Capítulo 208 – O Terrasque
Ting!
Colin dobrou os joelhos e saltou, atingindo o crânio resistente da criatura com a espada. Ele sequer o arranhou. Seus olhos se cruzaram com os da criatura por um instante. O monstro abriu a boca para abocanhá-lo, mas Colin apoiou um dos pés no focinho da criatura e saltou para trás.
Bam! Bam! Bam!
A enorme cauda da criatura atingiu os andares superiores, os destruindo e matando dezenas de goblins no processo. A poeira, o cheiro de sangue, tudo isso se misturava. Até mesmo parte do teto cedeu, deixando a luz do sol transpassar, iluminando o terrasque diretamente.
Era uma visão assustadora e, ao mesmo tempo, deslumbrante.
— Você vai me dar trabalho! — Colin suspirou e apertou o cabo de sua espada. As veias de seus braços saltaram, assim como as de seu pescoço. — Vamos ver o quão resistente você é!
Colin saltou na direção do terrasque mais uma vez segurando a espada ao lado do tórax. O terrasque girou, o atingindo com a cauda longa como se fosse um chicote.
Slap! Boom!
O errante foi enterrado na parede violentamente, causando abalos sísmicos em parte da caverna. Andares superiores terminaram de desabar, e mais pedregulhos despencaram do teto, iluminando todo salão.
A criatura rugiu, e mais partes do teto caiam em torno.
Alunys e Leona que estavam escoltando as garotas ouviram o som assustador e olharam para trás. Estavam no meio da floresta e puderam vislumbrar os pássaros alçarem voo e as criaturas fugirem pela mata.
— Colin! — Alunys ficou preocupada. Voltou a si quando uma das garotas a chamou.
— Tudo bem, senhorita? — indagou apavorada. As mulheres observaram a hesitação de Alunys. Elas não queriam voltar para aquele lugar de jeito algum.
A Elfa encarou Leona.
— Senhor Colin pode estar com problemas!
Uma das garotas segurou a mão de Alunys apavorada.
— V-Você não vai nos deixar, vai?
Alunys olhou para todas as mulheres que tinham a mesma expressão, logo depois olhou para trás onde Colin estava.
— Alunys! — Chamou Leona — Não precisa se preocupar, é o Colin. Aquele cretino aguenta, não importa o que for. Sempre foi assim, né?
A Elfa engoliu o seco e assentiu. Apesar de estar preocupada, Leona tinha razão. Colin sempre voltava, não importava o quão perigoso fosse, ele sempre sobrevivia.
— Tá, vamos continuar!
No enorme salão, agora iluminado completamente pelo sol, Colin saía do meio dos escombros. Sua armadura de couro estava destruída em partes, mas seu corpo continuava sem um único arranhão.
Deu alguns passos à frente apoiando a espada no ombro. Encarou o enorme terrasque mais uma vez e abriu um sorriso de canto. Colin sempre gostou de dinossauros, e ver uma criatura que se parecia com um, na sua frente, o fez lembrar da terra e dos filmes do gênero que adorava em sua infância.
A criatura apoiou os braços no chão e avançou contra Colin abrindo aquela enorme boca fétida cheia de dentes. Antes de ser abocanhado, Colin saltou, atingindo a criatura na cabeça com a espada, bem onde havia a atingido anteriormente. Apoiou os pés nas costas da criatura e saltou para longe, esquivando da cauda com um giro. Chegou ao chão sutilmente enquanto o terrasque deu uma bela cabeçada na parede, trazendo mais uma vez abalos sísmicos.
Bam!
— Você é bem resistente, mas até mesmo seres resistentes são feridos depois de algumas pancadas bem dadas.
“Claymore, me empreste um pouco de magia”.
Colin transformou a enorme Claymore em uma adaga e a segurou nos dentes. Raios negros começaram o circundar. Ele deixou as palmas de suas mãos esticadas, como se fossem espadas, e após o som de um trovão, ele avançou.
Cabrum!
A criatura balançava o corpo como um cão, tirando as pedras e poeira de suas costas. Cruzou olhares com Colin a poucos metros de distância e abriu a enorme boca e tentou abocanhá-lo, mas Colin foi mais rápido, apoiando os pés nos dentes da criatura e impulsionou, indo para suas costas.
Como se suas mãos fossem britadeiras, atingiu a resistente armadura do terrasque em um único ponto repetidas vezes. Os poucos goblins que restavam sentiram como se estivessem no epicentro de uma poderosa tempestade. O som de trovoadas constantes ecoou por todo salão, deixando som escapar pelo teto.
Cabrum! Cabrum! Cabrum!
Colin conseguiu arranhar a armadura da criatura, até mesmo abriu-se uma minúscula rachadura, mas ele foi atingido pela cauda do animal.
Slap!
Antes de chocar-se contra a parede, Colin recuperou-se em um giro, apoiando os pés na parede e avançou contra o terrasque novamente.
Ele só não esperava que o terrasque estivesse o esperando com a boca aberta, mas não queria abocanhá-lo, o monstro estava preparando uma poderosa magia. Um gigantesco círculo púrpuro formou-se na frente da boca enorme da criatura.
“Merda! Terrasques podem usar magia?!”
A criatura disparou um feixe de energia poderoso.
Boom!
Colin foi engolido por aquele poder que também destruiu a parte de trás da montanha, causando rigorosos abalos sísmicos. O pode continuou avançando por parte da floresta, a engolindo como avalanche até que o poder enfraqueceu e sumiu de vez.
Um rastro de destruição foi deixado, e no final do rastro estava Colin com as mangas de sua armadura destruída. Seus braços estavam erguidos, mas sem um único arranhão.
— Quanto poder! — exclamou Colin empolgado.
Seu braço direito estava saindo fumaça. Por sorte, ele absorveu com êxito aquele poder com as tatuagens e Claymore estava completamente recarregada.
Ele mordeu o cabo da adaga mais uma vez e alongou os braços para trás, entrelaçando os dedos. Seu corpo foi tomado por faíscas negras e ele dobrou os joelhos, avançando como um raio para dentro da caverna.
Cabrum!
Colin estava bem rápido, mas o terrasque era esperto, ele se virou rapidamente, acertando o errante com a cauda, o enterrando na parede mais uma vez.
Boom! Cabrum!
Ele se recuperou rapidamente, avançando contra a criatura mais uma vez. O terrasque apoiou os braços no chão e um enorme círculo mágico púrpuro tomou conta do que restou do salão.
Crack! Boom!
O chão foi completamente destruído.
Destroços foram lançados para cima, nublando a visão de Colin e atrapalhando sua trajetória. Com um giro, Colin apoiou os pés em um bloco de rocha e seu raciocínio rápido desenhava o caminho até a criatura enquanto as pedras começaram a cair como chuva, matando os goblins que tentavam sobreviver ao duelo daqueles dois.
Cabrum!
Em zigue-zague, saltou de pedra em pedra rapidamente, sua velocidade superava a do som, mas o terrasque o acompanhou com os olhos. Colin aproveitou e foi para cima, quase alcançando o enorme buraco no teto. Lá em cima, ele tinha uma ampla visão de tudo, mesmo que a chuva de pedras estivesse em seu caminho.
“Tá na hora de acabar com isso!”
Bateu as mãos e centenas de pedras entorno dele começaram a emanar descargas elétricas, desde as minúsculas até os pedregulhos enormes, até que todas elas começaram a explodir em descargas poderosas ao tocar o chão, como se fossem granadas de luz.
Boom! Boom! Boom!
Aquela chuva de explosões elétricas foram o suficiente para desestabilizar o terrasque que ficou sem visão devido aos incessantes flashs de luz.
Colin caia tranquilamente ainda com a adaga na boca. Assim que seus pés tocaram o chão, ele avançou, esquivando-se das pedras que ainda caíam e indo em direção ao terrasque. Dobrou os joelhos e foi direto para as costas do animal, ficando em cima da rachadura que havia feito.
Cerrou os punhos com toda sua força e iniciou uma brutal rajada de golpes, fortes o suficiente para levar a criatura até mesmo ao chão.
Bam! Bam! Bam!
O monstro caiu, mas Colin não parou de golpeá-lo.
Crack!
Parte da armadura da criatura quebrou, revelando sua pele sensível. Colin retirou a adaga Claymore da boca e a cravou na abertura da armadura. Apertou o cabo da adaga e ela se transformou em uma enorme espada. Ele a cravou inteiramente nas costas da criatura que deu um rugido ensurdecedor.
Colin apoiou as duas mãos no cabo e fez toda mana em Claymore ser expulsa de uma vez em uma poderosa descarga elétrica que destruiu parte dos órgãos internos da fera.
[Rugido!]
Após dobrar os joelhos, Colin saiu das costas da criatura em um salto, puxando também a enorme Claymore. Chegou ao chão de pedra destruído em uma derrapada. O terrasque tentou se levantar, mas não conseguiu. Seu corpo enfraqueceu, e de sua boca era expelida uma quantidade exagerada de sangue. O monstro ficou com a respiração fraca.
Colin se aproximou da criatura e a tocou.
— Não precisa se preocupar, você será parte de mim agora.
A respiração do terrasque diminuiu e os olhos da criatura ficaram sem vida.
Colin acariciou o focinho áspero do animal e se concentrou. Usou o princípio de prana, apana e udana que Brighid havia o ensinado.
Após um suspiro, o animal enorme começou a se desfazer em cinzas e desapareceu após alguns segundos.
Os goblins fugiam de medo, tentando escalar a parede para escapar pelo buraco no teto do salão ou pegando em armas para enfrentar o homem a sua frente.
— Só mais alguns goblins e isso termina.
Sentindo um arrepio na espinha, Colin olhou para cima.
Havia um homem de pé no céu em cima de um círculo mágico. Seus cabelos eram loiros e longos. Ele trajava batina e estava com os braços para trás.
Ao seu lado estavam duas criaturas que Colin não saberia dizer se eram humanas ou não. Suas feições estavam deformadas, e planavam no ar com asas feita de carne e ossos. Eles tinham membros do corpo desproporcionais e exalavam uma mana ridiculamente poderosa, semelhante à mana de Nag após se transformar.
O homem loiro desceu do céu em direção ao buraco, pisando no chão do que já foi um salão de cópula dos goblins.
Aquele homem não era estranho para Colin, ele parecia o conhecer de algum lugar.
— Colin, certo? Eu estava ansioso pra te reencontrar.
“Me reencontrar?”
— Já nos vimos antes?
O loiro assentiu e apoiou a mão no peito.
— Sou Rian, servo leal do senhor Donovan. Ele me incumbiu de uma missão a mando do sacerdote Alexander. Não tenho nada pessoal contra você, Colin, mas, meus senhores, dizem que você ameaça à paz do centro-leste.
Colin apoiou a enorme Claymore no ombro.
— Então Alexander mandou você aqui pra me matar. Impressionante que os chefões nunca agem diretamente.
— Senhor Alexander tem importantes questões para resolver. Ele não se incomodaria com um ser inferior como você.
Colin abriu um sorriso de canto.
— Se ele mandou suas criaturas com uma mana tão densa assim pra me matar, então significa que ele me considera uma ameaça, estou certo?
Rian segurou a risada e abriu os braços.
— Isso não é segredo algum, é? Por isso nossos “abençoados” estão espalhados por todo seu território.
O sorriso de Colin se desfez.
— Todo meu território?
Rian ergueu o indicador.
— Os carniceiros do centro-leste serão apenas história quando o sol de um novo amanhã chegar. Depois de você, será a vez daquela meretriz de cabelo branco. — Rian apontou o indicador para Colin — Abençoados, façam este demônio pagar por seus pecados!
Longe dali, próximo aos portões do ducado, Samantha andava a cavalo coberta por uma capa preta. Após deixar as fronteiras do sul um caos ao destruir os cabeças do submundo, ela resolveu partir em direção a localização de seu amigo.
Fora alguns dias bem tensos para chegar até ali.
Com uma região infestada de monstros, ela mal conseguiu dormir. O que mais desejava era uma xícara de café quente e um banho em alguma fonte termal para aliviar a tensão impregnada em seus ombros.
Finalmente havia chegado ao ducado de Colin.
Achou estranho ao ver que os portões do ducado de alguém tão procurado quanto Colin estava sem nenhum guarda. Até mesmo as torres de vigia estavam vazias.
“Será que me enganei?”
Boom!
Ouviu-se o som de uma explosão vinda de dentro do ducado.
“Um ataque?”
Balançou as rédeas do cavalo e enfiou a mão dentro da capa, retirando sua pequena besta. Mirou no portão e atirou. Segundos depois a seta explodiu e Samantha adentrou o ducado às pressas.
Viu poucas pessoas mortas, outras desesperadas se escondendo. Avistou uma criatura horripilante enfrentando soldados que trajavam armadura prata reluzente.
Sair dos portões era perigoso, então a maioria das pessoas preferiu ficar no ducado se escondendo como podiam.
A criatura tinha cerca de três metros. Seu braço direito era grande e musculoso, quase arrastava no chão. Seu rosto era desfigurado. A criatura tinha apenas metade do maxilar, e isso a deixava babando sem parar.
Um dos soldados conjurou uma poderosa bola de fogo, lançando-a na criatura, mas ela desfez o fogo com o braço enorme antes de atingi-lo. Avançou contra o soldado e o esmagou com seu braço direito.
[Rugido!]
O monstro deu um rugido ensurdecedor, capaz de quebrar até mesmo os vidros do ducado. Samantha e todos os outros taparam os ouvidos.
Ela olhou para trás rumo aos portões, vendo pássaros alçarem voo ao longe. Sentiu o chão tremer e vários demônios começaram a deixar a mata rumo aos portões do ducado.
— Merda! Ele chamou esses demônios?!
Nos fortes tomado por Falone, Lettini e Daken também surgiram monstros semelhantes, nenhum deles esperava por aquilo. Enfrentar criaturas tão poderosas seriam sua maior provação como comandantes. Caso conseguissem a vitória, os carniceiros do centro-leste sairiam daquele confronto mais fortes do que nunca. Caso fossem derrotados, seria o começo da queda dos tão temidos carniceiros.
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