Índice de Capítulo

    Haviam passado três dias desde que Colin e Safira haviam encontrado o Lithium.

    Durante quase doze horas por dia eles treinaram arduamente na dimensão simulada de Brighid, um plano que se resumia a um campo esverdeado e ensolarado.

    O foco deles era o combate, e era isso que Colin e Safira treinavam de maneira frenética enquanto Brighid estava sentada debaixo de uma árvore lendo uma novela.

    Após entenderem melhor a forma de mana e com o excelente auxílio de Brighid ao treino, tanto Colin quanto Safira conseguiam materializar sua mana sem muito problema, fazendo-a assumir a forma de armas e objetos.

    Eles levaram cerca de vinte horas até que conseguissem dominar a técnica por completo.

    Boom!

    Dois golpes gigantescos se chocaram, chamas e faíscas se dispersaram naquele campo esverdeado.

    Safira pulou para trás e esticou o braço, concentrando um poder enorme na ponta de seu dedo indicador.

    Após lutar contra o Bakurak e ter uma visita ao Lithium, ela começou a ter plena ciência do que estava fazendo.

    Foi como se tudo não passasse de brincadeira de criança.

    [Disparo flamejante].

    Um disparo incandescente deixou os dedos de Safira, indo em direção a Colin em uma velocidade surpreendente, porém, antes de alcançá-lo, todo o corpo de Colin emitiu faíscas, então, como se fosse um fantasma, ele desapareceu.

    [Miragem Celeste].

    Sua percepção a mana estava elevada, mas não tão elevada quanto a percepção de Safira.

    Safira saltou para trás e se virou de imediato preparando outro disparo.

    Ela já havia pegado o padrão de Colin, sempre que ele desaparecia, atacava por trás, mas para o azar dela ele não havia feito isso.

    Foi quando Safira sentiu um toque nas costas. Colin não havia mudado sua estratégia, e Safira somente deu as costas para seu inimigo.

    — Com essa são 7à 0 — disse Colin com um sorriso.

    Safira abaixou as mãos e esbravejou em fúria.

    — Que saco! Por que não consigo te vencer?

    — Você foi bem, agiu rápido, pegou meus padrões, mas criei estes padrões intencionalmente.

    Colin tocou a testa de Safira com o indicador.

    — Você precisa estar preparada para tudo, nessa próxima rodada quero que você se esforce. Não tenha dúvidas de que você é poderosa e tem um poder destrutivo superior ao meu, daí tento compensar isso unindo a estratégia e velocidade.

    Colin apontou com o queixo para Brighid ao longe lendo sua novela.

    — Brighid detém um enorme conhecimento arcano mesmo não aparentando isso. O que quero dizer é que não importa se sou mais velho ou mais forte que você. O segredo para a vitória está em antecipar seu oponente. Tente me interceptar desta vez. Sou um inimigo que usa a velocidade, encontre um jeito de me parar, está bem?

    Safira fez que sim empolgada.

    — Ótimo, então vamos para mais uma rodada.

    Eles afastaram-se, longe o suficiente para mal ouvirem a voz um do outro.

    — Interceptar seu movimento… — murmurou Safira. — Certo!

    Apoiando as mãos na grama, seus braços incendiaram-se e um círculo de mana enorme ficou abaixo dela.

    Em seguida, bateu palmas e afastou as mãos devagar.

    Correntes flamejantes saiam das palmas de suas mãos com uma lâmina serrilhada na ponta.

    [Lâminas do Caos].

    Tanto Safira quanto Colin visitaram lojas de armas com frequência durantes suas pausas do treino a fim de memorizá-las e materializá-las mais tarde nos treinos.

    Conseguiam fazer tudo aquilo devido à manipulação de mana excepcional de ambos, que só foi possível com a ajuda indispensável de Brighid.

    Também usaram livros didáticos para expandir a memória visual.

     Colin olhava tudo aquilo com um sorriso no rosto. Sua parceira de treino estava séria desta vez, mas ele não facilitaria.

    “Seu círculo mágico é para sentir minha presença e suas lâminas para me atacarem a distância quando sentir minha presença. Certo, Safira, me mostre do que você é capaz.”

    As mãos de Colin ganharam uma incrível descarga elétrica e ele também manipulou sua mana, conjurando duas adagas.

    Vush!

    Como se fosse teletransporte, Colin se moveu para dentro do círculo mágico de Safira em segundos.

    Ela sentiu a presença dele alguns metros atrás, mas ela sabia melhor do que ninguém que seria impossível alcançá-lo a tempo.

    Analisando o tempo que Colin usou para aparecer no círculo, significaria que agora sim ele apareceria atrás dela em instantes, então ela virou-se, dando de caras com Colin preparando para estocá-la por trás.

    Ela defendeu a estocada com uma das Lâminas e derrapou alguns centímetros. Enquanto ia para trás, Safira forçou um giro, lançando sua lâmina em direção a Colin, que a rebateu para longe.

    Ting!

    Safira esticou o braço e cerrou o punho livre, a lâmina que Colin rebateu se desfez e desceu em pequenos projeteis flamejantes em direção a Colin.

    Ting! Ting! Ting!

    Ele desviou de alguns e rebateu outros, mas ao olhar por cima dos ombros percebeu Safira se aproximando.

    “Esperta, mas nem tanto.”

    [Prisão-relâmpago].

    No momento que Safira atingiria Colin, correntes elétricas saíram do chão, segurando os braços e pés dela.

    — Parece que venci de novo — disse Colin com um sorrisinho convencido.

    Safira também estava sorrindo, e Colin percebeu que ela estava tramando algo.

    Ele olhou ao redor e depois olhou para o círculo de magia de Safira que brilhava ainda mais intensamente sob seus pés.

    — Te peguei! — bradou Safira.

    [Combustão do tártaro].

     — Espera!

    Boom!

    O círculo explodiu com os dois dentro, uma explosão capaz de causar danos severos a diversas estruturas imponentes se usada no centro da cidade.

    Depois de algum tempo a fumaça abaixou e Safira revelou-se ilesa.

    Safira era praticamente imune a qualquer tipo de fogo conjurado por si mesma. Mesmo que fosse atingida por uma explosão, ela não receberia mais que alguns arranhões. Por outro lado, Colin não estava ali, não havia nem sinal dele.

    Safira arfou e sentou-se no chão. Aquele golpe não iria matar Colin, apenas o deixaria bastante ferido, mas ele havia desaparecido. Isso significava que havia escapado, mas como?

    — Lento demais — disse Colin atrás dela.

    Safira apenas abriu um sorriso sem graça.

    Ela olhou para cima, encarando o sorriso gentil de Colin.

    — Pensei que tivesse descoberto seu padrão… novamente…

    — O padrão de uso de poder?

    — Sim… notei que após usar uma habilidade, você não usa outra habilidade por cerca de cinco segundos. Pensei que tivesse descoberto sua fraqueza.

    Colin estendeu a mão para Safira e a ergueu.

    — Foi uma boa análise, mas como da outra vez… também foi um padrão que inventei.

    Safira apoiou as mãos na cintura e alongou-se.

    — Você é incrível, sabia?! Não sabia que alguém poderia criar tantos padrões em uma luta séria.

    — Bem, às vezes nem sei como isso funciona, eu só concretizo, entende?

    — Acho que sim…

    Brighid estava entretida com o livro, não conseguindo parar de ler um minuto sequer. Colin e Safira aproximaram-se para próximo dela, e Brighid nem havia notado.

    — Acabamos por hoje, Fada, leve a gente de volta.

    Ela abaixou o livro encarando Colin.

    — Não dá para esperar só mais meia hora? Faltam umas quinze páginas para acabar e Colin, você tem que ler! — Brighid fechou o livro e encarou Colin toda empolgada. — Tem drama, mistério e romance, você vai gostar, tenho certeza! Tem uma garota que gosta do protagonista, mas ele não percebe de jeito nenhum, mesmo ela dando todos os sinais…

    — Parece chato, mas tudo bem, termine de ler e a gente treina mais meia horinha.

    — Treinar mais? — Safira estava exausta.

    Colin foi até ela e bagunçou seu cabelo.

    — Meia hora não mata ninguém, e depois que a gente acabar aqui levo você naquele restaurante que gosta.

    Ouvir aquilo foi como se ela tivesse recuperado as energias.

    Brighid encostou na árvore e subiu o livro até os olhos.

    — Idiota… — murmurou.


    Longe dali, praticamente do outro lado da universidade em um corredor deserto, Wiben estava sozinho, pois pediram para que não tivesse ninguém com ele.

    Seus ferimentos já haviam se curado, mas ele não se esqueceu o que era ter olhos roxos e nariz quebrado. Mesmo curado, seu ego ainda estava seriamente ferido.

    Ouvindo passos, ele ergueu a cabeça encarando um dos superiores da guilda de Loafe se aproximar.

    Era um rapaz belo, olhos claros, cabelo preto, queixo quadrado e porte atlético.

    Wiben ficou surpreso em vê-lo sozinho.

    — Olha só quem está aí, o grande Wiben! Já faz quanto tempo?!

    Os superiores de Loafe eram irritantes em sua maioria, por isso Wiben não era tão próximo deles, já que o mesmo estava longe de pertencer a alguma posição superior.

    — Doran… — Wiben soou bastante irritado. — Loafe mandou você me procurar?

    — Hehehe, acha mesmo que Loafe teria tempo para tratar de um assunto tão pequeno quanto você? Sou eu mesmo que estou me encarregando disso. — Ele sentou-se ao lado de Wiben e pegou um cigarro dos bolsos, acendendo-o com o indicador que emitiu um tímido fogo de vela. — Então o rapaz é um Elfo negro, certo? Colin, não é?

    Aquilo deixou Wiben surpreso, nem ele sabia o nome do Elfo, mesmo o tendo enfrentado duas vezes.

    — Como sabe-

    — Andei pesquisando. Ele está na estalagem do Anão Caolho e vive andando de um lado pro outro acompanhado de uma gostosa e uma garota. O desgraçado não compra nada além de comida e roupas. — Doran soltou fumaça pelo nariz e encarou Wiben no fundo dos olhos. — Soube de algo muito importante, o Elfo chegou à cidade carregando a cabeça de um Bakurak.

    “Cabeça de Bakurak? Então era dele quem estavam falando?”

    Doran passou o braço pelo ombro de Wiben.

    — E Samantinha, como ela está? Soube que ela está com braço engessado. Sabe o que chegou em mim? Disseram que a própria Samantha disse ao comandante Leerstrom que se machucou em um treino. Por que ela não deixa o pai dela resolver o problema? Por que mentir e proteger o Elfo?

    Wiben permaneceu em silêncio e Doran continuou.

    — Bem, isso não importa, mas preciso resolver isso. Ninguém mexe com a guilda de Loafe e sai impune. Com uma ordem eu podia mandar alguns rapazes darem um jeito no Elfo e nas garotas, mas decidi fazer melhor. Você me deve algumas moedas por isso. — Doran olhou para seu relógio de pulso. — Ele já deve estar chegando.

    — Quem?

    — Falando no diabo…

    No final do corredor aproximava-se um homem. Ele era alto, cabelo louro longo e se vestia como um nobre. Seu traje se resumia a um sobretudo vermelho, anéis em seus dedos e usava calças e botas pretas.

    Ele estava acompanhado de uma pandoriana que era uma mistura de humano e coelho.

    — Um pouco atrasado, mas aí está ele! — disse Doran soltando fumaça pela boca.

    — Você sabe que sou novo aqui e ainda não conheço totalmente a universidade — disse Anton, o rapaz de cabelo louro cumprido. — Vocês têm um lugar bem bonito aqui, com uma arquitetura única. Roubaram todo o conceito dos Elfos?

    Doran deu de ombros.

    — Esse aqui é meu amigo Wiben!

    Anton abriu um sorriso de canto.

    — Você é o cara que fode a filha do comandante Leerstrom? Hehehe. Da para ver que a garota não tem muito filtro.

    Wiben se levantou e cerrou os punhos.

    — O que disse?

    — Ei! — chamou Doran ascendendo outro cigarro. — É brincadeira, senta aí.

    Wiben continuou de pé e Doran enfiou a mão no paletó preto refinado, retirando um saco gordo de moedas.

    — Aqui está o pagamento pelo serviço.

    Após apanhar o saco, Anton o guardou no sobretudo.

    — Você nem me disse qual o trabalho.

    — É simples, você vai participar da prova de seleção de bolsistas, certo? Odeio admitir, mas você é provavelmente o filho da puta mais forte que conheço depois de Loafe. Soube que a prova será uma batalha de sobrevivência onde você pode enfrentar qualquer um. O imperador quer que os novos alunos sejam aptos para se juntarem ao corpo de soldados o mais rápido possível.

    — E você quer que eu brigue com alguém em específico, né?

    Doran se ergueu e deu dois tapinhas no ombro de Wiben.

    — Exatamente, o nosso amigo aqui levou uma surra para esse cara. — Doran olhou para os dois lados e sussurrou. — Estão dizendo que ele bateu até na mulher dele, acredita nisso?

    Anton fez que sim com a cabeça e abriu um sorriso.

    — Quer dizer que o meu alvo é do tipo sem escrúpulos, hehehe. As coisas estão ficando interessantes. Quem é esse cara?

    — O nome dele é Colin. — Doran enfiou as mãos no interior do paletó mais uma vez e entregou desenhos realistas não só de Colin, mas também de suas companheiras. — Ele desfila por aí com a gostosa e a chifruda. Ele é o mesmo que chegou à capital trazendo a cabeça de um Bakurak.

    Anton começou a analisar os desenhos e um sorriso foi desabrochando em seu rosto.

    — Toda essa história me deixou empolgado! Será um prazer dar um jeito nesse cara e nas putinhas que andam com ele, considere isso feito!

    — Ótimo! — Doran afastou-se, dando dois tapinhas no ombro de Wiben.

    Anton somente virou-se de costas e sumiu no corredor acompanhado de sua pandoriana.

    Sem ter mais o que fazer ali, Wiben virou no corredor, encontrando Samantha esperando-o encostada em um canto.

    Seu pulso estava engessado, porém, o gesso parecia feito de outro material. Nele haviam escritos rúnicos que brilhavam em amarelo.

    — O que estava fazendo com Doran e Anton? — perguntou Samantha preocupada.

    Wiben olhou discretamente para trás e voltou os olhos para ela.

    — Ele basicamente veio me dizer que vai cuidar do Elfo.

    Samantha estava visivelmente tensa. Ela sabia que foi Wiben quem havia começado aquela briga. As coisas estavam escalando muito rápido e poderiam ficar bem graves.

    — Wiben, por que você não o impediu? Homens como Doran não costumam deixar pontas soltas, as companheiras do Elfo podem se ferir pra valer nisso…

    — Eu sei, mas não tem o que fazer.

    Ela cruzou os braços e desviou o olhar.

    — Você já devia ter saído dessa guilda…

    — Concordo, mas não agora, tem algumas coisas que ainda tenho que resolver…

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