Índice de Capítulo

    O grupo de Leyvell deu a vantagem a Colin da distância. Havia um membro deles que era um excelente rastreador. Agora que sabiam ao menos o formato da mana de sua pandoriana, ele seria fácil rastrear. Aproveitando a despedida, Leyvell conversou com Cymuel, e o mesmo não revelou ao caçador tudo que Colin lhe disse na noite passada.

    Cymuel nunca confiou naquele caçador e em seus homens que estavam levando dias para solucionar algo que o viajante com a pandoriana solucionou em um único dia.

    Seus homens resolveram aproveitar a manhã em bordéis, usando tudo que estava disponível, beberam, aproveitaram as mulheres e farrearam até o anoitecer.

    Deitada em uma cama com o lençol cobrindo seu corpo desnudo, Bertina se sentou, encarando o homem com quem dormiu. Ele estava com os braços atrás da cabeça, olhos cerrados, desnudo e com o lençol na cintura.

    Ela correu o olho por seu corpo malhado e algumas cicatrizes. O cabelo dele era escuro, pele clara e ele não era um homem alto. Tinha menos de cento e setenta centímetros.

    — Vai mesmo partir?

    — Sim — Continuou com olhos cerrados.

    — Tudo isso por que Colin matou o necromante?

    Ele abriu os olhos castanhos.

    — Colin? De quem você-

    — Não adianta mentir para mim. O homem com a pandoriana, ele é Colin, não é? Eu sei que é! Ele disse que não era, mas sei que ele mentiu — Ela desviou o olhar — Eu ouvi as histórias… Cymuel me contou — Os olhos dela se voltaram para ele — Vocês estão atrás daquela mulher, Brighid, não é? E ela era a mulher dele…

    — Tsc… Isso não é da sua conta. — Ele jogou o lençol de lado e se levantou, vestindo as calças — Você está certa, aquele era mesmo o Colin, mas não o Colin que você conheceu. — Sentou-se na cama e calçou as botas — A mulher dele é um demônio, e o nome dele é bem famoso entre os mercenários. Carniceiro do centro-leste. — Foi a vez de vestir a camisa — Só pela carnificina que ele deixa, já demonstra que tipo de homem ele é. Colin também é um demônio, um demônio que quer afundar o continente em uma guerra sangrenta. Melhor acabar logo com isso antes que haja milhares de vítimas.

    Bertina franziu os lábios e continuou segurando o lençol.

    — Já ouvi sobre os carniceiros, mas ouvi coisas boas também… Colin tomou um ducado para si e ajudou as pessoas de lá… Dizem até mesmo que ele acabou com os traficantes de escravos do sul, é de lá que você veio, não é, Josan?

    Após o muxoxo, Josan pegou sua capa preta jogada no canto do quarto e jogou sobre seus ombros.

    — Isso não apaga o que ele fez. Conheço homens como ele. Agem com falso altruísmo para encantar os imbecis, mas isso não funciona comigo.

    — Então por que anda com os caçadores? — Josan parou na porta e a encarou por cima dos ombros — Leyvell é um homem detestável, assim como todos os outros, pelo menos senhor Colin que você tanto julga, acabou com um problema que você e seus companheiros estavam levando dias. Pode ser falso altruísmo, seja lá como queira chamar, mas ele resolveu. — Bertina estava ficando nervosa quanto mais falava — Cymuel pode ter achado que vocês estavam tentando ajudar, mas eu sei que estavam apenas se aproveitando de nós!

    — Como aproveitei de você? — Bertina cerrou os punhos e engoliu o seco — Obedeça ao seu pai e não se deite com qualquer um, em uma dessas você acabará morta.

    — Canalha imbecil! — O tom de voz dela aumentou — Você é igual aos seus amigos, não sei porque pensei que fosse diferente!

    Sem dizer mais nada, Josan deixou o quarto em meio aos berros de Bertina. Caminhou pelo corredor de madeira enquanto massageava os ombros.

    Ele não desconsiderava os argumentos de Bertina, mas Josan tinha sua própria opinião acerca do assunto. O carniceiro, agora recém-nomeado rei, era uma das pessoas mais perigosas do continente. Ele também conhecia a índole duvidosa de Leyvell, por isso esse seria o último trabalho que faria com ele antes de seguir o seu caminho.

    Não seria a primeira vez que deixaria um grupo por não concordar com o seu líder, mas ele sabia que não seria um trabalho como os outros. Ele viu Colin de perto e sabia o quão assustador era aquele homem.

    Era incomum reis andarem assim sem proteção, mesmo se estiverem disfarçados. Se fosse qualquer outra pessoa, acharia negligência, mas seu alvo era o rei de Runyra e o líder dos carniceiros do Centro-leste, ele não poderia subestimá-lo.


    Com a chegada da noite, Colin encontrou uma caverna para se proteger da nevasca que caía assídua. Colocou também o cavalo para dentro e ascendeu uma fogueira próxima à entrada. Ele sentou-se de frente para a fogueira e ali ficou, encarando as chamas.

    Do outro lado e com frio, Leona caminhou até seu mestre e ficou ao seu lado, juntinha a ele. A capa que cobria o corpo de Colin agora cobria os dois, e as caudas dela entrelaçavam no abdômen de seu mestre.

    — Bem melhor! — Ela se encolheu nos braços dele — Pelo menos esses músculos servem para algo, né?!

    Colin passou seus braços pela cintura dela, a deixando mais confortável. Não demorou para que ela começasse a se sentir mais aquecida.

    Ouvia-se somente o crepitar da madeira nas chamas e o vento que vês ou outra sibilava ao entrar na caverna. Colada a ele, Leona olhou para cima, vendo o semblante sério de seu mestre.

    — No que está pensando?

    Ele desviou o olhar, a encarando.

    — Nada.

    — Não precisa esconder nada de mim, eu sei quando tem algo de errado com o senhor, sou sua outra metade, esqueceu?

    Colin sorriu de canto e voltou seu olhar para as chamas.

    — De onde vim, existia um ditado que dizia para não confiar em ninguém, mas eu e você somos uma só pessoa, não é? — Ele meneou a cabeça — No fim, você é a única com quem posso contar.

    Leona espremeu os olhos, o encarando desconfiada.

    — O que foi agora? Está pensando em outra loucura? Vai se casar com outra mulher?

    — Me casar de novo? Hehe, não. O acordo com Ayla já me deu tudo que queria, não preciso de mais nada.

    — Então o que o senhor está pensando?

    O sorriso de Colin se desfez.

    — Continuo insatisfeito. Eu sou rei, deveria parar por aqui, mas quero mais. Os caçadores de espectros são espertos, eles devem ter descoberto quem sou, em breve devem nos emboscar.

    — Não era isso que queria? E não adianta mentir para mim, sei que nada disso tem a ver com Brighid.

    Com o cenho franzido, Colin a encarou.

    Leona também franziu o cenho e fez beicinho.

    — Nem adianta me olhar assim, tá, parte disso pode ser relacionado a ela, mas você quer mesmo é enfrentar aquele homem, Leyvell, certo? Eu sinto isso.

    Colin suspirou e olhou para a madeira crepitando na fogueira.

    — Ele conhecia o ruivo, que era um dos caçadores de monarcas. Lutei com um errante que fazia parte daquele grupo, e ele era forte, muito forte. Leyvell deve ser tão forte quanto — Um sorriso espontâneo brotou no rosto do carniceiro — Ele pode me dar o que quero, mas ele deve me estudar primeiro e me atacar em um momento de vulnerabilidade.

    — O senhor vai acabar morrendo se continuar assim, sabia? Devia se controlar. — Ela desviou o olhar — Se a rainha de Runyra tiver um filho seu, devia cuidar dela, mas não como cuida de mim, cuidar dela de verdade…

    — Tsc! — O sorriso dele se desfez — Meu acordo com Ayla é apenas negócio. Se ela quer um filho, então ela terá um, mas isso é o máximo que farei.

    — Ela vai estar grávida do seu filho, o senhor já não poderá cuidar da senhorita Brighid, devia focar no que o senhor tem no momento. E nem adianta falar que eu não o conheço, porque o conheço muito bem!

    Colin fez muxoxo novamente e focou seu olhar nas chamas.

    — Justo você falando essas coisas.

    — Justo eu, por quê? — Leona se remexeu na capa e sentou no colo de Colin, o encarando de perto com o cenho franzido — O senhor pode ser casar com Brighid, Ayla, ter centenas de contratos, mas eu ainda sou a única mulher que vai entendê-lo por completo.

    Como se fosse repreendido pela mãe na infância, ele evitou encará-la nos olhos.

    — Não é assim que funciona, se fosse tão fácil, eu teria ficado quieto, administrando a cidade junto dela, mas é uma guerra. Alexander vai me atacar se eu ficar quieto. Seria ainda pior se eu ficasse brincando de casinha com Ayla.

    — Ayla tem um exército competente, e os carniceiros foram bem treinados. Foi para isso que o senhor criou os carniceiros, não foi? Queria que eles fossem uma força militar que substituísse o senhor. Agora o senhor tem tempo livre, tente se acalmar, colocar a cabeça no lugar. Os espiões de Ayla encontraram os Elfos da floresta, encontrarão senhorita Brighid em breve. Enquanto isso, pense numa boa explicação para dar a ela e se concentre no que tem.

    Colin e Leona continuavam se encarando.

    — Por que está dizendo essas coisas?

    — Porque o senhor não ouve ninguém, e como somos parte um do outro, tenho certeza que o senhor irá me ouvir. — Leona debruçou sobre seu corpo, o abraçando — Sou sua pandoriana, dependemos um do outro para seguir em frente. Será assim até o fim. Amarei quem o senhor amar, odiarei quem o senhor odiar, e quando o senhor se for, eu vou junto. É um pouco estranho dizer isso sendo que temos a mesma alma, mas o senhor não está sozinho, nunca estará.

    Ouvir tudo isso de Leona o deixou vulnerável e sem reação alguma. Em um primeiro momento foi estranho, mas ele se sentiu acolhido. Até mesmo um sorriso desabrochou em seu rosto enquanto ele a abraçava de volta.

    Ele fez carinho em seus cabelos escuros e permaneceu ali em silêncio com ela.

    — Mestre, eu te amo — disse com a voz abafada pela camisa de Colin.

    — Também te amo.

    Ela levantou a cabeça, o encarando nos olhos.

    — Quem o senhor ama mais, Brighid, Ayla ou a mim?

    — Minha relação com elas e com você é diferente.

    — Diferente como? Nós já fazemos tudo que um casal de humanos faz. Dormimos juntos, tomamos banho juntos, a gente se diverte, não diverte?

    Ele suspirou.

    — Eu sou casado com as duas, e com você não.

    — Mas diferente das duas, eu sou a única que sempre esteve com o senhor. Sou a única que o entende também…

    Colin voltou a cabeça dela para seu peito.

    — É, com certeza eu te amo mais. — As caudas dela começaram a balançar enquanto ela o abraçava mais forte — Agora tenta dormir, amanhã temos um dia longo.

    Leona ergueu a cabeça e lambeu o rosto dele duas vezes, ficando ali, sentindo o calor de seu mestre enquanto dormia tranquila. 

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (1 votos)

    Nota