Capítulo 231 - Família
Colin ponderou se deveria ir para Brambéria procurar por Brighid, mas decidiu que seria melhor focar em sua missão de encontrar os Elfos da floresta primeiro. Leona estava atrás dele sentada no cavalo lendo o mapa.
Eles estavam bem agasalhados, afinal, o inverno costumava ser bem rigoroso em todo continente.
— Atchim! — Leona limpou o nariz — Porcaria de frio!
Colin a encarou por cima dos ombros.
— Você espirrou na minha nuca!
— Deixa de ser fresco, mestre, eu sou você, certo? Meus germes são os seus também.
— Não são não! E a gente tá perdido, por que não fareja o ar e encontra algum cheiro?
Franzindo o cenho, Leona apontou para o nariz escorrendo.
— Farejar com esse nariz? E não estamos perdidos, estamos bem onde o mapa daquela mulher disse para estarmos — Ela abriu um sorriso de canto — Vai ver ela se enganou, não é? Melhor, enganou você!
— Ayla me enganar? Hehe impossível.
— Impossível por quê? — Ela ergueu uma das sobrancelhas — Vai dizer que ela te ama tanto para não tentar nada assim? Até parece! Ela é uma meia-elfa, mestre, não um ser místico que tem como fator biológico o amor incondicional por seu parceiro.
Colin levou as mãos nas costas, pegando o mapa das mãos de Leona.
— Sei disso, por isso tenho que usar outros métodos. — Ele olhou o mapa, acompanhando os olhos com o indicador.
Leona fez beicinho e cruzou os braços.
— Eu não gosto disso. — disse ela.
— Disso o quê?
— Você e essas mulheres… Nem passa mais tempo comigo, não digo em missão, digo… não me chama para passear, não come mais comigo e nem dorme mais comigo também.
Colin continuava analisando o mapa.
— Foi você quem escolheu ficar na casa da Alunys.
— Porque você nunca estava em casa. — Suas orelhas se abaixaram — Parece que nem liga mais para mim…
Após, suspiro, Colin entregou o mapa para ela.
— Seu humor se altera muito rápido, e aquela conversa que tivemos ontem?
— Ah, é! Eu tinha me esquecido!
Leona abriu um sorriso e abraçou Colin por trás.
Apesar de não estar tão forte como estava há meses, ela ainda tinha força o suficiente para machucá-lo.
— Vai com calma, preciso das minhas costelas.
— Te amo, mestre!
Ele abriu um sorriso de canto.
— Também te amo, mas se prepara, parece que temos visitas.
Nas árvores, Elfas cobertas por capas pretas apontavam flechas para aqueles dois lá em baixo.
— O que um Elfo Negro faz tão longe de casa? — Indagou uma Elfa em cima de um galho. Ao lado dela estava suas companheiras com a corda do arco esticada até o limite.
Colin ergueu as mãos enquanto Leona ainda o abraçava.
— Não vim brigar, estou atrás de Eilella. Me chamo Colin e essa é minha pandoriana, Leona. Só queremos conversar.
Elas se entreolharam, afinal, o nome de Colin era conhecido no que havia restado dos Elfos da Floresta.
— Se você é mesmo ele, mostre o seu braço direito!
Colin arregaçou a manga do braço, mostrando as tatuagens.
As Elfas abaixaram as armas e cruzaram olhares uma com as outras.
— É ele mesmo? — cochichou uma delas.
— S-Sim! A pele morena, os olhos amarelos, a tatuagem de errante e esse corpo com músculos demais para um Elfo Negro, é ele!
A Elfa que as liderava jogou o capuz para trás e saltou. Seu cabelo era preto, suas orelhas pontudas e seus olhos amarelos. Ela era tão bonita quanto qualquer outra Elfa.
— Senhor Colin! — Ela fez uma reverência — Muito prazer em receber o senhor! Como pode ver, não temos um palácio… então…
Colin abanou uma das mãos.
— Não precisam se preocupar com isso. Onde está Eilella?
— Me siga, senhor.
Ela colocou o capuz novamente e avançou floresta adentro. Os pinheiros enfeitados de neve ficavam cada vez mais próximos do outros, dando uma sensação claustrofóbica. O cavalo começava a ter dificuldade para passar as raízes enormes que corriam pelo chão. Conforme continuaram por alguns minutos, a densidade da floresta desapareceu aos poucos, dando lugar a um lugar aberto e bem amplo.
Chegaram a um vilarejo cercado por portões de madeira e Elfas em cima de torres de madeira observando tudo. Assim que viram as Elfas junto a um homem, abriram o portão.
Era um vilarejo pequeno, já que a população de Elfos da Floresta não passava de 150. As casas lá dentro eram feitas de madeira, uma madeira precária que sequer aguentaria uma chuva. A neve tinha que ser tirada dos telhados frequentemente, caso contrário, eles desabariam.
Como havia poucos Elfos homens, eles costumavam copular com mais de uma mulher abertamente. Para salvar a espécie, eles abriram mão da moralidade e cultura que Elfos tinham de serem monogâmicos, e mesmo assim as coisas não iam tão bem. A maioria das mulheres não sobrevivia a gestação, já que estavam em constante movimento e ser um nômade em tempos como aquele era uma tarefa e tanto.
Os homens jovens e saudáveis eram poucos, a maioria era bem velha e cansada.
Eles se assustaram ao ver Colin adentrando, mas ficaram aliviados de ver que as Elfas que o trouxeram portavam olhares esperançosos.
Pararam frente a uma casa de madeira que era um pouco maior que as demais.
— Senhor, a rainha está lá dentro.
— Quem é esse? — indagou uma das guardas — Por que eu o deixaria entrar?
— Porque ele é o Colin! — A guarda arregalou os olhos — Agora abra a porta.
Ela assentiu e empurrou a porta enquanto Colin e Leona desciam do cavalo. A Elfa que o trouxe pegou as rédeas do cavalo e o afastou.
— B-Bem-vindo, senhor!
A vigia permaneceu de pé e manteve sua postura enquanto Colin adentrou. O lugar era um corredor com um grande espaço amplo logo a frente. Ele deu alguns passos e encontrou um amplo salão com mesas dos dois lados e uma grande lareira no chão usada para assar carnes e cozinhar.
Mais ao fundo havia outro corredor, e Colin ouviu algumas vozes vazarem lá de dentro. Leona ficou de olho na lareira a fim de encontrar algo para comer, mas só havia carvão.
— Não, mãe, se formos pela montanha, os Ogros podem nos emboscar como já aconteceu outras vezes. Não podemos perder mais pessoal.
— Sei disso, mas ogros são mais fáceis de matar do que humanos, a montanha ainda é nossa melhor opção.
Colin travou por um instante.
A voz daquela mulher era muito parecida com a da sua falecida mãe. Após engolir o seco, ele deu um passo adiante, enxergando Eilella e a rainha Cykna.
Sua prima trajava uma armadura de couro leve e seu cabelo loiro estava trançado, com a trança escorrendo por seu ombro. Rainha Cykna se parecia bastante com Celae, sua falecida mãe. Seu cabelo loiro estava preso em um rabo de cavalo, seu rosto estava limpo, sem cortes ou ferimentos. Seus olhos amarelos eram mais brilhantes que os dele, e ela também usava uma armadura de couro leve.
— Colin?! — Eilella arregalou os olhos. Após isso foi até o primo e lhe deu um abraço apertado. Apoiou as mãos no rosto dele e o abraçou mais uma vez — Graças aos doze, como é bom ver você! Como nos encontrou?
Cykna engoliu o seco e deu um passo para trás apoiando a mão no cabo da adaga em sua cintura. O rosto de Colin era familiar, um rosto que ela jamais poderia esquecer.
Coen foi o principal precursor da grande queda dos Elfos da floresta quando trouxe o dragão Tiamat a cidadela, destruindo tudo e ainda por cima, matou o rei, seu pai, bem na sua frente.
Eilella já havia dito a ela sobre as características físicas de seu sobrinho, e ela já estava se preparando mentalmente para vê-lo pessoalmente um dia, mas não pensou que ele apareceria de surpresa.
— Mãe! — disse Eilella empolgada — Esse é o Colin, filho da tia Celae!
Após um suspiro, Cykna se acalmou e tirou a mão do cabo da adaga.
— Você se parece com o seu pai…
Colin deu um passo à frente.
— E-Eu não sou meu pai.
— Espero que não seja. Colin, certo? Sou Cykna, e aparentemente a rainha desse lugar. Não é um palácio, mas quebra um galho.
O errante estava um pouco retraído. A voz, o rosto, o jeito, eram bem semelhantes ao de sua mãe. Aquilo o fez baixar a guarda por um instante, mas como líder de uma nação que aos poucos emergia, ele precisava manter a postura.
Coçou a nuca e assentiu com um sorriso de canto.
— Não é tão ruim assim. A senhora tinha que ver o do meu ducado, semanas atrás não tinha nem teto direito.
— Você tem um palácio? — Indagou Eilella com uma das sobrancelhas erguidas — O que andou fazendo depois que Ultan caiu?
Colin deu de ombros e se aproximou de Cykna, sentando-se na cadeira frente a ela.
— Perdi alguns amigos naquele dia. Leona e Alunys ficaram comigo e acabamos nos tornando mercenários. Comecei a trabalhar para um duque, mas decide que não trabalharia mais para ele, então o matei. Matei ele e seus guardas. Me casei com a rainha de Runyra e fundei um país. Essa é a história resumida.
Elas olharam uma para a outra.
— Sobrou apenas elas da sua equipe?
Colin fez que não.
— Samantha também está viva, mas encontrei apenas ela. Nem mesmo sei se Stedd está vivo… Lei Song, Elhad, Sashri… não sei se eles estão mortos, mas o resto…
Cabisbaixa, Eilella engoliu o seco e desviou o olhar.
— Até mesmo senhorita Brighid foi…
— Acredito que ela está viva, mas soube que uma ordem está a caçando, então preciso caçá-los antes. — Ele olhou para a prima — Brighid deve estar próxima de parir ou talvez já tenha parido. Preciso afastá-los do rastro dela.
Eilella puxou uma cadeira e se sentou ao lado de Colin.
— Está falando sobre a Ordem dos caçadores de espectros?
Colin assentiu. — Os conhece?
Ela engoliu o seco e olhou para a rainha.
— Alguns deles nos atacaram há menos de um mês.
Ele ergueu as sobrancelhas.
— Por quê? Eles não atacam apenas monstros?
— Foi o que pensamos no começo, mas havia alquimistas entre eles. Atacaram nosso acampamento, levaram algumas meninas e tivemos que fugir. — Ela desviou o olhar — Perdemos muita gente naquele dia…
Após um suspiro, Colin se ajeitou na cadeira.
— Encontrei alguns membros dos caçadores há quase três dias, e acredito que o líder estava entre eles. — Colin olhou para a tia mais uma vez — Tenho um território amplo no centro-leste, e que continua em expansão. No momento estou enfrentando um grupo religioso que tem como líder alguém conhecido como pontífice. — Ele se levantou, indo até a tia — Majestade, posso proteger vocês, proteger os Elfos da floresta. Já libertei outros Elfos da Floresta, homens, mulheres e crianças. Meu pessoal é poderoso, também podemos unir força, o que me diz?
Cykna franziu os lábios e desviou o olhar. Mesmo se ela seguisse com Colin, apenas significaria que estariam indo direto para o olho do furacão, já que aparentemente o sobrinho travava uma guerra e pretendia enfrentar a Ordem dos caçadores de espectros.
O garoto parecia do tipo encrenqueiro que levaria o que restou de seu povo para o abismo.
— Colin, não sei se juntarmos forças agora seria uma boa ideia. Os Elfos da floresta são bons em fugir, mas lutar uma guerra? E pelo que disse, você está fazendo inimigos bem perigosos… Não quero causar a destruição do meu povo tomando escolhas erradas.
Colin assentiu. Apoiou as mãos na cintura e olhou para os dois lados.
— Com todo respeito, majestade, seu povo será destruído se ficar aqui, no meio do nada. Você tem trinta guerreiras no máximo. Sei que não é apenas a Ordem dos caçadores de espectros que vocês provavelmente enfrentarão, mas também humanos, Orcs, sem falar na outra infinidade de perigos que cercam o continente. — Ele deu um passo à frente — Vocês não correrão perigo se estiverem comigo. — Colin pegou uma das mãos da tia — Sou sua melhor chance de algo melhor. Vocês já iriam se arriscar saindo daqui e indo para um lugar incerto, se arrisquem indo para um lugar onde estou dando a certeza de prosperidade.
Cykna olhou no fundo dos olhos do sobrinho e engoliu o seco. Afastou as mãos e desviou o olhar. Apoiou as duas mãos na mesa e deu um suspiro.
— Preciso de uma garantia. O caminho daqui até o centro-leste é tortuoso, e os Elfos confiam em mim, não posso dar a eles mais sofrimento.
Colin se aproximou de Cykna mais uma vez.
— Eilella me contou que tenta manter os Elfos unidos desde que a grande cidadela dos Elfos da Floresta foi destruída pelo dragão. Tia Cykna, não precisa fazer tudo isso sozinha, me deixa ajudar. — Colin abriu um sorriso de canto e apoiou a mão em um dos ombros da tia — Vocês não precisarão mais fugir com medo de ninguém, eu prometo.
Após um suspiro, Cykna assentiu.
O garoto era bastante intimidador, mas ele não parecia um mentiroso. As palavras dele a confortaram de alguma forma, afinal, liderar um povo nômade e o ver se desfazer aos poucos era algo que a machucava.
A rainha dos Elfos da Floresta apenas queria descansar um pouco, assim como o seu povo cansado das perseguições intermináveis.
— Tia, minha segunda esposa, Ayla, está fazendo rotas de ligação entre vilas distantes do meu território. Vocês poderão ter uma vida digna, e não precisarão se esconder no meio do mato com medo de invasores. Ninguém se mete comigo.
Eilella tocou o ombro da mãe e assentiu.
— Tudo bem, eu aceito. — Com o punho cerrado, Cykna tocou o peito de Colin — Eilella falou muito bem de você, então em você confiarei. O que restou dos Elfos da floresta está em suas mãos, Colin, mostre o caminho.
Colin assentiu com a cabeça.
— Obrigado!
Cykna desceu a mão.
— Quer descansar ou pretende partir quanto antes?
— Quanto antes melhor.
— Certo, avisarei todo acampamento.
Apressada, Cykna foi em direção ao corredor, seguida por Eilella. Leona e Colin ficaram sozinhos naquele recinto.
Com as mãos para trás, Leona se aproximou de Colin com um sorriso no rosto.
— Achei estranho você ser tão educado com ela. Normalmente você não é assim, nem com as mulheres.
Colin apoiou as mãos na cintura e suspirou, coçando a nuca em seguida.
— Ela me lembra muito a minha mãe, por isso tentei ser o mais educado possível. — Ele encarou Leona — Se eu fosse grosso com ela, seria como se eu fosse grosso com a minha mãe, entendeu?
Ela apoiou um dos indicadores na bochecha pensativa.
— Acho que sim. Também não consigo ser grossa com o senhor, apesar de merecer muitas vezes.
Colin abriu um sorriso de canto.
— Vamos pegar as coisas para a viagem — Ele bagunçou o cabelo dela.
— Mestre! — Leona fez beicinho enquanto arrumava o cabelo — Não faz isso, depois fica difícil para desembaraçar!
— Deixa de ser fresca.
— Humpf! O senhor gosta de parecer com um mendigo, mas eu não!
Colin atrapalhou o cabelo dela mais uma vez.
— Ei! — Ele acelerou o passo e Leona foi atrás — Volta aqui!
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