por que não tomar algo similar de novo? Então o primeiro golpe veio, depois o segundo, e eu ainda tentava entender o que era. Após esse último eu entendi. Você consegue aumentar a gravidade daquilo no círculo, não só isso, também consegue deixar seu corpo mais forte. — Colin apoiou Claymore no ombro e uma mão na cintura — Estou um pouco decepcionado, Nag. Você ficou tão poderoso assim, mas seus golpes ainda são fracos. Tentou aumentar sua força com gravidade, mas ainda é inferior a mim, que nem magia estou usando. — Ele abriu um sorriso debochado — Um canhão Galick de um usuário nível sete do vácuo é mais forte que esse seu último golpe.

    Veias saltavam da têmpora de Nag. Ele não sabia se Colin falava a verdade, ou estava apenas o provocando, mas aquelas palavras haviam o irritado profundamente.

    Woosh!

    Algo saiu da nuvem de poeira e caiu em um estrondo ao lado de Colin. Feito de mana elétrica e assumindo uma forma etérea, um homem musculoso e mais alto que Colin estava ao seu lado segurando um enorme machado.

    “Uma invocação?” Pensou Nag.

    Colin continuava com seu sorriso debochado no rosto.

    — Essa é minha invocação, Vrumud. Em vida ele foi um monarca da pujança que derrotei. Sem ofensas, Nag, mas ele será o suficiente para acabar com você.

    “Monarca da pujança? Ele matou um monarca da pujança? Esse mestiço? Impossível!”

    — Não irei cair no seu truque, carniceiro!

    Woosh! Ting!

     Nag bateu as asas e avançou como um torpedo na direção de Colin, mas foi interrompido por Vrumud e seu enorme machado.

    — Saia da minha frente, invocação!

    Bam!

    A criatura Nag conseguiu rebater Vrumud para longe, mas ele prontamente retornou em um piscar de olhos, chocando seu machado feito de raios com a espada cheia de olhos da criatura. A força daquela invocação era quase igual a de Colin, sendo somente um pouco inferior, mas isso era o suficiente para o pressionar.

    Aqueles dois continuavam trocando golpes enquanto Colin estava ao longe, observando tudo. Ele mantinha sua postura, mas seu corpo todo latejava. Somente havia queimado grande quantidade de mana para invocar Vrumud para que ele mesmo pudesse se recuperar, caso contrário bastariam alguns minutos e ele desabaria não só pela dor, mas pela exaustão.

    Usando a mana restante em Claymore, ele fechava lentamente seus ferimentos mais graves, recuperando o fôlego de pouco em pouco.

    Mesmo que estivesse fingindo, aqueles que observavam a luta não tinham ideia do que estava acontecendo. A tensão de Ayla não a deixou ver a situação com clareza, mas sua angústia diminuiu ao Colin demonstrar controle total da situação.

    Rian franziu o cenho enquanto Jane abriu um sorriso sedutor.

    — Meu garoto parece estar dando um jeito no seu bichinho. Se eu fosse você sairia correndo antes que esse círculo que nos prende se rompa.

    — Tsc… A luta ainda não terminou, demônio.

    — Tem certeza que não? Se seu bichinho não começar a pensar, então será o fim dele, e o seu também.

    O combate de Vrumud se desenrolava, enquanto Colin ficava cada vez mais apto para o combate. Ergoth havia retornado com algumas criaturas após sentir todo aquele tremor. Ele viu um cenário desolador. Havia enormes fissuras na terra, com enormes blocos de terra erguidos aleatoriamente, mudando totalmente a geografia do local, além do corpo de inúmeros Orcs espalhados por todo lugar.

    Viram Colin no fundo, e viram uma criatura enfrentar algo que se parecia com um espectro feito de raios. Eles nunca duvidaram que Colin fosse perder para Nag, mas ver aquela destruição e ver Colin ostentando uma pose orgulhosa só fez a fé no carniceiro aumentar.

    “Preciso recuperar a mana de Claymore e acabar com isso antes que ele venha com outro ataque daquele.” Pensou Colin dobrando os joelhos “Claymore tem mana sobrando para que eu execute um único passo fantasma, e tem que ser certeiro.”

    Crash!

    Em um movimento rápido, Nag partiu a invocação ao meio, deixando faíscas serpentearem no ar. Assim que o cortou, olhou para onde Colin estava, mas ele não estava mais ali.

    “Onde você se met-”.

    Crash!

    Ele foi empalado pelas costas. Olhando por cima dos ombros, ele viu Colin com um sorriso largo aberto. Nag ainda estava em pleno ar. Colin apoiou os pés nas costas de Nag e retirou Claymore, caindo gentilmente em um bloco de terra deslocado.

    Nag se perguntava como não havia o visto chegar, mas estava tudo bem. Ele estava tão poderoso que um golpe daquele não o mataria. Sua ferida se fechou, e ele limpou o sangue que escorria do nariz.

    — Seu mestiço de merda!

    Colin abriu um sorriso de canto.

    — O que foi? Percebeu que você não é tão forte quanto pensou que seria?

    Nag apontou o braço para Colin e o errante usou o passo fantasma novamente, empalando o peito de Nag.

    Crash!

    No ataque anterior, Claymore atravessá-lo foi o suficiente para recuperar um pouco de mana. Agora, recuperou ainda mais. O olhar deles se cruzaram, e assim que Colin se desvencilhou de Nag, ele aproveitou o inimigo atônito para arrancar o seu braço com um corte.

    Cof! Cof!

    Nag tossia sangue. Seu raciocínio estava mais lento, e sua mente estava começando a ficar confusa. Dois ataques como aquele em segundos demonstravam sua inferioridade naquela batalha e escancarava suas falhas. Falhas estas, que Colin conseguiu aproveitar muito bem.

    — Você é fraco, Nag! — Colin chegou ao chão — Por que não desiste? O resultado dessa luta já é óbvio!

    Furioso, Nag cerrou seus dentes tão forte que eles trincaram. A ferida em seu braço decepado começou a borbulhar e outro braço apareceu, mas logo foi arrancado novamente. Colin usou o passo fantasma passando por ele em um piscar de olhos. Chegou ao chão do outro lado e o cortou mais uma vez.

    Rian cerrou os punhos e começou a flutuar. Aquela luta já estava decidida.

    — O que foi, já vai sair com o rabo entre as pernas? — debochou Jane.

    — Nós nos veremos novamente, demônio. E da próxima vez nem você e nem o mestiço, terão tanta sorte.

    Woosh!

    Rian alçou voo e desapareceu nas nuvens.

    Nag continuava a perder consciência à medida que perdia mais e mais sangue. Colin continuava indo e vindo com seus passos fantasmas, retalhando o que já foi um Orc com extrema facilidade. Em determinado momento, Nag não conseguiu mais se curar, deixando feridas que começavam a borbulhar e as bolhas estouravam, escorrendo sangue por todo aquele corpo que perdia seu vermelho vibrante, dando lugar a um vermelho fraco e ressecado.

    A mente débil de Nag nada mais conseguia fazer. Oponentes como Colin exigiam raciocínio rápido e lógica impecável em combate, e Nag não tinha nenhum dos dois. Os olhos de suas espadas começaram a ficar desorientados, girando sem parar. O próprio Nag começou a bater o queixo enquanto babava e grunhia.

    Colin parou de provocá-lo e ficou o encarando lá em cima se contorcer sem parar. Do peito de Nag, runas ganharam forma, percorrendo todo seu corpo trêmulo. Desta vez não foi só as feridas de Nag que começaram a borbulhar, mas todo seu corpo.

    Splash!

    Nag explodiu. Seu sangue e seus pedaços evaporaram antes de alcançar o chão. Exausto, o carniceiro se sentou e suspirou. Após usar os passos fantasmas tantas vezes seguidas, suas feridas abriram, e ele caiu de costas na grama de um dos blocos de terra deslocados.

    “Mais cinco minutos e eu estaria acabado.”

    — Colin! — Ayla se aproximou, ainda segurando a parte superior de sua armadura.

    Ela ajoelhou ao lado dele, portando um sorriso bobo.

    — Você tá horrível…

    — Eu disse a você que não precisava se preocupar.

    Ayla afastou uma mecha de cabelo e assentiu.

    — Você não foi nem um pouco cuidadoso, aquele golpe que causou toda essa destruição, por que não esquivou?

    Colin sentou e coçou a nuca.

    — Eu tinha que quebrar a confiança dele. O único jeito de fazer isso era ele dar um de seus melhores ataques em mim. Meu corpo é resistente, então apostei que conseguiria aguentar.

    Ayla meneou a cabeça.

    — O seu jeito de lutar é bastante arriscado, e se você tivesse se ferido gravemente, o que acha que teria acontecido?

    — Nada. Você mesma viu que Nag era bem poderoso, mas ele pecava em velocidade. Você conseguiria derrotá-lo. Venceu quase quatro mil Orcs sem levar um único arranhão.

    Erguendo-se, Ayla estendeu a mão para Colin e o ajudou a se levantar.

    — Você está me superestimando. O nível de habilidade dos Orcs e de Nag era totalmente diferente.

    — Então acha que perderia?

    — Eu não disse isso. — Ela entregou a parte superior da armadura para Colin — Vista isso, tem algumas criaturas te esperando. — Toda quarta linha de ataque que Colin pediu para recuar havia retornado.

    — Essas criaturas não sabem acatar ordens?

    — Não seja ranzinza, vá falar com seus súditos, estão te esperando.

    Lentamente, Colin vestiu a armadura de couro e transformou Claymore em um anel.

    — Vem comigo, eles também são seus súditos.

    Ayla abanou uma das mãos.

    — Esse momento é seu.

    — Foi você quem derrotou o exército de Nag, eu só derrotei Nag.

    — E mesmo assim o trabalho mais complicado foi o seu. Vai logo falar com eles, eu tenho outro lugar para ir.

    Colin ergueu a sobrancelha.

    — Outro lugar?

    Ayla apontou para o Norte.

    — Hobgoblins devem estar marchando para cá. Darei um jeito neles.

    — Sozinha?

    — Eles são numerosos, mas são fracos e costumam ser mais covardes que Orcs. — Ayla deu dois tapinhas nas costas de Colin — Sua vez de confiar em mim.

    Ele suspirou.

    — Tá. Cuidado.

    — E quando não tomo?

    Sorriram um para o outro. Faíscas começaram a serpentear o corpo de Ayla e ela desapareceu após um estrondo. Colin dobrou os joelhos e saltou de morro em morro, deixando toda aquela destruição. Ficou alguns metros das criaturas e suspirou.

    Ele não faria um discurso caloroso, apenas diria o que viesse a sua mente. Colin apontou para trás, na direção daquele cenário desolador.

    — Estão vendo aquilo? Esse lugar desolador é o túmulo de Nag e sua horda, mas também é um monumento. Toda vez que olharem para esse lugar, lembrem-se do que aconteceu aqui. Eu disse que derrotaria Nag, e está feito, mas não realizei isso sozinho, nenhum de nós fez. Seus amigos e até seus familiares se sacrificaram para dar essa liberdade a vocês, não se esqueçam que foi através do sacrifício deles que vocês agora são livres. Não sou um tirano, não os ameaçarei e nem os forçarei a nada, muito menos ficarei nesse lugar para controlá-lo. Aqui, no território hostil, vocês estão livres, mas claro, prezo pela paz e ordem desse lugar. Espero mantermos uma boa relação entre o território hostil e o centro-leste, isso é tudo. Ayla, a rainha, cuidará dos Hobgoblins sozinha, mesmo depois de, também sozinha, derrotar o exército de Nag, então descansem, retornem para suas casas e aproveitem essa amarga vitória. Dispensados.

    Os lobisomens começaram a uivar, assim como os Gnolls. Algumas criaturas bateram em seus peitos bradando urros ensurdecedores. Aquele era o jeito deles de comemorar.

    — Muito bem, garoto. — Gracejou Jane se aproximando com seu sorriso sedutor — Estou orgulhosa de você. Um pouco imprudente, mas funcionou, certo? Vamos retornar a vila dos Orcs já que a bonitinha vai ficar com o trabalho pesado, né? Temos muito o que conversar.


    As lufadas de vento balançavam o cabelo de Ayla. No alto de uma montanha, ela viu a numerosa marcha de Hobgoblins se aproximar cruzando o vale.

    Ouviu-se outro trovejar e ela desapareceu.

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