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    No ducado comandado por Alexander, senhores de terra não poderosos exigiram uma audiência com o pontífice. Eles temiam que os carniceiros não se contentassem apenas com as terras que tinham e que cedo ou tarde avançariam contra outras terras, tomando tudo para si.

    Alexander achou interessante dar ouvido a todos aqueles homens para que elaborasse um novo plano até que o sangue do experimento 33 fosse melhor aperfeiçoado.

    Uma reunião foi marcada as escondidas nos andares inferiores da grande catedral. Os grandes senhores de terras e de escravos já estavam lá em baixo, apenas aguardando Alexander.

    Haviam seis homens e duas mulheres, todos com poder e influência o suficiente para causar pânico a grupos de mercenários.

    — Quem ele pensa que somos para nos fazer esperar tanto? — indagou Tulin, um senhor de escravos corpulento. Seu cabelo e bigode eram pretos, seus dedos cheios de anéis brilhantes e usava roupas coladas, deixando sua respiração bem difícil de ser executada. — Tenho uma reunião marcada a noite, espero que o pontífice não me faça atrasar meus outros compromissos.

    Os outros apenas encararam Tulin com seus cenhos franzidos.

    Clack!

    A porta da sala mal iluminada abriu-se, e Alexander adentrou acompanhado de Donovan.

    — Senhores, senhoritas, perdoem o meu atraso. — Ele se sentou na cadeira de madeira ornada e Donovan ficou em pé ao seu lado — Que bom que estão todos aqui. Meus capelães disseram o que anda afligindo vocês. Problemas com os carniceiros, certo?

    — Isso mesmo! — Tulin levantou a voz — Não faz nem um mês que Colin assumiu o posto do duque e tudo já virou de cabeça para baixo! Ninguém do centro-leste quer comprar meus escravos, porque acham que serão vítimas dos carniceiros.

    — São preocupações válidas — disse um homem de feições sérias usando um bigode de pontas encaracoladas — Os carniceiros tem invadido todos os fortes da fronteira. Soube que um de seus comandantes capou um dos mercenários que contratei e o fez morrer sufocado com o próprio órgão.

    Os nobres cruzaram olhares de espanto.

    — Exatamente! — Tulin continuou — Ele ainda se juntou com Ayla, a caçadora. Eles ainda irão se casar e consolidar essa aliança maligna. A igreja não pode ficar de mãos abanando, algo deve ser feito!

    Alexander assentiu.

    — Compreendo a angústia de vocês. No momento estamos de mãos atadas, mas algo será feito em breve.

    — Mãos atadas? — Tulin levantou a voz — A igreja não pode deixar o carniceiro e a puta de cabelo branco fazerem o que querem!

    — Tulin tem razão — disse um homem careca magricela com rugas na testa — Já estão especulando por aí que do centro-leste nascerá uma força capaz de ser chamada de império. Não podemos deixar que sejam os carniceiros a serem essa força!

    Alexander permaneceu em silêncio por alguns instantes.

    — Vocês vêm aqui esperando que alguma decisão seja tomada, certo? — indagou Donovan com o nariz empinado — Deviam parar de pedir e começar a oferecer. Você, Tulin, tem inúmeros escravos, deveria repensar em nos dar uma parte, assim como você, Sulestino, diz que não devemos deixar os carniceiros serem essa força no centro-leste, mas você nunca contribuiu com a igreja. Sacerdote Alexander os ajudou de várias maneiras e vocês agem com tamanha ingratidão. Deviam se sentir envergonhados!

    Os nobres desviaram o olhar e Alexander suspirou.

    — Sei que estão impacientes — disse o pontífice — Mas temos que ser cautelosos. A Regente Ayla com certeza deve estar tramando algo, afinal, acredito que ela tenha os carniceiros na coleira.

    — Por que não acabamos com ela então? — indagou Sulestino, o careca. — Não seria mais fácil cortarmos a cabeça da serpente? É ela quem está deixando os carniceiros mais fortes.

    — Ayla manteve seus territórios protegidos por mais de dez anos desde que assumiu o comando. — disse Donovan — Não a subestime.

    — Então o que faremos? — indagou Tulin — Quanto mais tempo passa, mais os carniceiros se fortalecem.

    — Poderão usar os agoureiros como bem entenderem — disse Donovan — Cansem os carniceiros, os aterrorizem, não os deixem se estabelecer e se fortalecer, não deem descanso a eles. Em troca, vocês nos fornecerão escravos e terras.

    A maioria era contra a ideia, mas resolveram ceder para não haver discordâncias. Alexander era seu último recurso, se ele falhasse, seus negócios iriam ruir e as chances de perderem suas vidas quadruplicava.

    Carniceiros eram conhecidos por serem brutais ao punir seus inimigos.

    — Tudo bem! — disse Sulestino — Por mim, está de bom tamanho, desde que o seu plano funcione, Alexander, e os carniceiros junto a vadia de cabelo branco sejam varridos de uma vez por todas para os anais da história.

    — Faça como Donovan disse — Alexander entrelaçou os dedos frente ao corpo — Vocês terão homens e armas, apenas mantenham os carniceiros ocupados e nós cuidamos do resto. — Ele se ergueu — Todos concordam? — Alguns relutaram por alguns segundos, mas assentiram. — Ótimo, Donovan vai cuidar da papelada. Se me derem licença, tenho que ir.

    Alexander foi para os fundos, deixando Donovan com os nobres. Os escravos doados serviriam como cobaia para o sangue do experimento 33, e as terras serviriam para aumentar ainda mais o território do pontífice.

    Após tudo ajeitado, os nobres seguiram para seus territórios. A nobre conhecida como Ethel, a fanática dos porcos, foi direto para sua enorme fazenda. Elfos escravos, acorrentados por grilhões, trabalhavam incessantemente moendo trigo. Ela subiu as escadas erguendo o vestido preto para não tropeçar e abriu a porta.

    — Bem-vinda de volta, senhora. — disse uma Elfa de cabelo escuro — Já preparei o seu banho e seu jantar.

    — Obrigada, querida, já pode ir.

    A empregada fez uma reverência.

    — Se precisar de algo, basta me chamar.

    Ethel girou a maçaneta do quarto e adentrou, passando a chave na porta. O quarto era enorme, com uma grande cama de casal no meio, armário aos fundos, e uma sacada a direita. A fanática dos porcos alisou o cabelo escuro para trás e se jogou na cama.

    Seus olhos escuros percorreram o quarto e se focaram em um homem de pé encostado na parede a encarando.

    — Fiz o que me pediu, tá? — Ela fez beicinho — Eu estava aproveitando minhas férias, que chatice…

    — Foram ordens do papai. — Wilster saiu da penumbra trajando um sobretudo escuro — O que foi dito na reunião?

    A feição de Ethel mudou drasticamente, assumindo outra completamente diferente. Até seu corpo mudou, encolhendo naquele vestido preto. Nebeora afastou uma mecha de cabelo para trás da orelha e se sentou na cama.

    — Os nobres vão basicamente infernizar o amiguinho fortão do Stedd enquanto preparam algo mirabolante.

    Wilster assentiu.

    — Entendi, é melhor que siga o plano, eu estou saindo do continente esta noite.

    — Por que não deu essa missão para o Stedd? Tive que assumir o corpo dessa velha, é tão chato ser nobre que fico com vontade de me matar pelo menos umas cinco vezes ao dia.

    — Darei outra missão ao Stedd.

    — Que missão?

    — Papai quer que ele, junto aos gêmeos e a herdeira Song, se aposse do trono das ilhas Janesi. Por isso o amigo do Stedd precisa derrotar o pontífice do centro-leste. Se acontecer como papai prevê, esse Colin deve conquistar todo o Leste e o Norte. Ter ele como aliado seria importante na guerra do oriente.

    Nebeora suspirou e coçou a bochecha com o indicador.

    — O pontífice é louco, e Colin parece ser pior. Isso vai se tornar uma guerra sem precedentes com muitas vítimas. — Ela fez uma careta — Papai está confiando em um homem que não conhece.

    — Até o momento o carniceiro foi bastante previsível. Não há mais volta, isso é uma guerra, Nebeora, temos que usar tudo que estiver disponível para alcançarmos a vitória.

    Ela bocejou.

    — A encruzilhada é mesmo tão forte assim?

    — Papai ainda não os derrotou. Acredito que isso responda sua pergunta.

    A meia vampira assentiu e desviou o olhar.

    — Se a gente vencer a encruzilhada, Stedd pacificar a ilha Janesi e Colin unificar o continente, então estaremos em paz?

    Wilster deu de ombros.

    — Eu não sei. Seres sencientes são instáveis. A paz pode durar mil anos ou dez horas, dependerá de quem está no controle.

    — Saco… Eu não queria me envolver nessa guerra, mas tudo bem, eu faço. — Ela se recordou da tatuagem nas costas da mão de Colin, a marca de Jane. Aquele era o símbolo da entidade a qual ela era devota — O amigo do Stedd pode ser útil no final das contas. Agora me diga, onde estão Megath, Veny e Yebella? Papai deu missões para eles também?

    Wilster assentiu.

    — Eles vão ajudar papai na linha de frente, mas não se esqueça, você ficou com a missão mais importante. É crucial para o papai que o carniceiro conquiste o Leste.

    Ela engoliu o seco.

    — Tá, mas e se os Elfos Negros resolverem agir? E tem aqueles religiosos da diocese controlada por Heien. — Ela suspirou novamente — Irmão… isso é um vespeiro. O Sul deve se virar contra Colin também. O garoto é sinônimo de problema.

    Wilster caminhou até a sacada.

    — Faça sua parte, Nebeora. O garoto vai se casar com aquela Ayla, certo? Tem notícias de Brighid, a Santa? Se ela estiver viva, a vitória do garoto é certa.

    — Não ouvi nada dela nos últimos meses, deve estar morta.

    — Hum, duvido. Agora tenho que ir, se cuida.

    O Ubiytsy desapareceu na escuridão.

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