Índice de Capítulo

    Após criar um departamento focado em resolver problemas administrativos de Runyra, Ayla começou a ter mais tempo para se preocupar com outras coisas.

    Ela sabia como revidaria contra Alexander.

    O melhor jeito de vencer uma guerra, seria não a travando, não diretamente, mas suas preocupações no momento eram outras.

    Estava na biblioteca foliando alguns documentos.

    A luz do lampião iluminava timidamente as páginas do livro que segurava. Fechou o livro e devolveu a estante, abaixando para pegar o lampião.

    Ayla trajava uma blusa de lã escura, calça justa de couro e botas pretas. Um sobretudo ia por cima de sua blusa, e um capuz estava por cima de sua cabeça. Seu capuz escondia seu cabelo curto, agora, na altura dos ombros.

    Aderiu ao novo visual após ter o cabelo chamuscado após enfrentar Yanolondor. Caminhou pelo corredor até que sentiu sua sombra oscilar.

    — E então, encontrou algo?

    — Encontrei menções do anoitecer florido com um comerciante, frequentador assíduo dos bordéis da cidade. — O demônio onírico permanecia na sombra — Visitei os sonhos do dono do bordel, vaguei por suas memórias e encontrei uma pessoa que ele encontrava com frequência. É outro homem, mas ele comanda um bordel luxuoso no Norte.

    Ayla assentiu.

    Seja quem fosse, a mensagem codificada em uma carta contendo somente símbolos aleatórios chamou sua atenção. Se a única mensagem legível era “Anoitecer florido”, significava que o remetente queria que ela descobrisse por conta própria a origem daquele nome.

    — Isso é tudo? — Ela indagou.

    — Infelizmente sim.

    — Sabe o caminho até lá?

    — Sei, sim, senhora.

    — Ótimo, mas isso fica para depois, tem outra coisa que tenho que fazer.

    Ela caminhou para fora da escuridão, alcançando a porta e deixando a biblioteca. Trancou a porta, apagou o lampião com um sopro e enfiou as chaves nos bolsos.

    Ayla estava ocupada, não era somente com o Anoitecer florido, mas com toda informação que absorveu do livro entregue por Ethel. Também tramava seus próximos passos priorizando a cautela. Qualquer deslize poderia ser fatal, tanto para ela quanto para os habitantes de Runyra.

    Desde o casamento ela se sentia mais viva.

    Sabia dos riscos que corria, mas era excitante planejar tudo aquilo. Seu único problema no momento era a gestão de soldados. Com uma guerra prestes a estourar e com a adesão do território de seu marido, seus soldados haviam se espalhado por todo país.

    Não cogitava usar os carniceiros como seus soldados sem a autorização de Colin. Runyra era uma capital populosa, e haviam andarilhos e civis que não estavam ingressados no exército.

    Ela precisava de algo para incentivá-los.

    Entregou o lampião a uma serva que cruzou por ela no corredor e enfiou as mãos nos bolsos, seguindo para a sala do conselho.

    Era comum que eles estivessem naquela sala luxuosa, bebendo ou tendo conversas simplórias, já que era apenas isso que costumavam fazer.

    Suas mãos calejadas giraram o par de maçaneta e a porta de madeira rangeu. Como ela suspeitava, os conselheiros estavam bebendo e se empanturrando. Ficaram surpresos ao vê-la, já que a rainha estava bem ocupada nestes últimos dias.

    Todos eles se levantaram e curvaram seu corpo.

    Após o incidente com Herond, os conselheiros não achavam uma boa ideia continuar tratando-a como uma criança. A respeitavam na mesma proporção que a temiam, temendo também o homem que se tornou rei.

    — Minha senhora… — disse Nilsson curvado — Algum problema?

    — Podem ficar à vontade — Eles sentaram-se em suas cadeiras enquanto ela permaneceu de pé com as mãos nos bolsos — Preciso que façam um favor para mim. Com a unificação dos territórios, o que não faltam são terras para serem povoadas. Estamos com falta de pessoal, e precisamos de soldados. Espalhem na cidade que a rainha está montando uma guarda de elite.

    Os conselheiros se entreolharam, mas não a repreenderam.

    — Minha senhora… Uma guarda de elite a essa altura vai nos custar caro, já estamos financiando reformas por todo país, principalmente no ducado do rei, e as pessoas estão começando a falar…

    Ela espremeu os olhos, encarando Nilson com o olhar de uma besta selvagem.

    — Falar o quê?

    — B-Bem… — Ele ajeitou a gola da túnica branca — Runyra nunca havia sido atacada antes, mas bastou se casar com o Rei Colin e sofremos o primeiro ataque com baixas. Isso pode ser ruim para os negócios…

    — Entendo que estejam preocupados, mas uma guerra era inevitável. Era questão de tempo até que Alexander começasse a olhar para Runyra com outros olhos. A aliança com os carniceiros foi a nossa melhor opção, ou pensou que construir um império fosse somente flores? É por isso que Colin e eu vamos para a linha de frente, como responsáveis pelo povo, é o mínimo que podemos fazer.

    — Não estou questionando as majestades, estou apenas relatando o que ouvi…

    — As pessoas se acalmarão quando verem resultados, por isso preciso de um novo esquadrão. Não darei um salário a eles, darei terras aráveis, gado, propriedade. Há terras no território de meu marido que sequer foram tocadas.

    Após engolirem o seco, eles se entreolharam novamente.

    — A-Acho que tudo bem — gaguejou Nilsson — Irei fazer um comunicado por escrito e colocar em todos os estabelecimentos da cidade… há algo mais que queira acrescentar?

    — Qualquer um pode se candidatar, mas serão escolhidos a dedo por mim. Isso é tudo.

    Ela tergiversou, indo em direção a saída, mas alguém a chamou.

    — Majestade! — Ela se virou, encarando Nilsson novamente — Com o que tem ficado tão ocupada?

    — Assunto particular.

    Ayla deixou o cômodo, estava quase na hora do seu principal compromisso do dia. 


    Os pássaros marcavam presença no parapeito da janela arredondada de Brighid. Com a barriga enorme, ela mal conseguia sair do lugar. O parto poderia acontecer a qualquer momento, mas ela não queria perder tempo.

    Sua pena deslizava sobre as páginas de um livro.

    — Pronto! — Largou a pena, fechou o livro e enxergou sua capa esverdeada. Não havia escritos ou desenhos, era apenas uma capa simples — Finalmente terminei!

    — Ainda acho que não é uma boa ideia. — disse Morgana deitada na cama lendo o primeiro volume de Brighid.

    Fadas eram minúsculas, tiveram que adaptar toda casa de Jayla para que sua filha e sua amiga ali ficassem. Os pés de Morgana ainda passavam daquela cama de madeira.

    — Não devia ser tão pessimista — Brighid entrelaçou os dedos e alongou os braços para cima. Usava um vestido bordado esverdeado. Seus seios estavam maiores e ela havia ganho um pouco de peso além da enorme barriga.

    — Você quer vender esses volumes ensinando magia, e você estava sendo caçada por estranhos. Se ficar famosa, eles vão caçar você incansavelmente e te acusar de tentar criar uma seita de magos. — Morgana abaixou o livro e a encarou — Mas você não se importa, não é?

    Brighid afastou uma mecha de cabelo para trás da orelha e depois alisou a barriga com um olhar apaixonado.

    — Assim vai ficar mais fácil de Colin nos achar. — Seu olhar entristeceu-se — Conhecendo Colin, ele deve estar um pouco perdido… Não sei o que aconteceu com os nossos amigos, mas e se tiver acontecido o pior? E se Colin tiver testemunhado tudo? Ele deve estar tão mal… E eu não posso estar lá com ele…

    Morgana se sentou na cama e fechou o livro jogando em cima da mesa ao lado de Brighid.

    — Também estou preocupada com ele, mas ele aguenta. É do Colin que estamos falando.

    — É… tem razão…

    Ainda sentada, foi a vez de Morgana alongar. Ela trajava regata escura e short curto. A ilha das fadas tinha um clima ameno e agradável. O rigoroso inverno que atingia o continente chegava até a ilha somente como brisa gélida no finalzinho da tarde.

    — Não vejo a hora de você parir logo essas crianças e a gente poder treinar — Ela abriu aquele sorriso de dentes pontiagudos — Com sua habilidade e a minha força, ninguém nos derrotaria, nem meu tio Graff!

    Brighid retribuiu o sorriso.

    — Ainda não vou poder treinar com você. Pode levar anos até que meus poderes voltem a ser como antes.

    Morgana fez beicinho e cruzou os braços.

    — Que saco… — O sorriso dela retornou de imediato — Mas você é a Brighid, certo? Tio Graff não economizou elogios quando falava de você, por isso você vai se recuperar rápido e a gente poderá caçar o Colin o logo!

    Envergonhada, Brighid coçou a ponta do nariz com o indicador.

    — Obrigada, Morgana… De verdade, muito obrigada.

    A vampira abanou as mãos sem jeito.

    — Somos amigas, certo? E fomos irmãs durante alguns meses, né? — Foi a vez de Morgana ficar envergonhada — Eu até que levava a sério aquilo…

    — Mas é como se fôssemos irmãs — disse Brighid com os olhos brilhando — Já dividimos quase tudo, né? Bem como irmãs fazem.

    — É! Você tem razão!

    Brighid sentiu uma pontada na barriga e gemeu baixinho. Morgana levantou da cama num salto com o rosto cheio de preocupação.

    — T-tá nascendo? Minha nossa, o que eu faço?!

    — Foi só um chute — Brighid alisou a barriga — Tem ficado mais frequente, acho que logo eles saem.

    — Ufa… — Morgana ficou em cócoras encarando a barriga de Brighid — Não achei que a barriga de alguém pudesse ficar tão grande assim. — Ela se ergueu — Bem, vou ver se sua mãe precisa de alguma coisa. Preciso me ocupar até o anoitecer.

    — Morgana… — Brighid chamou meio sem jeito — Pode encher a banheira com água quente pra mim?

    Ela assentiu fazendo sinal de positivo com o polegar.

    — Pode deixar!

    — Obrigada…

    — Não precisa me agradecer por tudo, você faria o mesmo por mim.

    A vampira se retirou e Brighid começou a organizar seus dez volumes ensinando o básico de magia. Assim que desse à luz, ela tentaria vender seus livros em alguma cidade costeira.

    Ela esperava fazer seu nome ser mencionado por todo continente, atraindo a atenção de Colin ou apenas sinalizar que ela estava viva. Pensava que aquilo poderia dar luz a escuridão que o marido provavelmente se encontrava.

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